Capítulo 13



As pequenas frases em itálico são pensamentos do Draco!
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Draco desistira da leitura do diário de Gina durante aquelas dois meses. Pelo menos do actual.

O livro estava demasiado cheio de Harry isto, de Harry aquilo e sempre, mas sempre, do maldito Harry. Era como se Draco tivesse deixado de existir a partir do momento em que Gina dormida com Harry. Ele ainda alimentara a esperança de que pudessem começar a aparecer nas entradas do diário algumas dúvidas e algumas referências ao facto de Harry talvez não ser o homem certo, de não ser bom demais, de ter sido objecto de uma decisão prematura. Mas não, não havia nada disso. O diário ela um relatório – constante, murmurante e torrencial ao ponto de provocar vómitos – sobre a perfeição de Harry, sobre a maravilha de eles estarem juntos e sobre o sexo, que entre eles era óptimo.

Mal Draco não desistira dos longos períodos sentados no quarto de Gina. Gostava de ambiente, gostava do bom cheiro que ali se instalara e ele sentia-se seguro e quente junto de todos os artefactos femininos pertencentes a Gina. Estar ali era uma espécie de compensação para a ausência e, assim, Draco sentia-se mais próximo dela.

Naquele momento estava sentado na cama, a folhear um guia de Londres de A a Z, que lá encontrara, reparando em todas as ruas assinaladas e interrogando-se sobre o significado desses sinais. Seriam festas? Entrevistas para arranjar emprego? Ou apartamentos?

Pôs o guia na gaveta de cima e os olhos foram ter ao monto de diários antigos que estavam debaixo da mesa. Até então conseguira resistir a tentação de espreitar, o que fazia ter um certo orgulho do seu comportamento clandestino. Olhou para eles e voltou a desviar os olhos. Não, não devia fazê-lo. Olhou para eles outra vez. Deitou a mão ao diário do fundo, um velho livro coberto com autocolantes. Abriu a capa e começou a ler.

Só parou seis horas depois. Tinha passado um dia inteiro e Draco já sabia muito mais sobre Gina do que pensava vir a saber. Ficou a conhecer a sua adolescência, o modo como ela detestava o cabelo encaracolado e a pele que parecia anémica e o facto de ser tão baixa; e também ficou a saber que, enquanto as outras raparigas andavam a perder a virgindade, a ficarem grávidas e a chegarem à escola com chupões no pescoço, Gina atravessava para o outro lado da rua, evitando qualquer pessoa que pudesse parecer-se com um rapaz. Gina tinha sofrido, dolorosamente, com a sua timidez e com a sua falta de autoconfiança, chorando na cama todas as noites por ser tão feia que nenhum homem iria querê-la. Só depois dos 15 anos tivera direito ao primeiro beijo.

Passados uns tempos, descobriu que até era uma pessoa atraente e que não valia a pena andar de cabeça baixa. Desde então, Gina tinha andando com vários tipos de homem, mas nenhum que a contentasse completamente, até aparecer Harry.

Foi aí que Draco começou a perceber o que Gina via em Harry e por razão ela estava tão apaixonada por ele: é que Harry não lhe fazia exigências emocionais, não a restringia nem a controlava.

Era irónico, no entanto, que ela se tivesse apaixonado por ele só porque ela se estava nas tintas para ela.

Draco foi buscar uma cerveja ao frigorífico e estirou-se no sofá, à procura do telecomando por entre a t5ralha acumulada na mesa de centro. Tinha acaba do de perder os Simpsons.

Harry estava fora, nessa noite, num acontecimento qualquer importante do seu trabalho. Era assim, impossível que ele e Gina pudessem estar sozinhos. Talvez devesse aproveitar a oportunidade para ver se ela se abria mais em vez de andar pela casa fora à procura de motivos para a evitar. Podia saber mais sobre ela, apesar de ele já saber mais sobre ela do que sobre todas as suas próprias namoradas. Conhecia-lhe todas as incertezas, todos os namorados, todas as necessidades e todos os desejos. Agora queria conhecê-la melhor do que alguma vez alguém conhecera.

