Único
Desculpas
Hermione estava sentada no sofá da sala comunal, olhando fixamente para o fogo em frente à poltrona, com os olhos cheios de lágrimas. Sua cabeça estava explodindo de chorar. Ela chorara a noite inteira. Fazia um dia. Apenas um dia que ela havia achado que perdera Ron para sempre.
Ela nunca iria esquecer daquela cena. Ela estava sentada bem ali, na sala comunal, quando Harry entrara nervoso. Ela na hora percebera que havia algo errado. Hermione levantou-se e perguntou “Harry? O que aconteceu?”.
“Ron,” respondera Harry. “Ron foi envenenado.”
A mente de Hermione ficara branca. Ela achara que não estava respirando. Sentiu-se cair de volta no sofá. Ela não entendera. “Quê?” perguntara, com a voz fraca.
“Ron foi envenenado.” Hermione sentiu um aperto no peito e lágrimas nos olhos. Fora aí que pensara Acabou. Ele se foi. Acabou tudo.
“Não,” dissera Hermione, lágrimas descendo pela sua face. “Não, não pode ser, não---” A voz dela quebrou e ela começara a chorar, desesperada. Harry acalmou-a.
“Eu... eu dei bezoar a ele, estávamos no escritório do Slughorn, e ele tomou quentão, todos íamos tomar, mas ele tomou primeiro e então ele.. então ele caiu, e começou a tremer, e---” A voz de Harry se partiu, e Hermione viu lágrimas nos olhos do amigo. “Mas eu dei bezoar a ele, fomos até Madame Pomfrey e ela cuidou dele. Ela disse que ele ficará bem, mas ele ainda está dormindo...”
Hermione suspirou de alívio. Ron estava vivo. Ele estava lá. Ele não estava morto. Ela colocou o rosto nas mãos e chorou de alívio, enquanto Harry explicava-a tudo, como Ron comera por engano um dos bolos que Romilda Vane havia recheado com Poção do Amor, como ele o levara para o escritório de Slughorn para dar-lhe um antídoto, como ele tomara e ficara bem, e então Slughorn servira quentão para os três, mas então Ron tomara primeiro, e...
Hermione sacudiu a cabeça para afastar aquela lembrança. Fora o pior momento de sua vida. Tudo no que ela vinha pensando desde o dia anterior era em como ela havia sido má com ele, como os dois haviam sido terríveis um com o outro este ano... Ambos se magoaram, sofreram, e poderia ter acabado tudo...
Hermione sentiu o aperto em seu coração aumentar ainda mais quando pensou em quantas vezes ela havia odiado-o por estar com Lilá, por ter partido seu coração. Quantas vezes havia desejado que Ron desaparecesse, sumisse, que ele fosse embora. Ela sentiu mais lágrimas descerem pela bochecha. Quase havia acontecido. Ela quase havia o perdido.
Uma das razões pela qual Hermione ficara abalada, antes dele começar a sair com Lilá, foi que Ron havia começado a agir secamente com ela, e isso a magoara, pois Hermione não sabia o porque. Então na noite anterior, quando eles haviam voltado da enfermaria, Gina lhe contou que deixou escapar para Ron que ela beijara Krum. E de repente, tudo fez sentido. O comportamento de Ron, a aspereza com que ele se dirigia a ela, Ron ter... ter ido beijar Lilá... Gina estava à beira das lágrimas, desculpou-se várias vezes, disse que sentia muito, mas que estava furiosa, e que deixou escapar e na hora nem percebeu realmente o que havia dito.
“Mas... por que você não me contou antes?” perguntara Hermione.
“Para falar a verdade eu nem lembrava,” explicou Gina, secando o olho com as costas da mão. “Hoje quando eu estava na enfermaria eu me lembrei, mas eu não podia falar com você lá dentro, não é... Hermione, eu sinto muito, muito mesmo! Foi tudo minha culpa, se eu não tivesse aberto a boca Ron não teria ido agarrar a Lilá, e---”
“Está tudo bem, Gina.” Disse Hermione.
“Não, não está, eu não devia ter---”
“Está tudo bem. Sério. Ron... Ron ia ficar sabendo de qualquer maneira. Aliás, eu... eu que deveria ter contado. Eu deveria ter dito, mas... eu... simplesmente... não consegui.”
“Eu sei.” Gina abraçou Hermione. “Você me desculpa?”
“Claro,” sorriu Hermione fracamente.
Hermione sabia que deveria ter contado a Ron. Por um lado, parecia a coisa mais certa a fazer. Por outro, não tinha nexo ela simplesmente chegar e contar “Ei, Ron, Vítor Krum me beijou” sendo que eles não estavam tecnicamente comprometidos. Hermione não lhe devia satisfação alguma. Tecnicamente. E além do mais, ocorrera há tanto tempo...
