Parte II
Era um escritório muito amplo e muito bem iluminado, no Ministério da Magia. Sua mesa estava abarrotada de papéis, uma prateleira ao lado cheia de livros. Sua cabeça doía pelo tanto de protocolos que precisava ler e assinar até o final da tarde. Ao lado, numa pequena mesa, via-se três porta-retratos:
Uma menina-mulher, com seus 21 anos, sorria para fora da moldura. Tinha o cabelo caindo pelo ombro, castanho-claros, encaracolados. Os olhos, também castanhos, sorriam juntamente com os lábios. A foto era recente, e fôra tirada nesta mesma sala onde agora estava exposta. No porta-retrato ao lado, ela estava com os pais, numa foto mais antiga. Ao redor podia-se ver uma parede de pedras, os pais sorriam orgulhosos. A resposta para este orgulho se encontrava na terceira foto. Três amigos abraçados, todos segurando um diploma nas mãos... O diploma de Hogwarts.
Eram amigos inseparáveis esses... Um ruivo que parecia meio surpreso com a foto que fôra tirada de repente; um moreno, com seus olhos verdes meio escondidos por óculos, e cabelos pretos bem arrepiados; e ela... sim, Hermione Granger, sorrindo, depois de ter feito o discurso de formatura.
Hermione acabava de ler o centésimo protocolo do dia, parou para respirar e encostou-se na cadeira. Olhou para o lado e viu a foto dos três, deu um pequeno sorriso sonhador. Já fazia quatro anos que tiraram aquela fotografia... quatro anos.
-Srta. Granger, aqui estão as correspondências que chegaram pelas corujas hoje. – sua secretária, uma moça baixinha e tímida, entrara em sua sala.
-Sim, obrigada, Paula. – Mione agradeceu.
Seu rosto se iluminou ao ver a carta ao fundo. Era o envelope que ele sempre usava, um envelope azul, e ela pôde ver bem a caligrafia dourada gravada: Para Hermione Granger / De Harry Potter.
Abriu a carta ansiosamente, e leu:
Querida Mione,
Estarei em Londres neste fim de semana, quero muito me encontrar com você e Rony. Será que poderia nos encontrar naquela lanchonete da última vez, na esquina da rua Charles Montgomerry? Se sim, mande a resposta hoje mesmo, ok?
Com carinho,
Harry Potter.
Ela olhou para carta, profundamente. O amigo, que estava em uma missão como auror há mais de um ano, vinha novamente visita-la. Provavelmente Rony também, este estava jogando como goleiro do Chuddley Cannons. Por isso, eram raras as ocasiões em que os três conseguiam se encontrar, às vezes ela via apenas o Rony ou apenas o Harry. Já devia fazer uns três meses que não se viam os três.
Ela escreveu a resposta rapidamente em um pedaço de pergaminho, colocou no envelope, e saiu apressada da sala.
-Paula, será que poderia mandar esta carta agora mesmo? Use uma coruja veloz, ok?- ela pediu para secretária, que atendeu prontamente.
-Muito obrigada. – e Hermione voltou para sua sala, pensativa.
Olhou para a foto dos três antes de se sentar. Depois focalizou Harry, que tinha aquele sorriso lindo no rosto... E se lembrou daquele dia, dia mais que inusitado, quando os dois ficaram presos na sala do professor Flitwick. O beijo que deram... Como ela se sentiu bem naquela hora! Mas Hermione sabia o que tinha acontecido depois. Ela fugiu... Não de Harry, mas da situação, e fazia de tudo para não tornar a falar dela novamente. Harry ainda insistiu várias vezes, sempre em que conseguia ficar sozinho com a amiga, mas não conseguiu faze-la falar, não conseguiu faze-la ver o que para ele era tão obvio... E desistiu.
Hermione não sabia exatamente o porque da atitude que tomara, na época. Achava que era porque não estava pronta, era algo muito diferente, algo que ela não poderia ter encontrado a resposta nos livros... Se ao menos existisse um livro que dissesse “Mil maneiras de lidar com a paixão pelo melhor amigo”, ou algo parecido... Ela sorria com esses pensamentos bobos. Estava delirando.
Olhou novamente para a foto, e, por um segundo, ela podia jurar que se arrependera. Balançou a cabeça incrédula, e voltou a ler uma pasta de formulários que deveria assinar.
