O Livro dos Mortos
Clarões de relâmpagos iluminavam os corredores do castelo de Hogwarts enquanto Harry se dirigia para o salão comunal da Grifinória. Lá fora o céu, muito negro, ameaçava uma forte chuva e o vento frio aumentava. Harry chegou diante da mulher gorda no retrato, ela estava dormindo e abriu os olhos com má vontade quando o garoto se aproximou.
_ Ah, é você! Senha?
_ Visgo-do-Diabo! E a porta se abriu.
Poucos alunos estavam na sala comunal e Harry olhou em volta à procura de Rony e Hermione mas não os viu. No fundo ele ficou um pouco aliviado, não sabia como encarar os amigos depois de sua “fulga” da loja dos Weasley. Sabia que, apesar de tudo, a atitude dos amigos era para protegê-lo de mais confusão, mas o medo de decepcionar Emille era maior do que o de encontrar Malfoy novamente e embora sua busca tenha sido em vão, não se arrependeu de ter tentado.
Estava concentrado neste pensamento quando foi despertado por alguém que tocava em seu ombro, quando se virou se assustou com o rosto de Neville bem perto do seu.
_ Harry ! Onde esteve? Todos estão preocupados com você.
_ Está tudo bem, Neville, respondeu Harry sem querer dar maiores explicações.
_ Você viu o Rony e a Hermione?
_ Vi mas, é que...
_ O que foi, Neville?
_ Tenho um recado para você de Dumbledore.
_ Tem?
_Sim.
_ E qual é?
_ O quê?
_ O recado, Neville?
_Ah, desculpe. Eu estou com um pouco de sono, fiquei dormindo perto da lareira esperando por você. Dumbledore pediu para você ir até ao escritório dele.
_ Certo, obrigado. Amanhã bem cedo estarei lá.
_ Não, Harry. Ele pediu para você ir hoje, assim que chegasse.
_ Está bem, eu já vou, disse Harry indo em direção à saída e deixando para trás Neville aliviado por ter conseguido dar o recado e poder finalmente dormir.
Harry se dirigia apreensivo para o escritório de Dumbledore. A chuva já estava começando a cair e os clarões continuavam a iluminar os corredores desertos do castelo. Pelo caminho encontrou apenas dois fantasmas que cruzaram por ele já próximo às portas de Dumbledore. Harry estava com medo, algo lhe dizia que Dumbledore iria se zangar com ele por causa da briga com Malfoy em Hogsmead. Não saberia como encarar o diretor e detestava a idéia de decepcioná-lo. Sua vontade era de fugir mais uma vez para não ter de enfrentar Dumbledore não por medo e sim por vergonha de seu comportamento que com certeza ele não aprovaria.
Harry chegou diante da grande porta do escritório de Dumbledore e de repente se deu conta de que não sabia a senha. Era mesmo uma boa desculpa, sem a senha não tinha como entrar e se virou para ir embora quando escutou um rangido e para a tristeza de Harry a porta se abriu e a profª Minerva McGonagall surgiu.
_ Boa noite, sr. Potter!
_Profª McGonagall!
_ O profº Dumbledore está à sua espera, suba. Não havia saída e Harry se dirigiu para a escada atrás da porta que conduzia ao escritório do diretor mas antes que a escada se movesse ele pode perceber o olhar gélido e enigmático que a profª Minerva lhe lançou, ela provavelmente já sabia de tudo, estava realmente encrencado.
Harry respirou fundo e entrou no escritório de Dumbledore. O lugar estava pouco iluminado o que evidenciava os clarões de relâmpagos nas janelas. Nas paredes os quadros dos antigos diretores de Hogwarts pendiam em suas antigas molduras, muitos deles dormiam mas alguns despertaram com a entrada de Harry e lhe lançaram olhares sonolentos e mal humorados. Dumbledore estava sentado em sua poltrona trajando uma longa túnica verde, seus óculos de meia lua estavam em cima do nariz e ele não trazia uma expressão muito amigável em seu rosto embora não demonstrasse estar totalmente zangado. Ao seu lado, em pé, estava o profº Snape com sua longa capa preta, seus cabelos muito pretos cobriam parte do seu rosto pálido e rígido. Para a surpresa de Harry na mesa frente a Dumbledore e Snape estavam Rony e Hermione que se viraram assustados quando ele entrou.
