Para a tristeza de Petúnia
-- CAPÍTULO DOIS --
Para a tristeza de Petúnia
Harry saiu correndo em direção ao seu quarto após a saída da vizinha, ao som dos gritos estéricos do primo Duda que continuava a chorar sem parar em seu próprio aposento e ao silêncio modorrento de tia Petúnia, que permanecia desacordada no hall. Após entrar no quarto habitado agora apenas por Edwiges, cuja jazia exausta em sua gaiola, o bruxo abriu a gaveta velha do seu armário e apanhou imediatamente pedaços de pergaminho e pena, onde rabiscou rapidamente:
Se você ainda se considera meu amigo, envie-me imediatamente
notícias sobre o que está acontecendo no mundo dos bruxos!
O Profeta Diário não tem trazido reportagens relevantes, e agora fiquei
sabendo por um aborto que Voldemort voltou a atacar.
Aguardo sua resposta o quanto antes,
Harry.
Releu a carta duas ou três vezes e amarrou ligeiramente o pedaço de pergaminho na perna escamosa de Edwiges, após retirá-la do poleiro. A coruja aparentava estar bastante cansada para fazer uma viagem. Seus olhos âmbar estavam caídos e suas asas comprimidas ao corpo.
- Entregue ao Rony e só volte com uma carta dele. – disse acariciando a sedosa plumagem da ave, que o respondeu com uma bicada carinhosa antes de alongar as brancas asas e batê-las graciosamente, saindo pela janela e dominando o céu claro.
Após a saída momentânea do pássaro, Harry jogou-se na cama e desejou como nunca ter uma Penseira como a de Dumbledore ao seu lado. Um nevoeiro de perguntas novamente se apossou de sua mente, como se ele estivesse no centro de um turbilhão formado por indagações e preocupações: O que a Sra. Figg. quis dizer com “O Lord das Trevas voltou a atacar”? Será que os acontecimentos tinham sido tão terríveis a ponto da velhota revelar sua identidade a tia Petúnia? Como se livrar da obrigação de ter que ficar com Guida? E porque seu padrinho... ARREEE!
O garoto se assustou com a entrada de uma coruja parda em seu quarto, culpada por tê-lo tirado do devaneio e trazê-lo de volta a realidade. A ave foi até o bruxo que já havia se erguido, e lançou aos seus pés um rolo de papel, que ao colidir com o piso empoeirado se estendeu instantaneamente, levantando uma pequena nuvem de areia. Harry não leu, mas no topo da primeira página do que lhe fora enviado havia escrito em letras garrafais: O PROFÉTA DIÁRIO.
- Não quero, pode levar de volta – disse o jovem rispidamente ao pássaro que voava em círculos sobre sua cabeça, balançando freneticamente a pequena carteira que trazia amarrada em sua perna. – Este jornal não me serve, só me traga quando decidirem publicar notícias sérias!
E se curvou para apanhar o jornal amassado que continuava imóvel sobre o chão, exceto pela grande foto que se mexia na capa, cujo chamara de imediato sua atenção. O homem que era exibido em destaque possuía um rosto macilento e deveria ter um pouco mais que quarenta anos. Seus olhos eram penetrantes e fitavam os de Harry com uma forte expressão de ódio. Tinha cabelos dourados que escorriam pelo rosto pontudo e banhavam suas longas vestes negras. Segurava uma placa com símbolos que Harry não conseguiu identificar, mas o rosto do homem lhe era mais que reconhecível.
O animal continuava a realizar inúmeras piruetas no ar, emplumando por completo o quarto do garoto. Ao ver pela primeira vez em anos uma reportagem significante n’O Profeta Diário, Harry preferiu esquecer o que havia dito há alguns segundos atrás para a coruja. Apanhou as pressas alguns sicles que estavam dentro de uma gaveta próxima e entupiu a carteira da ave com moedas.
Em quanto o pássaro voou janela á fora, Harry se acomodou na cama e leu atentamente o que dizia a notícia de primeira página do jornal matinal dos bruxos:
SUPOSTO COMENSAL DA MORTE FOGE DE AZKABAN
Como é de conhecimento de toda população mágica, há pouco mais de um mês a prisão dos bruxos, Azkaban, sofreu uma forte rebelião partida de seus antigos guardiões, os dementadores – figuras horripilantes que se abastecem da felicidade humana. A partir de então, as condições de segurança da prisão ficaram mais que ameaçadas, já que as sentinelas de Azkaban decidiram se aliar ao temível Você-Sabe-Quem, cujo realmente retornara.
