Capítulo VII
Capítulo
sete
Uma névoa prateada o envolvia, fazendo-o parecer flutuar ao meio do
nada; podia sentir o seu coração pulsando com selvageria dentro de si e um
suor frio percorrendo sua testa, deslizando calmamente por sua pele; mas onde
estava? E o que estava acontecendo?
Rapidamente, a memória foi voltando e Haykito lembrou-se dos últimos
segundos antes de dormir. Despedira-se de Harry na porta de seu quarto, segurando-se
ao portal para não jogar-se nos braços do garoto e sentir o toque cálido dele
em seu pescoço... as carícias... Era incrível como a atração que ele sentia
pelo o outro crescera nas últimas horas desde que ele achara Harry apenas um
rosto bonito. Mas agora ele estava apaixonado
pelo garoto? Talvez... no sentido real da palavra... era apenas uma paixão.
Passageira. Passageira... Haykito
repetiu aquilo para si mesmo algumas vezes, sentindo um peso desconfortável no
estômago. Passageira... tinha
que ser passageira. Harry tinha até namorada. Amá-lo seria o mesmo que querer
se iludir e sofrer... Mas. Era algo que Haykito não conseguia controlar. Há
alguns dias atrás, se pegasse algum minuto em devaneios, provavelmente
lembraria de sua mãe. Mas não agora. Não agora que Harry aparecera na sua
vida.
Mas não podia ser carência? Sim, porque afinal ele perdera a mãe,
revoltara-se contra o pai e pegara-se em uma armadilha; estava sozinho.
Completamente sozinho em um mundo que considerava estranho. Não tinha mais a
pessoa que mais amara - sua mãe. E agora estava sem ninguém para proteger-lo
ou afagar seus cabelos quando estava triste. Poderia ser apenas uma simples carência.
Passageira.
Novamente a palavra assombrou-lhe.
Haykito tentou afastar seus pensamentos de Harry por alguns segundos e,
então, o fato de estar flutuando em uma névoa prateada pareceu alardeá-lo
finalmente; um dedo moveu-se levemente no meio do nada, procurando tocar em algo
e, então, tudo pareceu girar rapidamente e ele sentiu os pés baterem em algo
molhado e macio. Grama. Estava chovendo.
Podia ver a água torrencial caindo com força e alagando o gramado, porém,
não sentia a água bater em seu rosto e nem molhá-lo. Perscrutou em volta e
logo reconheceu o lugar.
Um jardim... não era um jardim qualquer... ele conhecia demasiadamente
aquele jardim de anos atrás. Girou os olhos para o lado, pousando-os na direção
que ele já sabia o que encontrar. Uma lona branca onde ele estacava nas
ocasionais chuvas, esperando-as estiarem. E fazia tanto tempo aquela época.
Devia ser uma criança de cinco anos talvez. E ainda podia lembrar-se das tardes
felizes em que pulava sob o calor do sol brilhante ou que chapinhava o gramado
assolado de água, em busca de algum abrigo seco.
A lona ainda estava lá... e ela
também estava lá.
Sentada em um banco baixo com um sorriso radiante abrindo-se em seu rosto
angelical.
Um impulso guiou-o até ela, e seus pés chapinharam o gramado molhado,
embora quase nem o tocassem direito, ele flutuasse alguns centímetros do chão.
Chegara à ela.
Mãe...
Seu coração pulsou aceleradamente e ele precipitou-se para seus braços,
sentindo os dedos cálidos dela tocando-lhe a nuca e deslizando para os cabelos,
afagando-os de leve.
- Mãe - foi a única coisa que Haykito conseguiu pronunciar, embora
sua voz saísse embargada... embargada pela saudade, pela vontade de dizer tudo
o que estivera entalado em sua garganta, de contar o amor que o assombrara nas
últimas horas... Mas tudo pareceu conseguir compactar-se em apenas aquela
palavra. Mãe. E como era doloroso que
ela se formasse por entre seus lábios; diversas vezes dissera e repetira aquilo
e, agora, à simples lembrança do seu som, doía-lhe o coração.
Eles então se desvencilharam e ela ergueu a mão para que ele tocasse-a;
seus dedos uniram-se perfeitamente e, então, um resquício de sorriso
perpassou-lhe o rosto e ela entreabriu os lábios para falar.
- Está tudo bem... e você conseguirá vencer sem mim... tenha sempre
certeza disso...
- Eu - começou ele, rapidamente, pois tinha
medo que aquilo tudo terminasse de repente e ele não tivesse chance de
contar o que acontecera. -, eu estou apaixonado... mãe... eu tenho medo... medo...
- Tudo vai ficar bem - disse ela, calmamente. -, agora está na hora de
acordar...
Haykito meneou levemente a cabeça, sentindo as lágrimas brotarem em
seus olhos, rolando por seu rosto. Não queria ir... não podia.
- Não vou - disse, com a voz grave. -, eu quero ficar com você.
- E Harry? - perguntou ela. -, Você tem a ele agora.
- Ele não me ama - disse ele, rápido. -, não me ama como eu o amo... e
nem me quer... e provavelmente ele é hetero.... não tenho chances.
-
Você é o mesmo garoto que eu conheci e eduquei? - exclamou ela, parecendo
levemente irritada. -, acho que não mais... lute por ele... e vença...!