_ Boa noite, Harry!
_ Boa noite, profª Dumbledore!
_ Sr. Weasley, srta. Granger, agradeço a confiança de vocês, fizeram muito bem em vir. Agora podem ir.
_ Sim, profº Dumbledore. Boa noite, disse Hermione e Rony apenas acenou com a cabeça e se retiraram e ao passar por Harry na porta Hermione disse:
_ Que bom que está bem. Ficamos muito preocupados com você. Harry não respondeu e Hermione saiu. Rony simplesmente abaixou a cabeça ao passar pelo amigo ao perceber sua expressão rígida. Harry não estava acreditando, seus melhores amigos o entregaram para o diretor ou era impressão dele? Uma sensação de revolta começou a tomar conta de Harry quando ele começou a desenvolver esse pensamento.
_ Harry ! Harry !
_ Hãaa! Oh, desculpe professor.
_ Sente-se Harry, precisamos conversar. Harry sentou-se devagar e sentiu um calafrio ao se deparar com olhar que Snape lhe lançara pelas costas do diretor.
_ Harry, seus amigos que acabam de sair daqui me trouxeram alguns fatos bastante preocupantes...
_ Profº Dumbledore! Interrompeu Harry. _ Eu posso explicar, eu não quis fazer isso, é que...
_ Não interrompa, Potter. O diretor ainda não terminou.
_ Obrigado, Severus, agradeceu Dumbledore com a mão erguida demonstrando uma certa impaciência com a intervenção de Snape.
_ Desculpe professor.
_ Bem, como eu dizia, os fatos que chegaram até a mim me deixaram bastante preocupado, Harry. Portanto, quero que você me conte exatamente o que foi que houve em Hogsmead hoje. Quando Harry abriu a boca e fez menção de se explicar, Snape interferiu:
_ Desculpe profº Dumbledore, mas acho que Potter tem muito mais a explicar do que simplesmente o dia de hoje já que seu comportamento já vem sendo observado desde o início das aulas.
_ Tenho certeza de que Harry nos explicará tudo Severus. Mas no momento quero me ater aos acontecimentos de hoje. E então Harry, o que tem a dizer? Harry se endireitou na cadeira, não sabia o que dizer, a presença de Snape o deixava ainda mais nervoso. O que ele queria dizer com “comportamento observado desde o início”? Será que Snape além de persegui-lo também o estava vigiando? Depois de alguns segundos de silêncio Harry tentou não olhar para Snape que se mantinha de pé atrás de Dumbledore e quando resolveu falar novamente nem conseguiu abrir a boca.
_ Perdoe-me mais uma vez prof° Dumbledore, mas gostaria de lembrá-lo de que deve haver uma punição severa para este tipo de conduta já que outros alunos da Grifinória têm conhecimento das atitudes de Potter. A punição deve ser exemplar, disse Snape olhando duramente para Harry.
_ Creio, Severus, que a profª McGonagall saberá decidir se deve ou não haver punição para o caso em questão. Essa decisão cabe a ela já que é a diretora da Grifinória. E Dumbledore, olhando para Snape por cima dos seus óculos de meia lua, prosseguiu. _ Agradeço sua ajuda Severus, se precisar de mais alguma coisa mandarei chamá-lo. Snape ajeitou a capa, contornou a mesa e se dirigiu até a porta, parou se virou e encarou Harry antes de sair. Dumbledore ficou parado por alguns segundos olhando seriamente para a porta onde Snape acabara de passar e depois prosseguiu:
_ Creio que não haverá mais interrupções. Então Harry, o que tem a me dizer?
_ Eu, eu não queria atingir Malfoy, profº, mas eu não consegui me controlar ele está sempre me provocando e...
_ Sim, sim Harry, o episódio com Draco Malfoy também chegou ao meu conhecimento e é possível que você tenha de se explicar com a profª Minerva. Mas o que preocupa não é isso. Dumbledore ajeitou seus óculos e olhou profundamente para Harry.
_ Quem é Emille Wells, Harry? O coração de Harry começou a pulsar forte. Por que Dumbledore queria saber sobre Emille? Mas uma vez não sabia bem o que responder e já estava ficando irritado consigo mesmo por se mostrar tão frágil e inseguro diante de Dumbledore a cada vez que o diretor lhe fazia uma pergunta. Tentou demonstrar segurança e voz firme.
