Resoluções



No dormitório masculino da Grifinória, um rapaz de cabelos negros e olhos bem verdes, sorria estupidamente sozinho, um brilho de felicidade e, ao mesmo tempo vingança, em seus olhos.
(Flashback:)
* - Ginny quer namorar comigo?
Os olhos da garota se abriram numa sincera expressão de surpresa. Por momentos se instalou no local um silêncio pesado de ansiedade. Ginny finalmente acabou com a tortura e, ainda que hesitante e com a voz falhando, respondeu:
- Eu já disse a você que não podia te prometer nada, não foi?
Um sorriso surgiu nos lábios de Harry que se sentia agora mais calmo com as palavras ouvidas.
- Mas Ginny… - começou Dean.
-Mas, Dean, deixe-me continuar…eu nem sei bem como dizer isso… - era visível que a garota procurava as palavras certas para continuar o discurso.
A dúvida pairava agora no ar ao som daquela última frase e atingiu Harry, cujo coração acelerou imediatamente. Não se segurou e, sob a ameaça de ter de ouvir a ruiva aceitar o pedido de Dean, quis entrar em cena, pronto para partir para cima do garoto. No entanto, nesse instante, alguém o impediu, segurando-o pelo braço. Virou-se bruscamente, pronto para descarregar toda a raiva em quem quer que fosse que o impedia de reclamar e zelar pelo seu amor. Distinguiu, no meio da sombra, a forma do rosto de Susan, uma amiga de Ginny e Luna que lhe murmurou ao ouvido, enquanto conduzia o rosto do moreno, com a fina mão direita, em direcção à amiga e Dean:
- Calma Harry, ela sabe o que fazer.
- Diz logo Ginny, de uma vez. - pediu Dean esperançoso.
- É que…eu realmente disse a você que não prometeria nada masque você poderia tentar, fazer como bem entendesse. A verdade é que…bom aconteceu algo entre mim e…o Harry.
- De novo…! E você vai se entregar àquele…para ele te fazer sofrer mais ainda?
A força das mãos de Susan no braço de Harry teve de aumentar consideravelmente para controlar a sua fúria.
- Dean! Pára com isso! Você não tem o direito de me dizer essas coisas. Eu estou tentando te dizer e explicar a situação com o maior cuidado, tentando te fazer sofrer o menos possível…mas não se meta na minha vida!
- Desculpa Ginny, eu…
- Dean era só isso mesmo que eu tinha para te dizer. Eu não sei se vou ficar com o Harry, ele me magoou sim…eu só não quero que você se engane. Agora, por favor, não insista mais.
Depois disso Ginny seguiu para o dormitório feminino e Dean desceu para a sala comunal, visivelmente transtornado, enquanto Susan e Harry continuavam escondidos. A garota saiu das sombras e, antes de seguir atrás da amiga, piscando o olho, apenas disse:
- Viu? *

Harry sorria ao relembrar aqueles momentos em que sentiu, finalmente, que nem tudo estava perdido com Ginny. Assim, mais calmo com esses pensamentos e com o peso do cansaço pelas noites de sono perdidas, cedeu à fadiga e repousou, com um sorriso ainda brincando em seus lábios.

* * *

Os olhos verdes de Harry se abriram repentinamente, não que tivesse sofrido mais um pesadelo, mas pelo barulho de algo se quebrando no chão. Sentou-se na cama e colocou os óculos, os olhos ainda semicerrados perscrutaram o dormitório em busca da origem de tal ruído. No para peito da janela, ao lado de sua cama, descobriu Ron sentado com a cabeça entre os joelhos. Mais atrás viu, ao lado da cama do ruivo, um candeeiro, ou os restos dele, espalhados pelo chão. Intrigado pelo amigo e pelo facto de o sol ainda não brilhar lá fora olhou o relógio que se encontrava perto da porta. Agora sim estava preocupado, o que fazia Ron às 5:30 da madrugada no parapeito da janela?
- Ron? Ron, não me diga que está dormindo nessa posição?
A resposta foi impossível de interpretar, era apenas um grunhido indecifrável. Harry, agora já mais desperto se levantou e se dirigiu ao amigo, sentando-se a seu lado.
