Festa a fantasia
- Oi, Draco. - o cumprimentei assim que me aproximei dele.
- Você está linda! - elogiou ele, olhando para minha fantasia - A roupa combina perfeitamente com você.
- Obrigada. - agradeci gentilmente - Você também ficou muito bem de Robin Hood.
Draco vestia uma folgada calça bem surrada e antiga, uma blusa bem caricata verde e ainda carregava uma pequena bolsa aonde haviam algumas flechas de mentira. Além, é claro, do arco que ele levava na mão.
- É... Eu também gostei. - disse ele olhando para si mesmo da cabeça aos pés.
Continuamos conversando um pouco enquanto circulávamos pela festa. Queríamos ver como havia ficado a decoração final.
A festa parecia ser a mais animada de todas. Uma música bem agitada tocava e a maioria dos monitores dançavam na pista. Haviam homens de lata, magos, bruxas. Todos haviam se esforçado ao máximo para conseguir uma fantasia convincente e original. Mione era com certeza a mais entusiasmada. Não parava de dançar nem para tomar um fôlego. “Assim é melhor...” pensei “Ao menos não seria ela quem frustraria os planos que eu tinha para essa noite”.
Eu e Draco passamos algum tempo por lá. Dançamos bastante até nossos pés não agüentarem mais. Bebemos um pouco de ponche. Mas aquilo já estava se tornando cansativo. Se continuássemos por lá, não haveria a oportunidade que eu tanto almejava.
- Que tal se formos para um lugar mais tranqüilo? - sugeriu Draco, quase que gritando ao meu ouvido. Só assim mesmo para eu escuta-lo. A música tocada na festa estava tão alta que eu já estava quase surda.
- Boa idéia. - concordei, como se já não visse a hora de ir embora dali.
Tudo estava caminhando perfeitamente bem. E agora eu e ele ficaríamos finalmente sozinhos e enfim eu poderia saber se o amo ou não.
Fomos até a beira do lago, éramos os únicos por lá. A essa hora todos os campistas já estavam em suas cabanas e todos os monitores e administradores do acampamento estavam na festa. Me sentei no chão vagarosamente e Draco fez o mesmo. Se sentou ao meu lado e ficou observando a lua, que se refletia na água.
- Hoje está calor, não é mesmo? - perguntou Draco.
Realmente. Era uma noite bem quente de verão. Mas com certeza algo estava dando errado até aquele momento. Geralmente quando as pessoas falam sobre o tempo é porque não há mais nenhum outro assunto para ser conversado.
- É sim... - apenas concordei.
Depois disso um silêncio reinou sobre nós dois. Apenas podia-se ouvir a música da festa, porém bem distante. Se eu não fizesse algo, aquela situação poderia tornar-se constrangedora.
- Draco, eu... - comecei a falar lentamente, olhando na direção dos olhos dele - Eu não sei como te falar isso, mas é necessário.
- Falar o quê, Gina? - perguntou ele, demonstrando interesse.
Desviei meus olhos dele e olhei na direção do lago. Era muito difícil dizer tudo o queria... Eu não sabia por onde começar. Eu não podia simplesmente chegar e dizer para ele: “E então, Draco... Me beije para eu saber se estou ou não apaixonada por você”. Apesar de que seria bem mais fácil se pudesse ser assim.
Porém não havia como. Aquele assunto era de extrema importância e deveria ser tratado com total delicadeza.
Mas isso não tirava a dificuldade que eu tinha de falar tudo o que eu queria. E não ia ajudar em nada se eu tivesse que encarar ele.
- É algo muito sério, Draco. De extrema importância para mim. Mas eu não sei como te contar isso. Eu tenho medo de que você ria de mim... - alertei ele, afim de que Draco não tivesse uma grande surpresa quando eu fosse revelar toda a verdade oculta.
Eu ainda continuava olhando para o lago, mas podia sentir que Draco me encarava com os olhos. Eu não queria ter que olhar para ele, não agora...
- É sobre nós dois... - falei calmamente.
- Nós dois? - espantou-se ele - Como assim “nós dois”?
Nessa hora eu finalmente me virei e pude olhar diretamente nos olhos cinzas de Draco. A expressão na face dele era de uma ansiedade inesperada. Aquele momento estava durando mais do que deveria. Cada segundo que passava pareciam horas. Eu não queria ter que me prolongar por demais no assunto, mas eu também não queria pega-lo de surpresa.
- Me responda, Gina... O quê você quer dizer com “nós dois”? - pediu ele. Seu tom de voz era sutil, quase que trivial. Apesar de que dava para sentir a ansiedade em sua voz.
Eu não sabia como continuar aquilo... O que eu deveria fazer? Explicar para ele que eu queria beija-lo, ou pular essa parte e beija-lo de uma vez por todas?
Com certeza se eu optasse pela segunda opção seria mais fácil. Porém Draco poderia achar que eu sou uma qualquer e isso era a última coisa que eu queria.
