O Eclipse Lunar
- Harry, pára de olhar para a minha irmã desse jeito, cara! Tá de cortar o coração... – Rony disse para o amigo. Os dois estavam sentados em uma das mesas, observando os outros convidados.
Percy tinha vindo no último momento, com sua namorada, Penélope, levando a senhora Weasley às nuvens de tanta felicidade. Carlinhos fingia indignação, dizendo que iria se tornar o rebelde da casa também, para ver se a mãe o recebia do mesmo jeito que Percy cada vez que voltasse da Romênia.
- Se preocupe em cuidar da Mione, Rony! – Harry não estava com o seu melhor humor. A vida dele não era um mar de rosas. Podiam, pelo menos, deixa-lo sofrer sozinho?
- O quê? Mione...? – Rony apressou-se a olhar para a pista de dança, onde antes a amiga estava dançando com o pai. ANTES, porque agora um dos muitos primos de Rony a tinha tirado para dançar. – Ah, que droga! Quer dizer... – Rony avermelhou.
- Tudo bem, cara. Não precisa fingir para mim.
- Não estou entendendo o que quer dizer, Harry.
Harry resolveu não insistir. Se Rony não estava preparado para admitir seus sentimentos...
Ficaram os dois em silêncio, emburrados na mesa. Até que Rony deu um arremedo de sorriso, e comentou:
- Isso me lembra o baile do quarto ano.
Harry olhou para o amigo e sorriu. Logo os dois estavam gargalhando.
***
Em um bar próximo ao prédio da Agência, Ana e algumas colegas conversavam animadamente.
- Que ótimo! Quatro mulheres da Inteligência, mas que não conseguem namorados! É deprimente ter que sair com vocês em uma noite de sexta-feira, sabiam? – Luíza ria abertamente, contradizendo as próprias palavras.
- Magoou! – Débora fez beicinho, fingindo ter ficado triste. – Ei! Hoje é noite de eclipse lunar! Que tal darmos um pulo no Observatório? Podíamos acompanhar tudo mais de perto.
- Você quer dizer observar AQUELE professor de Astronomia da UnB mais de perto, não é, Déb? – provocou Carolina. – Hum... Sexta-feira treze, com eclipse lunar... Isso está me cheirando à encrenca. – fez uma pausa, como quem estava prestes a dar uma bronca nas amigas. Mas abriu um sorriso travesso e disse: – Tá. Tô nessa!
- Eu também! – exclamou Luíza. – Vamos, Ana?
Ana pensou apenas alguns segundos. Seria divertido sair com as amigas. Mas tinha o livro... Estava curiosa para saber o que aconteceria depois. E simplesmente não dava para esperar.
- Er... Não dá. Tenho um compromisso...
Imediatamente as amigas voltaram todas as suas atenções para Ana, estupefatas.
- Ana, sua traidora! – disse Carol, com um sorriso malicioso nos lábios. – Você tem um encontro e não nos contou nada!
- Deve ser um gato, para derreter o “Bloco de Gelo” da Academia! – brincou Luíza, excitadíssima.
- Eu não sou... – Ana começou a protestar.
- Como ele é? – interrompeu Déb.
Ana adorava suas amigas, mas às vezes elas sabiam como ser inconvenientes. Só por isso, resolveu dar a elas o que mereciam:
- Alto, moreno, olhos verdes incríveis, e uma pequena cicatriz na testa. – respondeu sorrindo, sentindo o prazer da brincadeira.
- Uau! Que gato! – Déb estava abobalhada.
- Cicatriz? Que másculo, também! – suspirou Luíza.
- Como é que não o conhecemos? – perguntou Carol.
- Ele é estrangeiro... – Ana deu de ombros. – Bem, tenho que ir. Já estou atrasada. – Mentiu, levantando-se e pegando a bolsa. – Tchau!
- Tchau! - responderam as três.
- Vai logo, sortuda! – brincou Déb.
Ana sorriu e se virou. O resto do mundo que a achasse estranha se quisesse! Mas se considerava mesmo uma sortuda por ter Harry Potter na sua vida.
***
Gui e Fleur tinham saído para sua viajem de lua de mel (que iria ser ali pertinho, em Avalon, para não se arriscarem muito). Antes de aparatar com o marido, Fleur havia jogado o buquê: mais uma tradição trouxa assimilada.