- Ron, o que houve? Está sem sono?
- É…- respondeu o ruivo com a voz meio embargada, ainda com a cabeça entre os joelhos.
- Você poderia olhar para mim? Não entendo nada do que você está falando. - insistiu o garoto já preocupado com a indiferença do amigo.
Ele assim fez. Lentamente, foi levantando o rosto, olhou o amigo uns segundos, mas logo desviou sua atenção para os campos lá fora, fracamente iluminados pelo luar. Não foi difícil para Harry reparar que, realmente, algo estava muito errado com o amigo, pois os seus olhos estavam incrivelmente brilhantes e o verde-azulado de seus olhos era agora tão profundo e tenebroso como todos os oceanos do planeta.
- Ron, não quer falar comigo? Você não está bem… - pediu.
- Não sei mais o que fazer….nem percebo o que está se passando. - desabafou o ruivo.
- Como assim? O que houve?
- Eu não sei… é por isso que não sei como agir. - respondeu com os olhos inexpressivos vidrados no exterior, mas Harry sabia que ele não observava os ramos das árvores que se agitavam ao sabor do vento, ele olhava para dentro de si mesmo, perdido na sua própria insegurança.
O moreno não sabia mais o que dizer, as respostas do amigo não faziam qualquer sentido e, no entanto, era urgente que ele desabafasse.
- É algo com você? Está doente? Ou…é algo com Hermione?
Ao ouvir esse nome, Ron deixou a cabeça cair para trás e lançou um suspiro rouco. Era óbvio que Harry tinha acertado em cheio e o ruivo iria agora descarregar o que quer que fosse que assombrasse sua mente, ou…seu coração.
- Harry eu não sei o que faça…ela está esquisita comigo.
- Com assim, esquisita?
- Você não notou ainda? Ela me evita completamente…Dantes ela ainda disfarçava, agora já nem se dá ao trabalho de o fazer…ela…
- Nem vem Ron! - cortou Harry adivinhando os pensamentos do amigo - Hermione te adora, isso é só coisa da sua cabeça.
- Não é Harry! Hermione já não quer saber de mim, aliás, será que alguma vez quis?
- Não vai por aí…
- É sério Harry! Caramba, o que foi que eu fiz de errado? Toda a gente sabe que eu adoro ela, faço tudo para agradá-la. Tudo bem que eu nunca entendi o que ela tinha visto em mim: um garoto ruivo, desengonçado, bobo, burro…
- Hey! - exclamou Harry abanando fortemente o amigo pelos ombros - Quer parar de se rebaixar? Eu acho que você está exagerando, não há razão para toda essa agitação.
- Harry, eu nem tenho ideia de onde ela está agora! Estive até à meia-hora atrás lá em baixo esperando por ela e nada…5 da manhã, Harry! Alguma coisa está se passando! Mas porque ela não fala comigo? Porquê me castigar desse jeito? - exclamava o garoto já descarregando todo o desespero que corria em suas veias.
- Shhhh… calma, você ainda vai acordar os outros.
- Ah, desculpa Harry, você nem tinha que estar aqui me ouvindo, eu sou um inútil mesmo! - respondeu Ron colocando de novo o rosto entre os joelhos.
- Chega! Somos amigos Ron, é para isso que os amigos servem. Mas, afinal, porque VOCÊ não fala com ela?
Ron não respondeu, apenas expirou longamente. Quando Harry ia insistir Ron esmurrou fortemente o parapeito em que estavam sentados com o punho cerrado:
- Eu…sou um cobarde …eu acho que estou só tentando adiar o momento em que ela vai terminar tudo comigo.
- Mas como você sabe que é isso que ela quer?
- Ah, Harry! Ela me evita e está fora da cama até essas horas…o que você pensaria? Pelo menos seja sincero comigo…
- 'Tá…eu não sei…não me parece coisa da Hermione mas…deve haver uma explicação muito boa Ron.
- Eu só queria saber quem é o canalha. - murmurou o ruivo entre dentes e, respondendo ao olhar interrogador de Harry - O que roubou o coração da MINHA Hermione de mim.


