Passeio em Stoneville
Quase cai para trás ao ver quem assinou o bilhete. Senti o mais puro sarcasmo nas palavras de Malfoy. Ele era realmente impressionante. Como poderia ter sido tão audaz em surrupiar meu diário e depois colocar um “bilhetinho” daqueles? Por que ele assinou? Será que ele quer que eu saiba que foi ele quem pegou meu diário? Só podia ser isso.
Exceto é claro, que não fosse o Malfoy quem escreveu aquele bilhete. Sim... é claro. Com certeza foi outra pessoa que se passou por ele e fez isso. Mas, qual seria o intuito em tal ato?
Havia algo de muito errado ali. E eu sentia que essa história do diário ainda não tinha acabado.
Me deitei em minha cama e fui dormir. Na minha cabeça, milhares de perguntas estavam sendo feitas. Mesmo assim não tardou muito e adormeci. Não havia porque permanecer acordada. Se eu quisesse respostas, só as teria no dia seguinte.
***
Minha quinta-feira começou muito ruim. Era um daqueles dias que você não sabia o motivo, mas sentia que nada ia dar certo. O melhor era dormir e esperar pelo dia seguinte. Mas eu não podia simplesmente retornar a minha cama e apagar por horas. Eu tinha que tirar a limpo a história do meu diário. A primeira coisa que fiz ao acordar foi despertar Hermione que ainda dormia na cama ao lado.
- Você está agora pegando o meu hábito? – perguntou ela sonolenta – Não é legal ficar acordando as pessoas desse jeito...
- Isso é para você aprender a nunca mais fazer isso comigo. – falei me sentindo vingada pelas duas vezes em que ela me acordou no meu melhor sono – Mas não foi só por isso que te acordei. Tenho que te falar algo.
Ela esfregou os olhos tentando espantar o sono. Mas mesmo ainda não estando plenamente acordada, Hermione se mostrou bastante interessada no que eu tinha a lhe disser.
- Tem algo a ver com o seu diário? – perguntou ela como se adivinhasse.
- Eu misteriosamente o recebi de volta ontem à noite. – contei.
Expliquei para Hermione tudo o que havia acontecido no dia anterior. Ela não pareceu acreditar no que ouvira.
- Então isso quer dizer que Draco Malfoy pegou o seu diário... – concluiu ela.
- Provavelmente. Ou então alguém que quis se passar por ele. – ponderei.
- Pode ser também, mas por que alguém iria fingir ser Draco Malfoy? – questionou Hermione enquanto coçava o queixo esperando alguma resposta.
- Eu não sei, talvez pelo mesmo motivo que levaria Draco Malfoy a pegar o meu diário.
- Mas o fato é que alguém o pegou... – falou minha amiga.
Pensei por um instante em todos as pessoas que conhecia no acampamento. Fiquei pensando quem seria o mais provável culpado.
- Havia algo comprometedor no seu diário? – perguntou Hermione com uma naturalidade aparente.
- Como assim? – perguntei assustada – Você acha que eu seria capaz de fazer algo errado e depois colocar no diário?
- Eu não sei... você disse que escrevia tudo nele, Gina.
- Mas eu não fiz nada de errado. – falei enquanto pensava se realmente havia feito algo comprometedor – Não nesses últimos tempos.
- Alguma coisa está errada nessa história. Mas eu ainda acho que foi o Malfoy quem pegou esse diário. Ele tem tido um comportamento estranhíssimo desde de quando nos o encontramos aqui nesse acampamento. Não me surpreenderia em nada se fosse ele.
- Ah, Hermione! Não adianta a gente ficar aqui divagando sobre possibilidades. Nós temos que agir se quisermos saber quem é que fez isso. E eu já tenho uma idéia. – falei.
- Por favor, Gina... Não diga que é o que eu estou pensando. – disse ela amedrontada.
- Se você está pensando que eu vou tirar satisfações com o Malfoy você está certíssima.
- Não faça isso. È muito arriscado. – advertiu Hermione – Ele pode ser perigoso.
- Eu não tenho medo! – menti. Na realidade eu morria de medo em ficar cara a cara com Malfoy, mas minha curiosidade era maior que qualquer outra coisa.
- Se é isso mesmo que você quer fazer, Gina, então vá em frente. Só posso te desejar boa sorte.
***
Diferentemente de como eu previ quando acordei, o restante do meu dia não foi o que se pode chamar de desagradável. Pela manhã, depois do desjejum, eu e Hermione fomos até a cidade. Finalmente pude conhecer melhor Stoneville. Não que o lugar fosse relativamente interessante para se conhecer. Era apenas mais uma entre tantas cidades do interior.
Hermione, por outro lado, parecia gostar muito de locais pequenos.
