Único
Ron e Hermione: Missing Moments
Parte Três: Esclarecido
Hermione fechou os dedos enquanto entrava no dormitório feminino do sexto ano. O quarto estava mal iluminado, e as camas de suas colegas de quarto estavam desocupadas. Ela suspirpu de alívio e se apressou a entrar, a escovar os dentes e a lavar seu rosto. Ela sabia que não conseguiria suportar enfrentar Lilá. Não hoje.
Hermione tirou suas vestes, seus jeans e sua blusa e vestiu uma camisola antes de se enfiar na cama. Assim que sua cabeça descansou no travesseiro e ela fechou os olhos, sua mente encheu-se de imagens, selvagens, rápidas imagens que pareciam todas se focar em uma só: o rosto de Ron.
Ela pressionou os olhos forte, lutando contra mais lágrimas. Parecia que tudo o que ela havia feito nos últimos meses fora chorar. Ela estava exausta disso, não via como poderia continuar, mas, inacreditavelmente, as lágrimas ameaçaram cair. Após um momento ela desistiu de segurá-las, abrindo os olhos e deixando-as caírem pelo canto do olho até o cabelo.
Mesmo com seus olhos abertos, ela o viu. Seu cabelo caindo em sua testa. Seu rosto, tão pálido, tão jovem e vulnerável adormecido. Outras imagens tomaram conta de sua mente também, imagens dele com sua cabeça grudada na de Lilá, os dois tanto se beijando quanto se devorando. Hermione apertou seus olhos mais uma vez e sacudiu a cabeça, mas as lágrimas eram incessantes. Ela viu Ron novamente, desta vez no escritório de Slughorn, seu rosto azul e a garganta gorgolejando enquanto ele caía no chão, asfixiando-se... morrendo...
Hermione se virou de lado e deu um pequeno, quase inaudível soluço.
Ron quase morreu.
Aquelas três palavras começaram a tamborilar em seu cérebro, como haviam feito mais cedo, quando ela sentara ao lado dele.
Ron quase morreu.
O peito dela doía, a garganta dela doía. Tudo doía. As coisas que Ron dissera para ela, as coisas que ele fizera... ele fora tão cruel. Ela achou que eles estavam realmente chegando a algum lugar; e então ele começou a ser terrível com ela, e então ele começou a sair com Lilá...
Os ombros de Hermioen se sacudiram quando ela lembrou quantas vezes nos últimos meses ela desejou que Ron desaparecesse. Quantas vezes ela havia imaginado-o desaparecendo como fumaça, e como ela se sentira após isso. Sempe, ela se sentia triunfante. Vitoriosa.
Ron quase morreu.
Novos pensamentos a atacaram, todos eles baseados em uma idéia: e se Ron tivesse morrido? Harry não encontrara o bezoar para salvá-lo. Ela se apressara à ala hospitalar para ver Harry e os Weasleys lá, estes soluçando sobre o corpo de Ron, e Harry a olhando, com olhos profundos e vazios, sua voz rouca enquanto ele dizia ‘Ron está morto. Alguém o envenenou.’
Hermione enfiou a cara no travesseiro, chorando silenciosamente por alguns minutos, quando ela ouviu a porta do dormitório abrir.
Rapidamente ela parou de soluçar e fingiu estar dormindo.
‘… não acredito que ninguém pensou em me dizer---’ Lilá estava dizendo em voz alta.
‘Shh!’ sibilou Parvati. ‘Hermione está dormindo.’
‘Ah, está?’ disse Lilá, sem diminuir o tom. ‘Acho que provavelmente ela sabia sobre Ron. Aposto que já desceu para visitá-lo!’
Hermione lutou para manter sua respiração amena. Sentiu um familiar aperto na boca do estômago. Ela nunca pensara que poderia odiar Lilá Brown. Ah, claro, elas nunca haviam se dado tão bem - e ano passado a idiota acreditara naquela besteira do Profeta Diário sobre Harry ser mentiroso (o que só fazia o fato de que Ron estava enfiando a língua na boca dela ainda mais nojento) - mas agora... Hermione odiava Lilá com cada fibra de seu corpo. Seu lado racional disse que não era saudável odiar alguém daquele jeito, que ela só não gostava de Lilá porque ela estava saindo com Ron. Mas o lado emocional de Hermione ganhava sempre. Lilá não era nada exceto uma escória sem cérebro, Lilá era uma vergonha ao sexo feminino, Lilá merecia uma vida toda de sofrimento...