Ouviu vozes femininas no exterior e voltou-se, no sofá, para espreitar entre as cortinas. Era Gina, como sempre carregada de sacos de compras – ele nunca conhecera nenhuma rapariga que passasse tanto tempo num supermercado -, a falar com a puta do último andar. Tentou apurar o ouvido para entender o que estavam a dizer, mas as suas vozes estavam abafadas. Levantou-se, para se ver ao espelho, passou as mãos pelo cabelo e voltou a sentar-se.

- Acabei de ter uma conversa muito simpática com a rapariga lá de cima. Ela é muito amável, não é?

Draco sempre achara que Cho era exactamente o oposto, mas talvez Gina pudesse julgar as pessoas melhor que ele.

- O que vais fazer esta noite, Draco?

Draco encolheu os ombros:

- Humm, nada… É triste para uma sexta-feira à noite…

- Excelente. Olha, fui abandonada pelos meus amigos e por isso pensei em ir fazer comida, encharcar-me em cerveja e depois ir para a cama cedo. Queres fazer-me companhia? Quer dizer, com a excepção da parte de ir para a cama, claro… - e Gina riu-se, encantadora.

Draco não pensou em nada melhor para essa noite e tentou esconder a excitação que sentia:

- Parece-me absolutamente perfeito. Gostava muito. Não prometo que seja grande ajuda na cozinha, mas prometo fazer o meu melhor.

- Combinado!

E Draco esteve prestes a pôr-se aos pulos na sala, quando Gina lhe virou as costas a caminho da cozinha.

Gina voltou e disse:
- Esta noite vou ensinar-te a cozinhar. Anda levanta-te – Gina estendeu-lhe a mão e ele sorriu ao segui-la, gozando a sensação da mão dela na sua.

- Eu pensava que tínhamos dito que eu ajudava e tu que cozinhavas.

- Sim, mas mudei de ideias.

E, em breve, Draco estava a cortar bocados de frango e rodelas de cebola e a picar alho. Estava a sentir-se descontraído junto de Gina, pela primeira vez, desde que descobrira que ela e Harry andavam juntos. Estavam a conversar e a rir, como se fossem velhos amigos, cantando e dançando pela cozinha.

Puseram a mesa em conjunto e Draco sentiu-se extasiado ao tomar consciência que estava a ser servido por um prato que ele próprio ajudara a cozinhar e ficou ainda mais espantado quando o provou: estava mesmo delicioso.

- Draco – começou Gina, enquanto comiam -, posso fazer-te uma pergunta? O que é que sentes a propósito de mim e do Harry? Sinceramente?

Oh, raios… O que devia ele dizer? «Eu quero-te, eu quero-te, eu quero-te, é o que sinto sobre ti e o Harry.». Isso teria sido demasiado sincero. E «O Harry não te conhece como eu, tu não o conheces como eu o conheço; está tudo errado e eu estou ciumento até dizer chega.»

- Fico feliz por vocês – respondeu. Que tal a resposta, em matéria de sinceridade?

- Portanto, não te sentes excluído nem deixado de fora nem qualquer coisa do género? É só porque tu e o Harry viveram juntos durante tanto tempo que talvez pudesses sentir que estou a mais, que estou a expulsar-te.

- Oh não, de maneira nenhuma. É agradável ter-te cá - Bem, pelo menos isso era verdade, pensou Draco.

- Dizias-me se isso fosse um problema, não dizias? Seria horrível fazer-te sentir desconfortável na tua própria casa!

- Prometo-te que não é um problema. Já há tanto tempo que o Harry não se interessava por uma mulher que, de certa forma, até é um alívio – Draco sentia-se pior que o Pinóquio – Fico satisfeito por velo feliz. Nunca o vi tão feliz antes e tens-lhe feito muito bem. – Mas ainda me farias melhor a mim …. – Pensou Draco para si.

- Óptimo, tiraste-me um peso de cima. E tu, porque não estás com a tua namorada?

- Ela tinha um jantar de negócios, algo sobre moda…

- Oh que maravilha! Eu ainda não a conheço, como é ela?

- O quê? Sinceramente?

- Sim, estamos a ser sinceros, não estamos? – Disse Gina.