O Ministro da Magia Cornélio Fudge ao se deparar com tal situação, tomou a iniciativa de pôr um batalhão de Aurores na fortaleza, os quais permanecem em constante vigília aos detentos. Acontece que estes guardas, como já havíamos previsto, não são suficientes para domarem os poderosos feiticeiros seguidores das artes negras que lá se encontram.
Na noite de ontem o Sr. Lúcio Malfoy, 43, não foi encontrado em nenhuma das 4953 celas da prisão. Até o presente momento nenhum auror soube explicar como ocorreu tal gravidade, fazendo com que cada vez mais o nosso Ministro perca a credibilidade depositada nele pelos inúmeros bruxos que o elegeu para cumprir tal tarefa.
O Sr. Malfoy está sendo acusado de ser partidário fiel d’Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, juntamente com outros Comensais da Morte que também foram presos na noite que os servos do Senhor das Trevas invadiram o Departamento de Mistérios. Os indícios favorecem a crermos que o fugitivo saiu na noite passada ao encontro de seu amo, e não será mais surpresa para nós se mais fugas de Comensais patrocinadas por Você-Sabe-Quem forem realizadas.
A equipe de reportagem d’O Profeta Diário encontra-se de plantão na maior e outrora mais segura Prisão dos Bruxos para lhe manter informado de tudo que lá suceder. Publicaremos mais notícias sobre este e outros assuntos que estão roubando o sono de inúmeros feiticeiros em breve.
Abaixo, enumeramos uma lista de dicas essenciais para você se manter seguro nos dias de hoje, se é que isto ainda é possível:
1 – Na dúvida, não saia de casa.
2 – Não deixe seus filhos...
Harry parou a leitura imediatamente. Seus olhos formigaram intensamente e ele sentiu um fino e veemente ardor em sua cicatriz. Demorou a assimilar as idéias, e só após visualizar a expressão fantasmagórica produzida no rosto de Lúcio, ele percebeu o tamanho do perigo que o rondava. Os fiéis servos de Voldemort estavam se aliando a ele, formando um grandioso exército para batalharem em uma guerra que não tardaria a acontecer.
Ainda segurando o jornal entre as mãos, o garoto recordou-se da cabeça desfigurada de Lord, as fendas que tinha no lugar das narinas, os verticais olhos vermelhos e fumegantes como de cobras e o corpo coberto por escamas negras, que o descaracterizavam completamente de um ser humano. Ele tentou imaginar pela milésima vez como foram os últimos instantes de vida dos seus pais. Escutou os gritos de Tiago mandando Lílian o proteger em quanto despistava Voldemort, cujo já havia invadido sua casa. Depois ouviu o berro ecoante de furar os tímpanos, dado pelo seu pai ao ser brutalmente assassinado. Lembrou-se do cheiro de sua mãe que o segurava entre os braços com bastante força, na tentativa de o proteger do mal que se encaminhava cada vez mais. Vislumbrou em sua mente a porta do seu quarto escancarar com um estrondo, e viu o ser encapuzado invadir o cômodo obrigando Lílian a soltá-lo, para desta forma o matar e poupá-la da morte. Recordou Os pedidos de súplica e a humilhação de sua mãe para que Voldemort não o destruísse e logo em seguida um grande e incandescente clarão verde acompanhado de um prolongado e aflito grito foram vistos e ouvidos nitidamente por Harry. Para terminar, uma gargalhada gélida e sem alegria dominou sua mente, e ele, no dia do seu aniversário, foi novamente obrigado a escutar a risada maligna de Voldemort após assassinar friamente seus pais.
Antes de visualizar mentalmente o momento em que era atacado, uma voz vinda de algum lugar não identificado por ele, sussurrou:
- Harry, aqui!
Harry estava bastante envolvido com os pensamentos trágicos que o invadiram abruptamente. Sua cicatriz ainda o incomodava com dores intensas e a raiva e o rancor o possuíram após lembrar do culpado pela morte de seus pais. Ao ouvir a voz que soou em um baixo tom, o garoto que se encontrava sobre uma velha cama não deu importância, achou que pela primeira vez, como costumava dizer sua tia Petúnia, “estava delirando”.