‘Talvez eu devesse acordá-la,’ disse Lilá, e Hermione ouviu-a atravessar a sala.
‘Não!’ disse Lilá irritada. ‘Droga, Lil, apenas deixe-a em paz, ok?’
‘Qual é o seu problema?’ perguntou Lilá asperamente. ‘Sabe como ela se sente em relação a ele---’
‘O meu problema,’ disse Parvati. ‘é que estou cansada de toda essa besteira entre você e Hermione. Estou cansada de estar no meio. Você tem Ron, ok? Você ganhou. Não tem que meter o nariz de Hermione no meio, pelo amor de Deus.’
Hermione mordeu o lábio. Algumas vezes ela realmente gostava de Parvati.
Então ela ouviu uma pequena fungada.
‘Não estou tentando meter o nariz de ninguém em nada,’ disse Lilá. ‘Eu só...’ ela parou e começou a soluçar.
Ah, pelo amor de Deus.
‘Lil, o que aconteceu?’ perguntou Parvati soando exasperada.
‘Acho que… acho que Ron… não está mais interessado!’ disse Lilá muito alto. Parvati fez ‘Shhh’ novamente.
Hermione mordeu o lábio de novo, tentando não sorrir. Tentando não esperar...
‘Lilá, senta.’ Disse Parvati, e Hermione ouviu-as sentarem na cama de Parvati. ‘O que faz você dizer que Ron não está mais interessado?’
‘É que…’ fungou Lilá. ‘... ele não está... ele não está passando mais tempo comigo, é tudo. Desde o Natal ele esteve afastado. E eu nem vi ele usando o presente de Natal que eu dei!’
Posso imaginar o que um presente vindo de Lilá possa ser.
‘Ele pode estar guardando para ocasiões especiais.’ Sugeriu Parvati.
‘Ele não me levou a lugar nenhum no Dia dos Namorados!’
É? Isso é interessante…
‘Não podíamos ir a lugar algum, lembra?’ disse Parvati. ‘Não houve visita a Hogsmeade.’
‘Ele podia ter feito algo!’ disse Lilá. ‘Nem um bilhete, e eu escrevi a ele aquele poema...’
Vou vomitar. Como se Ron escreveria uma carta de amor, pelo amor de Deus.
‘Talvez ele esteja ocupado,’ sugeriu Parvati, mesmo que não soasse convincente.
‘Ocupado,’ disse Lilá, a voz com nojo. ‘É o que ele diz. Diz que tem muitos deveres, e treinos de Quadribol.’
‘Bem… ele tem.’ Disse Parvati.
‘Não o tempo todo!’ protestou Lilá. ‘Quero dizer, hoje? O aniversário dele, Parvati, e ele nem veio me ver! E ninguém me contou o que aconteceu com ele.’
‘Bem, foi… foi um choque,’ disse Parvati. ‘Tenho certeza de que houve pânico e todos... esqueceram.’
Lilá suspirou. ‘Bem, sim. Mas você acharia que ele não suporta nem cinco minutos comigo. Eu tentei dar uma caminhada com ele há alguns dias, mas ele disse que tinha que voltar para o dormitório e praticar Aparatação.’
Hermione não pôde evitar; ela riu.
‘O que foi isso?’
‘Hermione?’
Ela rapidamente cobriu sua risada com um suspiro e se moveu, ficando de olhos fechados. Só por via das dúvidas, ela murmurou ‘Vítor’.
‘Ah,’ disse Parvati, e Hermione pôde senti-la sorrindo. ‘Não é surpresa que ela esteja rindo no sono. Sonhando com Vítor Krum...’
‘Ótimo!’ disse Lilá, com a voz áspera e alta. ‘Melhor sonhar com Krum do que com o MEU NAMORADO!’