E agora Ron estava lá, deitado na cama da enfermaria, dormindo ou sabe-se-lá o que...
Hermione escondeu seu rosto nas mãos e sentiu lágrimas molharem as palmas. Foi quando ela ouviu a voz de Gina chamá-la.
“Hermione?”
A garota ergueu-se de súbito. Harry e Gina estavam parados ali em sua frente.
“Gina? Harry?” A garota enxugou as lágrimas. “O que houve? É Ron?” A voz dela nem funcionava mais direito. Seu coração estava prestes a explodir.
“Ele está bem. Está acordado.” Disse Harry, sorrindo fracamente. Hermione soltou um soluço aliviado e deixou-se cair na poltrona, caindo no choro.
Ele estava vivo. Ele estava bem. Estava acordado. Ela nunca mais ia deixar que aquelas brigas acontecessem entre eles novamente. Nunca. Eles não podiam mais perder tempo. Ela tinha que ir até lá. Tinha que se desculpar. Tinha que dizer algumas coisas. Tinha que vê-lo. Sabia que ele estava bem. Mas ela precisava checar com os próprios olhos.
“Eu vou vê-lo.” Disse ela, se levantando de súbito, quase sem sentir as pernas.
“Vá.” Disse Harry, sorrindo. Hermione deu um sorriso fraco também. Ela enxugou o rosto com as mãos e caminhou até o buraco do retrato, saindo da sala comunal.
O caminho todo para a enfermaria pareceu a Hermione uma eternidade. Flashes de Ron passavam pela cabeça. Eles se conhecendo no Expresso de Hogwarts... Ron chamando-a de “pesadelo”... ele defendendo-a de Malfoy... os dois brigando por Perebas e Bichento... Hermione se atirando nos braços de Ron ao fazerem as pazes... ela mandando Ron convidá-la no próximo baile... ela convidando-o para a festa de Slughorn meses mais cedo... Ron e Lilá... Hermione sentiu um aperto no coração. Ela caminhava e chorava. Tomou um susto quando viu-se parada em frente à porta da enfermaria. Ela recompôs-se. Enxugou o rosto, respirou fundo com dificuldade e ergueu uma trêmula mão para abrir a porta. Empurrou-a. Ela esquadrinhou a enfermaria com os olhos, procurando desesperadamente por uma figura de cabelos vermelhos. Achou-o.
[Nota da Autora: Gente, eu tive que fazer essa notinha aqui, porque eu estou escutando as minhas listas de reprodução do Windows Media Player, e nessa hora, bem nessa hora começou a tocar “How Am I Supposed To Live Without You”, do Michael Bolton. Eu tô até arrepiada.]
Ela sentiu o coração descer três degraus e o estômago revirar quando o viu. Lá estava ele, sentado em sua cama, lendo algo que parecia ser alguma revista de Quadribol. Ron ergueu os olhos da revista. Ele deixou-a cair quando viu quem era. Os olhos de Hermione encheram-se de lágrimas mais uma vez.
“Oi,” disse Ron, rouco.
“Oi,” respondeu Hermione, baixinho. “Como é que você está?” Ron deu um sorrisinho.
“Ah, normal.” Falou o ruivo. “Apenas me sentindo como alguém que comeu um bolinho recheado com uma Poção do Amor, desceu até a masmorra de Poções, tomou um antídoto para a desgraçada da Poção, tomou um quentão envenenado desmaiou e acordou na enfermaria.” Ele riu nervosamente. Ela riu também, mas logo parou para observá-lo rir. Hermione sentiu um bolo na garganta. Ele estava ali. Bem ali. Vivo. Sorrindo. Rindo. Com ela. Pela primeira vez em meses. Hermione sentiu toda a tensão ir embora. E ela chorou silenciosamente. Lágrimas correram soltas pela face dela, sem permissão. O sorriso de Ron quebrou.
“Hermione...” começou ele, desesperado. “Não, não chora....” Mas a garota não conseguia parar. O alívio de vê-lo ali, sentado na cama, vivo e olhando para ela era grande demais. “Hermione... vem cá...” Ele estendeu a mão e fez um gesto para ela se aproximar. Hermione andou com dificuldade até o lado da cama dele, ainda sem parar de chorar e incapaz de desviar o olhar dele. Ron ajeitou-se na cama e envolveu-a com os braços, apertando-a contra si. Hermione soltou um lamento e chorou alto de encontro ao pescoço dele. Ser abraçada por ele era maravilhoso, era um alívio, após todos esses meses de tensão. Ron apertou seus olhos.
“Eu senti sua falta...” disse Ron.
“Eu também...”
“Hermione, nós... nós fomos uns idiotas esse ano...” disse Ron. A garota sorriu de leve.