- Harry, eu estou aqui!
Novamente a mesma voz que agora foi pronunciada um pouco mais alta, saiu de algum lugar do seu quarto. Harry levantou-se da cama e se perguntou de onde estava saindo aquele sussurro, que aos poucos lhe pareceu familiar.
- Quem está falando? – perguntou ele assustado.
- Eu, horas! Quem mais poderia ser? – perguntou à voz que ganhou eco no quarto.
- É você mesmo? – indagou Harry aos poucos reconhecendo o dono da voz invisível.
- Não, sou uma assombração! – zombou a voz – Claro que sou eu! Quer dizer, eu acho que ainda sou o Rony Weasley.
- Rony?
- Sim, eu mesmo, R-O-N-Y W-E-A-S-L-E-Y!
Harry ficou excessivamente feliz por saber que Rony havia atendido ao seu pedido tão rápido. A voz invisível no seu amigo o fez esquecer por completo as barbaridades que tinha acabado de reviver em sua mente, e o garoto não percebeu que sua cicatriz decidira finalmente parar de doer. Ele apenas esperava receber notícias através de cartas e não entendeu como o amigo poderia conversar sem ali estar presente, pelo menos, Harry não o vira em lugar algum do quarto.
- Você está usando uma capa de invisibilidade? – perguntou Harry curioso.
- Claro que não – disse a voz de Rony como se a pergunta que Harry fizera não tivesse o menor sentido. – Não tenho dinheiro para comprar nem um pirulito-flutuante!
- E onde voc...
Harry não pode completar a frase que mal iniciara, pois seu quarto fora pela segunda vez naquele dia invadido por uma mulher ossuda, descabelada e extremamente desequilibrada.
- EU NÃO IREI CONTINUAR COMPACTUANDO COM ESTE SEU MUNDO ANORMAL! – bradou Petúnia seriamente, sublinhando as duas últimas palavras.
- Não tenho culpa se estão me vigiando! – falou Harry dando as costas para sua tia, chegando a esquecer que a menos de um minuto estava dialogando com seu amigo.
- Você é igualsinho a ela mesmo – disse tia Petúnia com desprezo – A outra lá nunca tinha culpa de nada...
- A outra a quem você se refere tinha nome. Chamava-se Li...
- Era sempre “Oh mamãe, não tenho culpa por ter tocado fogo nos cabelos da pobre Petúnia. Mande a Petúnia lavar os pratos que não tenho culpa se me passaram um monte de atividades para resolver nas férias” – interrompeu a tia fazendo uma voz esganiçada, certamente na tentativa de imitar a de Lílian - “Não tenho culpa se todos os garotos gostam de mim papai. Não tenho culpa disso, não tenho culpa daquilo...”.
- Você sempre teve inveja da minha mãe, não foi? – perguntou Harry encarando sua tia dentro de seus olhos expressivos, como se desejasse ver mais do que lhe era mostrado.
- Eu? Inveja? Daquiiiiiiilo? – indagou Petúnia dando em seguida uma longa gargalhada sarcástica.
Harry se segurou para não pegar sua varinha e lançar um feitiço imperdoável em sua tia. O garoto aos poucos estava cansando de ser humilhado pelas pessoas, mas sempre que ia sendo tomado por um desses impulsos momentâneos, uma voizinha dizia em sua consciência para ter calma, que tudo daria certo.
- Você sempre cobiçou a vida, a beleza, os namorados e o dom da minha mãe. – afirmou Harry como se fosse um antigo baú, que só agora fora aberto para revelar o que tinha por dentro. – Você não suportava ver meus avós a tratarem melhor do que você pelo fato dela ser bruxa e você ser apenas uma trouxa!
Petúnia comprimiu a boca com tanta força que Harry chegou a ter dúvida se nenhum dos seus dentes cavalares haviam se quebrado. Sua fisionomia que até então possuía ar de desdém se modificara imediatamente para uma expressão grave, severa, cujo chegara a pôr medo em Harry.
- Não admitirei que você me trate desta maneira, pirralho – retrucou tia Petúnia – Guarde seus desaforos para aquele velho e aquele gigante que vivem atrás de você!
