Longas Férias
__ POTTER !
Era a quarta vez que Valter Dursley gritava por Harry da janela da cozinha. Queria que o sobrinho lavasse a louça antes que sua esposa, Petúnia, chegasse das compras. Mas, o que Harry queria mesmo era continuar deitado na grama do jardim se refrescando do intenso calor que fazia naquele momento na Rua dos Alfeneiros, nº4. Harry não se lembrava de outro verão tão quente como aquele. Estava deitado na grama do jardim dos Dursley, olhos fechados, vestia uma calça marrom que de tão grande lhe escondia os pés e um blusão branco com listas azuis bastante surrado. Qualquer um que passasse pela rua e olhasse para Harry saberia que aquelas roupas não tinham sido feitas para ele. Eram de Duda, seu primo, que a cada dia estava mais gordo e mais insuportável, mas só para Harry porque para os pais, "o Dudinha era um anjinho".
A idéia de deixar o frescor do gramado para lavar os pratos da tia Petúnia não era nem um pouco atraente para Harry. Ele queria mesmo continuar deitado, sonhando e desejando que o momento de voltar para Hogwarts chegasse logo. Queria voltar à escola e rever os Weasley, Hermione, Hagrid, Dumbledore e sentir a magia do castelo, era lá que Harry reconhecia sua verdadeira família e se sentia vivo próximo às pessoas que ele amava.
_ POTTER ! NÃO ME FAÇA CHAMAR OUTRA VEZ! Gritou novamente o tio Valter.
Harry levantou-se, estava mesmo muito quente e a preguiça e a vontade de permanecer deitado na grama fresca tomou conta dele. Sentia seu corpo pesado e muita sonolência, mas sabia que se tio Valter viesse ali fora buscá-lo, seria castigado, ficaria trancado em seu quarto com fome por horas ou receberia horríveis tarefas como lavar pilhas de pratos, cortar a grama e coisas do tipo. Caminhou desanimado para a porta abriu-a e entrou. Nesse momento pode sentir algo grande e pesado pousando sobre sua orelha esquerda, a dor era forte. Tio Valter grudou sua mão gorda e pesada na orelha de Harry e o arrastou até a cozinha.
_ Eu avisei para não brincar comigo, Potter. Reze para Petúnia demorar no supermercado, porque se ela chegar e achar essa bagunça aqui na cozinha eu acabo com você.
E com um empurrão tio Valter soltou a orelha de Harry que ardia terrivelmente e ele pode constatar o quanto estava vermelha em seu reflexo no fundo prateado da primeira panela que pegou para lavar.
Duda não estava em casa, seria ainda mais triste se Harry tivesse que agüentar o deboche do primo que havia saído com seus “amiguinhos” como dizia tia Petúnia. Ela acreditava que o “Dudinha” estava na casa dos “amiguinhos” tomando chá, quando na verdade, Harry sabia que Duda e sua turma certamente estavam em bando pelas ruas se divertindo ao espancar algum garoto magricela e indefeso. Harry ensaboava as queridas xícaras floridas de sua tia, presente de Guida, irmã de tio Valter. Lembrou-se do dia em os Dursley receberam a visita de tia Guida e o momento em que ela começou a ofender seus pais e ele perdeu a cabeça e a fez inflar como um gordo e enorme balão. Harry deu um leve sorriso, jamais se esqueceria daquele dia e de repente uma vontade súbita se apoderou dele. Harry sentiu um enorme desejo de tirar a varinha da cintura, ir até a sala onde tio Valter lia jornal e fazê-lo inchar até explodir. O ardor em sua orelha fazia o desejo aumentar, mas tudo aquilo desapareceu tão rápido quanto surgiu na cabeça de Harry. Era proibido fazer mágicas fora de Hogwarts e se fizesse o tio voar pelos ares poderia ser severamente punido e nunca mais voltar para sua querida escola de magia. Já podia ver a cara de satisfação do professor Severo Snape ao vê-lo receber a sentença de expulsão, a decepção do diretor Dumbledore e como Sirius reagiria se estivesse lá vendo isso. Não, Harry precisava se controlar. Já estava passando, logo as malditas férias terminariam e estaria em casa novamente, “só falta uma semana”, pensou Harry.
