Eterno
Era um momento difícil. Harry, Rony e Hermione treinavam para isso desde que Harry lhes contou sobre a profecia. Foram incontáveis dias os quais o garoto passara sem dormir, quase sem comer, aproveitando assim cada resto de tempo, cada sobra, segundos indispensáveis nos quais estaria decidido seu futuro, a curiosa lei da sobrevivência; matar ou morrer. Do mesmo jeito faziam os dois maiores amigos, sacrificando-se por uma das pessoas mais importantes em suas vidas; eram amigos leais. Mais ainda do que os outros, sobressaia Hermione, a qual sempre bolava os treinos, os novos feitiços, os planos, as poções. E ela, só ela, era quem conseguia dar apoio e consolo junto com todas as outras coisas.Porém também seria ela a que mais sofreria.
Esse momento, tanto temido como aguardado, seria a primeira batalha da guerra que acabava de começar. Dumbledore, Lupin, Tonks, Olho Tonto, Snape... Eram muitos os presentes. Mas poucos, infelizmente, comparados ao que estava por vir.
Harry não sabia ao exato onde estava, mas o lugar era como um mausoléu. Não estava embaixo da terra, mas nenhuma luz entrava no lugar. Enquanto, com sua própria varinha, iluminava o ambiente, sentia a mão de Cho sobre sua outra mão. Era verdade que depois de estarem juntos pela primeira vez no quinto ano, Harry e Cho se ignoraram durante muito tempo. Essa fase passou e, em um dia como outro qualquer, eles começaram a namorar. E lá estavam agora, os dois juntos, acompanhados também por Rony e Hermione.
_ Harry querido - disse Cho com sua habitual voz infantil, a qual havia adotado quando falava com o namorado.-vai ficar tudo bem, não vai?
_ Eu espero...-respondeu o garoto concentrado.
Hermione, que segurava sua própria varinha iluminando o caminho, escutava os dois conversarem. Estava pensativa quanto a isso. Não sabia como nem por que, mas não era uma sensação agradável vê-los junto. Não, não era. Demorou para superar aquele namoro pois amava Harry demais para aceitar assim, de uma hora para outra, aquele fato. Sim! Ela o amava. Mesmo agora não podia negar isso. Ela havia contado a ele como se sentia, mas ele não pôde retribuir o mesmo sentimento, não para ela. Cho era um caso diferente. Ele dizia ama-la.
_ “Por que Cho?” - Hermione se perguntou- “Por que assim, tão de repente? Por um momento eu achei que ele gostava de mim... Mas não. Não era eu.Ainda mais ela!
Eu não confio nela. Eu sei que é fácil sentir isso por ela na minha situação, mas eu não acredito que seja só... Ciúme. Eu sei que Cho já foi importante para ele, mas não agora, não agora que parecia que eu... era... importante. Eu treinei muito para estar aqui, não posso perder minha concentração por nada. Eu treinei para estar aqui mas ela não. Mesmo assim ela veio.”
A garota um dia se declarou para Harry. Estranhamente, enquanto olhava em seus olhos, a menina achava que ele sentia o mesmo. Ele sorriu para ela, e aquele era um sorriso lindo, tímido também, mas principalmente feliz, sincero. E ela aguardou por a resposta dele. Dias depois ele se voltou para ela. Já não sorria. Parecia um tanto abatido, mas foi com a voz fria que disse que lamentava muito. Estava namorando com Cho.Uma Cho que em diversos momentos lançava olhares furtivos sobre Hermione. Olhares atentos como os de um predador. Cho agia muito estranhamente coma outra. Parecia espreita-la em cada movimento. Harry apenas não notava.
O ar começava a ficar mais pesado. Hermione foi tirada de seus pensamentos e agora estava atenta ao caminho que percorria. Sentiu Harry se aproximar.
_ Hermione- disse vagarosamente- Você acha que Voldemort poderá lutar hoje?
_ Eu duvido muito Harry- respondeu ela- Eu não acho que é do feitio dele tentar nos matar sem antes jogar com a gente. Infelizmente eu não acho que isso vai terminar assim tão rápido.
O garoto voltou-se pensativo para o caminho que percorria. Hermione o observava andar a sua frente quando sentiu uma mão puxa-la bruscamente para o lado. Cho a encarava. Seus olhos pareciam estar carregados de ódio.
_ Não se aproxime dele de novo, me entendeu?- disse Cho.
_ Como assim não me aproximar dele?
_ Eu não quero nenhuma fingida a amiguinha dando de cima do MEU namorado! Não tente isso de novo. Eu não vou deixar você tentar pegar Harry para você!