- Nem eu deixarei que você menospreze minha mãe, muito menos o Dumbledore e o Hagrid! – declarou Harry com firmeza, continuando a encará-la nos olhos. A menção do seu diretor e de seu amigo o deixaram ainda mais irritado, fazendo suas têmporas saltarem.
- Sua mãe da mesma forma que o seu pai nunca valeu nada, você irá descobrir isso um dia – falou a mulher com aspereza – Eu fui muito boa para você rapaz, pena que nunca conseguiu perceber isto. Dei-lhe a chance de ser um garoto normal, como todos os outros... – continuou tia Petúnia vagando pelo quarto – Mas você preferiu como seus pais apelar pela anormalidade que chamam de magia! Veja só, O Profeta Diário! - disse com deboche apanhando o jornal que estava sobre a cama - Quanta idiotice... Suposto Comensal da Morte foge de Azk...
Ao ler a manchete tia Petúnia demonstrou-se interessada na leitura, apesar de continuar a fazer uma série de muxoxos em quanto passava rapidamente os olhos pela notícia. Ela passou quase um minuto segurando o jornal, e ao terminar de ler a nota fixou um olhar assustado na foto em preto e branco de Lúcio, que agora escondia o rosto por trás da plaqueta de escrituras estranhas. Com as mãos trêmulas a mulher segurou o periódico, repartiu em mil pedacinhos e jogou todos em cima de Harry, deixando o rapaz sob uma pequena chuva de papel picado.
- Está vendo o que sua mãe me deixou de herança? – perguntou tia Petúnia com a voz completamente trêmula – Um filho que está marcado para morte desde que nasceu! Mas não pense que eu estou preocupada com você, por mim este Lord-Das-Não-Sei-Quantas teria lhe destruído há mais tempo, já que você não tem jeito de aprender que este seu mundo só o leva a infelicidade! – A mulher sentou-se à beirada da cama de Harry, como se não tivesse os devidos cuidados poderia ser contaminada por alguma doença contagiosa – Você tem idéia do que significa o retorno desse bruxo?
- Se existe alguém neste mundo que sabe realmente quem é Voldemort, este alguém sou eu! – retorquiu Harry absolutamente sem paciência - Eu o vi ganhar vida há dois anos! Eu o encontrei agora a pouco no Minist...
- Não parece! – interrompeu sua tia com a expressão de arrogância que já lhe era característica própria – Eu acompanhei tudo o que a tola da sua mãe passou quando este feiticeiro havia retornado da penúltima vez! Foram tempos tenebrosos, inesquecíveis! E pelo que vejo você está seguindo o mesmo caminho dela e tudo indica que terá o mesmo fim!
Harry ficou estatelado. Absolutamente abismado ao ver sua tia falando do passado e de sua mãe para ele, coisa que nunca havia feito. Sempre que ele ia fazer perguntas referentes a sua família para ela à resposta era a mesma: Não me faça perguntas, moleque atrevido! E desta vez fora diferente. Sua tia iniciara uma conversa sobre o que acontecera antigamente sem ele ao menos pedir para que ela fizesse tal coisa.
- Escute bem uma coisa – pronunciou tia Petúnia segurando os braços do sobrinho com força – Eu não permitirei mais que você continue sendo o pivô das barbaridades que acontecem em minha vida! Aqueles monstros vão vir em sua procura da mesma forma que fizeram com aquela outra, e como a velhota da outra rua disse, eu, meu esposo e meu filho também corremos risco de vida por sua causa!
- Não pense que eu estou aqui vivendo as suas custas por que quero ou gosto! – exclamou Harry livrando-se das grandes mãos de tia Petúnia – Passei estes quinze anos agüentando por humilhações porque fui obrigado!
- Você também saiu muito parecido ao seu pai, sabia? – perguntou Petúnia examinando o garoto de cima a baixo, fazendo a mesma cara que costumava fazer quando ia jogar o lixo fora – Ele também era desaforado como você...
- EU JÁ DISSE! DEIXE OS MEUS PAIS FORA DISSO! – explodiu Harry.
Novamente a idéia de estuporar sua tia lhe veio à mente... Colocou a mão úmida no interior do grande bolso da calça surrada que vestia. Seus dedos agora trêmulos passearam por dentro do saquinho de jeans costurado na peça a altura de sua coxa, e encontraram o que tanto ansiavam. Tatearam levemente um objeto fino e comprido, que chegou a vibrar como uma vassoura no ar. Harry depositou toda sua raiva na varinha, pressionando o punho de madeira da mesma com extrema força.