_ É uma colega da Corvinal, profº, somos amigos.
_Corvinal?
_ Sim. Nos conhecemos no Beco Diagonal quando comprava os materiais escolares da lista de Hogwarts.
_ Fale-me mais sobre ela.
Harry contou a Dumbledore tudo o que sabia sobre Emille mas omitiu do diretor seus sentimentos por ela. Ele não sentiu à vontade para tratar disso com Dumbledore apesar de todo a confiança que havia entre ambos. Depois que Harry terminou seu breve relato Dumbledore se encostou na poltrona, ajeitou seus óculos e colocou a mão direita no queixo como se estivesse com seus pensamentos bem longe. Ficou assim por alguns segundos e Harry estava inquieto com o silêncio do ambiente que às vezes era quebrado apenas pelo murmúrio da fênix que dormia encolhida em seu poleiro dourado ao fundo da sala. Finalmente o diretor pareceu despertar de pensamentos profundos, olhou para Harry e perguntou:
_ Harry, você está com algum problema no momento?
_ Não, senhor, nenhum.
_ Soube que foi visto em vários locais conversando sozinho. Alguns acham que você está... bem, que você pode estar passando por problemas. Harry sabia o que Dumbledore estava tentando dizer de uma maneira delicada como sempre. Sabia que era a respeito dos boatos e piadas sobre ele estar louco e viver pelos cantos falando sozinho.
_ Não Profº, não estou passando por nenhum problema. Alguns colegas resolveram fazer umas piadas de mau gosto mas eu estou bem. Dumbledore encarou Harry sobre seus óculos em formato de meia lua como sempre fazia quando estava preocupado, suas sobrancelhas grossas e prateadas quase se juntavam. Ele perguntou novamente ao garoto e dessa vez com um ar muito sério e olhando dentro dos olhos de Harry.
_ Há alguma coisa que você gostaria de me contar, Harry? Ele gostaria de abrir seu coração e falar sobre os seus sentimentos por Emille e como estava sendo o seu ano escolar junto dela mas não tinha coragem e achava que o diretor poderia atribuir seus problemas com os deveres e trabalhos à atenção excessiva que dava a Emille. E olhando para o diretor tentando passar segurança em seu olhar e sua voz respondeu:
_ Não senhor. Não há nada.
_ Está certo, Harry. Você pode ir mas saiba que se houver qualquer problema não deixe de vir até a mim.
_ Sim, senhor. Eu virei. E Harry se levantou se dirigiu até à porta e deu boa noite ao diretor que demorou a respondê-lo. Harry teve a impressão que o diretor parecia ler a sua mente pelo jeito que o estava encarando, parecia encherga-lhe até a alma.
_ Boa noite, Harry!
A chuva já estava intensa, os relâmpagos iluminavam as grandes janelas do castelo com mais freqüência e Harry caminhava rapidamente em direção à Grifinória. Ele estava cansado, tivera um dia cheio mas enquanto passava pelos corredores tentava ordenar seus pensamentos. Entrara na sala de Dumbledore na certeza de receberia uma detenção por brigar com Draco Malfoy e no entanto Dumbledore mal tocou no assunto. Por que o diretor queria saber tanto sobre o relacionamento dele com Emille Wells? E por que ele parecia tão preocupado? Tentava entender a presença de Rony, Hermione e Snape na sala de Dumbledore naquela noite. Fazer fofocas para o diretor e professores não era o estilo dos seus melhores amigos, o que estaria acontecendo, então?
Harry chegou diante do quadro da mulher gorda que dormia profundamente, disse a senha e ela acordou mal humorada e abriu a porta. Ele entrou, a sala comunal estava vazia e silenciosa, ouvia-se apenas pequenos estalos que vinham de um resto de lenha que ainda queimava na lareira. Harry subiu para o dormitório, abriu a porta devagar e entrou sem fazer barulho. Todos os colegas dormiam, Neville roncava com a boca aberta e o seu cobertor escorregava vagarosamente para o chão. Rony fingia dormir deitado de costas para a cama de Harry. Ele se deitou e como sempre o primeiro pensamento que lhe ocorreu foi que a manhã chegasse logo para que ele encontrasse Emille e se desculpasse pela briga que estragou seu passeio.
