Façam O Que Eu Digo...
Naquelas três semanas em que sua vida fora posta de pernas para o ar, Ana adquirira um hábito. Um não, vários. Mas todos eles começavam com uma caminhada matinal pelas ruas medievais do povoado de Hogsmeade.
Dois dias após o jantar do Primeiro Ministro, ela estava acompanhada em seu passeio por Tonks, Harry e Hermione. Só que, daquela vez, não estava pensando nos deliciosos doces da Dedos de Mel, ou em tomar uma cerveja amanteigada no Três Vassouras. Nem mesmo ligava para os sussurros das pessoas que apontavam para ela: “Aquela é a sobrinha de Agatha Smith, a que é um aborto!” “Que sobrinha? Não pode ser... Eu conheço todos os Smiths...”. Não, nada disso a incomodava agora, enquanto estavam sentados em uma mesa na Dedos de Mel.
O problema era aquele maldito bracelete!
Ela estava tentando tira-lo a qualquer custo, pela milionésima vez em menos de quarenta e oito horas. Tonks a olhou desaprovadora:
- Ana, eu já disse que esse bracelete está preso por magia. Não adianta tentar usar a força para abri-lo.
- Deve haver um jeito, um contra-feitiço que o desfaça, então! – ela suspirou impaciente.
- Feitiços simples podem ser desfeitos. – Hermoine começou a explicar naquele tom professoral. – Aqueles que são facilmente reconhecíveis ou que foram feitos por bruxos comuns. Mas lembre-se: este foi feito há mais de mil anos por Helga Hufflepuff!
- Quer dizer que eu vou ter que ficar o resto da minha vida com essa “coisa” no braço? – Ana indignou-se. – Obrigada mesmo, vovó Helga! – ironizou, olhando para o céu que se via pela janela da loja, como se realmente ralhasse com Helga Hufflepuff.
- Em minha opinião, – Hermione continuou. – esse bracelete foi enfeitiçado para uma ocasião em específico. Um “encantamento de missão”.
- Um o quê? – Ana e Harry disseram ao mesmo tempo.
- Shiiiii! – Tonks repreendeu, olhando para os lados. – Mais baixo! Alguém pode ouvir!
Hermione continuou, de forma que só os três pudessem ouvir:
- Um “Encantamento de Missão”, é um feitiço para funcionar em objetos quando um conjunto de condições escolhidas por quem o lançou estiver presente. Geralmente o tempo de latência deste feitiço dura conforme o poder do bruxo que o lançou. Quanto mais poderoso for o bruxo, mais tempo ele pode durar, aguardando que as condições se reúnam para se manifestar.
“E Helga Hufflepuff foi uma das bruxas mais poderosas de seu tempo, juntamente com Godrico Gryffindor, Rowena Ravenclaw e Salazar Slytherin”, pensou Ana.
- Vou ser enterrada com isso... – Ana concluiu, desolada.
- Não. – Hermione disse. – Você não entendeu. Assim como o Encantamento de Missão tem condições específicas para ser “ativado”, ele também as tem para cessar: ou seja, quando o objetivo do feitiço tenha se concretizado.
- Mas como é que eu vou saber o que Helga queria há mais de mil anos?!? – Ana exasperou-se.
- Talvez se descobrirmos porque o feitiço foi ativado, saberemos como ele terminará. – Tonks sugeriu. – Quando ele começou, Ana?
- Eu não sei! Até agora eu não sinto nada do que vocês estão dizendo sobre “emissão de magia”.
- Agora está mais fraco, praticamente só dá para sentir quando se chega perto de você. – Harry comentou.
- Bem... – Ana olhou para o bracelete. – Acho que foi assim que Snape me descobriu. Quer dizer... Pareceu que algo chamou a atenção dele, e ficou procurando esse “algo”, que era o bracelete.
- O que estava acontecendo nesse momento? – Tonks perguntou.
- Eles estavam prestes a atacar o Ministro, e eu, pensando que precisava fazer alguma coisa para impedir que isso acontecesse. Mas não foi preciso fazer nada, porque eles desistiram dele foram atrás de mim, ou melhor, do bracelete.
- Inconclusivo... – Hermione estava intrigada.