* * *


Antes disso, pela meia-noite, Hermione se encontrava com Dean num dos corredores menos frequentados do Castela, principalmente àquela hora.
- Até que enfim, eu estava até para não vir, a noite não me correu nada bem! - reclamou o rapaz.
- Desculpa a demora! Foi a Ginny? Trouxe o que pedi?
- Não quero falar sobre isso, e sim, trouxe o manto da invisibilidade. Quase era apanhado, aquele babaca voltou cedo para o quarto.

- Obrigado e…não fale assim do Harry.
- Ora me poupe, eu é que sei o que ele faz à Ginny, e ela boba…ainda não o esqueceu.
- É a vida… - Hermione não conseguiu esconder um sorriso.
- 'Tá…agora vê se não esquece de me ajudar com Transfiguração.
- Certo, obrigada mais uma vez.
Hermione colocou o manto iniciou caminho em direcção contrária à do rapaz, ia para a biblioteca. Chegada lá, não hesitou em se dirigir à área restrita. Poisou o candeeiro que trazia em cima de uma mesa e procurou ansiosamente alguns livros nas estantes que eram iluminadas por aquela luz. Ali ficou cerca de três horas, devorando os livros, folheando energeticamente em busca de qualquer informação que ajudasse na resolução do mistério que a intrigava.
Já se sentia cansada, quase adormecia em cima dos livros e, de vez em quando, sentia um arrepio de frio incómodo percorrer-lhe o corpo. Assim, decidiu parar a busca por ali, pelo menos por aquela noite. Pegou no candeeiro, cobriu-se com o manto de Harry e saiu da biblioteca. Porém, já vagueando pelos corredores, um pensamento sombrio veio assolá-la, sentia um peso na consciência. Já sabia demais e ele ainda vivia na mesma amargura mas, seria correcto e, acima de tudo, seria seguro partilhar as novidades com Draco? Não teve tempo de responder à pergunta pois seus pés já a guiavam em direcção à casa-de-banho dos prefeitos onde tinha encontrado o garoto pela primeira vez àquelas horas da noite, tinha um pressentimento de que ele estaria lá.
O facto é que se enganou, ao chegar ao local bem que procurou e chamou por ele mas não havia sinais de vida de quem quer que fosse além dela. "Droga, aposto que agora não vou conseguir dormir com isso na cabeça." - pensava a morena dirigindo-se à janela - "Esses sonhos de Harry já andam me preocupando demais e, para piorar, não consigo falar com aquele crápula, loiro platinado. Ah Hermione vê se limpa essa cabeça, não vai deixar que o facto de não poder partilhar as informações com aquele imbecil piore as suas insónias, não é? Essa misericórdia ou seja o que for que você agora sente já está indo longe demais! Deu em defensora de traidores e feiticeiros negros?"
Não pode responder a essa pergunta pois, nesse instante, sua atenção foi atraída por um qualquer vulto que vislumbrou junto do lago. Apesar da fraca luz da lua, pode concluir que era um vulto humano e, já que não era Hagrid, pois o tamanho não era nem metade do do meio-gigante, então não havia mais ninguém que pudesse se arrastar pelos sítios mais sombrios de Hogwarts senão ele: tinha que ser Draco.
Hermione pegou suas coisas, se cobriu com o manto, não fosse Filch pegá-la em flagrante, e desceu a escadaria do castelo até às cozinhas. Com a ajuda de Dobby pode sair para os campos sem que corresse o risco de ser realmente apanhada pelo encarregado.
- Muito frio lá fora amiga de Harry Potter, senhor…não sei porque quererem sair a uma hora dessas.
- Quererem?
- Oh sim, filho mau de Malfoy's também já ter saído. - respondeu Dobby num murmúrio - Mas hoje rapaz até oferecer presente a Dobby. - o elfo dirigiu-se a um pacote em cima de uma mesa e de lá retirou um cachecol e um par de meias, ambas as peças de lã e muito coloridas.
