Cap. 13



- É... - Pensou o Remus, dos dias de hoje que recordava o passado. - Cada um de nós teve histórias para contar sobre a convivência com as meninas de Hogwarts. - Não pode reprimir um pequeno sorriso, ao pensar - Até o pequeno Peter. - Logo, o sorriso se perdeu e uma nuvem turvou o seu olhar. - Até o traidor do Peter. - Emendou.
Juntando as versões da história de Sirius e Stacey, Remus voltou a entrar no seu mundo de lembranças.


Tudo começara quando Stacey saíra de junto dele e de Mary naquela tarde…

Desde o começo do ano que Stacey estava ficando com Sirius Black, o conquistador de Hogwarts. Ele nunca tinha ficado com uma garota durante tanto tempo e sempre dissera que o único defeito dela era ser amiga da “bolinha” e que se não fosse por isso, talvez (quem sabe?) pudessem até se tornar namorados.
Todavia, Stacey sempre se recusara a se afastar da amiga. A sua lealdade tinha raízes mais profundas no seu coração do que a louca paixão adolescente que sentia por Sírius… mas que sempre disfarçava. Stacey tratava Sirius como um amigo, já que ele mesmo sempre dissera que ela era diferente das outras porque o tratava como um amigo e não ficava pegando no pé dele. Talvez por isso ela tinha conseguido a proeza de ficar com ele durante tanto tempo. Em segredo, claro. A última coisa que ela queria era ficar falada como “mais uma das Sirietes”. Não tinha conseguido ocultar de Mary a sua paixão, mas evitava o assunto, sabendo da opinião da amiga sobre o jovem Black. Nesses assuntos, preferia desabafar com Cecille… que ridicularizava a situação, como sempre ridicularizava qualquer história de amor.
Recorrera, então, a outra ruiva, alguém mais próxima dos Marotos, alguém que vivia uma relação óbvia de amor e ódio, de atracão e repulsa com James Potter que, notoriamente, babava à sua passagem e tudo fazia para a conquistar, embora parecesse que tudo que conseguia era lhe dar nos nervos. Lily Evans era uma garota esquentada, mas muito sensata e foi nela que Stacey encontrou a sua confidente em ralação ao seu caso com Sirius. Não que ela apoiasse a história mais do que Mary, mas pelo menos era da Grifinória, estava mais perto de Sirius, e não tinha medo de se aproximar.
Stacey não queria nem saber dos avisos de que Sirius, apesar de tratá-la de um jeito diferente, poderia estar querendo apenas se divertir com ela. Não. Stacey Weasley era romântica como Mary, mas não tão desconfiada e vira em Sirius o seu príncipe encantado: lindo, sensual… e reparara nela, ficava com ela… e já durava há tanto tempo… Aquilo era, para ela, uma espécie de namoro secreto não assumido, mas acreditava profundamente no verdadeiro amor e sentia que Sirius era o homem certo para fazê-la feliz. Sim, ele zoava da sua grande amiga Mary, mas existiria alguém perfeito no mundo? Com tantas qualidades, porquê Stacey ligaria a esse defeito? No fundo, acreditava (ou queria acreditar) que Sirius também a amava e sonhava – na verdade, planejava – vir a ser um dia a Srª Sirius Black.