‘Shh!’ sibilou Parvati.
‘Desculpe,’ disse Lilá, mas não parecia sincera. Quando ela falou novamente, a voz estava chorosa. ‘Você não acha... não acha que ele vai terminar comigo, acha?’
Deus do céu, espero que sim.
‘Não,’ disse Parvati, rápido demais. ‘Ele pode estar ocupado, como ele disse. E aparatar é difícil. Não saberíamos, não somos velhas o suficiente para ter aulas, mas ouvi Neville falando sobre isso.’
‘Tudo é difícil para Neville.’ Disse Lilá com desprezo.
Hermione quase se sentiu na cama, pronta para azarar Lilá.
‘E outras pessoas disseram que é difícil também,’ disse Parvati, soando um tanto irritada. ‘Até Harry, e ele já fez uma vez. Foi com alguém, mas ainda assim.’
‘Estou lhe dizendo, não é isso,’ disse Lilá teimosamente. ‘Algo está errado. Não é só que... ele não passa mais tempo comigo. É como se... como se ele não quisesse ficar perto de mim mais, como... como se estivesse inventando desculpas.’ A voz dela ficou chorosa novamente. ‘Como se ele estivesse me evitando.’
HÁ!
Houve uma longa pausa. Hermione percebeu que estava prendendo a respiração, e deixou-a sair lenta e silenciosamente.
‘Lilá,’ disse Parvati, no tom delicado de alguém que quer trazer à tona um assunto desagradável. ‘Talvez... talvez Ron esteja se sentindo um tanto... oprimido.’
‘Oprimido?’ disse Lilá aborrecida. ‘Por aulas e Quadribol?’
‘Não,’ disse Parvati hesitante. ‘Er... bem... você vê... talvez... talvez Ron apenas precisa de um pouco de... espaço.’
‘Espaço?’
Sim, espaço, sua oprimidora!
‘É só que, você disse que costumava passar um tempão com ele antes, e agora está dizendo que ele está lhe evitando...’
‘É isso, então!’ gritou Lilá. ‘Ele vai terminar comigo!’
‘Shh! E não estou dizendo isso!’ insistiu Parvati. ‘Olhe, garotos... sabe como eles são, Lil. Todos piram quando as relações começam a ficar sérias. Começam a se afastar um pouco.Não porque querem terminar, é que... bem, algumas vezes eles precisam de um tempo.”
‘Um tempo?’
Sim, sim, um tempão, por favor!
‘Sabe, para respirar,’ explicou Parvati. ‘Talvez Ron queira um pouco de espaço, é tudo. Acontece o tempo todo. As coisas começam a ficar quentes e você passa o tempo todo com o garoto e então... as coisas esfriam um pouco.’
‘Acha… acha que é o que está acontecendo?’
‘Absolutamente,’ disse Parvati, e a voz dela não estava completamente convincente, mas Hermione podia ver Lilá se agarrando às palavras de Parvati. ‘Se você me perguntar, este tipo de coisa é bem saudável. ‘Você não quer ficar ligada demais com um garoto, afinal. Os acostuma mal, sério, e além disso, é melhor que a garota seja indepentende, você sabe. Não quer que o garoto pense que você precisa demais dele.’
‘É o que eu estive fazendo?’ disse Lilá, horrorizada. ‘Estive ficando toda carente?’
Ah não, capaz. Apenas se grudava nele como uma trepadeira patética e idiota...
‘Bem… talvez um pouco,’ falou Parvati. ‘E sabe, talvez... talvez não deva chamá-lo de Won-Won na frente de todo mundo.’
Ah, você acha?
‘Então… então está dizendo que eu devo dar a ele um pouco de espaço,’ disse Lilá. ‘e evitar apelidos?’
‘Sim,’ disse Parvati. ‘Exato.’
‘Mas e se… bem, e se eu dissesse, você sabe, que eu quero ir mais além?’ perguntou Lilá. ‘Você sabe...’
Hermione se sentiu doente.
‘Lilá,’ disse Parvati, e Hermione sabia que ela estava sacudindo a cabeça. ‘Tenha um pouco de respeito próprio, hã? Que, vai oferecer a ele algo para mantê-lo interessado? Um íma para mantê-lo perto? Vamos. Isso é tudo no que você quer que ele se interesse?’