Tia Petúnia chegou assim que Harry guardou o último prato no armário.
_ Olá querido! O Dudinha já chegou? Perguntou Petúnia.
_ Ainda não querida. Mas, já deve estar chegando. Respondeu Valter.
_ Fico tão preocupada com meu Dudinha tão indefeso na rua até tarde.
_ Não se preocupe querida, se ele não chegar em meia-hora, eu mesmo irei buscá-lo.
Indefeso? Só mesmo Harry enxergava o monstro que Duda era. Se não voltou era porque ainda não enjoou de espancar alguém ou de quebrar algumas boas vidraças.
Harry ainda pode ouvir a voz de Duda chegando antes de fechar a porta de seu quarto. Conseguira arrumar toda a cozinha antes que o primo chegasse da rua. Comeu um lanche rápido antes de vir para cama. Há dias que Harry evitava encontrar Duda, procurava sempre estar em seu quarto quando ele chegasse da casa dos “amiguinhos”. Não que Harry tivesse medo do primo e sim porque tinha medo de si mesmo. Medo de reagir a uma provocação de Duda e acabar apontando a varinha para ele e joga-lhe um bom feitiço. Ele não queria arriscar, perder a oportunidade de se formar em Hogwarts junto com Rony e Hermione por causa de Duda, isso seria o fim para Harry, nunca se perdoaria.
Seu aniversário estava próximo, sabia que não iria ganhar dúzias de presentes dos tios como Duda ganhara, mas sabia que receberia cartas de seus amigos que, aliás, já fazia alguns dias que não mandavam nenhuma mensagem. A última carta que recebeu foi de Hermione que lhe mandou uma lista de livros imensos que ela estava lendo nas férias e achou que seria bom se ele e Rony lessem também. Harry tinha suas dúvidas se naquele exato momento Rony estaria trancado em seu quarto, na Toca dos Weasley, lendo livros de magia de mil páginas. Ele não conseguia nem imaginar a cena. Rony com certeza estaria treinando quadribol no jardim da toca com seus irmãos e Harry desejou muito estar com eles. E se não fosse pelas ordens de Dumbledore, que pediu a ele que ficasse na casa dos tios trouxas até o fim das férias, Harry fugiria para a casa do melhor amigo sem dizer uma palavra se quer aos Dursley.
Lentamente os dias se passaram e naquela noite Harry mais uma vez conseguiu entrar para seu quarto antes que Duda chegasse. Faltava apenas três dias para Dumbledore vir buscá-lo. Queria sair, caminhar um pouco pelo bairro e se despedir da Rua dos Alfeneiros, porém, a possibilidade de topar com Duda e sua gangue era grande, não queria estragar tudo. Tinha conseguido chegar ao fim das férias sem maiores atritos com o primo. Apenas no terceiro dia de férias houve um incidente, quando Duda colocou um vidro inteiro de pimenta no leite de Harry e depois lhe puxou os cabelos, mas, tio Valter entrou na cozinha antes que ele pudesse levar a mão à varinha. A partir de então, Harry só tomava seu café da manhã depois de ter certeza que Duda já saíra com tio Valter que o levava todas as manhãs para as aulas de ginástica e natação antes de ir para o trabalho. Harry tinha suas dúvidas se Duda praticava algum exercício, pelo tanto de dinheiro que ele pedia ao pai todo dia para o lanche do intervalo das atividades, o que parecia mesmo é que o primo passava a manhã inteira se empanturrando na lanchonete da academia.
Já era bem tarde, mas Harry não estava com sono, pegou uma pena e um pedaço de pergaminho e começou a rabiscar alguma coisa e se pegou tentando desenhar o castelo de Hogwarts. Lembrava cada detalhe do castelo e também dos professores, dos funcionários e até dos elfos da cozinha e de como adorava ficar na sala comunal da Grifinória sentado próximo à lareira conversando com Rony e Hermione sobre as aulas e os últimos acontecimentos da escola.