Os dois haviam combinado lanchar juntos naquela tarde. Seria um piquenique, nos jardins de Hogwarts, num dos locais mais escondidos, mas que ele, graças ao Mapa do Maroto, conhecia como a palma da sua mão. É claro que um piquenique num lugar escondido era apenas uma desculpa de Sirius para poder aproveitar bem aquela hora com a sua amiguinha. Não era a primeira vez. Não era o primeiro encontro em que ambos, sob pretexto de um lanche, se entregavam às delícias daquilo que a jovem Weasley via como um romântico namoro secreto.
Ali estava ele. Black a esperava, bem no local do costume, já com uma toalha estendida no chão, sobre a qual se encontrava um cesto de piquenique e uma grande garrafa de suco de abóbora. A ruivinha correu para junto dele e logo foi presenteada com um intenso beijo na boca. “Como naquelas coisas que os trouxas vêem naquelas salas grandes, escuras e cheias de gente!”, pensava ela. “Ninguém beija assim se não estiver apaixonado. Sirius Black, você não sabe disfarçar.” Ia pensando, enquanto ele percorria o seu pescoço sardento com beijos sôfregos. Tinham que conversar. Ela estava pronta para ter uma conversa séria com ele… mas os beijos… como fugir dos beijos…
Ele notou algo errado.
- Laranja? – Chamou. Ele sempre a chamava de “Laranja”, aludindo aos seus cabelos da cor da fruta. – Está pensando no quê? Se for em outro cara vai ser muita sacanagem…
- Não! – Ela exclamou, beijando-o com ardor. Não é nada disso. Eu estou pensando é no lanche, mesmo. Estou com uma fome…!
- Ah, mas eu também! Vem matar a minha fome, vem! – Pediu Sirius, recomeçando com os beijos, enquanto ela ria e o afastava, embora sem muita vontade.
- Não é desse tipo de fome que eu estou falando! – Disse Stacey, com a sua habitual gargalhada cristalina. – É fome de comida, mesmo.
Ele a olhou nos olhos e perguntou, em tom inocente, mas sem perder o brilho malicioso do olhar:
- Ué… e laranja não é comida?
Ela voltou a rir e a afastá-lo.
- Pára, Sirius, eu estou falando sério!
- Mas eu também.
- Eu estou com fome!
- Mas eu também!
Stacey respirou fundo, antes de dizer:
- Sirius Black, leia os meus lábios…
- Prefiro beijá-los…
- Não! – Ela riu. - Agora não! O que eu quis dizer foi para você prestar atenção no que eu estou falando.
- Toda a atenção do mundo, minha cara amiga. – Ele replicou, embora a impaciência expressa nos seus olhos denunciasse tudo menos vontade de ouvi-la falar.
- Vamos. – Ela disse, pegando a mão dele. – Vamos sentar na toalha, vamos comer e vamos conversar.
Ele seguiu-a até a toalha e os dois se sentaram, comendo o piquenique, até que Sirius tocou justamente no assunto que Stacey queria abordar:
- Vem cá, Laranja, você sabe se está rolando alguma coisa entre o Remus e a Hallow?
Ela o olhou intensamente. Não sabia se haveria de contar ou não. Afinal, era um segredo… mas um segredo que em breve todo mundo iria ficar sabendo.
- Porquê essa pergunta? – Inquiriu.
Sirius suspirou:
- Ai, Laranja, você sabe que eu nunca curti essa sua amiga… Mas depois de tudo que o Remus tem me contado sobre ela e vendo o jeito bobo como ele fala dela, todo apaixonado, todo meloso… eu quero mais é que os dois namorem, sim… e eu achei que nós dois…
O coração de Stacey quase parou. Ela sabia que aquilo ia acontecer. Só podia. Ele dissera uma vez que era bem capaz de namorá-la se ela não fosse amiga de Mary, mas agora que ela e Remus estavam juntos, agora que ele tinha resolvido dar uma chance para a sua amiga, agora ela tinha certeza que Sirius iria assumir o namoro.
- Nós dois… - Insistiu, completando em pensamento: “nós dois podemos namorar também, é isso que ele vai dizer”.
- …nós dois poderíamos ajudá-los a namorar… - Continuou ele, trincando um sanduíche, sem perceber a ansiedade de Stacey e muito menos o desapontamento em seus olhos, ao mesmo tempo que o sorriso desaparecia dos seus lábios.
- Claro… - Respondeu ela, tentando, em vão, disfarçar a decepção. – Claro que podemos…
- Quem sabe eu também não acho por aí uma garota para namorar? – Sirius pensou alto, soltando uma das suas gargalhadas que mais pareciam latidos. – A Lucy-ann Stevens é bem interessante. Quem sabe não é ela a mulher que vai me laçar? – Voltou a rir, sem reparar nas lágrimas teimosas que começavam a se formar nos olhos azuis de uma incrédula Stacey Weasley que, mesmo assim, tentou disfarçar a sua decepção, perguntando, em tom insinuante:
- E porque não eu?
Sírius olhou-a espantado. A ficha não caíra.
- Você o quê, Laranja?
- Eu. – Ela insistiu, tentando se controlar. – Porque é que você não namora comigo?
Ele estacou, pasmo. Nunca passara pela sua cabeça que a sua amiga e companheira de delírios deliciosos tivesse segundas intenções com ele.
- Você queria namorar comigo? – Inquirou, com um riso nervoso, tentando se convencer a si mesmo de que a “amiga colorida” estava apenas brincando com ele.