- Eles devem saber de algo sobre esse bracelete que não sabemos. – Harry comentou com o cenho franzido. – Para terem desistido do Ministro... Aliás, o que eles pretendiam fazer com ele?
- Meu palpite é a Maldição Imperius. – Ana arriscou. – Controlar o Primeiro Ministro da Grã-Bretanha seria o primeiro passo para a dominação dos trouxas. Seu apoio é uma das chaves para as decisões que são tomadas na Comunidade Européia. – e acrescentou, em um tom de desaprovação: - Apoio às guerras, por exemplo.
- Entendi. – Tonks disse. – Deixe o mundo deles virar um caos e, quando estiverem enfraquecidos pelas guerras, ataque.
- Hum, hum... – Ana concordou. – Bem o estilo do “Voldie”...
Os três olharam-na surpresos. “Voldie?”. Tonks estava confusa; Hermione, intrigada; e Harry tentava segurar uma gargalhada.
Do outro lado da loja, uma velhinha muito encurvada observava o grupo com interesse. Falou alguma coisa com a atendente do balcão e saiu, caminhando com dificuldade.
***
Ouviram vozes animadas vindo de dentro da casa dos Smiths. Harry sorriu, o coração disparando. Ana havia praticamente implorado de joelhos para que a senhora Weasley deixasse Rony e Gina saírem do castigo para virem visitá-los. Ele estava contente por ver o amigo, mas simplesmente não podia esperar para encontrar Gina. E haviam se despedido há apenas dois dias!
Apressou o passo, arrancando sorrisos de Tonks e de Ana. As duas perceberam imediatamente o motivo de tanta pressa. Já Hermione pareceu um pouco tensa.
Ana demorou um pouco mais para entrar na sala porque foi primeiro guardar alguns pacotes na cozinha. Enquanto Rampell reclamava que assim “mestra Agatha” iria querer libertá-lo, escutou sons de saudações vindas da sala, e reconheceu a voz de Lupin – ele deveria ter feito o “escoltamento” dos garotos Weasley. “Tonks deve estar nas alturas”, Ana pensou, sorrindo.
Não encontrou só os três na sala, como tinha imaginado. “Ele” estava lá. Carlinhos tinha vindo trazer os irmãos também. E estava LIN-DO.
- Ana, vamos todos almoçar em Hogwarts, a convite de Minerva. Não é ótimo? – Tia Agatha estava radiante.
“Maravilhoso”, pensou Ana com um sorriso nos lábios, que não tinha nada a ver com almoçar em Hogwarts. Em seguida censurou-se: “Não, não ia dar certo. Eu estou aqui por algum motivo maluco que Dumbledore não quis ou não pôde dizer. Meu “eu” do presente tem dezesseis anos. Em algum momento, vou ter que voltar para 2005. Sabe Deus quando ou COMO, mas Dumbledore não me deixaria presa em um tempo ao qual não pertenço”.
***
Sua intenção era ir direto para o seu quarto e ficar por lá, o mais longe de Carlinhos, pelo maior tempo possível. Mas foi parada no corredor por um Rony visivelmente nervoso e embaraçado:
- Ana, podemos conversar?
A vontade dela era dizer “mais tarde, Rony, mais tarde”, mas assim que viu o ruivo tão aflito, soube que não poderia fazer isso.
- Claro, Rony. Vamos entrar.
Rony acomodou-se na ponta da cama e ela sentou-se ao lado dele.
- É alguma coisa com Hermione? – Ana perguntou.
- Como você sabe? – o garoto ficou da cor dos seus cabelos.
Ana se enterneceu. Rony ficava tão bonitinho envergonhado! Sorrindo amigavelmente disse:
- Bem, faz um tempão que não vejo vocês discutir. Quer dizer, Ronald Weasley e Hermione Granger sem brigas? – fez uma careta cômica - Evidentemente algo no Universo não pode estar correto! – então pareceu se dar conta de algo, e acrescentou séria: - Pensando bem... Não vejo vocês discutirem desde Hogwarts.
- Ela... Ela conversou alguma coisa com você? – Ana teve a impressão que Rony tinha parado de respirar, esperando a resposta.
- Não. – ela acrescentou com cuidado: – Aconteceu alguma coisa... em Hogwarts?