Hermione olhou o presente com ar reprovador: aquele não mudaria mesmo, poderia até não se aliar com Voldemort por medo, mas no restante…comprar um elfo com roupas, sinceramente!
- Obrigada Dobby, desculpe ter te acordado. - pediu a garota docemente.
- Dobby estar de vigia, gostar de ver Hermione!
Ela apenas sorriu e saiu para os campos. O frio era, realmente, imenso. O vento era muito forte, por isso, a garota se aconchegou dentro do manto de Harry, agarrando-o firmemente com ambas as mãos. Foi até à margem do lago e estacou atrás do loiro, pensando no que lhe dizer. Ele ainda não havia notado a sua presença, o uivo do vento e seu barulho nas ramagens e no gramado impediam qualquer um de reparar em outro ruído. A morena decidiu sentar-se a seu lado, o qual, finalmente notando-a, se virou para ela e, de um salto e lançando um grunhido de susto e horror, afastou-se dela.
- Qual é o seu problema?! Está brincando comigo? Ah eu realmente não sei porque vim até aqui! - exclamou Hermione chocada com a atitude do rapaz.
- Ficou louca?! Você me aparece aqui vinda do nada…aliás, você não, sua cabeça aí, flutuando…quer que eu faça o quê?!Você é esquisita mesmo… - justificou ele ofendido, ainda mantendo uma certa distância de segurança.
Hermione olhou para seu corpo e só aí se deu conta de que estava invisível, apenas com a cabeça a descoberto do manto. Tirou-o repentinamente deixando aparecer todo o seu corpo novamente, o que a fez gelar, afinal o manto fazia toda a diferença.
- Bem melhor assim, muito mais normal. - comentou Draco.
- Uhm…até que valeu a pena só para ver sua cara de susto retrucou a morena.
- Pois sim. Mas, afinal, o que é que você quer comigo para vir aqui num frio desses?
- Quem disse que eu queria algo com você? Eu vim…esfriar a cabeça, você não está aqui para isso também?
- Ah, claro, mas eu pelo menos venho muito bem agasalhado, já você…isso é uma desculpa para dar a entender que tem algo em comum comigo? - indagou Draco levantando o sobrolho.
- Ora, faz-me rir! Quando e porquê EU quereria ter algo em comum com você? - respondeu indignada.
- Melhor assim, porque EU não quero nada com você!
O silêncio se instalou, incómodo. Ambos observavam o lago com um interesse pouco usual. Por fim, os arrepios de Hermione aumentaram consideravelmente até que Draco reparou que a menina estava com os lábios muito rochos e a pele muito branca.
- Você deve estar gelada.
- Está um pouco de frio mesmo, você se incomoda que eu coloque o manto de novo? - perguntou friccionando os braços com as mãos.
- Ah não! Lamente, mas se você tem algo para me dizer eu não vou falar com uma cabeça flutuante.
- Mas eu não tenho o que falar com você! - teimou ela.
- Então porque ainda está aqui?
- Ah…olha, eu tenho o que te dizer sim, mas desde que cheguei aqui você só me está mostrando que não merece essa consideração. - despejou Hermione.
Draco virou a cara. Lentamente, não resistiu e perguntou:
- É sobre…mi? É sobre quem eu sou?
- É sobre esse assunto, sim…
- Me conte. - pediu ele de imediato.
Hermione suspirou longamente.
- É melhor sentarmos de novo.
- É melhor você colocar isso. - acrescentou Draco se aproximando dela e dando-lhe o seu manto.
- Assim é você quem vai gelar.
- Não se preocupe, já resisti a mais.
- Não deixa de ser convencido… - comentou ela baixinho embora ele ouvisse.
- Estava brincando, eu tenho camisolas suficientes, se gelar será pelas notícias que você vai me dar. - e tocando-lhe ao de leve na mão - Você está realmente fria, não quero ser acusado da sua morte. - completou, lembrando-se da noite na casa de banho dos prefeitos em que ela lhe havia dito o mesmo.
- Que simpático.- comentou ela ironicamente.
Sentaram-se finalmente, e ele pediu que ela começasse a relatar tudo sem ocultar fosse o que fosse.