- Deus, o que eu fiz para merecer tanto? – perguntou tia Petúnia abanando a cabeça lentamente – Se é verdade que este feiticeiro está solto, certamente acontecerão às mesmas coisas que aconteceram no passado! E eu sim, serei humilhada perante toda a vizinhança! Como se não bastassem as fofocas que rondaram nesta rua durante todos estes anos ao seu respeito!
- Não me interessa o que a vizinhança pensa! – replicou Harry apertando a varinha com mais intensidade.
- Quando lembro as coisas terríveis que este bruxo é capaz de cometer! – falou a mulher com mau humor, sem ao menos olhar para Harry - E foi por causa dele e da idiota da sua mãe que... – A voz de Petúnia tremeu ainda mais, da mesma forma que o seu corpo ossudo. Seu rosto ganhou formas de tristeza e de seus olhos brotaram lágrimas que escorreram lentamente por suas bochechas flácidas. A mulher realmente deixou a infelicidade que estava incubada há anos lhe dominar.
Apesar dos insultos ditos por ela em relação a sua mãe, Harry não conseguiu fazer outra pergunta ao se deparar com a tia que parecia está ao lado de um dementador:
- Foi por causa da minha mãe que o que? – perguntou Harry com a voz abafada. Sua respiração ganhou um ritmo acelerado e de sua testa nasciam centenas de pingos de suor, que não demoraram a percorrer pelo rosto corado do garoto. Já estava preparado para sacar a varinha.
- POR ELA TER SEGUIDO O RUMO DA BRUXARIA COMO VOCÊ ESTÁ FAZENDO AGORA, QUE MEUS PAIS FORAM MORTOS! – gritou Petúnia aos prantos, misturando expressões de melancolia e ódio. – FORAM ASSASSINADOS POR CULPA DELA! DELA E DO IMBECIL DO SEU PAI!
- É MENTIRA! – bradou uma voz rouca atrás de tia Petúnia.
Harry sentiu seu sangue até então borbulhante, congelar por dentro de suas veias. Da mesma maneira que seus ouvidos não acreditaram no que acabaram de ouvir, seus olhos não creram no que foram forçados a ver. Parada firmemente na entrada do quarto encontrava-se uma senhora alta, magra, com os cabelos grisalhos amarrados em um coque e tinha os lábios tão contraídos que pareciam uma linha. Segurava entre os dedos uma varinha comprida, vestia uma longa saia negra, acompanhada de um casaco estampado. Em seu ombro as alças de uma pequena bolsa preta estavam penduradas. Tinha um olhar rigoroso, de reprovação, e fora capaz de deixar Petúnia boquiaberta.
- NÃO ACREDITE NAS PALAVRAS QUE ESTA MALUCA DIZ! – gritou mais uma vez a intrusa, em quanto pequenas fagulhas vermelhas escapuliam de sua varinha. Harry percebera que a bolsa da velhota aos poucos começava a realizar movimentos bruscos contra seu braço, como se um animal lá dentro se debatesse. – QUEM É VOCÊ PARA FALAR DE LÍLIAN E TIAGO POTTER?
A Profª Minerva fitou tia Petúnia com ar rude, em quanto esta aparentava estar se preparando para enfrentar uma guerra. Limpou rapidamente as lágrimas que ainda escorriam pelo rosto com as costas das mãos, deu um prolongado suspiro, encarou à senhora que invadira sua casa e berrou:
- SOU PETÚNIA DURSLEY, E NÃO ADMITIREI MAIS QUE SERES DA SUA RAÇA CONTINUEM VISITANDO MINHA CASA TODOS OS VERÕES!
- NÓS É QUE NÃO QUEREMOS MAIS TER O DESPRAZER DE PORMOS NOSSOS PÉS NESTE LUGAR! – bufou a Profª McGonagall dando prolongados passos em direção da proprietária da casa. – VOCÊ NÃO TEM IDÉIA DA IDIOTICE QUE COMETEU HOJE, SRA. DURSLEY!