- Bom, ela é muito atraente, muito alta e magra. E por ser muito meiga às vezes. Mas, principalmente, é uma grande chata. Tudo o que eu faço está mal feito. Se lhe telefono, é incoveniente, se não telefono, é porque não gosto dela. Se a convido para sair com os meus amigos, ela não gosta deles, se eu saio sem ela, ela quixa-se que a abandono. Diz-me que sou desmazelado com a roupa, e quando compro roupas novas, acaba por dizer: «Oh, tens dinheiro para roupas novas, mas não tens dinheiro para me levar a jantar fora.». Ou seja, não consigo fazer nada direito.

- Tu ama-la?

- Não.

- Gostas dela?

- Às vezes.

- Então porque sais com ela?

- Pelo sexo, acho eu.

- Bom, pelo menos és sincero. Mas não gostarias de estar com alguém por quem estivesses realmente apaixonado?

- Tenho que confessar que ultimamente me tem apetecido mais, andei muito assustado durante muito tempo, sabes como é: o investimento emocional, a insegurança, a invulnerabilidade ….

- Já te magoaram no passado?

- Bem, magoado, magoado não, só demasiado envolvido. Mas agora, acho que estou preparado para algo mais verdadeiro… para a magia do amor – Draco riu-se nervosamente. Não conseguia acreditar que estava a falar assim, depois de não ter falado com ninguém sobre os seus verdadeiros sentimentos durante muito tempo.

- Ainda não encontraste a rapariga certa, não foi?

Oh, Gina, se soubesses!

- Sim, algo como isso. – Era tempo de redireccionar a conversa. – Bom, tu e o Harry: é a magia do amor?

Gina sorriu.

- Sim, definitivamente. Muito, muito mesmo. O Harry é tudo aquilo que sempre quis. Ele é perfeito.

Não, Gina, ele não é perfeito. Ele é um idiota e não te merece.

- Sim, é um tipo porreiro – Draco queria dizer qualquer coisa de desagradável sobre Harry, que o deixasse mal visto, mas isso seria mesquinho e mau da sua parte. Havia tanto que ele queria dizer a Gina, sobre Harry, mas não podia fazê-lo. Gina salvou-o desses pensamentos perigosos.

- Porque não voltaste a pintar?

- Pff… essa é uma grande questão. Não digo que já não pinto, mas que não pinto de momento. Tentei, mas a inspiração tinha-se ido embora.

- Afastaste-te, não foi? Aposto que, se conhecesses alguém e te apaixonasses, isso tudo voltava, essas emoções todas saíam cá para fora e tu ias a correr outra vez para o estúdio. E pintar já não ia parecer uma obrigação ou um esforço. É verdade, é esse o remédio da Dra Gina. Arranja uma mulher decente e apaixona-te.

A ironia podia, às vezes, ser tão dolorosa.

Momentos depois deixaram a conversa de namoros de lado e começaram a falar sobre malaguetas.

- Então, Draco, achas que consegues suportar durante muito tempo malaguetas na boca?

- O tempo que for precisso, ao contrário de ti, quase que aposto que começas a chorar assim que comes malagueta.

- Humpf!... De modo algum!

- Oh, estou a ver, achaste a rainha do picante?

- Eu não acho, sou! Nunca encontrei ninguém que pudesse comer coisas tão picantes como eu!

- Bem acho que encontraste alguém capaz de te ultrapassar nesse negócio. – Afirmou Draco, inflamado, por um entusiasmo competitivo. Saltou da mesa, foi ao frigorífico e tirou um monte de malaguetas. – Muito bem, uma malagueta a cada um, inteira, sem mordiscar. Vamos ver quem ganha!

- Não há problema. Vamos a isso! Dá-me uma!

Oh, a dor – uma explosão de chamas que a saliva não podia conter.

- Não podes engolir isso, tens de mastigar tudo – disse Draco.

Gina e Draco mastigaram as malaguetas, inspirando e expirando através de lábios enrugados e abanando as mãos diante das bocas numa tentativa inútil de acalmar as chamas.

- Oh… está a abrir-se um buraco na minha língua!

- E a mim está a abrir-se-me um buraco na garganta!

Com o coração a bater muito forte e a suar, Draco começou a dar murros à mesa com as lágrimas a rolarem-lhe pela cara abaixo

- Pronto, pronto! Toca a mostrar, toca a mostrar … Eu tenho de engolir antes que isto dê cabo de mim! – Gritou Gina, as maçãs do rosto mais cor-de-rosa do que nunca. – Língua para fora, se faz favor.