- Bom…Harry estava sonhando com Snape e Voldemort mas, de repente, apareceu Narcissa. Voldemort lhe perguntou se…se já se tinha visto livre de você. - Draco baixou os olhos, mas Hermione contintuou - Harry disse que ela parecia abatida, triste, mas que confirmou o que Voldemort havia dito. Depois apenas ordenou que ele trabalhassem juntos para descobrirem o paradeiro do verdadeiro "prodígio", como eles lhe chamam. Ah! Narcissa também falou que já estava tudo tratado para ter você debaixo de olho aqui em Hogwarts.
- O quê?! Ah mas nem agora eles vão me deixar em paz? E vocês não sabem quem vai me vigiar?
- Uma personagem qualquer de um retrato, só sei isso. Você…sabe que eles podem te usar não sabe? Sabe que eles podem te obrigar a falar se precisarem de algo, não tem medo?
- Você também tem, não tem? Não é por isso que deixa de brincar com o fogo.
- Não compare! Você, a essa hora, deveria ser um devorador da morte.
- Pois saiba que seria muito pior! Se toda essa história tem um lado bom é o facto de eu já não ter nada a ver com aquela gente, pelo menos directamente.
- Você sempre vai ter, Draco. Você é cruel, frio…faz tudo para humilhar os outros.
- e parece que, enquanto não descobrir quem sou, vou ter que parar com isso. Realmente vai me custar…mas também ninguém sabe de nada, posso sempre massacrar alguns alunos. - concluiu com um olhar traiçoeiro.
- Você não tem emenda mesmo! Eu não sei porque te conto essas coisas, para você tanto faz, o que te interessa é ter um nome, um estatuto. Não sei como alguém pode ser tão indiferente consigo mesmo. Quero ver se seus pais forem uns feiticeiros simples, você é capaz até de matá-los! Poderia tomar isso como uma oportunidade de mudar e olha o que você diz…Esse assunto era a única coisa que tínhamos em comum e acaba aqui. Eu fui uma burra ao ter consideração por uma pessoa como você! - exclamou levantando-se rapidamente, virando costas ao rapaz e avançando em direcção ao castelo.
Sem dar conta, Draco registou todas aquelas palavras em sua mente. Talvez sua consciência quisesse reflectir nelas mais tarde. De qualquer modo, ultimamente, fixava todas as palavras importantes que lhe dirigiam, todos os pensamentos, todos os avisos, principalmente os vindos daquela morena, por serem ditos sempre em situações em que se sentia mais fraco, mais fácil de atingir, devido ao assunto que ela carregava sempre que se dirigia a ele.
- Melhor assim mesmo! Sua companhia me faz mal sua…
Hermione estacou e se virou repentinamente. Apesar da distância, Draco pensou ter visto os olhos da garota arderem, brilharem de raiva.
- AAHHHH! Vai logo embora! - Draco gritou farto daquela pressão e sensação de incapacidade - Você sabe que eu não posso te chamar isso não é? Desapareça! - o rapaz caiu de joelhos batendo com o punho no gramado.
Hermione se dirigiu a ele, decidida e com passos pesados. Levantou-lhe o rosto com uma das mãos e fitou os olhos sombrios do garoto. Sem pensar duas vezes esbofeteou-o com toda a força que tinha:
- Isso é para ver se você acorda. Se eu te faço mal talvez seja porque te chamo à realidade, porque fui eu quem te mostrou que você não é mais que os outros. E, apesar de tudo, o fiz porque, num devaneio, pensei que você pudesse mudar de rumo. Mas eu descobri que é VOCÊ quem me faz mal e que isso não tem remédio, você não quer mudar, teria de abdicar de muito não é? Então para mim chega! - a morena tinha os olhos marejados, Draco estava atónito, petrificado com o que ouvia.
Incapaz de dizer o que quer que fosse, o rapaz ficou observando-a entrar no castelo. Deitou-se no gramado tentando esvaziar sua cabeça. Concentrado nesse propósito acabou por adormecer embalado pelo vento.