Rony ficou ainda mais vermelho, dando a nítida impressão de que não queria estar ali, como se a qualquer momento fosse sair correndo.
- Olha Rony, você não precisa falar sobre isso se não quiser...
- Não! Eu preciso sim! Você é única pessoa que pode me ajudar! – Rony se levantou e começou a andar de um lado para o outro, falando muito rápido: - Você não entende. Eu não agüento mais. Não entendo mais a Mione! Para falar a verdade acho que nunca entendi! Eu não sei direito quando isso começou, quando é que a Mione deixou de ser somente a “Mione”, mas a coisa toda é que agora eu não sei mais...
- Rony, Rony! – Ana tentou acalma-lo.
- Nós-nos-beijamos-na-sala-de-troféus. – ele disse tudo junto, como se fosse perder a coragem de falar se respirasse.
Ana o encarou surpresa, ao mesmo tempo em que um pensamento bem-humorado lhe passou pela cabeça: “eu não acredito que perdi isso!”. Mas logo se recuperou:
- Isso... Isso é muito bom! – disse, o mais séria que pode, segurando-se para não sair pulando de felicidade e dizendo: “Rony e Mione! Rony e Mione!”
- Não, não é bom! – Rony a contradisse, falando nervosamente: – Aquela sala de troféus estava escura e cheia de caixas pelo caminho. Mione estava indo na frente, quando tropeçou em uma delas. Daí eu a segurei e quando percebi... Eu a tinha beijado!
- Continuo achando que isso é bom... – Ana argumentou, mas foi novamente interrompida:
- Não é! Ela começou a chorar depois, e saiu correndo sem sequer olhar para mim! Quer dizer... Isso não deve ser bom sinal, não é? Uma garota não chora quando um cara que ela gosta a beija, chora?
- Bem, algumas choram...
- É isso que eu preciso saber, Ana! O que se passa pela cabeça da Hermione? Eu não posso, eu não CONSIGO perguntar isso para a Gina ou Harry, e você disse que nossos sentimentos foram retratados naqueles livros...
- Então é isso? – Ana levantou-se, indignada, as mãos na cintura, os lábios se contraindo de irritação: – “Pergunte para a fofoqueira da Ana, ela não consegue se segurar mesmo!”
- Não! Quer dizer... Não exatamente assim...
Ana bufou furiosa. Aquilo era tão... tão... Rony! Insensível, direto e honesto.
Honesto como uma criança...
Não pôde deixar de amolecer diante deste último pensamento. Aos poucos foi desfazendo o bico em seus lábios, suavizando a expressão, e até mesmo reprimindo um sorriso:
- Tudo bem, Rony, eu entendi. Mas eu não posso fazer isso. Imagine como se sentiria se Hermione viesse até mim, fazendo a mesma pergunta?
- Ela viria? Ela teria “porque” perguntar? – Rony estava esperançoso.
- Rony! – Ana censurou a tentativa do rapaz de tirar uma resposta a qualquer custo.
- Eu sabia! – disse desanimado – Por que a menina mais inteligente e bonita da escola iria se interessar por mim? Ela namorou Vitor Krum, por Merlim! Então, quando eu perdi as esperanças e comecei a namorar a Lilá Brown e ela fez aquela cena de ciúmes... Me senti um idiota, não conseguia parar de pensar que tinha estragado tudo! Eu vivia dizendo para o Harry: “Ela não pode reclamar”, “Ela namora Krum”, “Somos apenas amigos, não é?”. Eu sabia! Entendi tudo errado! Uma garota como ela não gostaria de alguém como eu...
- Rony, não diga isso! – Ana protestou imediatamente, zangada pelo menino se rebaixar tanto. - Qualquer garota se apaixonaria por você! Como assim alguém como você? Alguém leal, corajoso e engraçado? E que, além de tudo é... Muito fofinho?
Rony olhou para ela com horror:
- Não fofinho como o Dobby, espero!
- Não – Ana riu, lembrando-se que tinha chamado o elfo de fofinho. – Não como o Dobby. Como... Como Brendan Fraser. – Ana pensou no ator de cabelos castanho avermelhados de “A Múmia”. Não por semelhança física, mas pela capacidade de fazer aquela expressão cômica e desamparada que deixava as mulheres de quatro.