_ Se você me dá licença, Harry Potter é meu melhor amigo desde o primeiro ano em Horwarts. Eu não estou tentando tira-lo de você, mas não vou deixar de conversar com meu amigo só por que você quer assim!- respondeu Hermione indignada.
Estranhamente ela viu a outra aproximar a mão da varinha guardada no bolso interno das vestes. Alguma coisa no olhar dela revirava o estômago de Hermione, mas esta não sabia exatamente o que poderia ser. Foi ai que Rony apareceu do nada puxando Hermione para longe da outra garota..
_ Mione -ele disse seriamente- Eu vou chamar o Harry aqui e conversar com ele. Isso acabou de cair das vestes de Cho e eu sinceramente acredito que tem uma coisa muito errada acontecendo aqui.
Rony segurava uma pedra vermelha. Não era uma pedra comum como Hermione sabia. Havia lido sobre ela em um livro proibido, mas essencial para o treinamento pelo qual haviam passado. Era uma pedra de magia negra. Magia negra elaborada. Era um objeto raro, difícil de se encontrar e mais difícil ainda de ser carregado por uma estudante adolescente.
_ Ron!- Hermione exclamou, mas foi interrompida pela voz de Lupin:
_ É aqui - disse ele.- Essa é a entrada para o Salão de Cristal. Não tem como passar por essa entrada. Tem muita magia impedindo a passagem. Dumbledore, me parece que de agora em diante é com você.
_ Eu não posso garantir nada.- disse Dumbledore calmamente - Mas eu antes tenho de fazer uma coisa.
Através dos óculos de meia lua, ele encarou Harry.
_ Harry - ele disse com um tom de voz um pouco mais pesado - você sabe que estamos indo para uma guerra da qual corremos o risco de não voltarmos. Em minha responsabilidade levo quatro estudantes de Hogwarts. Não vou me permitir, porém, colocar a vida de todos esses quatro em perigo. Sei que estão aqui voluntariamente. Mesmo assim vou te dar o dever de escolher um, entre todos, e esse um será mandado de volta para Hogwarts. Eu confio na sua escolha Harry, mas mesmo assim te peço para faze-la com muita consciência.
Ron e Mione voltaram seus olhares para onde estava Harry, porém focalizaram particularmente uma outra pessoa. Cho Chang estava olhando para o namorado com um olhar de animal acuado, e foi em uma voz carregada de falso ressentimento que começou a falar:
_ Harry! Harry querido! Por favor, não me mande embora! Por favor, eu quero ficar aqui a seu lado! Não me mande Harry! Não me tire de você!
_ Eu não vou te mandar embora.- disse tristemente o garoto, o que deixou Rony e Hermione pasmos.Até mesmo Dumbledore parecia estar um tanto surpreso com o que acabara de ouvir. Lentamente Harry virou-se para o lugar onde Hermione estava parada. Ela, nesse mesmo momento, sentiu-se engasgar, como se alguma coisa tivesse parado no meio de sua garganta. Ela sufocou.
You and me
Você e eu
_ Hermione...- Harry proferiu um tanto abatido.
We used to be together
Costumávamos estar juntos
A garota ouviu, distantemente, a voz de um Rony desesperado dizer ‘Harry! Não’.
Every day together
Todos os dias juntos
Seu coração dava batidas esparsas, quase imperceptíveis. Algo muito maior estava agora entalado em sua garganta.
Always
Sempre
_Eu sinto muito.- disse o outro por fim.
I really feel
Eu realmente sinto
Ela sentiu suas pernas ficarem bambas.
I’m losing my best friend
Estou perdendo meu melhor amigo
A imagem de um Harry frio e sério ficou presa em seus olhos.
I can’t believe this could be the end
Eu não acredito que este poderia ser o fim
Ao mesmo tempo seu corpo flutuava de leve no ar. Estava sendo mandada embora. O seu melhor amigo a mandara embora. Ela que se esforçara tanto. Ela que o amava. Ela que um dia se considerou sua amiga. Nada mais restou e o pior era não saber como o havia perdido, por que.
It looks as though you’re letting go
Parece que é assim que você está deixando caminhar
Os olhos de da estudante se encheram de lágrimas. Não podia ser Harry, o Harry que ela conhecia, aquela criatura sem sentimentos parada na sua frente. Sentia seu coração se comprimindo cada vez mais, como se estivesse sendo arrancado dela.
_ “Não pode ser... Não pode ser verdade...” - pensava angustiada, mas sabia que aquilo estava acontecendo.
And if it’s real, well I don’t want to know
E se isso é real, bem eu não quero saber
Então, junto com um vento muito forte que a envolveu, Hermione desapareceu. Rony via a cena com uma expressão de pânico, sabia que não havia como faze-la voltar. Cho esboçava um discreto sorriso, enquanto Harry, por sua vez, estava extremamente abatido.