* * *


Tomando o pequeno-almoço, com uma sexta-feira fria e chuvosa entrando pela janela do Salão Principal, Harry perscrutava a mesa da Grifinória em busca da dona de um cabelo flamejante que aquecia seu coração. Mas ela ainda não havia chegado e, pelo visto, havia outras pessoas de cabelo flamejante precisando da sua atenção. À sua frente Ron observava, inexpressivo, a sua taça de cereais, remexendo a colher sem qualquer intenção de a elevar até à boca.
- Sem fome? Extraordinário. - constatou Harry. O ruivo apenas levantou o olhar para ele e logo voltou ao mesmo ritual. - Vá lá Ron, reage…ainda nem falaste com a Hermione.
- Nem falo. - murmurou com a voz embargada.
- Como?
- Não vou falar. - respondeu agora olhando para Harry - O problema é com ela, ela que me diga o que se passa.
- E você como namorado se preocupa com ela e quer ajudá-la.
- Ajudá-la? Eu é que vou precisar de ajuda quando ela terminar comigo.
- 'Tá vendo? Se não falar com ela vai ficar nessa dúvida, nessa ansiedade… toma logo coragem Ron. Por falar nisso, onde ela está?
- Pelas horas a que deve ter chegado ontem ainda deve estar dormindo!
- O que vamos ter agora? - o moreno tentou mudar de assunto.
- Dois tempos de Especialização de Defesa Contra as Artes das Trevas e depois Transfiguração.
Ron agradecia agora por, pelo menos, não ter muitas aulas num dia como aquele, mas Harry já não o ouvia. Sua atenção estava completamente depositada em Ginny que entrava, finalmente, no Salão. Levantou-se e foi até ela:
- Oi Ginny, bom-dia. Não quer sentar connosco?
A menina hesitou mas, sem ser Harry e Ron, a única companhia que lhe restava era Dean, o qual lhes lançava agora um olhar assassino. A última coisa com que ela queria começar o dia era uma discussão, e visto que parecia ter chegado demasiado tarde para comer junto com seus colegas, aceitou o convite.
- O que houve com ele? - sussurrou para Harry olhando de lado para Ron.
- Problemas com Hermione.
- E onde ela está?
- O problema é esse, ontem ela não apareceu até às 5 da manhãe hoje ainda não se levantou, ou assim parece. - interveio Ron - Não precisam estar de segredinho.
Harry e Ginny ficaram um pouco constrangidos, mas a ruiva logo se recompôs:
- Ah Ron mas tira essa cara, se a Hermione te vê assim leva um susto.


* * *


Draco despertou com uma chuva gelada molhando-lhe o rosto. Lenta e fracamente foi se arrastando até ao castelo e, sem sequer se lembrar do pequeno-almoço, desceu até às masmorras onde, apesar do cansaço, não conseguiu dormir. Sentia que não tinha qualquer controlo sobre seus pensamentos: quanto mais tentava afastar a memória do que Hermione lhe tinha dito, mais intensa ela parecia ficar.
"Talvez seja porque te chamo à realidade, porque fui eu quem te mostrou que você não é mais que os outros" … "Mas você não muda, tinha de abdicar de muito não é?". Realmente ela lhe tinha mostrado uma realidade diferente, uma realidade que o fazia sofrer por se sentir ninguém, mas que o fazia sentir-se aliviado por não estar mais associado às Trevas, por não ter mais que agir contra sua vontade só para fazer seu pai orgulhoso. Porém, como ela mesma tinha dito, ele tinha agora perdido muito: não tinha mais um nome de feiticeiro respeitado (ou temido); não era um puro-sangue, e como lhe custava ser quase ou mesmo igual a ela! Era por isso que ele a odiava, ela lhe trazia a dor da verdade, a certeza de não ser nada para ninguém, o sentimento de não existir, pelo menos até descobrir quem era a sua família. Hermione fazia-o sentir-se exposto, fraco e fraqueza era coisa que ele não podia mostrar em frente a ela, a sabichona que ele sempre tinha despreza. Agora que se lembrava disso, se perguntava porque ela se preocuparia em lhe contar tudo aquilo. Talvez na verdade fosse tudo uma vingança, gostava de o ver assim, sem chão, com medo do que o futuro lhe guardava. Mas, na noite anterior, ela quase tinha chorado à frente dele. Só ele sabia o quanto lhe custava admitir, mas a morena tinha razão, aquela era sua oportunidade de mudar, de recomeçar, de esquecer e ele estava desprezando essa hipótese, porque esse era o único que ele tinha aprendido a nutrir por alguém ou algo até ali: desprezo.