Rony não deu mostras de saber de quem ela estava falando. Então explicou:
- Com isso eu quero dizer que você é “atraente”.
O ruivo deu o sorriso mais sem graça que Ana já vira, e disse:
- Obrigado.
- Agora... – continuou em tom cúmplice. - O que eu posso falar para você é que seria ótimo que fosse lá embaixo e dissesse o que acabou de me contar para a Hermione. Vai por mim, é o jeito certo de fazer as coisas.
- F-falar com a Mione? Sobre ISSO? – ele engoliu em seco.
- É.
Ana segurou o rapaz pelos ombros, fazendo a maior força do mundo para não rir da típica expressão cômico-apavorada de Rony, mantendo a seriedade que o momento exigia:
- Coragem Ronald Weasley! Lembre-se: você é um grifinório.
Rony balançou a cabeça, sem muita vontade. Levantou-se pensativo, nitidamente forçando seu cérebro a acreditar nas palavras de Ana. Ela o conduziu até a porta e, quando ele já estava no lado de fora, acrescentou:
- Ah, e não se esqueça que, caso use as frases “eu gosto de você”, “estou apaixonado por você” e PRINCIPALMENTE “eu amo você”, OLHE NOS OLHOS DELA.
- Por que isso é importante? – Rony franziu o cenho. De qualquer forma, ele imaginava que seria mais fácil enfrentar uma acromântula do que dizer aquelas coisas para a Hermione.
- Romance, Rony. RO-MAN-CE. – Ana sorriu marotamente, enquanto fechava a porta atrás de si.
Ela aguardou uns cinco minutos.
Depois disso, foi até a janela de seu quarto, que dava vista para o jardim: ela sabia que Hermione estava lá. Também sabia que não era correto espionar os dois, mas já que ela fora a responsável pelo rumo dos acontecimentos... Melhor se certificar que iria dar tudo certo.
Viu um Rony totalmente pálido aproximar-se da grifinória. Hermione também pareceu nervosa ao ver-se sozinha com o garoto, mas mesmo assim lhe dirigiu um olhar desencorajador. Ele manteve-se firme e começou a falar coisas que Ana não conseguia ouvir, mas podia perceber o efeito que causavam em Hermione: o olhar bravo transformou-se em surpreso, em seguida nervoso, e finalmente tornou-se tímido. Então, ela desviou o olhar, fitando o chão, mas parecendo muito atenta ao que o ruivo lhe dizia.
A certa altura, Rony parou de falar e ergueu gentilmente o queixo da garota. Quando os seus olhares se cruzaram, ele disse algo. Hermione enrubesceu imediatamente, mas um brilho caloroso apareceu naqueles olhos castanhos. Ela sorriu e também disse algo.
Os rostos se aproximaram lentamente... E beijaram-se.
Ana voltou-se para o quarto, o sorriso satisfeitíssimo. Agora sim, poderia comemorar:
- Rony-e-Mione!, Rony-e-Mione! - começou a cantar, enquanto pulava e inventava passinhos de dança em homenagem ao novo casal.
Certamente tal momento merecia.
****
Estavam todos na biblioteca dos Smith, e em breve iriam à Hogwarts.
Finalmente Rony e Hermione estavam se falando. Aliás, “falar” não era exatamente a palavra. Viviam grudados e naquele momento mesmo, não largavam a mão um do outro. Harry e Gina lançaram um olhar questionador à Ana, que deu de ombros, e fez uma expressão “o quê?”.
Harry expusera o plano dele e de Ana aos outros três. Após discutirem todos os prós e os contras, os demais concordaram.
- Vamos pegá-lo pela sua fraqueza, que é o orgulho pela família a qual serviu. – Harry comentou. – E, para isso, vocês três não podem estar presentes. Eu sei que é assustadoramente simples. Mas temos que arriscar.
Assim que eles saíram, Harry convocara o antigo elfo doméstico dos Blacks. Ele apareceu na biblioteca evidentemente contra a vontade, por que caiu sentado no chão, como se algo o tivesse atirado até lá.
Ele apresentou Ana como sendo “uma amiga que pertencia à família Smith”. O elfo, como servo dos Blacks, conhecia as antigas famílias bruxas.