Apesar do cansaço ainda estava disposto a passar alguns minutos pensando e tentando entender tudo que aconteceu naquele dia mas, foi vencido pelo sono e seus pensamentos foram interrompidos quando seus olhos se fecharam e seus óculos já tortos no rosto caíram no chão.
O dia amanheceu frio e nublado, a paisagem em volta do castelo estava branca e o movimento pelos corredores era mais ameno, sem muito barulho. Harry estava em um sono profundo e só acordou quando Neville o sacudiu.
_ Anda, Harry, acorde. Todos já desceram, vai se atrasar.
Não havia mais ninguém na Grifinória, todos já haviam descido para o salão principal e já tomavam o café da manhã. Quando Harry entrou no salão a primeira coisa que fez foi procurar Emille na mesa da Corvinal mas, não a viu. “Eu me atrasei, ela já deve estar na sala de aula” pensou ele arrependido por não ter acordado mais cedo. Dirigiu-se até a mesa da Grifinória, Rony e Hermione conversavam calorosamente e pararam bruscamente quando Harry chegou.
_ Bom dia!
_ Bom dia, Harry, respondeu Hermione, Rony apenas ascenou com a cabeça.
_ Harry, sobre ontem... começou Hermione engolindo um pouco de suco e secando os lábios com o guardanapo. Espero que você não esteja pensando que fizemos algum mal a você, só estamos preocupados. Rony parou de comer e abaixou a cabeça temendo uma reação brusca de Harry.
_ Tudo bem, Mione. Eu sei que vocês não fizeram por mal. Dumbledore não disse quase nada sobre minha briga com Malfoy. Na verdade ele quis saber mais sobre a minha relação com Emille. Hermione e Rony se olharam apreensivos.
_ Acho que eu é que devo desculpas a vocês já que fugi. Rony que permanecera calado até então arriscou uma pergunta com a boca cheia de biscoito:
_ E onde você foi?
_ Bem, depois daquela confusão toda tive que procurar por Emille e tentar me desculpar. Ela deve estar pensando que eu sou um encrenqueiro bruto.
_ E,e você a encontrou?
_ Infelizmente não, Mione. Não vejo a hora de encontrá-la e consertar as coisas. Nosso passeio estava indo tão bem e aquele maldito Malfoy tinha de aparecer para estragar tudo. Rony e Hermione se olharam de forma estranha novamente.
_ Então, ela foi à Hosmead. Onde ficaram? Perguntou Rony novamente mastigando mais biscoitos.
_ Bem, tomamos sorvete, fomos a uma loja de roupas mas, o lugar em que ficamos mais tempo foi em um antigo café no fim da rua principal, sentamos na varanda e conversamos bastante sem sermos incomodados já que o lugar estava vazio. Hermione olhou novamente para Rony mas, dessa vez ele abaixou a cabeça.
_ Bem, Harry, Rony e eu passamos por esse café e te vimos na varanda mas... bem, sabe, não vimos ninguém lá com você. Rony permaneceu de cabeça baixa diante de mais um olhar estranho de Hermione. Harry percebeu que algo estava errado entre os dois.
_ Eu estava na varanda do café com Emille e ela não saiu de perto de mim nem por um momento. Mas o que é que está havendo com vocês?
Hermione baixou a cabeça, Rony fingia beber algo em uma taça vazia quando um barulho chamou a atenção de todos no salão. Uma revoada de corujas de todos os tipos e tamanhos tomou conta do teto do lugar.
_ Ah! Finalmente, o correio chegou, disse Hermione um pouco aliviada.
As corujas começaram a jogar a correspondência sobre as mesas junto a seus donos. A pequena coruja de Rony jogou um rolo de pergaminho bem em cima da sua tigela de cereais fazendo espirrar leite no garoto. Hermione também recebeu alguns pergaminhos e a mais nova edição do Profeta Diário. Edwiges entregou a correspondência de Harry que era um pequeno pergaminho que continha um comunicado sobre a montagem dos times e o início dos treinos para o campeonato anual de quadribol. Nesse momento ele se deu conta de o quanto sua cabeça estava ocupada por Emille pois esqueçera até de sua grande paixão que era jogar quadribol. Harry percebeu que Hermione mostrava alguma coisa a Rony aos cochichos.
_ O que está havendo?