A imagem lareira trouxe a Harry outra lembrança que não o deixava um só dia. Era a lembrança de seu padrinho Sirius Black e de como ele o perdeu. Porque tinha perdido a única pessoa que o amava e a quem Harry podia chamar de família? Era a pergunta que ele se fazia desde que perdera o padrinho. Todos os dias Harry se lembrava dele, de seus conselhos e de tudo que Sirius fizera para protegê-lo até o último momento. Nos seus muitos instantes de solidão naquelas férias, tudo o que mais queria é que Sirius estivesse vivo para enviar-lhe uma coruja com uma mensagem de consolo e alguns bons conselhos para suportar a casa dos Dursley por todo o verão. E foi assim que Harry adormeceu, com os óculos tortos no rosto e com um pedaço de pergaminho na mão com o desenho de um castelo e “Sirius Black” escrito com grandes letras trêmulas.
Harry acordou repentinamente e assustado, parecia que alguém o chamava, mas não eram os habituais gritos de tio Válter e nem de tia Petúnia, não reconhecera a voz. Sentia calor, algumas gotas de suor escorriam-lhe pelo corpo. Olhou para o velho relógio sobre a escrivaninha, já eram nove e meia da manhã, dormira demais. Certamente a pia da cozinha já estava lotada de louças sujas do café da manhã dos Dursley para ele lavar e com muita sorte poderia ser que Duda e tio Valter tivessem deixado sobrar alguma migalha de pão ou bolo para ele.
Ótimo, pelo menos já era tarde e ele não teria que topar com Duda na cozinha, já devia ter saído com o pai, pensou Harry.
Levantou-se, seus óculos e o pedaço de pergaminho que havia rabiscado na noite passada estavam caídos no chão bem junto a alguns livros que estavam esparramados, pegou-os, colocou os óculos e organizou a cama. Ouvindo algumas vozes que vinham do jardim, chegou até a janela para ver quem era. E um descontentamento se abateu sobre Harry porque no jardim estavam Duda e três de seus “amiguinhos”.
_ Será que eles vão passar toda a manhã aqui? Harry se perguntou em voz baixa. Ele não estava acreditando no que via. E rapidamente sua pergunta foi respondida.
_Potter! Desça imediatamente, garoto preguiçoso. Todos já tomaram café e arrume tudo antes que eu comece a preparar o almoço. Não quero atrasos, o Dudinha trouxe alguns amiguinhos para almoçar conosco. Ande logo, disse tia Petúnia batendo à porta do quarto de Harry. Ele estava em choque, justo naquele dia em que estava disposto a passar arrumando o seu malão e todo o seu material escolar para retornar a Hogwarts e só faltavam dois dias para ele ir embora e se livrar da cara feia do primo. Desolado e paralisado na janela, Harry olhava para o nada sem a menor vontade de descer e lavar a louça imunda da tia. Foi quando notou um ponto no horizonte, algo estava se aproximando, parecia uma pequena bola em alta velocidade. Não, não era uma bola era... Sim era Edwiges, a coruja de Harry. Andava tão ansioso para chegar logo o fim daquelas férias e pensava tanto em Sirius e Hogwarts que se esquecera que há três dias havia mandado mensagens para Rony e Hermione através de Edwiges. Ela vinha voando rápido e tinha alguma coisa presa no bico, possivelmente respostas de seus amigos. Ela vinha ágil em sua direção, Harry a esperava debruçado na janela, de súbito ouviu um estalo, Edwiges que parecia ter sido atingida por alguma coisa rodopiava violentamente no ar e foi caindo rapidamente em direção ao solo. Harry ficou paralisado, sua coruja caiu no chão num baque surdo. Risos altos lhe tiraram a atenção enquanto se preparava para correr em direção a Edwiges. Duda e sua gangue rolavam de rir no gramado e Harry se entristeceu com o deboche daqueles meninos, mas, imediatamente a tristeza foi substituída por um ódio intenso no momento em que percebeu um estilingue na mão de Duda. Aquele “porco gordo” havia atirado uma pedra em sua coruja.