Hemione se sentiu muito doente.
‘Bem…’
‘Estou lhe dizendo, você tem que bancar a difícil.’ Disse Parvati firmemente.
Ah, por favor, o faça. Banque tão difícil para que ele esqueça de você!
‘Minha mãe sempre me diz isso,’ murmurou Lilá.
‘Parece-me um bom conselho.’ Disse Parvati.
‘Eu odeio quando ela está certa,’ disse Lilá mal-humorada. ‘Mas...’ ela acrescentou, seu tom se animando. ‘Suponho que seu eu o fizer Ron aprenderá a sentir minha falta, certo? E ele estará na ala hospitalar essa semana, o que significa que se eu descer lá ele não vai poder me ignorar.’
‘Verdade.’ Concordou Parvati, a voz estranhamente sem emoção.
‘Obrigada, Parvati,’ disse Lilá, soando animada novamente. ‘Bem, estou esgotada. Preciso do meu sono de beleza se vou ver Ron amanhã.’
‘Amanhã?’ disse Parvati.
‘Bem, claro,’ disse Lilá. ‘Ele estava dormindo hoje quando eu desci, não é? Então a visita de hoje não conta.’
‘Er, certo.’ Disse Parvati, agora parecendo como se tivesse desistido.
Hermione ouviu o som das duas conversando mais um pouco, desta vez Parvati ruminando sobre Dino Tomas, mas ela não escutou realmente. A cabeça dela estava ocupada demais com tudo o que Lilá tinha acabado de dizer.
Poderia ser verdade? Ron poderia estar perdendo o interesse?
A parte moral do cérebro dela a disse que não era ruim esperar que Ron desse o fora em Lilá. A parte lógica ela disse que Lilá poderia estar exagerando, e que da última vez que Hermione os vira juntos, não parecia que Ron estava perdendo o interesse.
Não, você está pensando na última vez que os viu comendo a cara um do outro, não a última vez que estavam juntos.
Que foi no café da manhã de ontem. E... não se falaram nem um pouco! E… vem sendo assim por um tempinho. Ela fala com ele mas ele parece que está... aborrecido!!
Hermione sentiu seu coração bater mais depressa. Ela disse a si mesma para se acalmar. Listou mil razões pelas quais ela não deveria aumentar as esperanças, a primeira e a maiori delas que ela não poderia suportar ter o coração partido uma segunda vez, afinal, só porque poderia parecer que Ron estava perdendo o interesse em Lilá não significava que ele estava interessado nela.
Mas ele disse meu nome durante o sono. Na ala hospitalar... ele disse meu nome...
Lágrimas tomaram conta dos olhos dela novamente. Ela não podia suportar. Não podia. Ela estava ficando um caco. As únicas coisas que estavam impedindo-a de enlouquecer eram os deveres e Harry, que esteve sendo uma pedra para ela nos últimos meses. Mas agora tudo tinha mudado, e era tudo isso porque... Ron quase morrera.
Ela rolou e encarou o céu. Lilá e Parvati já haviam se deitado e não perceberam que ela estava, de fato, bem acordada. Que ela estava pensando furiosamente sobre tudo, e como tudo continuava a entrar em uma simples verdade: Ron quase morrera.
Ele quase se fora para sempre.
Ela pensou em como as coisas estavam no último outono, quando parecera que estavam começando algo. Finalmente, após meses de sinais perdidos e desentendidos e Ron não entendendo os sinais que ela manadava; aquele beijo na Toca que havia sido interrompido pela intromissão de Fleur; após um segundo beijo no trem durante as tarefas de monitor, e um terceiro na noite dos testes para goleiro, e ele ainda não havia a convidado... finalmente Hermione havia pego o boi pelos chifres e havia o convidado, e parecia que as coisas estavam indo a algum lugar. E então Ron for a repentinamente, inexplicavelmente frio com ela, e aquela noite terrível, vê-lo com ela, vê-lo beijando ela. Mandar aqueles canários para ele. As semanas e semanas sem falar com ele, tentando não olhar para ele. Desejando que ele desaparecesse, apenas fosse embora e nunca a forçasse a olhar para ele, ou para aquelas sardas idiotas, para aquele cabelo idiota e aquelas mãos fortes idiotas e os olhos azuis idiotas e aquele sorriso dez vezes idiota e todas as outras coisas idiotas nele que ela amava.