- IDIOTA EU ESTAVA SENDO QUANDO RECEBIA ORDENS DE VOCÊS! – devolveu tia Petúnia elevando ainda mais a voz – CHEGA! NÃO IREI MAIS CRIAR ESTE PIRRALHO! MINHA VIDA VIROU UM INFERNO DEPOIS DELE, LEVE-O DAQUI IMEDIATAMENTE!
- ANTES VOCÊ PAGARÁ POR TODAS AS PALAVRAS QUE DISSE SOBRE A LÍLIAN E O TIAGO! – prometeu a Profª Minerva, salpicando o rosto aterrorizado de Petúnia com saliva. Estranhamente, sua bolsa fez movimentos ainda mais bruscos, freneticamente, para todos as direções. – POR TER IMPESTADO A MENTE DE POTTER COM IDIOTICES E POR FAZÊ-LO SOFRER POR TODOS ESTES ANOS!
- Vocês é que irão me pagar por terem me obrigado a ficar com este moleque imprestável! – retrucou tia Petúnia afastando-se da Profª Minerva – E não retiro nenhuma palavra que disse sobre aqueles dois! – continuou erguendo a cabeça magra, olhando a velhota com ar de superioridade.
- Veremos se você continuará a ter este pensamento – disse a professora arregaçando as mangas do casaquinho estampado e erguendo a varinha para a mulher aterrorizada que se encontrava a sua frente. – O Sr. Potter não pode se defender com magia, mas ele tem a mim, que posso defendê-lo! – gritou apertando a ponta da varinha entre os seios de tia Petúnia, que se encontrava aterrorizada. – Em quanto eu estiver viva não deixarei ninguém insultar a memória dos Potter’s!
Ao mesmo tempo em que McGonagall torturava Petúnia com palavras, um rapaz gordo com cara de quem tinha chorado durante horas, adentrou no quarto demonstrando bravura. Segurava em uma das mãos um pesado bastão de basebol e apesar do terror e medo que estampavam seu rosto circular, ele adiantou-se, ficando na direção da professora, que não o vira, pois estava de costas para ele.
No instante seguinte os olhos de Harry quase não foram capazes de acompanhar os inúmeros fatos simultâneos que se sucederam a sua frente. Também não chegou a perceber o que por impulso fizera. No mesmo segundo em que a Profª Minerva pronunciou a maldição que lançaria em tia Petúnia, Duda soltou um prolongado “Yaaaahhhhh”, correndo com o taco de basebol entre as duas mãos gordas, depositando toda sua força para quebrá-lo nas costas da velhota que entrou em sua casa sem ser convidada. Harry teve a sensação que uma mão gélida apertava seu coração com bastante força. E antes que pudesse pensar em algo, correu de onde estava na tentativa de segurar o primo. Mas foi tarde demais. Um jato de luz pérola passou em sua frente antes que ele pudesse fazer qualquer coisa. Minerva ao ouvir o grito de guerra de Duda virou-se instantaneamente, fazendo com que o feitiço que seria absorvido por Petúnia, atingisse o peito do garoto com força, antes que ele pudesse ao menos encostar o taco de basebol nela.
- Nããããããããããoooooooo! – gritou tia Petúnia desesperada ao ver o clarão de luz colidir com violência o corpo do filho. O rapaz foi caindo lentamente, chacoalhando toda a estrutura da casa ao chocar-se com o chão.
Após o feitiço passar diante de seus olhos, Harry virou o rosto para todos os lados no intuito de ver seu primo, mas só conseguiu enxergar a contrariedade de tia Petúnia, que agora dava fortes tapas na Profª Minerva. Antes de perguntar onde estava Duda, um veemente grunhido foi ouvido por ele. Aos seus pés estava uma das coisas mais feias e ao mesmo tempo engraçadas que ele já vira na vida. Um porquinho extremamente gordo, cor de rosa, olhinhos de contas e entre as orelhas pontudas encontrava-se um punhado de cabelos verde-limão. O rosto de Duda estava nitidamente impresso na cara do animal. Ao ver sua mãe, o bicho deu longos roncos e saiu contorcendo o pequeno rabinho em direção a tia Petúnia.
- O que fizeram com você Dudoca... – choramingou tia Petúnia desistindo de bater em McGonagall e segurando nos braços a versão suína do seu filho. – Dudinha, o que foi que aconteceu...