“Eu sei...”
“Me desculpe...” disse ele, rouco. Ela sabia que ele estava falando de tudo o que aconteceu entre eles esse ano. “Eu sinto muito, muito mesmo...”
“Me desculpe também...” falou Hermione, afastando-se dele e encarando-o. Ela ainda não conseguira parar de soluçar. Ron ergueu a mão e secou as lágrimas na bochecha dela. Uma lágrima solitária caiu ainda, e ela tentou se controlar e parar. Ela respirou fundo. Todo o orgulho que ela sentira desapareceu e ela apenas falou.
“Ron, eu... escuta. Eu devia ter... Gina me contou ontem que ela deixou escapar pra você que... que Vítor me beijou.” Ron a encarou sério. “Eu é que devia ter dito a você. Me desculpe. Eu apenas... eu não sabia como... eu estava confusa... eu não sabia como eu podia possivelmente falar, porque nós não... tecnicamente, tecnicamente, eu não devia satisfações a você.” Ron olhou para baixo. “E de repente, tudo... tudo fez sentido.... quero dizer, antes eu não entendia porque você começou a agir asperamente comigo, quero dizer, eu não tinha feito nada, eu não entendia, mas... depois que a Gina me explicou, tudo ficou claro, quero dizer... o seu comportamento, o jeito com que você falava comigo... você e Lilá...” A voz da garota quebrou. Ela pigarreou. Ron encarou a garota. “Mas mesmo assim eu devia ter falado, eu---”
“Está tudo bem.” Falou Ron. “Eu---”
“Não, Ron, não está tudo bem, porque eu devia ter falado, eu não sabia como, mas eu devia---”
“Eu sei porque você não falou. Você temia que eu agisse exatamente do jeito que eu agi. Eu perdi o controle, Hermione. Eu ficava imaginando você com ele, e eu... eu simplesmente... perdi a cabeça. Eu nunca devia ter...” Ele suspirou e segurou a mão de Hermione novamente. Ela arrepiou-se. “Hermione. Eu... eu magoei você. Eu sei que magoei, e eu nunca vou me perdoar por isso. Mas é que eu simplesmente... eu meio que dizia a mim mesmo.... que você havia me magoado primeiro. Eu estava realmente... derrotado. Eu sempre me perguntei se você havia beijado Krum ou não. E eu meio que... eu meio que achava que sim. Mas lá no fundo... bem lá no fundo eu tinha esperança de que não tivesse. E ouvir isso de Gina foi... foi simplesmente...” Ele suspirou. “...terrível. Eu fui um idiota--”
“Nós dois fomos...” disse Hermione, com a voz trêmula.
“Mas eu fui mais! Eu nunca devia nem ter começado a... Lilá... eu... Hermione, eu simplesmente endoideci de ciúme!” O coração de Hermione deu um salto.
“Ron, você não precisa ter ciúme de Vítor---”
“Não preciso? Hermione, ele é... ele é jogador de Quadribol profissional, ele é famoso, ele é---”
“Você acha que eu me importo com isso?” perguntou Hermione com voz aguda, os olhos lacrimosos.
“Você foi ao baile com ele, você beijou ele, você deu caminhadas com ele, ele convidou você pra ir pra Bulgária, você passou o ano com ele, e---”
“Ron, você não entende?” suplicou Hermione, uma lágrima escorrendo pela bochecha. Ao vê-la, Ron fechou a boca. “Eu posso ter feito todas essas coisas com ele, mas eu gosto de você!” Os dois ficaram em silêncio enquanto a bochecha de Hermione enrubescia. “Ron, eu... eu não devia ter brigado com você, eu não devia ter dito o que eu disse depois daquele jogo de Quadribol! Eu odeio brigar com você, odeio ficar sem falar com você. Eu fiquei furiosa quando vi... quando vi você com ela. Eu me senti... derrotada.” Ron olhou para o chão. “Eu odiei você, eu quis que você desaparecesse. Eu fui terrível, eu fiquei cutucando você o tempo todo, mas lá no fundo eu estava me remoendo! E então você... então Harry entrou na sala comunal e disse que... disse que você tinha sido envenenado, e---” A voz dela quebrou e ela recomeçou a chorar. “Eu achei que eu tinha perdido você, Ron... e eu nunca mais quero sentir o que eu senti quando Harry me deu a notícia. Eu... a vida não ia mais ter sentido, Ron. Eu não ia conseguir.” Ron encarou a garota com os olhos úmidos. “Eu me prometi vir aqui e pedir desculpas pra você. Eu não quero mais brigar. É terrível, porque... porque acima de tudo somos amigos, e eu... eu preciso disso. Preciso. Eu só quero... eu só quero que você seja feliz, Ron. E se você... se você está feliz com Lilá, então... então está tudo---”
“Eu não estou feliz com a Lilá.” Disse Ron. Hermione encarou o ruivo.