-
Tudo bem - murmurou Haykito, com um tom etéreo na voz. -, mas... tenho que ir?
- Agora - disse a outra.
Ele encarou-a mais uma vez e então sentiu que algo o puxava para trás;
seu corpo dobrou-se e ele sentiu como se caísse em um precipício, algo o
amedrontando. Mas, então, viu-se olhando o dossel roxo de sua cama em seu
quarto no Caldeirão Dourado.
Com os dedos nodosos, alisou sua coberta e inclinou-se para a frente,
decidindo levantar-se, já que provavelmente não conseguiria mais dormir.
O
sol já irrompia pelos caixilhos da janela, irritando-lhe a visão e ele
encaminhou-se para o banheiro escovando os dentes e aproveitando os segundos
para aproveitar e pensar no que sua mãe dissera. Era realmente sua mãe? Ou
fora apenas um sonho comum?
O que quer que fosse, sabia que fora perfeito e o fizera bem, sem se
preocupar se fora ou não real.
Não tendo mais o que fazer em seu quarto, ele saiu do banheiro,
perscrutou mais uma última vez a cama com coberta desarrumada, com metade de
tecido caído no chão e, então, girou a maçaneta para o lado e imergiu no
corredor ouvindo um clique atrás de si ao passar pela porta.
*-*
Eu
só queria que você dissesse
Me
mostrasse o sentido das palavras que disse
Que
tolamente eu romantizei
Alguém
estava salvando minha vida
Pela
primeira vez
Eu
só queria que você estivesse lá
Quando
eu abri meus olhos
[I
only wanted, Mariah Carey]
*-*
- Olá, Haykito - disse uma voz rasteira e rouca, do fundo do pub
e ele viu logo a mão de dedos nodosos pairando no ar, mexendo-se freneticamente
para mostrar-lhe onde estava. Haykito andou alguns centímetros e a mão ganhou
um rosto; o rosto.
- Bom dia, Harry - disse o garoto, cordialmente, sentando-se defronte ao
outro e erguendo um dedo para que Tom trouxesse uma xícara de café. - onde estão
os outros? Ainda não acordaram?
- Está cedo - disse Harry, abrindo um sorriso largo. -, eles
provavelmente estão arrumando as malas. Já fez as suas?
- Hum... não tem muito o que fazer, só os livros e algumas roupas -
respondeu Haykito, brevemente. -, mas...
Eles imergiram em um silêncio desconfortável e Haykito forçou-se a não
sorrir, contraindo o rosto em uma expressão séria, tentando ao máximo não
focar os olhos em Harry e tocar-lhe as maçãs do rosto.
Tom aproximou-se carregando uma bandeja de prata lotada de copos e xícaras
e tirou uma, entregando-a ao garoto, que achou bastante conveniente ocupar-se na
arte do café da manhã do que ser obrigado a ficar em silêncio, sem assunto.
- Então... você... já... namorou? Haykito? - perguntou Harry, sem
vontade.
- Ahh... não... não - respondeu ele, rapidamente, sentindo-se corar.
- Mas já gostou de alguém?
Haykito ergueu os olhos.
- Já - disse, com a voz embargada.
- E como foi? - perguntou Harry, calmo.
- Ah... a pessoa não gostava de mim - disse ele, pousando a xícara no
pires antes que ela caísse entre seus dedos trêmulos e abrindo um sorriso para
Harry. Uma pedra de quase quatro quilos caiu na boca de seu estômago
desconfortavelmente.
- Eu tenho uma namorada sabe - continuou Harry, parecendo ter sua calma
ameaçada. -, mas... eu não sei... ultimamente eu não tenho mais minha atenção
centrada só nela... parece que meus pensamentos agora não saem de uma outra
pessoa entende?
-Ah... claro - murmurou Haykito, as cores esvaindo de seu rosto. Seria
ele? Ou ele estava apenas falando de alguma garota qualquer pelo mundo? Mas...
as evidências apontavam para ele. Não apontavam?
- E eu queria saber... assim. Sei lá... parece um... amor proibido - Ele
suspirou levemente e, então, sua mão avançou pelo tampo da mesa. No segundo
seguinte, Haykito podia ter certeza que Harry segurava sua mão, a calidez de um
toque em sua pele fazendo-o tremer em arrepios. Mas então, uma voz aguda berrou
de algum lugar e ele pôde ver que uma luz dourada banhava o pub,
vinda da porta. Um clique e a porta fechou-se e uma garota baixa, de cabelos
ruivos adiantou-se pelas mesas, procurando alguém; Haykito sentiu que o toque
em sua mão sumira e, então, viu Harry levantando-se abruptamente e abrindo os
braços para recepcioná-la.
No instante seguinte, o garoto avançara para a outra e os dois
beijavam-se calidamente.
- Gina... que surpresa boa!
- Que saudade!
Não era possível. Eles haviam dado as mãos. Não fora? Mas... como era
possível?
Diversas imagens giraram em torno de Haykito e ele sentiu apenas que não
estava mais em lugar nenhum...
Nota
do autor:
Bem...
capítulo que eu tinha falado neh XD já to escrevendo o capítulo 13 =]~ e como
ninguém comenta, não posto. mas tudo bem. nada mais a falar
:*
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