O problema era que eu estava suando frio. Meu estômago se revirava com toda a tensão do momento.
Depois de alguns segundos, tentando me decidir entre uma coisa e outra, optei por pular logo a conversa e partir para o beijo. Mesmo correndo todos os riscos que eu já sabia.
Então aproximei o meu rosto do dele e Draco, surpreendentemente, fez o mesmo. Ficamos tão próximos que nossos narizes quase que se encostavam.
Pelo jeito como Draco me olhava, eu tinha certeza apenas de uma coisa. Ele queria me beijar. Então eu não deveria estar louca. Ele queria me beijar. Se não fosse isso, ele não estaria tão próximo de mim quanto agora.
Então aquela era a hora... Não havia mais como adiar aquele momento.
Draco continuou se aproximando de mim. Ele fechou os olhos e eu, no instante seguinte, também fechei os meus.
De repente, de uma hora para a outra, eu senti os lábios quentes de Draco encostarem nos meus. Que sensação mágica era aquela! Depois de tanta espera finalmente estava acontecendo! Eu estava beijando Draco Malfoy! E não estava sendo nada forçado... Na verdade, ele é que estava tomando a iniciativa.
Naquele momento eu não sentia mais nada. Parecia que apenas existiam eu e Draco no mundo. O resto não importava.
Eu não sabia se era dia ou noite, se fazia calor ou frio e muito menos aonde eu estava. Apenas sabia que eu precisava desesperadamente dele. Precisava do beijo dele. Draco começou a me envolver em seus braços, como se quisesse me proteger. E agora eu tinha certeza: Eu o amava.
Tudo era estupendamente perfeito! Eu me sentia completamente feliz e realizada. Era tudo tão lindo, mas aquele momento foi embora tão rápido quanto viera. O que se sucedeu a seguir me espantou profundamente e me fez acordar do lindo sonho aonde eu me encontrava.
Naquele instante, eu não entendi o porque, mas Draco interrompeu abruptamente o nosso beijo e me olhou em estado de choque. Seus olhos estavam quase que arregalados e ele se afastou de mim.
- O que você fez? - perguntou assustado.
- Co... co... como assim? - gaguejei. Eu não esperava uma reação daquelas vindo dele. Afinal, ele havia correspondido ao beijo.
- Por que você fez isso, garota estúpida? - perguntou ele em tom de arrogância.
Garota estúpida? Ele havia me chamado de garota estúpida? Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Por que ele estava me tratando dessa forma?
- Eu... achei... que você também quisesse me beijar... - falei, me segurando para não começar a chorar naquele momento.
- É lógico que não! - disse ele com veemência enquanto se levantava do chão - Eu nunca trairia a Hannah!
- A Hannah?! - perguntei surpresa - Mas eu... eu... eu pensei que vocês nunca tivessem tido nada... - as palavras não queriam sair. Faltava-me ar. Meus pulmões pareciam que iam explodir.
- Pois se enganou. - respondeu ele com raiva - E agora me dê licença que vou me embora daqui! E me faça um favor: esqueça que eu existo!
Eu continuei sentada no chão sem pronunciar uma palavra. Draco foi embora, assim como o meu sonho encantado. Lágrimas rolaram pelos meus olhos, mais secaram antes de cair no chão.
Eu continuei lá. Sentada. Na grama. Em frente ao lago. Chorando apenas. Ainda sem acreditar em como eu havia passado de um momento mágico para um pesadelo.
Meu coração estava destroçado. Eu pensei que o amava. E eu sentia isso. Estava disposta a fazer a loucura de acabar meu namoro com o Harry e me jogar de cabeça numa paixão com o Draco. Porém o sentimento não era recíproco como eu havia imaginado no principio.
Não havia nenhuma palavra em qualquer dicionário do mundo que pudesse descrever o que eu estava sentindo naquela hora. Era humilhante. Vergonhoso. Eu o beijei a força, e ele... namorava outra.
Não me sentindo nada melhor, rumei vagarosamente para a minha cabana. Sem dúvidas, essa fora a minha pior noite em Stonevalley.
***
Acordei no dia seguinte com vontade de continuar dormindo. Eu não estava nada disposta a encarar Draco cara a cara. Não depois de ontem.
Eu ainda estava em dúvida se eu deveria contar para Mione o que havia acontecido. Mas não havia jeito. Cedo ou tarde ela descobriria. Hermione me conhece melhor do que eu mesma. Não havia como esconder nenhum segredo dela por muito tempo.
- E como foi a noite de ontem, Gina? - perguntou Hermione assim que acordou - Quando eu cheguei você já estava dormindo...
- Foi incrível... - falei sem animação alguma na voz.
Mione me olhou com um ar sério. Ela com certeza não esperava que minha reação fosse essa. Com certeza imaginou que eu estaria mais confusa do que antes, pois gostava tanto do Draco quanto do Harry. Mas não foi isso o que aconteceu.