Era só agora, na escuridão de seu quarto, sabendo que Ron estava dormindo lá embaixo na ala hospitalar, sabendo que ele tinha quase sido assassinado, que ela poderia ver como seria: uma vida sem Ron. Com ele completamente longe, sem poder ser visto, como se ele tivesse desaparecido para sempre, de fato.
A garganta dela começou a doer enquanto ela chorava silenciosamente. Tudo estava caindo encima dela agora e ela soube, que apesar de tudo, a simples realidade de que não importava que ele tivesse partido o coração dela, que eles não haviam se falado por semanas, que as coisas nunca seriam as mesmas para eles mais. Só importava que ele estava lá e não iria a lugar algum. Que ela podia ver aqueles idiotas cabelos, sardas, olhos e sorriso, mesmo que outra garota tocasse aquele cabelo e beijasse aquelas sardas, e se perdesse naqueles olhos e naquele sorriso. Só importava que ele soubesse, de uma vez por todas, que ela não o odiava, que ela não conseguia odiá-lo, que mesmo que eles nunca pudessem ser amigos de novo, ele entendesse quanto ele significava para ela.
Ela respirou fundo, as lágrimas secando, a dor no peito dela aliviando. Ela sentiu o sono chegar, e surpreedentemente, um sorriso tocou os lábios dela. Engraçado como tomar decisões - mesmo uma que fosse assustadore e não oferecesse garantias e fosse cheia de riscos - parecia acalmá-la.
Ela fechou os olhos e dormiu, e tudo o que ela viu em seus sonhos foi Ron sorrindo para ela.
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A levara a maior parte do dia para Hermione acalmar seus nervos, mas pelas quatro da tarde, Hermione sentiu seus pés a carregando para a ala hospitalar. Ela sentiu como se estivesse vazia por dentro, como se ela não tivesse nada exceto ar em sue corpo, mas não era um sentimento bom. Ela se sentia um pouco doente.
Ela chegou nas portas da ala hospitalar e quando ela estava prestes a entrar, elas se abriram. Harry e Gina saíram de lá: estavam sorrindo um para o outro e Gina estava no meio de uma frase quando os dois viram Hermione e pararam.
‘Olá,’ disse Harry, soando um tanto surpreso.
‘Oi’, disse Hermione, sua voz aguda. ‘Ron... Ron está acordado?’
‘Sim,’ disse Harry. ‘Quer vê-lo?’
‘Sim,’ disse Hermione com dificuldade.
‘Certo,’ disse Harry. ‘Er... bem, tenho certeza de que ele gostará disso.
‘Você acha?’ perguntou Hermione, odiando o tom desesperado em sua voz.
‘Definitivamente,’ falou Harry. Hermione percebeu que Gina não havia dito nada, e que o rosto dela parecera muito atormentado.
‘Ok,’ disse Hermione, encarando Gina e então Harry. ‘Vou entrar então.’
‘Hermione,’ disse Gina de repente. ‘Antes que entre… posso falar com você?’
‘Ah… sim.’
Harry encarou as duas. ‘Vejo vocês na sala comunal,’ disse ele, com um encolher de ombros. ‘Tchau.’
Hermione disse até logo sem perceber. Gina acenou para Harry e ele sorriu e se afastou, e Hermione percebeu que ela olhou para ele.
‘Gina?’
‘Quê?’ ela pareceu ser tirada de seus pensamentos.
‘Você queria falar comigo.’
‘Ah, sim.’ A face de Gina ficou séria. Hermione sentiu o interior dela congelar. Ela tinha notícias ruins sobre Ron? Mas com certeza Harry teria dito algo... eles saíram da ala hospitalar rindo...
‘Hermione,’ ela começou. ‘Antes que você entre, preciso lhe dizer uma coisa.’
