Reino Sombrio - Filho Pródigo
Capítulo 1 – Filho Pródigo
Ottery St. Catchpole é uma região um pouco afastada da cidade. A maior parte do tempo, seus pacatos cidadãos são brindados com uma vida monótona em meio aos verdes campos e pequenos bosques que circundam o lugar.
A população ali é pequena, e em geral não se envolvia com os assuntos das propriedades alheias, preferindo resguardar-se em seus próprios sítios.
Porém, a família de uma delas mantinha a insistente posição de manter-se reclusa, a não ser pelo esquisito chefe da família, sempre com perguntas idiotas a respeitos de objetos sem propósito.
Naquele frio início de noite de dezembro, a neve se acumulava ao lado dos tijolos de pedra do primeiro nível da casa. As várias chaminés estavam acesas e brigavam contra a neve que caía sem parar, tentando expelir uma fumaça preta e fedorenta.
As janelas estavam fechadas, assim como as cortinas, enquanto, dentro da casa, a matriarca da família iniciava os preparativos para a ceia de natal que seria em uma semana.
Porém os pensamentos de Molly foram interrompidos pela chegada na cozinha de Fleur Delacour, sua nora.
Fleur estava vestindo uma estranha camisa verde estampada com girassóis de amarelo berrante. Seu cabelo loiro caía em cachos por seus ombros. E seu andar delicado parecia fazer com que a moça estivesse sempre desfilando.
Como sempre Fleur tinha em seu rosto um enorme sorriso. Há semanas que ela vinha implorando a Sra. Weasley para que a deixasse preparar o jantar. Segundo a jovem, “forra instruída nas melhorres artes de culinárria francêsa!”
Molly suspirava toda vez que a ela tocava naquele assunto, as últimas experiências de Fleur na cozinha tinha terminado com uma galinha tostada correndo pela mesa e em uma sobremesa de sorvete amarga e com aparência selvagem.
Porém, naquela noite, Molly não via desculpas possíveis para impedi-la de cozinhar. Já havia usado a desculpa de que a janta havia sido pedido de Arthur, mas não era possível dizer que o frango defumado com berinjelas tinha sido sugerido pelo marido doente pela terceira vez naquela semana.
Fleur já tinha colocado as panelas sobre a mesa e dirigia-se a dispensa para apanhar alguns ingredientes para o que ela dizia ser seu prato especial, algo que a senhora Weasley entendeu como “Bifê dui Salmon con acompanhementu dui frambuesa”. Enquanto se perguntava aonde a menina teria aprendido a fazer aquelas combinações, um estalido alto fez virar-se rápido para a porta dos fundos.
Por um minuto achou que pudesse ser Arthur chegando em casa, mas lembrou-se que ele estava doente, deitado na cama no quarto de cima.
Ela sacou a varinha e isso chamou a atenção de Fleur, que assustada deixou que o pote de óleo em sua mão caísse espatifando-se no chão. Molly fez uma rápida cara de censura, enquanto a francesa tentava apanhar sua varinha. Um rosto apareceu na pequena janela que havia na porta.
Um rapaz ruivo, de cabelos levemente encaracolados estava parado a porta. Seu rosto parecia abatido e suas roupas surradas. Molly logo reconheceu seu filho, e, seu infalível instinto maternal percebeu que ele tinha fome.
Um gesto com a varinha e a porta se abriu. Percy usava um dos velhos casacos de lã costurados pela Sra. Weasley: cinza e bastante surrado. Sujo em muitas partes, principalmente nas mangas. O rapaz estava sem a habitual gravata, e suas calças estavam sujas de lama.
Molly correu para abraçar o filho, que não expressou muita reação. Deixou-se abraçar e em seguida concedeu a Fleur um sorriso fino. A jovem francesa não viu, pois estava entretida em limpar a sujeira que tinha feito antes que desse a Molly um motivo para brigar com ela.
A Sra. Weasley conduziu o filho até uma das muitas cadeiras na mesa de jantar e trouxe-lhe pedaços de pão, mas o jovem recusou-se a comer.
- Mãe. - Falou ele sem muita vivacidade na voz.
- PERCY MEU FILHO! - Molly deixou a varinha em cima da mesa, limpou a mão no avental e correu para abraçar mais uma vez o filho. Apertou-o contra a cadeira mesmo, pouco acima dos ombros, e logo se afastou para beijar sua face.
- Percy, você precisa tomar mais Sol. Aposto que não tem se alimentado direito. Óh, meu filho! Você não devia ter saído de casa! Fleur! Fleur! Pode deixar que hoje vou ser eu quem vai cozinhar! Vá avisar os outros que Percy está em casa!
Fleur pareceu desanimar com aquela afirmação, suspirou alto enquanto recolocava o pote, agora vazio, de óleo no lugar.
- Oh.. bem... Clarro Senhorra Weasley. Acrredito que Peàrcy exteja mesmo perexisando de comida. Ele.. bem.. parece cansado.