Várias moças se adiantaram para pega-lo, mas um transeunte desatento roubou a cena: Carlinhos acabou amparando o buquê sem querer, provocando gargalhadas na família Weasley, e ficando totalmente roxo de vergonha.
Era de madrugada quando Harry e Rony se retiraram para o quarto do amigo. Ainda havia alguns convidados, mas a maioria já tinha ido embora. Mione e Gina tinham entrado um pouco antes deles.
Já estavam deitados quando Rony perguntou:
- Harry?
- Que é?
- Quem você acha que é R.A.B.?
- Rony, a gente prometeu...
- Eu sei o que a gente prometeu, Harry! Prometo não contar para a Mione se você não contar também. – Rony resmungou, e Harry abriu um pequeno sorriso no escuro. – Sei que você não conseguiu dormir direito ontem, e sei que foi por causa disso. Falar pode ajudar.
- Não vejo como... – foi a vez de Harry resmungar.
- Tudo bem, então considere que vai ME ajudar. Também quero pegar Você-Sabe-Quem. Ele e os amiguinhos vivem atrás da minha família, esqueceu? Gina, o papai, Gui... Os irmãos da mamãe... Nós também não teremos sossego enquanto ele não for destruído.
- Tá. – Harry concordou, com um suspiro resignado. – Bem, eu não tenho idéia quem seja, mas, no final das contas cheguei a conclusão de que ele não é importante no momento.
- Como não? – Rony perguntou surpreso.
- O importante é saber que ele destruiu um Horcrux do Voldemort, e que morreu fazendo isso. O que não nos leva aos outros horcruxes.
- Não, Harry. Ele “provavelmente” morreu. Mas mesmo se fosse assim, se descobríssemos quem ele era, talvez achássemos pistas de onde estão e como destruir os outros horcruxes.
Harry fitou o amigo através da penumbra, surpreso. Desde quando Rony se tornara tão perspicaz? Hermione teria um treco se o ouvisse agora.
- Tem razão. - admitiu. – Só que nada faz sentido! – Harry desabafou. – Fiquei todo o tempo lendo e relendo os nossos livros de História para achar alguém, um grande mago, que pudesse burlar os feitiços de Voldemort e que fosse contemporâneo a ele.
- A gente vai conseguir, cara. Você vai ver. – Rony disse isso com uma confiança tão inabalável que Harry também acreditou. Não que tivesse perdido as esperanças, mas ouvir o amigo fez a coisa parecer mais real.
- Com certeza. Boa noite, Ron.
- Boa noite, Harry.
***
Ana tinha tomado o seu banho relaxante, e já estava com o seu pijama das “Meninas Super-Poderosas”, robe atoalhado rosa e suas impagáveis pantufas de bichinhos (rosa também, é claro), quando decidiu puxar uma velha cadeira de balanço para a varanda de seu minúsculo apartamento.
Tinha resolvido ler e de vez em quando dar uma espiada no progresso do eclipse. A televisão estava ligada e de onde estava acompanhava um programa que estava cobrindo o evento:
“- Vamos falar com Amanda Peixoto, Presidente da Associação de Astrologia de Brasília... Amanda, hoje é um dia especial também para os astrólogos, não é verdade?”
“– Sim, Gustavo. O alinhamento de dois astros sempre tem um significado para a astrologia. É um momento de conjunção de forças cósmicas.”
“- Alguma força extra por ser uma sexta-feira treze?”
“- Bem... Não na astrologia, mas certamente merece um olhar mais de perto por causa da simbologia da data...”.
Ana então voltou a sua atenção para o livro. Balançava-se suavemente na cadeira que tinha sido de sua bisavó inglesa. Ao reler o último trecho, na tentativa de “pescar” alguma pista de Rowling (ou, seja lá quem o tenha escrito), lembrou de um pressentimento que tivera quando lera o sexto livro. Será? Seria tão simples a resposta?
“- Mais alguns segundos...”- disse o comentarista do programa. – “... E a ocultação estará completa.”
Ana fitou a lua, quase completamente escondida na sombra da Terra, e murmurou:
- Gostaria de poder ajudar você, Harry.
O eclipse se completara.
Então, um brilho vindo do seu colo lhe chamou a atenção. Olhou para a “luz”, e percebeu que o livro estava irradiando uma luz branca.
Arregalou os olhos, sentindo-se incapaz de emitir um som sequer, apesar de ter um grito preso na garganta. Mas não teve muito tempo para pensar nisso, porque sentiu um puxão forte no umbigo e tudo escureceu em seguida. A ultima sensação que teve antes de desmaiar, foi que estava caindo.
