Capítulo XV
Capítulo quinze
O baile fora
concebido em uma hora perfeita para os estudantes e, quando Haykito desceu a
escadaria de mármore trajando uma veste à rigor negra, com a longa capa esvoaçando
às costas, não havia um estudante com no mínimo um resquício de alegria
estampado em seus rostos.
O Salão Principal
fora decorado com bolas escarlates que brilhavam, plumas e diversas coisinhas
ofuscantes e saltadoras, que pairavam no ar.
As longas mesas que
ocupavam habitualmente o salão, haviam desaparecido, dando lugar a algumas
mesinhas circulares espalhadas à um canto, diversos estudantes apinhados em
cada uma, conversando animadamente e bebendo em longas taças, com líquidos
azuis e verdes enchendo-as. Haykito correu os olhos pelo salão e, então,
depois de esforçar-se, espreitando os olhos, achou-o,
sentado à uma das mesas, os braços cruzados sobre o corpo, timidamente,
enquanto conversava com uma garota de longos cabelos ébano.
Haykito cerrou o
punho levemente, caminhando, deliberado, pelas mesas, tentando chegar o mais rápido
possível perto de Andrew; ele parecia tão interessado na conversa, o rosto
contraído em uma expressão estarrecida, enquanto ouvia atentamente alguma
resposta da garota com a qual falava.
Ela tinha a pele
lisa e alva, moldurada belamente pela longa cabeleira negra; olhos verdes
ofuscavam como dois botões incrustados em seu rosto e a boca escarlate parecia
ter sido pintada de maneira quase artesanal.
Uma sensação
desconfortável apossou-se do estômago de Haykito e ele sentiu que a barriga
dava uma reviravolta, cerrando os dedos nodosos e fazendo as unhas ceifarem a
palma da mão, como se pudesse segurar-se em pé.
Por um lado, estava
maravilhado com a beleza da garota, por outro, sentia uma vontade enorme de
poder arrancá-lo para longe dela, como se ela pudesse o atacar e roubá-lo
dele.
Seus passos ganharam
firmeza, precipitando-se cada vez mais para os dois, como se fosse um troféu
que ficava cada vez mais longe.
Estacou no chão; a
garota segurava agora a mão de Andrew, os dedos enrodilhados romanticamente nos
dele; Andrew sustentava um ar incrédulo e ao mesmo tempo sedutor, os cabelos
dourados reluzindo à luz bruxuleante que jorrava dos enfeites que pairavam no
ar.
Haykito ofegou; seus
pulmões doeram dentro de si e ele sentiu o coração fervilhar, acelerado,
batendo contra suas costelas... não podia ser. Ou estava sendo?
Não!
Não com Andrew... não...
Ele respirou
levemente, tentando fazer a calma voltar ao seu cérebro, embora todo o seu
corpo dissesse que não conseguiria. Talvez ela fosse apenas uma amiga comum e
eles estavam conversando sobre suas vidas... sim. Era isso. Não precisava se
preocupar com isso.
Um passo seguido do
outro, ele começou a avançar pelo salão novamente, sentindo que todo o corpo
se desiquilibrava a cada segundo e, então, chegou tão perto deles que podia
ouvir um sussurro como um grito.
- Ah... oi...
Haykito! - disse Andrew, desvencilhando-se rapidamente da garota e
levantando-se, ofegante. - Essa aqui é... Laura... não é? Laura?
- Ah... claro -
disse ela, levantando-se e erguendo a mão para cumprimentá-lo.
- Esse é meu namorado,
Laura - continuou Andrew, com uma ênfase contida na palavra namorado. -, como
estava dizendo...
- Ah... sim... tudo
bem, Andrew - disse ela, calmamente, a alegria repentina que estivera estampada
em seu rosto desmoronando com a mesma rapidez de uma lâmpada queimando. Ela
afastou-se alguns centímetros como se quisesse prevenir-se de uma doença
contagiosa e, então, girou nos calcanhares, acenando breve
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