- Os Smiths estão pensando em realizar uma exposição sobre as grandes famílias bruxas, Kreature.
- E é claro que não poderia faltar os Blacks... – Ana continuou, fingindo uma voz afetada, como se realmente fosse uma grande socialite bruxa.
Os olhos do elfo brilharam, pela primeira vez interessado:
- Não, não! Kreature acha que não pode faltar!
- Infelizmente, a maior parte do que pertenceu à família foi roubado... – Ana continuou.
Kreature lançou um olhar ressentido para Harry. É claro que ele estava pensando que grande parte também fora vendida por Sirius e pelo garoto para financiar a Ordem da Fênix.
-... De forma que o espaço reservado para a família Black saiu prejudicado. – Ana prosseguiu. - Então, pensamos que você soubesse... Da localização de algum artefato que tenha pertencido à família...
- Kreature não sabe de nenhum que possa interessar à exposição da jovem mestra. – a criatura apressou-se a dizer, visivelmente desconfiado.
As palavras de Kreature chamaram a atenção de Ana: “nada que possa interessar...”. Fingiu um suspiro desolado, e olhou para Harry:
- Acho que você tinha razão, querido... – Ana ficou com nojo do próprio tom pedante – Vou dividir o espaço que eu tinha reservado para os Blacks e aumentar o dos Potters e o dos Weasleys...
Aquilo foi o suficiente para o elfo:
- Não, não! Kreature quer dizer que não sabe onde estão as coisas mais antigas. Mas sabe onde estão as mais novas.
Ana quase gritou em triunfo. Sabia que se perguntasse diretamente onde estavam “as coisas dos Blacks”, Kreature iria responder que não sabia, porque não sabia do paradeiro de “todas as coisas”.
- Como assim as mais novas, Kreature? – Harry perguntou.
O elfo estava encurralado. Agora que falara, não podia mentir para o seu mestre.
- Dos últimos Blacks...
Ana percebeu que Kreature estava buscando alguma forma de escapar do feitiço de obediência, e foi mais rápida, tentando pegar o elfo de surpresa:
- Regulus Black é um grande nome, graças à sua morte heróica frente aos Comensais. O Ministério certamente aprovaria...
Harry entendeu:
- Você sabe onde estão as coisas dele, Kreature?
O elfo estava confuso, tudo acontecera muito rápido. Certamente lhe agradaria ver o nome de “seu menino” ser enaltecido. Mas ainda estava hesitando, pois não confiava em Harry Potter:
- Não...
- Sabe do paradeiro de alguma coisa dele? – Ana fez a pergunta, que foi repetida por Harry.
- Sim... – a resposta saiu em um lamento.
- Quais? – Harry pressionou.
- Um livro... De Magia... – Kreature praticamente cuspiu as palavras, como se elas saíssem de sua boca contra a sua vontade. E provavelmente estavam.
- Só?- Harry voltou a perguntar.
- Sim...
- Por que guardou este livro dele, Kreature? – Harry questionou.
- Menino... Regulus... Pediu...
Aquilo fora suficiente para ambos.
- Quero que me traga este livro. – a voz de Harry não deixava dúvidas quanto à ordem: - E não conte nada a ninguém.
Era em momentos como aquele, observando a expressão sombria e determinada de Harry, que ela lembrava-se de que estavam no meio de uma guerra. Lembrava-se de que o destino pesava sobre os ombros daquele garoto... E o tempo estava passando.
***
O almoço em Hogwarts conseguiu ser mais emocionante que o primeiro. Isso porque todos os professores estavam lá. Eles haviam comparecido para uma reunião naquela manhã. O assunto: se Hogwarts realmente não iria abrir naquele ano.
Os docentes haviam chegado à mesma conclusão que ao final do ano letivo anterior. Não havia como dar segurança aos alunos. Novas notícias de ataques tanto a trouxas quanto a bruxos se multiplicavam. Ana ouviu a decisão com tristeza, mas entendia os motivos da Diretora McGonnagal. Era realmente uma pena. Hogwarts sem alunos era como o mar sem peixes...