Harry pegou sua varinha e desceu as escadas correndo até chegar ao jardim. Ali, em meio às flores, estava Edwirges imóvel. “Estaria morta?” Harry se perguntou e correu em sua direção, lágrimas rolavam em seu rosto. Estava tão triste e assustado que nem se lembrou de procurar a carta que a coruja trazia no bico.
_ Edwirges? Por favor, não. Edwirges? Ela não estava morta, mas, respirava muito devagar e seus olhos sempre vivos e brilhantes teimavam em fechar. Percebeu sangue em suas penas e sua asa esquerda estava quebrada.
_ Perdeu sua “galinha” Potter?! Hahahahahaha !!! Ironizou Duda com os aplausos de seus amigos.
Harry pensou em mil apelidos e xingamentos para dizer ao primo, mas sua voz embargou, parecia estar com uma enorme maçã entalada na garganta, seu corpo inteiro tremia e levou a mão à varinha em sua cintura. Mas, antes que pudesse puxá-la sentiu um baque em sua perna e caiu de joelhos. Um dos amigos de Duda havia atirado outra pedra em Harry. Aquilo doía tanto que ele não teve forças para puxar sua varinha. Outro estalo, mas desta vez não parecia o barulho de uma pedra, aquele som lhe era familiar. Harry finalmente puxou a varinha, Duda e os outros riam alto e davam gritos de deboche. Duda pegou o estilingue da mão do amigo e se preparava para atirar outra pedra em Harry quando estranhamente aquele objeto nas mãos de Duda começou a pegar fogo, ele gritou e soltou-o no chão. Os risos pararam, as caras dos meninos antes de deboche, agora davam lugar ao susto e ao medo. Duda começou a não sentir o chão, estava flutuando, subindo cada vez mais alto. Harry olhou para varinha em sua mão, ela estava imóvel, não era ele, a dor era tanta que não conseguia se concentrar em nenhum feitiço.
“Então, o que estava acontecendo com Duda?”
Ele já estava a três metros do chão quando tia Petúnia deu um grito e veio correndo da porta da sala até ao gramado.
_ PARE COM ISSO POTTER! SOLTE MEU FILHO. DUDAAAA!
Harry também gritou:
_ NÃO SOU EU!
De repente Duda perdeu altura e caiu no chão com seu rosto redondo muito vermelho e os olhos arregalados. Harry percebeu, nesse momento, uma criatura baixinha e orelhuda correndo em direção a uma moita de plantas, ela se virou e piscou para Harry antes de desaparecer entre as flores.
_ Dobby! Sussurrou, Harry.
Era mesmo o elfo em sua eterna roupa de trapos com seus enormes olhos e seus pés descalços. Ele havia lançado um feitiço em Duda. Enquanto Petúnia abraçava o filho, Harry mancando, se voltou para Edwiges. Sem saber o que fazer para salvá-la, pegou-a nos braços cuidadosamente, passou por Duda, tia Petúnia e os meninos e subiu para seu quarto.
Fechou a porta, colocou Edwiges em cima de seu travesseiro sobre a cama.
_ Não se preocupe tudo vai ficar bem, disse Harry para sua coruja ainda sentindo muita dor na perna. Não podia mesmo perder Edwiges, ela era sua grande e fiel companheira e já havia lhe trazido muitas vezes mensagens de alegria e consolo enviadas por seus amigos, até enfrentou ao lado dele a aventura de ir para Hogwarts a bordo de um Ford Anglia voador conduzido por Ronald Weasley que acabou aterrizando nos galhos do violento salgueiro lutador. A coruja era uma boa amiga e Harry não queria perdê-la. Ele passou algum tempo acariciando a coruja e relembrando alguns bons momentos que passou com ela, mas foi interrompido.
_ POTTER! Abra essa porta imediatamente. Temos contas a acertar. Vamos! Abra. Era Tio Valter e pela voz deveria estar furioso com suas bochechas vermelhas e olhos arregalados, Harry já imaginava sua cara de fúria.