_ É isso, Harry. Hermione entregou a Harry a edição do Profeta Diário aberto na página 4 onde uma bruxa cheia de sacolas nas mãos sorria muito e a palavra “liquidação” piscava sem parar.
_ Que tem isso? É só uma liquidação de artigos femininos.
_ Não, Harry, leia abaixo. Na parte inferior da página havia a manchete, “O Livro dos Mortos desaparece do castelo da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts”, “A comunidade bruxa está em alerta”.
_ O Livro dos Mortos? Mas que livro é esse?
_ Ah Harry! Mas você não lê nada mesmo, não é? Disse Hermione nervosa. O Livro dos Mortos que também é conhecido como o Livro dos Sagrado contém magias poderosas que, segundo alguns livros e manuscritos, são capazes até de ressuscitar bruxos já falecidos. Esse livro ficava guardado na Seção Restrita da biblioteca aqui de Hogwarts e segundo essa notícia ele desapareceu de lá.
_ Como alguém poderia ter retirado o livro da Seção Restrita sem ser visto?
_ Bem Harry, provavelmente alguém que não despertasse suspeitas, um aluno experiente, por exemplo. Harry sentiu um tom estranho na voz de Hermione quando ela levantou essa hipótese e antes que ele pudesse dar alguma resposta Rony falou:
_ Harry, temos que nos reunir com os outros para conversar sobre o campeonato e iniciar os treinos.
_ Sim, hoje, na sala comunal agente conversa melhor sobre isso, respondeu Harry olhando para Hermione que o encarava de uma maneira estranha.
Após o café da manhã os alunos pareceram mais animados e o barulho nos corredores era crescente e dois assuntos tomavam conta das rodas de conversa, um era o desaparecimento do Livro dos Mortos da biblioteca e o outro o campeonato de quadribol. Para esse último já havia até alguns alunos fazendo suas apostas em seus times favoritos ao título de campeão do ano. O trio se dirigiu silencioso para a masmorra de Snape para mais uma aula de DCAT. Harry olhava constantemente para Hermione que desviava o olhar quando percebia que ele a encarava, Rony se manteve silencioso. A sala de Snape continuava escura como sempre, todos os alunos se sentaram e nem de longe pareciam o mesmo grupo que vinha animadamente conversando sobre quadribol nos corredores. Ninguém queria dar motivos para receber uma bronca de Snape e com exceção de Draco Malfoy e seus seguidores da Sensorina mais ninguém demonstrava a mínima animação para assistir àquela aula e enquanto o professor não chegava, Rony perguntou a Harry que estava sentado ao seu lado:
_ Alguma notícia de Emille?
_ Não. Não tive tempo para procurá-la. Vou fazer isso na hora do intervalo. Conte-me uma coisa, como foi o seu passeio com Hermione? Ela parece uma pouco estranha, vocês brigaram? Perguntou Harry sussurrando para que ela não ouvisse pois estava sentada um pouco mais à frente.
_ Não, nós não brigamos. Na verdade não fizemos nada de especial em Hogsmead, apenas sentamos em um café, tomamos cerveja amantegada e ficamos o tempo todo conversando e depois demos um volta pela rua principal.
_ E sobre o que vocês conversaram?
_ Nós? Bem, errrr... Para alívio de Rony de repente as portas da sala se abriram bruscamente e Snape entrou a passos rápidos com sua capa negra varrendo o chão e enquanto caminhava até a sua mesa disse:
_ Abrão o livro de feitiços avançados na página 44. A sala estava silenciosa e só se ouvia o barulho dos livros sendo abertos. Harry deixou sei tinteiro cair quando foi tirar seu livro da mochila e quando se abaixou para pegá-lo pode observar Draco com uma plaquinha na mão onde estava escrito “Potter Louco” em letras vermelhas. Crabbe e Goyle abafavam risadinhas. A vontade de Harry era de lançar o tinteiro na cabeça de Draco mas se conteve pois já estava encrencado o suficiente por causa da briga em Hogsmead, principalmente com Emille.
A página 44 do livro de feitiços avançados tratava da relação entre a magia, bruxos poderosos e os mortos, assunto que despertou o interesse dos alunos por causa do desaparecimento do Livro dos Mortos. Snape deu 5 minutos para que os alunos lessem as páginas 44 e 45 e depois de encarar toda a turma por alguns instantes perguntou?