- Porque não? – Ela perguntou, tentando manter o sorriso insinuante. – Esquece a Lucy-ann, eu estou aqui, gosto de você como ninguém nunca vai gostar e ainda sou sua amiga. O que você quer melhor?
Sirius se levantou de um pulo, totalmente apalermado. Não podia ser. Não. Stacey, apaixonada por ele? Não, isso não. Ela era uma menina bonita, gostosa, com quem ele gostava de passar o tempo, mas não era a única. Lucy-ann Stevens, por exemplo, mexia muito mais com ele. Durante todo aquele tempo Stacey se fizera amiga dele, mas queria era laçá-lo?
- Laranja… - Começou. – Laranja, você está confundindo as coisas.
- Confundindo, eu? – Stacey não consegüiu mais manter o sorriso e começou finalmente deixar que a sua fisionomia começasse a deixar transparecer a dor que ela estava sentindo. – Você é que me confundiu durante todo esse tempo!
Stacey se levantou, também, perante o olhar espantado de Sirius. Levantou-se tão rápido e já de cabeça perdida que levou sem querer atrás de si a toalha do piquenique, presa na saia, derrubou o cesto dos sanduíches e desfez em cacos a garrafa de cerveja amanteigada.
Black a olhava, com olhos esgazeados. A única coisa que lhe ocorreu foi um assobio e o comentário infeliz:
- Caramba, você leva jeito para isso! Conseguiu três acidentes de uma só vez!
Ela tentou sorrir… tentou até rir… mas o riso se transformou em lágrimas. Stacey perdeu as forças. Não dava mais para fingir. Soluçando, implorou:
- Por favor, Sirius, não faça isso comigo! Eu sou a mulher certa para te namorar, será que você não vê isso? Eu te amo, eu sempre te amei, você não pode ser indiferente a isso! Eu respeitei a sua vontade de não assumir um namoro, mas sempre achei que você ia acabar me assumindo, sempre sonhei com isso, sempre lutei por isso… e agora, que você finalmente pensa em assentar, é com outra garota??
Black estava realmente estupefacto. Mais do que isso. Estava magoado. Sentia que Stacey nunca fora realmente sua amiga, mas apenas uma menina que queria caçá-lo a qualquer custo, uma menina que o enganou quanto aos seus verdadeiros sentimentos, uma garota que ele achava que era sua amiga, que o entendia e que tinha com ele uma relação de amizade e prazer sem qualquer hipótese de compromisso. Para ele, isso sempre fora tão claro!
- Espera aí! – Ele exclamou. – Você está me cobrando um namoro de verdade, é isso? Você está querendo me obrigar a namorar você?
- Claro que não! – Soluçou Stacey, desesperada, sentindo que ele não entendera nada do que estava acontecendo. – Obrigar, não, mas é que eu achei que isso seria o mais certo, sempre achei que…
- Ah! – Quase gritou Sirius. – Você achou! Muito bem. E eu achei que você era apenas minha amiga. Eu achei que a nossa relação era totalmente clara. Vem cá, eu te prometi alguma coisa?
- Não! – Replicou ela. – Mas eu fiz de tudo para te conquistar e agora você está está interessado em namorar outra garota?
- Eu não sei se estou interessado em namorá-la, só acho que seria uma boa candidata!
- Mas como? – Stacey soluçava desesperadamente. - Você dizia que ela era perfeita, que talvez até namorasse comigo se não detestasse a minha maior amiga e agora, que esse ódio havia passado, você vem me dizer que está interessado naquela tal de Stevens, aquela garota da Corvinal que vivia dando em cima de tudo quanto tinha calças? Como?
- Chega, Stacey! – Ele gritou. Não sabia o que sentir. Tinha a consciência tranquila… ou será que não? Ele não fizera nada errado… ou teria feito? Respirou fundo e pensou alto:
- Eu não me envolvo com as garotinhas do 3º anos porque não quero criar expectativas falsas para elas e agora, me envolvi com uma garota da minha idade, inteligente, mas que está se mostrando mais infantil do que elas! Você está sendo melodramática! Você cobrando de mim uma coisa que eu nunca te prometi, exatamente como eu achava que elas fariam, com a diferença que você é minha amiga, a gente conversou, eu achei que estava tudo claro entre nós.
Ela respirou fundo e contendo as lágrimas, respondeu:
- Acontece, Sirius Black, que eu não sou igual a essas garotas com quem você vive ficando por aí. Para mim, uma mulher só se envolve com um homem quando existe um sentimento forte entre os dois… e você me conhece o suficiente para saber isso. Não se preocupe. – Continuou tristemente, tentando se acalmar e não se humilhar mais. – Eu não vou mais tocar nesse assunto. Não vou mais ser infantil nem melodramática. Eu não vou cobrar nada de você. Vamos esquecer que tudo aconteceu. É melhor assim.
- Claro. – respondeu Sirius, mal-humorado. – Só não me peça para esquecer agora, porque eu ainda estou muito abalado com toda essa surpresa que caiu na minha cabeça.

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