Don’t speak
Não fale
I know just what you're saying
Eu simplesmente sei do que você está
falando
Rony enrubescia aos poucos enquanto olhava para o lugar onde, momentos atrás, Hermione estivera. Respirando um pouco mais pesado agora, o garoto olhou raivosamente para seu melhor amigo e disse:
_ Harry! Onde é que você está com a cabeça? Por que você fez isso? Não tem como trazer ela de volta você sabia? Agora a gente vai ter de esperar ela voltar sozinha, sem feitiço! Olha o tempo que você vai fazer nós perdermos!
Harry encarou o amigo com uma expressão fria e decidida.
So please stop explaining
Então por favor pare de explicar
_ Ela não vai voltar Rony.- declarou o menino.
_ Como assim ela não vai voltar?- perguntou o outro incrédulo.
Don’t tell me ’cause it hurts
Não me diga porque isso machuca
_ Ela não vai.Dumbledore me pediu que mandasse alguém de volta e esse alguém é Hermione.
Um olhar de desespero tomou conta do rosto do menino ruivo
_ Idiota!- gritou o Weasley - O que você acha que nós podemos fazer sem Hermione aqui!? O que você acha!?
_ Eu acho que nós não podemos perder tempo com algo que já foi feito. Já chega diss...
_... o que você quer dizer com já chega disso? O que é que está acontecendo com você Harry? Como foi que...
_ Eu acho que já ficou bem claro que o Harry não quer mais falar sobre isso- disse Cho rispidamente- Então já chega desse assunto para mim também.
Rony sentiu seu sangue subir violentamente por seu rosto. Não conseguia acreditar no que estava presenciando ali, naquele justo momento. Sua ânsia para falar era tão grande que, ironicamente, a única coisa que conseguiu fazer foi permanecer calado, assombrado diante dos fatos que se seguiram em um intervalo de tempo tão curto. “Hermione uma hora dessas deve estar em algum lugar de Hogwarts”- pensava o menino atordoadamente. Porém Hogwarts seria o último lugar para o qual a menina foi mandada.
O chão frio foi o primeiro contato da menina com o lugar onde estava. Por um breve instante ela pensou estar no mesmo lugar de antes. Uma câmara com paredes altas de rocha, um salão de pedra frio no qual se viu com seus amigos algum tempo atrás. Virou-se a procura deles, mas eles não estavam lá. As lágrimas voltam à seus olhos no momento em que ela se lembrou do que havia acontecido.
_“ Por que? O que eu fiz para o Harry me tratar daquele jeito?”. Levantou-se e olhou a sua volta. “Onde eu estou afinal? Não era para Hogwarts onde eu iria?”. Empunhou a varinha e andou através do lugar onde estava. Percebeu, por causa de um detalhe ou outro, que já havia passado por lá um pouco antes de ter chegado ao salão do qual fôra mandada embora. Um pensamento lhe passou pela cabeça;
_ “Eles não podem estar longe! Devem estar no mesmo lugar até agora ou no máximo um pouco mais a frente! Eu vou alcança-los. Alguma coisa deve ter dado errado no momento do feitiço de Dumbledore ou se não eu não estaria aqui! Não vai demorar muito para encontra-los.”.
Com passos rápidos a garota andou pelos corredores de pedra e a cada segundo que passava aumentava sua esperança de conseguir alcançar o grupo do qual se separara. “Cléc”
Ouviu de repente, no intervalo entre um passo e outro. Olhou ao redor e, afastando um pouco o pé, chamou-lhe a atenção um pequeno objeto abandonado no chão de pedra. Abaixando-se devagar, Hermione fitou o pequeno pingente de coruja, agora partido em diferentes pedaços. Não era um pingente desconhecido para ela. Pelo contrário, era algo muito importante, algo que fez com que seus olhos mais uma vez se enchessem de lágrimas. Era o pequeno amuleto que ela havia dado para Harry no início do ano, em uma época na qual eles eram amigos como nunca, uma época que agora se apresentava distante ou até mesmo inimaginável. Simbolizava, além da própria amizade entre eles, uma união, um elo que estabelecia o cuidado e o compromisso de estarem sempre zelando um pelo outro. E foi este mesmo objeto que se encontrava agora frio, quebrado e esquecido entre as mãos da menina que, chorando, sentiu alguma coisa, bem lá no fundo, romper-se definitivamente e, a imagem do garoto de olhos verdes e cabelo preto antes tão significativo para ela, tornou-se algo gélido... e desconhecido.
Hermione levantou-se sem nenhuma palavra, virou-se para qualquer outro lado que não fosse o caminho antes seguido pelos outros e andou sem rumo na escuridão.
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