A jovem saiu da cozinha e voltava para o quarto, onde tinha deixado o marido analisando uma série de relatórios sobre a movimentação dos Dragões na Inglaterra desde que a guerra tinha sido declarada.
Talvez por isso, ou por estar formulando uma idéia que fizesse com que a Senhora Weasley a deixasse cozinhar apenas mais uma vez, no dia seguinte, foi que ela não viu Percy tirar a varinha do bolso da calça e apontar para o próprio peito. Também não ouviu as palavras que o jovem falou, mas sentiu na pele a explosão que se seguiu.
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Minerva McGonnagal sempre vira a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts como um lugar dirigido por Albus Dumbledore. Porém, não conseguia deixar de pensar que, há trinta e sete anos, ela havia sido convidada para assumir a vaga de professor que antes havia sido exercida por ele. E agora repetia o ato, sentando-se na cadeira de diretora.
Desde o enterro de Albus, a mulher vinha pensando em como faria para reabrir a escola. Levou meses até que conseguisse convencer o Ministro, mas pensava que muitos pais não confiariam seus filhos ao sistema de segurança da escola.
Mandou que se realizasse uma perícia por todo o castelo afim de encontrar e fechar todas as formas de entrada no local. E mesmo assim, depois de um mês mandando cartas e garantindo a segurança dos alunos, poucas foram as crianças que voltaram em primeiro de dezembro.
Em uma reunião com o corpo docente da Escola, ela apresentou não um, mas três professores de Defesa Contra Artes das Trevas. Também elegeu seu novo Vice-Diretor. Porém, a maior batalha de Minerva não era travada contra o corpo docente, na verdade eles a seguiam com uma lealdade inesperada. Era o Ministério da Magia quem causava problemas. Desde a morte de Dumbledore, Rufus Scrimgeour, o Ministro da Magia, havia criado uma série de complicações para reabrir a escola.
As exigências do Ministro estavam cada vez mais estapafurdias e já incluíam até a visita regular de inspetores do Ministério para garantir que nenhum dos alunos estava comportando-se de maneira indevida. E foi para solucionar isso que ela havia incluído uma Auror no corpo docente.
Porém os pais também tinham que ser agradados, e de certa forma, ela sabia que dar as crianças um ensino padrão estava fora de cogitação. Por isso, desde o primeiro dia de aula, em seu discurso em um salão principal quase vazio, ela disse que naquele ano, não haveriam provas, testes ou qualquer tipo de nota ou disputa. Naquele ano, todos que haviam optado por voltar a Hogwarts o fizeram no consciente intuito de trabalhar juntos e ser capaz de exercer um papel importante na história da comunidade Bruxa.
Naquela noite de quinta-feira, ela descia para o jantar no salão principal, quando um dos Diretores veio correndo, saltando de moldura em moldura até encontrá-la no corredor do segundo andar.
- Diretora McGonnagal! Diretora McGonnagal! É urgente! É trágico! Por Merlin, venha logo!
A mulher mordeu os finos lábios e correu de volta a seu escritório. Lá, uma dezena de retratos estavam chocados, e uma coruja marrom estava pousada sobre a mesa.
- Minerva. - saudou Dumbledore. O retrato de Dumbledore tinha sido colocado o mais próximo possível da mesa da Diretora. Minerva o queria vendo tudo que acontecesse em seu gabinete, e quase todos os dias aconselhava-se com seu antigo mestre.
A mulher correu até a carta aberta sobre a mesa e leu-a com rapidez. Respirou fundo e fechou os olhos. Balançou a cabeça negativamente e tentou conter as lágrimas. Jogou-se contra a cadeira e foi preciso um grande esforço para levantar a cabeça.
- Sr. Finnegas, faça-me o favor de chamar o professor Hagrid aqui.
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Fazia dezessete anos desde que Harry não voltava para aquela casa. Na verdade, as recordações que tinha daquele lugar não eram as melhores. Estar ali significava lembrar de seus pais, de Voldemort e da missão que tinha se auto-incumbido há alguns meses atrás.
Harry, Ron e Hermione tinham chegado a Godric’s Hollow há pouco mais de um mês. Não havia restado muito da casa original. A explosão destruíra o quarto que era de Harry, o quarto de seus pais, assim como um lavabo e a sala do andar de baixo. Apenas a cozinha e uma pequena biblioteca mantinham-se de pé.
Perguntando pelo vilarejo, Hermione descobriu que os moradores locais preferiram deixar a casa naquele estado a reconstruí-la ou vendê-la. Na verdade, os mais velhos disseram que um homem muito velho, de barba e cabelos brancos, havia estado lá algumas vezes, visitando o local. Segundo ele, era o dono da propriedade e dizia que seu neto e a esposa haviam morrido ali. E por isso ele preferia não mexer naquela casa, mas não tinha coragem pra vender.