Assim, em meio a esses pensamentos, decidiu que procuraria suas origens e talvez mudasse, talvez…se o mundo finalmente lhe sorrisse a partir dali.


- Weasley! Pode repetir o que eu acabei de dizer? - era a terceira vez que McGonagall chamava a atenção de Ron.
- Desculpe professora, eu não ouvi.
Ginny, sentada entre os dois e já farta de ver o irmão naquela indiferente e apática abstracção lhe sussurrou que pedisse para sair.
- O que se passa com o Sr. hoje?
- Eu…eu não estou me sentindo muito bem professora.
- Mas precisa ir na Ala Hospitalar?
Ron olhou a irmã de soslaio e esta acenou discreta e afirmativamente com a cabeça, incitando-o a aproveitar.
- Sim, por favor.
- Vá então, não estava aprendendo nada mesmo. Veja se descansa, está com uma cara…
O problema de Ron não era propriamente doença e McGonagall também tinha percebido isso. Porém, foi até à Ala Hospitalar para que a professora não pensasse que ele apenas queria se ver livre da aula. Apenas pediu a Madame Pomfrey que lhe desse algo para dores de cabeça intensas. A enfermeira já queria mantê-lo ali o resto do dia, pois se assustou com as olheiras e o olhar embaciado do rapaz. Ron conseguiu ver-se livre dela pois, entretanto, apareceu Draco que estava num esta lastimável, até pior que Ron. O cabelo completamente desalinhado, nada normal no Sonserino, os espirros constantes e a voz rouca fizeram a enfermeira perceber que o rapaz estava realmente doente e, depois de verificar que tinha febre, concluiu que era consideravelmente grave. Assim, a sua atenção foi direccionada apenas para Draco, liberando o ruivo.
Ron subiu até à sala comunal da Grifinória pensando que, pela primeira vez, Draco não o tinha insultado ou feito algo do género, mas também no estado dele. Decidiu então esperar até que Hermione se decidisse a descer pois, segundo constava, ainda ninguém tinha visto.
Na verdade tinha passado apenas uma hora quando Hermione desceu, mas Ron não tinha resistido e a morena deu com ele dormindo no sofá. Ajoelhou-se no chão a seu lado observando minuciosamente cada traço do seu rosto. Era incrível o tempo que tinham levado para que agora ela pudesse estar ali a olhá-lo sem medos nem vergonha. Quanto tempo tinham levado para assumir o sentimento que os unia e que parecia tão óbvio aos olhos de quem os rodeava e aos seus não passava de implicância. Começou a passar-lhe a mão pelos cabelos enquanto pensava em como tinha estado distante do ruivo nos últimos tempos. Tudo por andar atormentada com o problema de Draco e, ao mesmo tempo, toda aquela intriga em volta do feiticeiro procurado por Voldemort. Depois da visita à biblioteca não sabia como descobrir mais informações. Mas isso tinha de parar, iria se acalmar nessas buscas e prestar mais atenção em Ron, ele sim merecia tudo dela, ao contrário daquele loiro platinado, imbecil com quem ela, num acto incompreensível de misericórdia tinha já perdido tempo suficiente.
- Hermione…
A garota se assustou, era Ron que gemia e se virava no sofá chamando por ela.
- Ron, estou aqui. - acalmou-o passando-lhe a mão carinhosamente pelo rosto.
- Hermione! Você está aí faz muito tempo? - acordou sobressaltado.
- Algum…estava tendo um pesadelo? Comigo?
- É… - respondeu envergonhado - Estava sonhando com o que você vai me dizer agora.
- Como assim? Porque você acha que eu vou te dizer algo? - Hermione não estava entendendo nada.