- Deu errado, então? - perguntou ela simplesmente.
Eu apenas confirmei com a cabeça. Não era preciso mais nada para se entender que a noite de ontem havia sido um desastre.
- Mas então o que aconteceu, Gina?
Contei a Mione todos os detalhes da noite anterior. Desde a hora em que Draco me chamou para ficarmos sozinhos, até quando ele foi embora. Ao final de tudo, eu estava chorando novamente.
- Ah, Gina... Eu sinto muito. É tudo culpa minha. Fui eu que te incentivei a fazer isso... - disse Hermione, tentando me animar - Você deve estar arrasada com a atitude dele, não é?
- Sabe o que mais me dói, Mione?
- Não,Gina... Eu não sei. - respondeu ela.
- O que mais me dói é que provavelmente o Draco nem namore a Hannah. Até porque nós nunca vimos os dois juntos fazendo nada demais. - expliquei, enquanto algumas lágrimas caíam do meu rosto.
- Isso é verdade... - concordou - Mas então por que o Malfoy mentiria?
- Vai saber! Eu nunca entenderia aquela mente insana dele... Mas não tem problema não, Mione... Sabe por quê? Porque era necessário. Agora eu pelo menos tenho certeza de que o Malfoy não é para mim. E também que ele não mudou nada. Continua sendo a mesma pessoa insensível, arrogante e prepotente de sempre.
- Eu queria que você beijasse ele para não ficar se martelando com essa dúvida depois... Mas eu não esperava que isso acontecesse. Eu juro que eu não esperava... - Mione se justificou.
- A culpa não é sua. A culpa é minha,que fui burra o suficiente para quase me apaixonar por aquele imbecil. Mas foi melhor assim. Pelo menos agora eu tenho certeza de que amo o Harry.
E eu realmente tinha essa certeza. Ao menos a noite de ontem me serviu para alguma coisa: demonstrar que não havia como eu estar apaixonada por alguém tão estúpido como o Malfoy.
***
Eu não queria sair do quarto naquele domingo só para não ter que encarar o Malfoy. Por que ele havia sido tão canalha comigo na noite anterior. Tudo bem que ele namorasse a Hannah, mas era só me explicar. Mas em vez disso ele resolveu me humilhar. Se ele tivesse me tratado direito ainda poderíamos ser amigos, mas depois de ontem, eu nunca mais iria olhar para a cara dele.
Pelo menos essa era a minha vontade. Porém na vida nós não fazemos apenas aquilo que gostamos. Por isso eu tive que trabalhar na festa dos campistas. Todos os monitores estavam lá, inclusive ele.
Malfoy estava agindo normalmente com todo mundo, mas quando ele viu que eu o observava, tratou logo de fechar a cara. Em resposta, eu apenas fiz que não entendi. Para mim, a atitude do Malfoy era extramente infantil e eu não estava mais nem aí para o que ele pensasse. Meu único consolo era que agora eu poderia manter bastante distância dele.
***
Na segunda-feira acordei disposta a esquecer os acontecimentos do final de semana. Apaga-los da minha mente. E como primeira prioridade desta nova ordem, resolvi escrever uma carta para o Harry.
Faziam já dias que eu não havia respondido a última carta dele. Com toda a agitação da última semana, eu não tive muito tempo para me concentrar em outra coisa que não fosse Malfoy.
Eu saí de manhãzinha da cabana e fui para a beira do lago. Antes mesmo de tomar o meu café da manhã, eu comecei a escrever a carta:
Querido Harry,
A última semana foi uma agitação só! Por isso não tive tempo para lhe responder antes. Espero que você esteja bem. Estou ansiosa para nós vermos. Falta só duas semanas, não é mesmo? Eu disse que iria passar bem rapidinho, não disse? Estou morrendo de saudades, espero que você também esteja. Mas agora falta bem pouco para nos reencontrarmos.
E como que anda o pessoal por aí? Você tem falado com a Luna? Ela continua do mesmo jeito de sempre? Mas que pergunta boba, não é mesmo? Afinal ela é a Luna... Ah, já ia me esquecendo! Diga para os meus pais que eu mandei beijos para eles...
Eu aqui estou muito bem. Apesar de estar muito atarefada. É aquilo de sempre: muitas festas, muitas aulas, muitos campistas. Apesar disso estou me divertindo muito. Pena que está acabando. O lado bom disso é que nos veremos em breve.
Beijos, daquela que te ama,
Gina
Ao menos tudo estava muito bem quanto ao meu namoro com o Harry. E pensar que eu quase havia terminado tudo com ele. Uma coisa a menos para me preocupar.
E era como eu havia dito para o Harry na carta. Duas semanas. Apenas mais duas semanas e adeus.
Há alguns dias atrás, eu queria que o tempo passasse bem devagar pois estava adorando Stonevalley. Agora, o que eu mais queria era ir embora daquele lugar.
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