‘Ok.’
‘Só espero… bem, espero que não me odeie quando eu terminar de contar.’
‘Não seja boba,’ disse Hermione. ‘O que quer dizer?’
‘Olhe, eu acho… acho que o que aconteceu com vocês dois possa ter sido minha culpa,’ disse Gina, hesitante. ‘Veja, eu tinha esquecido disso. Faz tanto tempo e eu estava tão furiosa que não tinha certeza do que eu disse, mas eu acabei de falar com Ron e ele mencionou, e isso me fez lembrar...’
‘Gina, do que está falando?’
Gina respirou fundo. ‘Eu contei a Ron que você beijou Krum.’
Hermione a encarou incrédula. ‘Gina…’ ela disse fracamente. ‘Eu contei a você um segredo.’
Os olhos de Gina se encheram de lágrimas e a voz dela ficou aguda. ‘Eu sei. Eu SEI, e sinto muito! Eu só… olha, Ron me pegou beijando Dino e ele disse algumas coisas idiotas de irmão mais velho e eu perdi a cabeça. Eu caçoei dele dizendo que ele nunca tinha beijado ninguém e eu falei sobre Krum. E eu teria te dito o que eu fiz mas eu estava tão furiosa na hora que nem pensei direito e esqueci, e... ah, diabos, Hermione. Eu sinto tanto. É minha culpa que as coisas tenham dado errado. Se eu não tivesse aberto minha boca, Ron não teria corrido para Lilá.’ Gina pronunciou o nome da garota com o mesmo tom de voz quando ela falava de Fleur.
Hermione engoliu em seco. Ela estava surpresa e magoada, e queria ficar brava, xingar Gina por trair a confiança dela, culpá-la por tudo. Mas ela caiu em si. Não era culpa de Gina. Não inteiramente. Hermione tinha uma parte da culpa, ela não tinha dito que Ron não conseguia defender gols sem ajuda de uma poção? Ela não tinha, de fato, azarado McLaggen para se certificar de que Ron defendesse tudo nos testes?
Ele é tão sensível, tão inseguro sobre ser Goleiro... E sobre Krum...
Tudo se encaixou. O comportamento de Ron, ainda terrível, pelo menos agora tinha uma razão. O lado lógico dela brigou que era ridículo Ron perder a cabeça por causa de algo que acontecera há tanto tempo - mais do que dois anos! - mas Ron nunca fora racional em relação a Krum. Krum era um lembrete vivo das piores inseguranças de Ron, e Krum gostara dela...
‘Está tudo bem, Gina,’ disse Hermione. ‘Eu provavelmente devia ter contado a ele. Pelo menos eu podia ter explicado que não significou nada.’
‘Eu sinto que arruinei tudo,’ disse Gina levemente, parecendo envergonhada.
‘Não arruinou nada,’ disse Hermione rápido. ‘Sério. Nós arruinamos. Eu devia ter dito para ele e devia tê-lo convidado... mas eu estava nervosa para falar sobre isso, só agora...’ Ela parou e suspirou. ‘De qualquer maneira, pelo menos as coisas fazem sentido agora.’
‘Tem certeza?’ disse Gina. ‘Eu me sinto péssima por isso.’
‘Sei que sim,’ disse Hermione sorrindo. ‘Vou falar com ele. Vou... vou contar tudo. Eu estive sendo uma idiota...’ A voz dela quebrou e ela engoliu o nó na garganda. ‘Não sei o que ele vai dizer, mas... tenho que dizer.... você sabe.’
Os olhos de Gina estavam agora brilhantes de lágrimas, e uma correu pela bochecha dela. ‘Sabe, Hermione, se ajuda, acho que Ron nunca gostou de Lilá.’
‘Sim, bem, estou prestes a descobrir, não?’
Ela colocou uma mão no ombro de Gina e começou a ir até a porta.
‘Vou me certificar de que Lilá não fique no seu caminho,’ disse Gina.
‘Obrigada,’ Ela sorriu para a amiga e entrou na sala, se sentindo prestes a vomitar. Era hora.
Ela se virou para a figura ruiva na cama de hospital.