Draco e Gina puseram ambos a língua de fora e engoliram.

- Água, água!!! – Gritou Draco.

- Não, a água torna as coisas piores! Cerveja!

Beberam, mas não resolveu o problema.

- Oh, meu Deus, acho que vou morrer! Arroz, come arroz seco! – Sugeriu Draco.

- Gelo! Há algum gelo no congelador?! – Berrou Gina.

Draco abriu a porta do congelador e pesquisou o que havia lá dentro. – Há algum! – Pegou no tabuleiro do gelo, voltou-o ao contrário e bateu com força contra a bancada, voaram cubos de gelo em todas as direcções, para o chão e para o lava-louça. Cada um pegou no gelo e encheu a boca com ele, sugando até à última gota aquela frescura gelada.

- Oh, Jesus - gritou Draco. As chamas estavam finalmente a apagar, mas todo o corpo estava ainda em estado de choque, como uma espécie de droga maravilhosa.

- Meu Deus! – Gina estava a passear um cubo de gelo pelos lábios inchados. – Foi inacreditável! Parecia sexo!

Com a cabeça a andar à roda e o coração a bater muito, começaram ambos a rir-se descontroladamente, sem motivo.

- Foi ainda melhor que sexo! – Retorquiu Draco.

Sentaram-se à mesa.

- Então, quem ganhou? – Perguntou Gina.

- Acho que podemos considerar isto um empate!

- Oh, não, não me parece. Alguém tem que ganhar! Temos de repetir, pelo menos até três vezes!

Quando Harry chegou a casa, o apartamento parecido dominado por um ambiente de histeria. Seguindo o som das gargalhadas até à cozinha, deu de caras com o Draco e a Gina com as cabeças metidas no congelador.

- Que raio estão vocês os dois a fazer? – Perguntou, ponto a pasta encima da mesa, no meio do mar de latas de cerveja vazias, pratos sujos e cubos de gelo a derreterem-se.

Os dois voltaram-se, com ar culpado, as bocas cheias de gelo, as bochechas vermelhas e os olhos a chorar.

- … Concurso de malagueta! – Respondeu Draco, através do seu cubo de gelo, enquanto abanava desesperadamente o interior da boca. – Cinco para casa um, cruas e … empatados!

- O quê? Vocês estão ambos doidos? - Disse Harry, abanando a cabeça, lentamente. O olhar dele cruzou-se com Gina. – Olha para ti, pareces lunática!

Para Draco, Gina nunca tinha estado tão perfeita. O cabelo estava todo caído, o seu lindo cabelo ruivo, o rosto muito vermelho, irradiando calor e alegria, a abraçar Harry.

Antes tinha sido, ele e Gina, dos dois juntos e em conjunto – e ali estava Harry, a dar cabo da atmosfera com a sua estúpida pasta. Tinha havido um momento, único e breve, de beleza, destruído pela entrada de Harry na cozinha.

Mas, pronto, a noite acabara e de forma bem dolorosa. Gina estava a limpar os restos da mesa da cozinha, Harry a tirar a gravata e a falar da noite chata dele. Acabara tudo.

- Humm, acho que vou para a cama – murmurou Ralph. – Obrigada por este serão tão agradável, Gina. Obrigada pelo concurso de malaguetas… foi óptimo.

Baixou-se para a beijar na cara no exacto momento em que ela se voltava e apanhou-a em cheios nos lábios. A sensação inesperada, fez disparar ondas de choque através de todo o sistema nervoso, como uma corrente de excitação a sair-lhe dos lábios e entrar-lhe passar pelo coração…

Aquilo foi mais poderoso do que as malaguetas todas!

- Boa noite, então… - O corpo foi, de repente, abalado pelo conflito entre o desejo de ficar e agarrar Gina e a vontade de sair tão depressa quanto as suas pernas o permitam. Cambaleou até ao seu quarto e sentou-se na cama. Estava a tremer.

Ele amava-a. Estava totalmente, desesperadamente, estupidamente e maravilhosamente apaixonado por ela.


Depois de séculos sem actualizar aqui estou eu de volta com um grande capitulo! :D

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