Enquanto isso, Ana teve passagens memoráveis com os mestres da Escola de Magia e Bruxaria. O primeiro, é claro, foi com Slug. Tão logo ele soube que ela era uma Smith, passou a cercá-la. Certamente ele queria aumentar o seu círculo de pessoas influentes. Uma vez que participar do “Clube do Slug” não estava entre os sonhos de Ana, ela mencionou logo para ele que era um aborto, vindo a observar o quão rápido o novo (ou seria o velho?) Professor de Poções poderia se afastar.
Em seguida, a Professora Trelawney (sentada à sua esquerda), começou a perguntar entusiasticamente sobre o método brasileiro dos búzios. Ana disse que não entendia nada do assunto, pois nunca tinha tido contato com os métodos de adivinhação. Tocada por “tamanha falta de experiência sensorial”, a Professora de Adivinhação passou fazer previsões sobre o seu futuro com a borra de café da xícara de Ana. Harry mexeu os lábios sem emitir som, dizendo: “Antes você do que eu”. Trelawney disse que Ana iria iniciar uma jornada, onde iria conhecer a si mesma. Também previu que iria encontrar um homem muito especial. A brasileira ponderou por alguns minutos estas palavras, até se dar conta que era exatamente o que toda adivinha dizia.
O mestre de Feitiços mostrou-se um homem muito agradável. Flitwick era inteligente, é claro, como deveria ser o Diretor da Corvinal, mas também muito simpático. Ana gostou muito de conversar com ele, bem como com a Professora Sprout, que era tão bem humorada quando fora descrita nos livros.
- Temos um parente seu como aluno. Zacharias Smith. Está na Lufa-Lufa, é claro. – comentou a Professora de Herbologia.
- Ah! É filho de um sobrinho meu. – Tia Agatha comentou. – Portanto, filho do primo da sua mãe.
- Zacharias Smith... – o nome não era estranho para Ana. Olhou para os amigos grifinórios buscando confirmação: - O jogador da Lufa-Lufa? O tal encrenqueiro da A.D.? O mesmo que fez aquela narração no-jen-ta em um jogo no último ano? AQUELE Zacharias Smith?
- Sim... – Harry, bem como os amigos, estavam contendo o riso.
- Está rindo do quê, Potter? – Ana fez uma careta divertida. - Você mais do que ninguém sabe que parente a gente não escolhe.
Família à parte, o melhor ainda estava por vir. Hagrid a levou para conhecer Firenze, o centauro que dividia as turmas de Adivinhação com a professora Sibila Trelawney. O nobre mestre preferia estar em contado com a natureza, nas terras aos redores de Hogwarts. Ele se impressionou com a quantidade de informações que Ana tinha sobre os mitos gregos que retratavam os centauros. Ela evidentemente tinha muito respeito por seu povo. Para Ana, o comentário de Parvati Patil no ano anterior estava correto: era um “centauro bonitão”.
Estava voltando para o castelo com Hagrid e com o Professor de Estudos dos Trouxas (com o qual travava uma interessante conversa sobre as últimas inovações tecnológicas dos trouxas), quando percebeu que todos estavam reunidos em torno de tia Agatha.
Com um mau pressentimento, ela deixou os olhos se desviarem para o objeto que tia Agatha estivera mostrando a eles. Gelou ao perceber o que era:
- E aqui ela tinha quatorze anos. – disse tia Agatha, apontando para o álbum que conjurara. - Ela usava aparelho e óculos, viram? Não era uma gracinha?
Ana gemeu. A foto do aparelho e dos óculos, não!
Todos já tinham percebido a sua presença. Olhou para Carlinhos. O cretino exibia um sorriso debochado para ela. Antes que pudesse sequer pensar algo mais, um vaso da mesa mais próxima “explodiu” em mil pedacinhos.
- Ana... – Tia Agatha disse, após se recuperar da surpresa. – Você... VOCÊ FEZ MÁGICA! – e correu para abraçar a sobrinha.
- Eu não... – ela estava estarrecida. – Eu não posso ter feito...
- Fez sim, querida. Você tem os genes do seu pai, certamente! Oh, isso quer dizer que vai ser uma grande bruxa! – tia Agatha estava orgulhosa.
- Como assim genes do pai? – Slughorn perguntou.
- Ele era descendente de uma tribo ameríndia. – Agatha explicou.