Ele pensou em não abrir a porta, talvez pegar Edwiges e seu malão e fugir pela janela. Mas, um olhar mais atento pela fechadura da porta do quarto o aterrorizou. Aquela porta não estava trancada. E a maçaneta começou a girar, parecia que a cena havia congelado, aqueles poucos segundos em que o tio abria a porta pareciam uma eternidade, paralisou-se.
_ Potter! O que fez com meu filho? Vai pagar caro por isso. Vou lhe ensinar a fazer essas mágicas idiotas.
E antes que Harry pudesse se explicar, tio Valter tirou seu cinto, dobrou e se preparou para atacá-lo. Ergueu o braço, mas parou-o no ar. Ficou por alguns instantes, olhando fixamente para Harry.
_ Não. Não vou sujar minhas mãos com você, Potter. Eu tenho uma idéia melhor. Vou acabar de uma vez por todas com essa história de magia. Você nunca mais vai por os pés naquela maldita escola. Vou te levar para um lugar que nem aquele bruxo velho e maluco vai te achar.
_ Não fale assim de Dumbledore. Eu não admito que...
_ CALA BOCA, POTTER! Quem é você para admitir ou não alguma coisa dentro da minha casa? Valter pegou Harry pelo braço.
_ Anda. Pega logo essa maldita mala. Temos uma longa viagem para fazer, disse tio Valter com um sorriso nervoso nos lábios.
O primeiro impulso de Harry foi de tentar se soltar, mas o tio era mais forte. Depois pensou que não precisava lutar com o ele. Não importava onde tio Valter o levaria, Dumbledore e os membros da Ordem da Fênix o achariam em qualquer lugar, por vezes se esquecia o quanto era protegido. Sim, deixaria o tio levá-lo, Dumbledore o acharia, o levaria para Hogwarts e nunca mais ele precisaria voltar para a casa dos Dursley. Parou de resistir ao tio, fingiu ainda lutar, apenas com um braço colocou tudo embolado dentro do malão e o fechou. Olhou para Edwiges ainda sobre o travesseiro e pensou: “Não se preocupe, tenho certeza que Dumbledore ou alguém da ordem virá buscar você”.
_Ande logo. Não tenho a noite toda para esperar você ficar olhando para essa “maldita galinha”.
E com um safanão tio Valter arrastou Harry escada abaixo. Como se não bastasse a dor na perna, agora sentia uma grande dor no braço que o tio apertava como se fosse esmagar. Ao passar pela sala, tio Valter pegou a chave do carro. Duda estava deitado no sofá com a cabeça no colo da mãe e fingia chorar enquanto ela lhe acariciava e prometia liberá-lo da dieta da academia fazendo para ele enormes tortas de chocolate e os amigos já tinham ido embora. Quando percebeu a presença de Harry a tia falou:
_ Agora vai ter o que procurou, Potter. Uma longa temporada nos porões da distante casa de Guida vai lhe servir de um ótimo corretivo. Acha que somos ruins? Vai ver que perto de Guida somos anjos e então aprenderá a nos respeitar e irá nos implorar para voltar para cá.
Duda deu um sorriso cínico enquanto fingia gemer de dor.
“Casa de Tia Guida? Sem problemas, Dumbledore me achará fácil”, pensou Harry.
Tio Valter se despediu da mulher e do filho e foi saindo com Harry quando Petúnia chamou:
_ Valter! E apontou para a cintura de Harry.
_ Oh, sim! Exclamou Valter. Enfiou a mão embaixo do blusão de Harry e puxou sua varinha.
_ Você não é nada sem isso não é, Potter? E sorriu. Harry ainda teve tempo de ver Duda lhe dando um “thauzinho” debochado antes do tio bater a porta da rua.
Parecia mesmo que o verão estava acabando, aquele fim de manhã já não estava tão quente quanto os outros dias. Seu braço começava a latejar, mas a idéia de que Dumbledore logo o encontraria o consolava. Valter abriu a porta do carro, empurrou Harry para dentro com violência, entrou e travou as portas, olhou para o sobrinho com um olhar sinistro e arrancou o carro. “Espere!”, pensou Harry, “e se Dumbledore e meus amigos da Ordem demorarem a me encontrar?”