Harry não conseguiu parar de dar grandes gargalhadas, mesmo recebendo de Minerva um forte olhar de censura. Imediatamente toda a angústia que o possuía foi evaporada. Nada naquele momento o faria lembrar dos problemas que futuramente teria que enfrentar.
- Vamos, faça alguma coisa! – exclamou tia Petúnia segurando o porquinho roliço aos prantos, enquanto este insistia em dar prolongados grunhidos e se agitava nos braços ossudos da mãe.
- Espero que agora você perceba como foi uma péssima idéia dizer todas aquelas coisas parar o Potter – falou a Profª Minerva encarando tia Petúnia com seriedade.
- Eu não me arrepend... aaaaiiiiiiiii! – Antes de terminar a frase, Petúnia foi interrompida por algo bastante constrangedor. O porco que segurava pelas duas pernas dianteiras de frente para si, lançou urina em seu rosto como se uma pequena mangueira estivesse ligada, ensopando por completo a cara cavalar que a mulher possuía.
Foi uma diversão para Harry, e McGonagall virou o roto com a tentativa fracassada de disfarçar o sorriso.
- Hum... Agora pegue sua varinha, só ela. Ah! Pegue o seu malão também. – sintetizou Minerva ao som dos resmungos de tia Petúnia e roncos eufóricos de Duda.
Imediatamente Harry fez tudo o que a sua professora mandara. Como já imaginava, ela da mesma maneira que Tonks no ano anterior fez um feitiço para que todas as suas roupas, livros e objetos voassem de onde estavam e se organizassem em poucos segundos na mala.
- Varinha em punho? – perguntou McGonagall tentando controlar sua bolsa, que agora mais que nunca, saltitava contra seu braço.
- Sim. – respondeu Harry com firmeza.
- On-de vocês pe-ensam q-u-e v-ã-ão? – indagou tia Petúnia soluçando, soltando o porco que agora excretara fezes por todo o chão. – Faça m-e-eu Du-du-dinha voltar a s-e-er o que e-ra!
- Ele não está muito diferente do que era, Sra. Dursley. – respondeu Minerva examinando o suíno por trás dos óculos quadrados. Seus dentes tão serrados que as palavras saíram abafadas – Agora Harry, não se preocupe com o seu malão, eu o levo.
- Não, não precisa se incomodar Profª Minerva.
- Não, você não está me entendendo. – explicou McGonagall em quanto tia Petúnia a insultava dos piores nomes que conseguia lembrar – Eu terei que levar o seu malão, até porque ele poderia lhe causar desconfor... Sra. Petúnia, caso não pare terei que tomar providências!
Harry não conseguiu compreender nenhuma palavra dita pela professora que parecia apressada e nervosa, segurando com força a pequena bolsa preta que estava pendurada em seu ombro, que por sinal ainda parecia ter vida, pois uma pequena nuvem de fumaça verde começou a sair lá de dentro.
- Não me causará desconforto algum, eu estou bem professora.
- Eu sei que você está bem, mas viajar dentro de uma bolsa acompanhado de um malão não me parece nada confortável. – disse McGonagall finalmente sentindo o cheiro da fumaça que saía em grandes camadas do interior de sua bolsa. – Será que você não consegue parar de fumar nem por um minuto?
Harry chegou a se perguntar se a Profª Minerva estava ficando louca. Não havia a menor possibilidade dele viajar dentro de uma bolsa, pois esta teria que ser muito grande para o caber. E o fato dela conversar com o próprio objeto o deixou pensativo.
- Fique quieto Sr. Fletcher, ainda estou passando as instruções para ele! – falou a professora com mau humor, olhando para dentro da bolsa.
- Fletcher? Mundungo Fletcher? Ele está aí dentro? – perguntou Harry incrédulo.
- Sim, está. – respondeu Minerva como se isto fosse a coisa mais normal do mundo. – Dumbledore insistiu que eu o trouxesse comigo, mesmo eu dizendo a ele que não seria uma boa idéia! Como se eu não fosse capaz de me defender sozinha...