- Eu não te entendo. Você mora em uma cidade enorme e diz que adora o lugar, mas quando vem para uma cidade mínima igual a essa fala que ama também. – comentei enquanto adentrávamos em uma lanchonete.
Estava morta de fome. Isso tudo por causa da Hermione. Ela não me deixou tomar o meu café da manhã porque queria vir logo até a cidade. Praticamente nem toquei em minha comida e ela já me arrastou para cá. Agora até ela mesma estava com fome.
- Mas cada lugar tem suas peculiaridades. Nova York é maravilhosa, mas quando você passa dois anos lá você quer um pouco de paz. E isso você só encontra em cidades como essa. – explicou Hermione pacientemente.
Fizemos o pedido a garçonete e enquanto esperávamos nossa comida, continuamos conversando.
- Parece então que você adora todos os lugares. - brinquei enquanto eu e ela sentávamos em uma mesa na lanchonete – Mas que tal se ano que vem passássemos nossas férias em um lugar mais turístico?
- Mas aqui é maravilhoso! Um lugar esplêndido. Temos o contato com a natureza, com as crianças. É tudo tão legal! – disse Hermione empolgada.
- Não é para tanto, Mione! Apesar disso eu gosto daqui também. – declarei – Mas ano que vem vamos para um lugar mais tropical. Dizem que o caribe é ótimo! Que tal se nós fossemos a Cuba?
- Que isso! Caribe é muito banal. Todo mundo faz isso. – respondeu ela – Você não quer ser igual a todo mundo, quer?
- Você parece até a Luna falando desse jeito – brinquei – “Igual a todo mundo...” – falei imitando a voz de minha amiga.
- E ela? Continua no mundo da lua como sempre? – perguntou Hermione.
- Não mudou nada... continua a mesma. – falei – Aliás, ninguém mudou praticamente. Até você continua a mesma de sempre.
- Vou encarar isso como um elogio. – disse Hermione.
- Que bom que finalmente podemos conversar um pouco sobre essas coisas. Já não agüentava mais aquela rotina no acampamento. Faz mais de uma semana que eu cheguei e a gente nem conversou direito.
- Mentira sua... Nós conversamos todos os dias... – retrucou Hermione.
- Claro que conversamos, mas é sobre Draco Malfoy, ou então é sobre o Harry, ou ainda então sobre o roubo do meu diário... coisas do gênero.
- Você tem razão... Esse acampamento tem uma rotina muito puxada, mas também os últimos dias não tem sido fáceis.
- Nem me fala... Mas não vamos conversar sobre isso. É exatamente esse tipo de assunto que quero evitar. Me fale sobre outra coisa. Como está sua nova vida aqui na América?
- Eu adoro o meu trabalho, adoro meu marido, adoro minha vida – disse ela repetitivamente.
- Do jeito que você fala, parece que sua vida é perfeita... – comentei.
- Lógico que não é! Porém os problemas do cotidiano a gente tem que passar por cima. Mas por que você diz isso? Está com algum problema em relação ao Harry?
- Pode ir parando! Nós combinamos que não íamos falar sobre essas coisas.
- Mas eu quero disser na relação entre vocês... Há algum problema?
- Não, Mione. Imagina! Nós nos amamos! – retruquei.
- E com o resto da sua família? Está tudo bem também? – perguntou Hermione.
- Está sim... – respondi – Mas, você não me contou porque o Rony não veio junto com você. O quê aconteceu?
- E você não conhece o Rony? Imagina se ele iria querer passar dois meses cuidando de crianças... – disse Hermione fazendo uma careta.
Ri da cara dela. Realmente meu irmão nesse sentido era um pouco parecido comigo.
- Mas nas férias do ano que vem ele vai passar comigo! – prometeu ela – Vamos eu, você, o Rony e o Harry para a Antártica.
- Antártica? Você está brincando, né? Sou muito mais o caribe! – brinquei.
- Você iria adorar os animais de lá. Tem até pingüins!
E assim eu e minha amiga ficamos discutindo aonde passaríamos as férias no ano que vem. Ela era realmente doida de querer passar as férias como um esquimó!
***
Depois de passar a manhã inteira com Hermione, passeando em Stoneville, tivemos que voltar para o acampamento. Almoçamos e logo depois já fui em direção ao galpão de artes para dar minha aula.
Os campistas, como no dia anterior, se comportaram exemplarmente. Me achei uma maluca, pois já estava começando a gostar de dar aula para as crianças.
A aula transcorreu normalmente e quando acabou fui direto para a minha cabana. Fiquei me perguntando se o pressentimento que tive logo pela manhã iria se confirmar. O dia havia sido maravilhoso até o presente instante. Porém me lembrei que ainda faltava algo muito importante: conversar com Malfoy.
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