_ Quem saberia me dizer o que é o Livro Sagrado? Hermione foi a primeira a levantar a mão e Snape como sempre a ignorou parecendo ter lançado a pergunta apenas para os alunos da Sensorina pois não olhava para o lado da sala onde se encontravam os alunos da Grifinória. Draco Malfoy levantou a mão em seguida para a alegria do professor.
_ Pois não sr. Malfoy.
_ O Livro dos Mortos é o Livro Sagrado.
_ Muito bem sr. Malfoy, 5 pontos para a Sensorina. Draco olhou com deboche para Hermione que ainda mantinha o braço erguido. Sem ter como ignorar Hermione por mais tempo Snape falou com má vontade:
_ Ah, srta. Granger, como sempre. O que tem a dizer?
_ Além de ser conhecido como o Livro Sagrado, o Livro dos Mortos também contém magias poderosas capazes até de ressuscitar os mortos porém, só deve ser manusiado por bruxos experientes e poderosos.
_ Já terminou srta. Granger?
_Sim, senhor.
_ Como já foi dito, prosseguiu Snape, este livro é um instrumento poderoso e por isso pode ser perigoso se cair em mãos erradas.
_ Não é justo. A resposta da Mione foi mais completa do que a de Malfoy e Snape não nos deu pontos, falou Rony baixinho para Harry.
_ Seria espantoso se ele reconhece isso, Ron.
_ Algum problema, sr. Potter? Interrompeu Snape.
_ Não senhor, problema nenhum.
_ Como todos vocês já devem saber - prosseguiu Snape sem tirar os olhos de Harry e caminhando pela primeira vez na aula em direção ao canto da sala onde estavam os alunos da Grifinória – O Livro Sagrado estava sob a guarda desta escola antes de desaparecer. Contudo, até onde se sabe, o livro não tem o poder de desaparecer sozinho, neste caso, podemos presumir que ele foi roubado por alguém que estivesse acima de qualquer suspeita. Hermione levantou novamente a mão.
_ O que quer srta. Granger?
_ Desculpe profº, mas já existe algum suspeito?
_ Se existisse fique certa de que não diria à srta. Os alunos da Sensorina caíram na gargalhada e Hermione fechou a cara para eles.
_ Mas, é provável que seja alguém de dentro da escola, um assíduo freqüentador de bibliotecas, um aluno, por exemplo. Dito isso Snape lançou um olhar estranho para Harry que sentiu um arrepio pelo corpo, o professor o olhava como se tentasse ler a sua mente e ele baixou os olhos fingindo ler alguma coisa em seu livro.
_ Para a próxima aula quero que me tragam uma pesquisa sobre o poder dos bruxos em relação à morte. Devo lembrar que trabalhos copiados de colegas não serão mais aceitos e o aluno que insistir em tal procedimento perderá pontos da sua respectiva casa e também nos exames finais portanto, aconselho a vocês que não me desafiem neste sentido. Neville estremeceu na cadeira e Harry sabia que Snape estava falando para ele. Sentiu um alívio quando finalmente a aula de DCAT foi encerrada e os alunos liberados.
A aula seguinte era de poções e a maioria dos alunos se sentiu melhor já que as aulas do profº Quilmers eram bem mais tranqüilas. Enquanto se dirigiam para a sala de Quilmers o estranho silêncio entre Harry e Hermione foi quebrado por Rony que havia ficado para trás:
_ Harry, Mione acho que Neville está com problemas.
_ Por que, Ron?
_ Porque Snape o segurou na sala agora no fim da aula, Mione.
Harry se sentiu culpado, possivelmente Snape havia descoberto que ele andava copiando os trabalhos de Neville e o colega poderia sofrer uma detenção por causa disso.
_ Tenho certeza que é por minha causa, Ron. Não posso deixar que Snape aplique uma detenção em Neville, eu vou lá.
_ Não, Harry, espere.
_ Não posso deixar que Snape castigue Neville por minha causa, eu não me sentiria bem.
Harry correu de volta em direção à sala de Snape apesar dos protestos de Hermione. Ele sentia um aperto no peito e sabia que por mais que Snape o castigasse seria melhor do que ver Neville detido injustamente. Na esquina do corredor que dava para a masmorra de Snape, Harry trombou com Neville que quase caiu no chão.