O mundo da magia realmente sempre fora capaz de fazer Harry se surpreender. Mas antes que ele pudesse fazer qualquer pergunta, viu a Profª Minerva tirando as alças da pequena bolsa negra do braço. Abriu com cautela o botão que prendia o objeto, e o virou sem nenhum cuidado de cabeça para baixo, dando fortes tapas com a mão esquerda no fundo do mesmo. Para o terror de tia Petúnia e do porco, um homenzinho de aparentemente quinze centímetros saiu de dentro da bolsa, espalhando fumaça pelo ar. À medida que a miniatura de Mundungo Fletcher foi caindo de encontro ao chão, foi crescendo magicamente. E antes de bater o bumbum no piso, um homem de quase um metro e setenta também estava presente no cômodo.
- Achei que você não me tiraria mais nunca de lá, Minervinha! – disse Mundungo indiscretamente, massageando as nádegas com as mãos sujas de tabaco.
- OUTRO BRUXO? – berrou tia Petúnia desesperada, apertando com força o porco que tinha entre os braços.
- Sr. Fletcher, pode ir cuidar dos seus afazeres. Você já cumpriu com a sua tarefa. – afirmou McGonagall rispidamente, sem ao menos olhar para a cara de tia Petúnia, que continuava a insultá-la no canto do quarto. – Daqui para frente é comigo, pois não terminei de cumprir com as minhas obrigações.
- Tudo bem Minervinha, precisando é só me acionar. – falou o homem soltando baforadas de uma fumaça que continha as mais diversas cores no rosto da professora.
- Espero não precisar. – respondeu Minerva secamente – E não me ponha apelido em quanto eu não lhe der o direito de cometer tal atrevimento, Sr. Fletcher.
- Perdão Minervi... quer dizer, Profª Minerva. – respondeu Mundungo olhando para o chão como se estivesse procurando alguma coisa, sem coragem de encarar a senhora nos olhos.
- Agora vá, pois creio que você ainda tem muitos trabalhos incompletos para serem finalizados ainda hoje.
- Sim tenho... Até logo Profª Minerva, agente se vê Harry, tchau Dona Petúnia, adeus porco!
E com um estalo o homem desapareceu.
- Quanta ousadia! – exclamou McGonagall erguendo as grossas sobrancelhas, olhando seriamente para o local onde Mundungo desaparatou. – Pronto Potter, está na hora de irmos.
- Para onde vamos? Porque eu tenho que ir dentro da bolsa da senhora?
- Lhe explicarei tudo quando estivermos em um local seguro, agora se me permite...
- Você não pode ir pra lugar nenhum antes de trazer meu Duda de volta! – grunhiu Petúnia quase igual ao filho.
- Não me obrigue a transformá-la também, Sra. Petúnia – ameaçou a Profª Minerva entre os dentes. – Agora temos que ir Potter, não podemos esperar mais.
A professora segurou a varinha firmemente, apontou-a para a bolsa negra que estava em sua mão esquerda e disse em alto e bom som:
- Increase!
A bolsa continuou do mesmo tamanho, mas aos poucos uma nevoa densa, dourada e brilhante saiu lentamente da borda da mesma.
- Agora feche os olhos, junte suas pernas e comprima seus braços ao corpo... – resumiu McGonagall segurando a bolsa como se fosse uma panela com água fervente.
Harry obedeceu às instruções da professora. Quando menos esperava, sentiu o vapor da fumaça dourada aquecer suavemente sua cabeça. Não viu, mas entendeu que Minerva estava o enfiando dentro do objeto no sentido literal. Tudo era como se apenas a borda da bolsa tivesse se alongando, e ao passar ia comprimindo todo seu corpo para que ele pudesse entrar no interior da peça, apesar da mesma não alterar seu tamanho natural. Sentiu como se uma espécie de tecido fumegante fosse se desenrolando sobre ele, o apertando com bastante força. Ao chegar no momento de passar pela barriga suas costelas quase partiram, pois a pressão feita pela bolsa era extremamente intensa. Finalmente, Harry sentiu o vapor da fumaça brilhante passar pelos seus pés, e todo o desconforto acabou tão rapidamente que ele nem percebera o quanto tinha sido reduzido. Mexeu vagarosamente os braços para ter certeza de que já poderia se movimentar. E ao abrir lentamente os olhos, compreendeu que estava dentro de uma espécie de saco de couro gigante. O local era escuro, desconfortável, e o chão se mexia tanto que uma tontura inesperada não demorou a se apossar dele. Estar dentro de uma bolsa era uma situação realmente incomoda, e não saber para onde estava sendo levado era ainda mais...
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