Guida poderia transformar sua vida em um inferno antes que todos aparecessem para ajudá-lo e Edwiges também poderia estar morta até lá, isso se Tia Petúnia já não estivesse naquele momento entrando no quarto dele para se livrar da coruja. O desespero tomou conta de Harry, suas certezas se perderam, meia hora na casa de tia Guida já seria uma enorme tortura e sem sua varinha e sua vassoura seria praticamente impossível fugir, salvar Edwiges e voltar a Hogwarts.
O Tio já havia percorrido pelo menos quatro quarteirões da Rua dos Alfeneiros quando disse:
_Ah sim. Feliz aniversário Potter! Vai ter um presente inesquecível ainda hoje. E sorriu sinistramente de novo. Aquele olhar que o tio lhe lançou lembrava-o muito o prof. Snape, seu perseguidor em Hogwarts, e esse pensamento aumentou o seu pavor. Valter não desfez o sorriso e acelerava como um louco.
Subitamente o carro parou num breque e a princípio Harry pensou que o tio havia freado de repente, mas, mudou de idéia quando viu a cara apavorada de Valter pisando no acelerador e girando várias vezes a chave.
_ Mas o que... balbuciou Valter. O carro não respondia e um rosto familiar apareceu na janela ao lado de Valter. Era um homem de cabelos e barba longos que de tão brancos chegavam a ser prateados, usava óculos de meia lua e uma brilhante capa verde, roupa não muito comum entre os moradores daquele bairro.
_ Vai a algum lugar Dursley? Perguntou Alvo Dumbledore, para o imenso alívio de Harry.
_ Prof. Dumbledore!
_ Olá Harry! Desculpe aparecer assim com dois dias de antecedência, mas, mandei uma mensagem pela sua coruja avisando que viria hoje devido a alguns imprevistos pessoais, pelo que vejo você não a recebeu, espero que não se importe com minha súbita chegada. Harry balançava a cabeça de um lado para o outro sem acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo.
_ Não sei para onde está indo Dursley, mas estou certo de que Harry não irá com você. Valter arregalou os olhos e suas bochechas ficaram vermelhas. Sem esperar resposta Dumbledore sacudiu sua varinha as portas do carro destravaram e mais que de pressa Harry saiu e se colocou ao lado de Dumbledore.
_ Isso não vai ficar assim seu velho caduco. Um dia eu acabo com toda essa loucura. Gritou Valter com um lenço na mão enxugando a testa suada.
_ Vamos! Deixe-me ir.
_ Embora o aniversário seja de Harry, receio que você tenha algo para me dar. Disse Dumbledore calmamente para Valter. Valter arregalou os olhos, travou os dentes, tirou a varinha de Harry do bolso e atirou-a pela janela. Dumbledore sorriu, sacudiu a varinha e Valter pode arrancar o carro, fez a volta e partiu com uma cantada de pneu em direção à sua casa.
_ Dumb... Quero dizer, Prof. Dumbledore, como o senhor sabia que...
_ Acalme-se Harry. Não temos muito tempo, logo tudo será explicado.
Depois de pegar sua varinha no chão, Harry contou a Dumbledore o tinha acontecido com Edwiges e como não teve tempo de pegar sua vassoura e o caldeirão.
_ Não se preocupe Harry, não estou sozinho e nesse mesmo momento há alguém na casa de seus tios providenciando tudo isso para você. Apenas receio que eles se assustem um pouco com o tamanho desse nosso amigo que está lá agora.
_ Hagrid! Hagrid está aqui?
_ Sim Harry. Mas não podemos esperá-lo, vamos. Dumbledore conduziu Harry até um beco deserto próximo ao lugar onde parara o carro de Valter, olhou para os lados para se certificar que não havia ninguém.
_ Segure firme o seu malão e agarre-se em meu braço Harry, pois, vamos desaparatar. Harry fez o que Dumbledore ordenou e rapidamente uma forte luz cobriu seus olhos.
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