_ Neville! O que aconteceu? Você está bem? O que Snape queria?
_ Tudo bem, Harry. Eu estou bem. Ele só queria que eu lhe desse um recado.
_ Mas ele não te chamou a atenção por causa dos trabalhos?
_ Não. Eu também pensei que fosse, meu coração está disparado até agora mas, era só para mandar o recado para você.
_ Qual o recado?
_ Bem, logo depois que vocês saíram a profª Minerva chegou à masmorra de Snape e ela foi com ele até o fundo da sala e ficaram conversando e como eu fui o último a arrumar o meu material e sair ele pediu para eu te dizer para ir até à sala da Minerva hoje a noite e, bem, ela não estava com a cara muito boa, parecia nervosa.
_ Acho que sei o que é, provavelmente detenção por causa do maldito do Malfoy. Obrigado, Neville.
_ Harry, eu estive pensando se agente não poderia voltar a treinar feitiços na AD. Harry olhou para os lados e se certificou que não havia ninguém por perto.
_ Acho melhor não, Neville. Agora que que Snape é professor de DCAT é mais perigoso ainda que ele nos decubra e apesar de tudo, om ele agente aprende alguma coisa ao contrário Umbridge que só nos manadava ficar lendo aqueles livros idiotas.
_ É, você tem razão, Harry, até que eu tenho aprendido algo com Snape. Concordou Neville.
Harry passou o resto do dia procurando uma brecha no horário para procurar Emille mas, não conseguiu. Ele pensou em fugir da última aula fingindo estar passando mal para ir até à torre da Corvinal mas, desistiu da idéia pois, a última aula era com a profª Minerva e Harry achou melhor não piorar as coisas com ela.
Chovia muito forte quando Harry deixou a torre da Grifinória para ir até à sala da profª Minerva. Havia acabado de marcar as datas dos treinos para o torneio de quadribol com o seu time. Deixou os colegas numa conversa animada sobre as táticas de jogo na sala comunal e teve muita vontade de continuar lá com eles. Passar parte da noite em detenção com Minerva McGonagall não era lá uma forma muito agradável de terminar o dia.
Andou desanimado pelos corredores frios e escuros do castelo até que finalmente chegou à porta da sala da professora e a chamou:
_ Profª McGonagall! Com licença, disse Harry abrindo a porta devagar. A sala estava pouco iluminada, só haviam algumas velas acesas em torno da mesa e na parede e o cheiro do lugar era agradável e calmo. A professora demorou a aparecer e Harry ficou por alguns minutos observando velhos quadros na parede.
_ Sr. Potter?
_ Professora!
_ Vejo que levou a sério o meu chamado. Sente-se, disse ela apontando a Harry uma poltrona no canto da parede. A professora sentou-se à sua frente e ficou observando-o por alguns instantes.
_ É uma detenção, senhora?
_ Ainda não, Potter. Isso vai depender das respostas que me der aqui hoje.
_ Respostas, senhora?
_ Sim, Potter, portanto perguntarei sem rodeios, não tenho muito tempo para perder. Foi você quem pegou O Livro Sagrado na biblioteca? Harry teve vontade de soltar um sonoro “O quê?” mas a professora sabia que ele tinha ouvido muito bem pois, estavam bem próximos e ele desviou seu olhar para o velho tapete redondo no chão entre as duas poltronas. O silêncio estava o deixando mais nervoso do que a própria pergunta da professora que o encarava com um olhar severo e na penumbra da fraca luz que vinha das velas, ela parecia uma pálida e séria estátua rígida no escuro.
_ E então, Potter? O que tem a me dizer?
_ Nada, quero dizer, não fui eu professora.
_ Mas, tenho informações que você anda freqüentando muito à biblioteca ultimamente.
_ Sim, senhora mas, só para fazer pesquisas para os deveres. Faz muito tempo que eu não entro na Seção Reservada. Novamente veio o silêncio, Minerva levantou-se caminhou dois passos e ficou de costas para Harry dizendo:
_ Eu geralmente não me engano, Potter. Vejo verdade no que você diz, e virando-se para ele disse: _ Pode ir e, Potter, se o profº Snape perguntar se está em detenção, oculte-lhe a verdade mas, não invente nada além do necessário.
_ Sim, senhora. Boa noite!
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