Os professores pareceram entender. O Professor Flitwick adiantou-se, estendendo a própria varinha a ela. Ana ainda estava estática, ficou olhando para a varinha em sua mão, sem saber o que fazer. “Eles não estão realmente achando que eu...”
- Vamos, criança! Tente! – encorajou-a Flitwick gentilmente. –Conhece algum feitiço?
- S-sim... – respondeu hesitante. Feitiços e Flitwick lhe lembravam uma frase. – Eu acho que sei... – Girou e sacudiu a varinha suavemente, apontando para uma folha de papel: “Vingardium leviosa”!
A folha de papel flutuou graciosamente, conforme os movimentos da varinha.
- Puxa, na primeira tentativa! – Rony exclamou. Em seguida, sussurrando para Harry: - Eu sabia que do jeito que ela lê, só podia sair à outra Hermione Granger...
- Eu ouvi isso, Ronald Weasley! – Mione disse.
- Foi um elogio, querida... – Rony sorriu charmosamente para Hermione, que não resistiu e lhe devolveu o sorriso.
Ana não estava se sentindo bem. Devolveu a varinha para o mestre de Feitiços, agradecendo debilmente. Pediu licença aos demais e voltou para os jardins de Hogwarts. Precisava de ar. Precisava pensar. O que ela tanto temia e não queria admitir aconteceu. Sua vida inteira iria mudar por isso.
- Ana...
Ela fechou os olhos e suspirou. O “outro motivo” da sua vida se alterar para sempre a chamava. Voltou-se para Carlinhos, forçando um sorriso:
- Eu estou bem. Mesmo.
Mentira. Naquele mesmo jardim, há mais de três semanas, ele tinha percebido o quanto a verdade sobre seus pais a perseguia. Ainda que não soubesse, a expressão do rosto dela lhe dizia muito. Ele se aproximou, e disse gentilmente:
- Não, não está.
Ele acariciou seu rosto. Ana sentiu novamente aquela sensação de que só ele a entenderia, a mesma daquela manhã em que acordara nA Toca. Desfez o sorriso pouco a pouco, revelando a angústia que sentia:
- Estou com medo. – ela confessou, enquanto ainda sentia os dedos dele acariciarem suavemente sua face.
- Eu sei. – ele respondeu, e em seguida abraçou-a.
Do quê mesmo Ana sentia medo? Ela não conseguia mais se lembrar, perdida naquele abraço. Quando Carlinhos voltou a fita-la, pensou que talvez fosse daquele olhar. Sim... O que poderia ser mais perigoso do que aquele olhar?
- Eu tentei, Ana. – ele falou baixinho. – Juro que tentei te tirar da minha cabeça. Mas não consegui. Tentei arranjar defeitos para você, mas nada funcionou. Primeiro, quando eu não te conhecia e você era só uma mulher muito bela, tentei me convencer de que era egoísta e fútil. Mas daí toda a história se esclareceu, e você demonstrou carinho e sensibilidade. Então eu quis pensar que era alguém deslumbrada com a nova situação de ser sobrinha de uma das mulheres mais ricas do mundo bruxo, mas você novamente me deu uma lição ao se mostrar leal. Finalmente te taxei de maluca e de inconseqüente. Só uma louca se poria frente a frente com comensais da morte, sem magia nenhuma! Mas eu estava errado de novo. O que eu vi foi a mulher mais corajosa que já tinha conhecido...
Ana estava hipnotizada pelos olhos e pela boca dele. Não conseguiu resistir quando ele concluiu, em um sussurro:
- Ana, estou apaixonado por você... – ele a beijou.
Oh, céus! Que beijo! Ela perdeu o raciocínio que lhe restava quando, percebendo que ela não oferecia resistência, ele a apertou contra si e aprofundou o beijo. Deixou-se ficar assim, até que um alarme soou dentro dela.
- Não! – ela o empurrou, a voz novamente angustiada.
- Ana...
- Não! Você não entende? Nós não... Podemos! Em algum momento eu vou voltar para o futuro. Não seria justo. Nós iríamos nos machucar...
Antes que Carlinhos pudesse responder, ela voltou correndo para o castelo. Queria chorar até não sobrar nenhuma lágrima que escapasse em hora errada. E sabia exatamente onde poderia fazer isso.