- Porque eu quero resolver isso de uma vez por todas - num ímpeto de coragem, Ron disse tudo o que o sufocava e torturava, principalmente depois da noite anterior - Se você já não gosta de mim porque me esconde isso, porque não acaba logo com esse meu sofrimento de uma vez? O que eu não entendo é onde eu errei para você me castigar assim…foi por gostar de mais de você? Eu sei que não te mereço mas…porquê tudo isso? É por você ter pena de mim, é isso?
- Chega! Que barbaridades são essas que você está dizendo?! Por que eu não gostaria mais de você? De onde você tirou isso? Por favor Ron, se isso é uma brincadeira pode parar porque está me assustando!
- Que brincadeira Hermione?! Acha que eu ia brincar com meus próprios sentimentos? - Ron tinha o rosto já tão ou mais vermelho que seus cabelos, contorcia os dedos freneticamente enquanto andava de um lado para o outro da sala comunal.
- Então do que você está falando? - Hermione começava a ficar desesperada vendo o nervosismo do namorado.
- Do que estou falando? Você ainda pergunta? Ainda não se deu conta de que está mudada de há uns tempos para cá? Quanto tempo nós temos passado juntos? E quando passamos, já viu como você me trata? Se eu sou um empecilho em sua vida por que ainda me faz viver nessa ilusão?
- Ai Ron, pára! Eu sei que tenho andado distante, estava pensando nisso enquanto olhava para você dormindo, mas não pensei que você estivesse tão chateado, foi só uma fase. E pára de se menosprezar, você não é empecilho nenhum!
- Uma fase? Não sou?! Então me diga Hermione Granger: onde esteve ontem até, pelo menos, as 5 da manhã que EU estive aqui PLANTADO ESPERANDO VOCÊ ATÉ ESSA HORA, DOIDO DE PREOCUPAÇÃO, E VOCÊ SEM DAR SINAIS DE VIDA?! - o ruivo não tinha se segurado, era tanta a incerteza em si e a ansiedade e medo do resultado daquela discussão que até seus olhos começaram a ficar vermelhos e marejados.
Hermione, por seu lado, já tinha se jogado no sofá e chorava incessantemente sem conseguir falar. Assim ficaram durante alguns momentos, até que Ron foi até ela, lhe tirou as mãos do rosto suavemente e disse:
- Hermione fala comigo por favor, acaba logo com isso.
- Mas Ron, eu não quero acabar com nada! - a garota falava com dificuldade em meio aos soluços mas, ao ver em sua frente os olhos agora rpofundos e escuros do ruivo e não conseguindo imaginá-los muito mais tempo sem a sua luz habitual, respirou fundo e continuou:
- Não interessa o que eu fiz ontem - o rapaz ia retrucar mas ela lhe selou os lábios com um dedo - não vai mais acontecer, confia em mim. Eu adoro você e lamento sinceramente a distância que criei entre nós, também fez muito mal a mim. Por favor pára de se desvalorizar, você sabe que eu preciso de você e nunca iria querer te magoar. Sei o que fiz mas foi sem intenção. Me perdoa?
Ron brincava agora com um cachinho dos cabelos da menina. Aos poucos, um sorriso foi tomando forma em seus lábios e Hermione viu aquela luz linda voltar aos seus olhos.
- Você fica tão mais bonito assim. - murmurou.
- Isso é porque você é minha bênção e minha maldição.
- Não diga isso Ron, que horror!
- Realmente, que coisa para se dizer quando se quer fazer as pazes…idiota! - disse, mais para si do que para ela.
Com o rosto mirando o chão, timidamente, Hermione provocou:
- Quer parar com isso e me beijar logo seu bobo?



N/A: queria colocar um pouco de acção no fim do cap, com a chegada das escolas viram novas informações, mas demoraria muito mais para postar então decidi guardar tudo isso para o proximo capitulo...espero que tenham gostado deste, talvez esteja ficando meloso demais nao? Dêem as vossas opinioes por favor! Obrigado a todos os comentadores e leitores =)
Beijinho especial à minha marisinha e à mariana lopes que continuam a comentar sempre e me dando força para continuar!

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