***
Harry acordou com o barulho forte, como se algo tivesse desmoronado. Com os reflexos rápidos (graças a Deus ele era um apanhador de quadribol), levantou-se em um salto.
Rony já estava de pé ao seu lado quando constatou que não tinha sido a casa dos Weasleys que desabara. Os garotos saíram para o corredor, onde encontraram o senhor Weasley.
- O que foi isso? – perguntou Harry.
- Parece que foi lá fora. – respondeu o pai de Rony, correndo para lá.
Os meninos o seguiram, deparando-se com as ruínas do que antes tinha sido a tenda sob a qual se realizara o casamento.
- Mas o quê...? – o senhor Weasley começou, quando avistaram um corpo no meio da lona.
O restante da família Weasley chegou, bem como Mione, Gabrielle, Penélope, Lupin, Tonks, e Moody (com Harry por perto, aurores e membros da Ordem nunca eram demais).
- Cuidado! – gritou Tonks. – Pode ser uma armadilha.
Harry aproximou-se lentamente do “corpo”, mesmo sob os protestos do senhor Weasley, e dos gritos abafados de Mione e da senhora Weasley. Foi distinguindo melhor as formas meio encobertas pelo tecido da lona e, de repente, exclamou:
- Mas... É uma moça!
- Uma moça? – o senhor Weasley se aproximou também. – Ah, por Merlim, tem razão! Lupin, Tonks, ajudem aqui!
Lupin e Tonks correram até o local, e examinaram a garota, que estava desacordada.
- Ela está bem? – perguntou Harry.
- Sim. Nenhum osso quebrado. Parece que só desmaiou com a queda – respondeu Tonks. – Essa garota tem muita sorte!
Carregaram-na para dentro da Toca, colocando-a no sofá. Com as luzes acesas, puderam observá-la melhor. Tinha os cabelos negros, encaracolados e pele bronzeada. Devia medir um metro e setenta, se tanto. Magra, estava vestida com um robe rosa, e um pijama com estampas de desenhos.
- E se ela for uma Comensal? – Rony perguntou.
- Vestida DESSE jeito? – disse Fred.
- Parece mais uma trouxa. – completou Jorge.
- É bem bonita... Aí! – comentou Percy, levando um cutucão de Penny. – Não mais que você, querida, é claro...
- Hermione, Harry – chamou o senhor Weasley. – Vocês estão mais acostumados com o mundo trouxa. O que acham?
- Bem... – começou Hermione. – Parece o estilo trouxa... Principalmente por causa dos desenhos, mas... A combinação é bem estranha para alguém da idade dela. Ela deve ter o quê? Vinte? Vinte e Três? Parece mais uma bruxa tentando imitar o modo de um trouxa se vestir para dormir... E que errou a faixa etária.
- Harry? – o Lupin questionou.
- É... – o garoto concordou com a amiga. – Pelo menos os Dursleys não se vestiriam assim, seria... “anormal” demais.
- Uma bruxa, então? – Moody perguntou, naquela voz de rosnado. – Ela teria caído da vassoura?
- Eu não achei vassoura nenhuma lá fora. – disse Carlinhos, que tinha acabado de entrar – Vasculhei tudo e só encontrei isso... – e mostrou uma espécie de calçado peludo e rosa, com pedaços de plástico imitando olhinhos, um focinho, e alguns fios de bigode de gato ou rato.
Carlinhos se aproximou, colocando o estranho objeto no chão, ao lado da moça, como que a testar se combinava com o restante dela. Pensou o mesmo que Percy: era bonita.
- Bem... Definitivamente não é uma Comensal da Morte! – disse a senhora Weasley. – Carlinhos, leve-a para o quarto que era seu e do Gui. Você vai ficar com Percy.
- Por que eu? Por que no meu quarto? Por que logo com Percy? – mas desistiu de questionar a mãe e pegou a estranha no colo.
A garota se moveu em seus braços, e abriu por alguns instantes os olhos, revelando serem azuis. Encarou Carlinhos e, com uma expressão intrigada, disse:
- Por Merlim! – e voltou a desfalecer.
- É! – disse Moody. - Acho que isso nos esclarece bastante: é uma bruxa!
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(N/A): Bem... Eu acho que está melhorando, não? O que acham?
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