Pedindo o auxílio dos quadros, encontrou o caminho para o banheiro feminino do terceiro andar. A Murta Que Geme até que era uma boa ouvinte...
***
Estava chovendo torrencialmente ao final do dia. Ana estava lendo em seu quarto (ou melhor: tentando, inutilmente, concentrar-se na leitura), quando ouviu uma batida leve na porta.
- Entre.
Gina e Hermione entraram com expressões preocupadas nos rostos. Gina falou primeiro:
- Ana, isso tem que parar. Meu irmão saiu daqui com uma expressão de cachorro que foi enxotado de casa!
- O que aconteceu com Rony? – Ana fez-se de desentendida.
Gina pôs as mãos na cintura e franziu o cenho, em uma imitação perfeita da senhora Weasley:
- Você sabe perfeitamente que não estou falando do Rony!
- Gina, você tem SEIS irmãos. Tem que ser um pouco mais específica quando se refere a um deles... – Ana voltou a atenção ao livro.
Hermione caminhou até a cama arrancando o livro das mãos dela.
- Pare de se esconder atrás dos livros! Já fiz muito isso na minha vida. Escute, sabemos que foi você que “deu uma de cupido” nos nossos namoros, portanto, temos o direito de nos meter também.
- Isso é diferente...
- Ah, é assim? “Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço?” – Gina exclamou.
- É! É assim, sim! – Ana levantou-se de um salto. – Será que eu tenho que lembrar a vocês que em 1997 eu tenho dezesseis anos? O meu “eu” do presente está, nesse momento, cursando o colegial no Brasil e chorando pelos cantos por causa de... – ela revirou os olhos: - ... de Tony Salvador! Ah, se arrependimento matasse! Gina, eu não posso exigir que seu irmão espere oito anos por mim!
Dirigiu-se à Hermione:
- Dumbledore disse a você uma vez que não era prudente mexer com o tempo. Com certeza, em algum momento não muito distante, eu vou ter que voltar para 2005!
Ana abaixou o tom, olhou para o próprio pulso, e começou a brincar nervosamente com o bracelete de Helga Hufflepuff:
- Por favor, deixem como está.
Gina e Hermione se entreolharam. Agora entendiam melhor. Mas elas não iriam deixar as coisas como estavam. Não mesmo.
***
A mesma velha encarquilhada que estava com eles na Dedos de Mel entrou na sala silenciosa e tenebrosa. Ela imediatamente se transformou em uma mulher morena e jovem, que mantinha uma das mãos apoiada nas costelas, como se sentisse dor, e mancava ligeiramente.
- Descobriu algo, Bella? – Voldemort perguntou, sem ao menos se voltar.
- Sim, mestre. Disseram na vila que ela é sobrinha de Agatha Smith-Roberts.
- Sobrinha? – ele pareceu intrigado. – Pensei que conhecesse todos os Smiths... De quem ela é filha?
- Ninguém me deu certeza, mas parece que de Elizabeth Smith Maximiliam e de um brasileiro que ninguém chegou a conhecer.
- Ouviu isso, Severus? – O Lorde das Trevas sorriu debochadamente. Snape parecia demonstrar alguma emoção pela primeira vez na vida. – É filha de mais uma amiguinha sua dos tempos de Hogwarts.
- Não pode ser. – Snape disse secamente. – Ela não tem idade para ser filha de Elizabeth.
- Como eu disse... – Bella estava com medo de ter cometido um erro e ser castigada outra vez. – Ninguém me deu certeza...
- Bem, filha dela ou não, se ela for uma descendente de Hufflepuff isso faria mais sentido... – Voldemort parecia satisfeito, com certeza idéias malignas passavam por sua cabeça. – Muito bem, Bella, continue assim e eu te pouparei.
- Sim, mestre...
---
(N/A): Eu simplesmente não consigo encurtar os capítulos...
Ticia: 007? Ri um montão quando li o seu comentário! Tentei de tudo para não me levar, mas acho que a terra de James Bond acabou me influenciando de qualquer forma. Obrigado, mais uma vez, pelos seus comentários!
Novamente, por Merlim, deixem um comentáriozinho! Nem que seja para dizer: puxa, tá uma droga! Eu não ligo!
Bjs!
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