“Quê?”
“Eu não estou feliz com a Lilá.” Hermione tentou ignorar o salto de alegria que seu estômago deu ao ouvir aquelas palavras.
“Por... por quê?” perguntou Hermione baixinho, com a voz chorosa. Ron deu um leve sorriso.
“Por que ela não é você.” A boca de Hermione se abriu. Era realmente Ron dizendo-lhe aquelas palavras. Ron apertou a mão da garota. “Eu nunca quis ficar com a Lilá. Eu sempre quis você.” Uma lágrima desceu pelo rosto de Hermione. Ron secou-a com o polegar e acariciou o rosto da garota. “Olha, agora... agora não me importa se eu estou com Lilá... ou se você beijou Krum... porque você está aqui.” Ele engoliu em seco. “Eu também achei que eu nunca mais ia ver você. E foi a pior coisa do mundo.” Ron a puxou para um abraço. Hermione aconchegou-se nos braços dele.
“Me promete, Ron,” disse a garota. “Me promete que você nunca vai me deixar...”
“Só se você prometer que nunca vai me deixar...” falou Ron, com um sorriso na voz.
“Eu prometo.”
“Prometo também.”
Ron acariciou o cabelo dela.
“Ron?” perguntou Hermione, com a voz abafada.
“Que é?”
“O... o que somos nós?” Ron afastou-a um pouco para olhar para ela.
“Nós?” perguntou ele. A garota assentiu. Ron pareceu ponderar. “Pergunta complicada, essa... Hermione... você... você não é... pra mim você é mais do que... do que uma simples namorada... pra mim... pra mim você é... você é... você é a Hermione. E nós... nós não somos simplesmente... nós já... estamos além... eu não sei... nós somos simplesmente... nós somos simplesmente nós.”
Hermione sorriu.
“Sim!” disse ela. “Nós somos nós...”
“O que vamos fazer com essa informação?” indagou Ron com um tom ligeiramente brincalhão, puxando Hermione um pouco mais para perto.
“Faremos alguma coisa, com certeza,” disse Hermione. “Só não agora. Tecnicamente, você ainda está com Lilá.” Ron assentiu. “Depois... depois nós vemos. Vamos... vamos...”
“Deixar acontecer?” sugeriu Ron.
“É.” concordou Hermione. Ron ergueu a mão e acariciou o rosto dela.
“Posso...?” perguntou ele, rouco. As intenções estavam bem claras. Hermione teve de lutar contra cada fibra do seu corpo para conseguir dizer “N-Não. Não agora.” Ron se afastou um pouco, parecendo um tanto decepcionado. “Porque se começarmos, eu não vou conseguir parar.” Ron encarou a garota, sorrindo.
“Nem eu.” Disse ele. Ron encarou-a. Eles estavam realmente próximos. Os olhos de Ron estavam nos lábios dela. E os olhos dela nos lábios dele.
“Eu... eu acho m-melhor eu ir... senão... senão podemos acabar...” Ela corou. Ron deu uma risadinha safada.
“Você acabou com o meu plano...” disse ele. Hermione fungou e riu, dando um tapinha no braço dele. Ela sentiu falta daquilo.
A garota simplesmente se atirou em Ron e abraçou-o.
“Eu amo você,” ela ouviu-o sussurrar em seu ouvido. Hermione, sentindo-se uma legítima mangueira humana nos últimos tempos, sentiu lágrimas nos olhos.
“Eu amo você também...” disse ela no ouvido dele. Ela podia senti-lo sorrir. Talvez... sim. Talvez um pequeno não faria mal. Hermione se afastou ligeiramente de Ron e, com o coração dando cambalhotas, colocou uma mão no lado do rosto dele, aproximando-se e encostando seus lábios ternamente nos dele. Ela afastou-se. Ron sorria. Ele enxugou a lágrima da bochecha dela.
“Safada.” Murmurou o ruivo. Hermione deu um sorrisinho maroto e virou-se de costas, indo em direção à porta da enfermaria. Chegando lá ela virou-se de costas e acenou para o ruivo, que a observava com um sorriso encantado no rosto. Ela viu os lábios dele se mexerem formando a frase “eu amo você”. Ela falou silenciosamente “eu também”, de volta. E saiu da enfermaria.
Estava tudo esclarecido. E melhor. Estava tudo se resolvendo. Hermione levou a mão aos lábios, sorrindo e sentindo suas pernas ainda trêmulas. Se esse era o efeito que dar apenas um beijinho fazia, ela nem podia começar a imaginar como deveria ser beijá-lo de verdade. Hermione esperava que não demorasse mais muito para descobrir.
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