A história tocou os moradores do vilarejo, que não perguntaram ou questionaram aquele velho homem em respeito a sua perda. O velho mandou construir um grande muro e nem mesmo os adolescentes iam brincar ali, preferindo o prédio abandonado da pequena represa que ficava há alguns quilômetros.
As investigações na casa já duravam uma semana. A neve que caía desde a manhã anterior, agora já começava a formar montes brancos no meio telhado restante e nos cômodos expostos pela cratera.
Harry estava, pelo que ele podia contar, a milésima vez, no local onde antes era o quarto dos seus pais. Ele, Hermione e Ron tinham separado cada lasca de madeira do que podia ter sido o local onde os pais de Harry dormiam. Ainda haviam alguns retratos semi-destruídos ali, e uma pesada manta empoeirada. Harry levou-a para perto do rosto e mesmo sabendo que era impossível, tentou sentir o cheiro de seus pais ali.
- Hey Harry. - disse uma voz sem muita animação. Harry afastou a manta do rosto e olhou na direção. Era Rony parado diante ao início da escada. Na verdade, a única parte dela que ainda se mantinha em pé. O garoto tinha uma cara de desanimo e fazia uma pequena careta.
- E aí, achou alguma coisa?
Harry encarou o entulho a sua frente e segurando a manta, respondeu desanimado.
- Nada. Parece que já reconstruímos essa casa umas dez vezes e não encontramos nada.
- Quem sabe se...
- A gente desistisse? Ron, eu não posso fazer isso. Eu tenho que achar...
- Os Horcruxes. Nós sabemos Harry. Mas não há pista nenhuma aqui, e sinceramente, o ritual dos Horcruxes é muito complicado. Vol..Voldemort morreu aqui. Quando uma maldição imperdoável atingiu você e voltou nele. Se ele quisesse fazer um Horcrux aqui, bem... talvez nem tivesse morrido.
A voz de Hermione sempre transmitira a Harry uma estranha sensação. Era como se ele fosse obrigado a ouvir seus mais profundos pensamentos. Aqueles que normalmente ele tentava esconder pra não ter que encarar, mas que sua consciência, ou então Hermione – dependendo de quem fosse mais rápido – traria a tona e o faria encarar a verdade. Dessa vez, Hermione tinha ganho (de novo).
Harry respirou fundo e seus ombros se curvaram. Desanimado, ele então respondeu a única coisa que era possível. “Vamos voltar!”.
Mas voltar não era tão fácil. Rony não tinha passado no teste de aparatar, e Harry era menor de idade quando saíram da escola. Por isso, dos três, a única que sabia aparatar era Hermione. E mesmo a garota sendo reconhecida por muitos como uma bruxa por demais inteligente para a pouca idade, ela não se arriscava a aparatar carregando os dois com ela.
Por isso o trio era obrigado a viajar da maneira mais convencional possível, de ônibus. Rony uma vez tinha questionado porque eles não podiam simplesmente viajar de Noitibus, que era muito mais rápido e eficiente “sem contar que tem camas e nós podemos beber cerveja amanteigada nas viagens!” e Harry gastara alguns bons minutos explicando-lhe que isso chamaria muita atenção para o grupo, ou para onde estavam indo. Andar com trouxas era mais discreto. Mesmo que Rony insistisse em perguntar dezenas de vezes quais as funções de coisas óbvias, como sinais de trânsito e diskman.
Era necessária uma longa jornada para se ir de Godric’s Hollow até Grimmauld Place. Dois ônibus e um mêtro. Naquele dia, conseguiram chegar em casa apenas tarde da noite.
Harry foi o primeiro a entrar na antiga mansão Black. Desde a morte de Sirius a mansão e tudo mais que pertencera ao padrinho ou a família dele agora pertencia ao jovem Potter. Era uma inglória tarefa herdar toda aquela velharia. Pelo menos de Kreacher ele havia conseguido se livrar.
Ron se dirigiu direto para a cozinha enquanto Harry e Hermione guardavam a série de anotações que tinham feito durante a investigação.
- Então, agora que já sabemos que não há nada em Godric’s Hollow que poderia vir a ser um dos Horcruxes, o que vamos fazer?
- Não sei bem ao certo, Mione. Quer dizer, eu apostava nisso. Apostava encontrar algo lá. Mas acho que a melhor solução agora é ir a Hogwarts e procu... - Harry não pode terminar a frase.
Nesse momento, Rony saía da cozinha com um pedaço de pergaminho em suas mãos. Sua cabeça estava voltada na direção ao que parecia ser uma carta e por isso ele nem viu Edwiges voar por cima de sua cabeça até o parapeito da escada e pousou ali.
- Ron? Rony? - indagaram Harry e Mione quase que em sincronia.
Porém, absorto a isso o ruivo continuou a olhar a carta para apenas segundos depois levantar a cabeça lentamente.
- Minha mãe morreu.
Continua...
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