Eram 10 horas da manhã de um lindo sábado. Harry estava sozinho sentado numa mesa de lanchonete, pensativo. Os cabelos despenteados, como sempre, e a roupa ainda amassada de uma rápida viagem de vassoura que dera do seu flat no subúrbio de Londres até ali. Ele poderia ter aparatado, é verdade, mas precisava espairecer, e nada melhor do que tomar um bom vento matinal para acordar totalmente.
Olhou para o relógio e depois para a porta de entrada. Um segundo depois ela entrava calmamente, linda como sempre, ele pensou. Usava uma calça jeans, uma blusa rosa delicada com babadinhos, o cabelo preso num rabo de cavalo, mas ainda havia alguns cachinhos que pendiam pela lateral do seu rosto angélico. Ela abriu um grande sorriso ao avista-lo.
-Harry! – ela o abraçou radiante.
-Mione, como está? – ele sorriu e puxou a cadeira para ela sentar.
-Bem, e você? Já deu pra conhecer todos os pontos turísticos da Austrália? – ela o perguntou sorrindo.
-Só alguns, muito trabalho... – ele respondeu, reparando como o rosa lhe caía bem.
A garçonete se aproximou e esperou os pedidos.
-Um café, por favor e Mione...
-Eu vou querer um suco de laranja, por favor. – a garçonete anotou os pedidos e se afastou. Houve uma pausa nas conversas, enquanto os dois apenas sorriam pensativos, até que a garçonete trouxe o café e o suco.
-Trouxe isto para você. – Harry disse, depois de tomar um gole. Só então Hermione reparou no embrulho em cima da cadeira ao lado – É um livro sobre as Runas Antigas da Austrália, não sei se você sabe, são as runas mais antigas do mundo!
-Ah Harry, obrigada, eu já tinha ouvido mesmo falar, vou lê-lo agora mesmo. – e abriu o livro curiosa. Neste momento, Harry se lembrou daquela vez, há quatro anos atrás, em que Hermione começara a ler enquanto estavam trancados... A amiga tinha este hábito incomum de começar a ler nas horas mais improváveis. Ele a achou adorável.
-Ham ham – Harry pigarreou alto..
-Ah desculpe! – Hermione fechou o livro com um sorriso.
Ouviram alguém chegar por trás deles e se viraram. Rony estava ali, parecendo muito bronzeado, com um físico bem atlético e o cabelo ruivo maior que o normal.
-Rony! – Hermione se levantara e dera um abraço no amigo. Harry também o abraçara, lhe dando tapinha nas costas. Rony se sentou com um sorriso de orelha a orelha.
-Está sorrindo abobado porque, Rony? – Hermione perguntou, brincando.
-Eu, nada! Quer dizer, tenho que contar uma novidade para vocês...
Harry e Hermione o olharam curiosos.
-Amor, comprei tudo já... Ah oi! Harry e Mione, como estão? – uma moça de longos cabelos loiros, com olhos azuis bem grandes, havia chegado. Era Luna.
-Eu e Luna estamos namorando! – Rony falou sorrindo das caras surpresas dos amigos.
-Ah que bom Rony! – Mione exclamou, abrindo um sorriso para a amiga de colégio. Rony puxou uma cadeira para a namorada.
Os quatro conversaram por um bom tempo, lembrando das velhas travessuras, da época da AD... Depois de mais ou menos duas horas Luna sobressaltou-se e disse:
-É melhor irmos, Rony, comprei carne e ela está lá no carro...
-Carro? – perguntou Harry.
-É... – Luna respondeu simplismente, e Harry desconfiou que talvez Rony tenha herdado o gosto do pai por objetos trouxas. Depois que ambos saíram, Rony segurando a namorada pelos ombros desajeitadamente, Mione falou sorrindo:
-Duas horas com a carne dentro de um carro ao sol, ela já está mais que estragada! – Harry riu alto, mas parecia pensativo.
-Mione, estava morrendo de saudades de você... Será que eu posso ir para a sua casa para passarmos o dia juntos? – ele perguntou, meio encabulado. Realmente ele não queria voltar para o seu flat e passar o dia sozinho.
-Claro! Tenho uns filmes que podemos assistir, sabe, eu comprei um aparelho trouxa, um DVD... – ela pensava em algo para dizer que não a desconcertasse. Mas já estava bastante balançada com a idéia de ter o amigo em sua casa, pelo resto do dia.
Harry sorriu.
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