Ele estava sentado, lendo o que parecia ser um exemplar de VOANDO COM OS CANNONS. Ele olhou por cima da revista quando ouviu a porta abrir.
O coração dela estava batendo forte no peito dela enquanto eles se encaravam. O olhar de Ron a puxou até ele; não eram os pés dela a movendo, mas o olhar dele no dela. Nenhum deles parecia conseguir falar. Foi só quando ela parou no pé da cama dele e hesitou, que ela conseguiu piscar, pensar e falar.
‘Oi.’
Ele engoliu em seco, seu pomo-de-adão mexendo, e disse ‘Oi.’
O nó na garganta dela tomou vida de novo, e mais uma vez ela o engoliu. Se ela começasse a chorar, nunca conseguiria dizer uma palavra. Mas tudo o que ela havia planejado dizer estava precos em sua garganta. Ela procurou por alguma coisa, qualquer coisa para quebrar o insuportável silêncio.
‘Como é que você está se sentindo?’ ela perguntou estupidamente.
Ele pausou, deu a ela um pequeno sorriso e disse ‘Como se eu tivesse tomado poção do amor, um antídoto para isso e um líquido envenenado.’
Ela riu. Ele riu também. Estavam rindo juntos pela primeira vez em meses. E então de repente ela estava chorando. A resolução dela para manter a compostura se dissolveu ao vê-lo sorrindo, ao som dele rindo, e ela repentinamente estava soluçando, engasgando, tomando sorvos de ar enquanto lágrimas corriam pela face dela.
A expressão de Ron ficou aterrorizada. ‘Eu sinto muito!’ ele disse desesperadamente, erguendo uma mão em direção a ela. ‘Não chora, por favor, não chora. Eu sinto muito!’
Ela soluçou. ‘Eu sinto muito também!’ ela conseguiu dizer, e ela se atirou na cadeira ao lado da cama dele e sentou, porque as pernas dela não estavam mais funcionando. Ela agarrou a mão dele, precisando tocá-lo, sentir que ele estava vivo e real bem ali, que ele não havia desaparecido.
Ele deixou a mão dela segurar a dele, mas ela sentiu a tensão no corpo dele. Ron não tinha certeza do que fazer, o que dizer, ou como agir. Ela olhou para ele e viu que os olhos dele estavam vermelhos, e que ele estava franzindo a testa, segurando as lágrimas.
‘Hermione…’ ele disse roucamente, e parecia estar precisando para dizer alguma coisa. Mas ela o impediu. Ela tinha que falar agora, tudo tinha que sair.
‘Espera,’ ela disse, e sem planejar, ela colocou os dedos nos lábios dele. ‘Espera. Me deixe ir primeiro.’
Ela tirou os dedos, e ele assentiu.
‘Tenho que dizer algumas coisas,’ ela disse, forçando as palavras a saírem por uma boca que não queria cooperar. ‘Muitas coisas. Sinto muito por não ter lhe contado sobre Vítor. Gina me disse que deixou escapar. Você não devia ter ouvido ela. Eu devia ter lhe contado mas não contei, achei que levaria para o lado errado, mas eu devia ter lhe contado, porque então eu teria podido explicar que não significou nada. Eu não... ele gostava de mim e eu estava lisonjeada, e ele foi legal e eu estava brava com você por não ter me convidado para aquele baile idiota e eu estava curiosa também, admito que estava, então deixei ele me beijar e foi legal, foi só isso que foi... legal. Não significou nada.'
Ela respirou fundo. Ela estava cuspindo as palavras, mas não podia parar agora que tinha começado.
‘Só que eu não tinha certeza, eu achava... eu não sabia se eu gostava dele ou não, eu estava tão confusa, eu sabia que eu gostava de você, mas você nem ia dar bola pra mim e - não, não interrompa, por favor - e ele foi legal, ele não... ele agiu como um cavalheiro o tempo todo e eu achei que talvez eu devesse ver... talvez eu tenha feito errado, talvez gostar de alguém não tenha que ser confuso e frustrante, então nos beijamos mais algumas vezes e foi legal, e isso é tudo.... e não importava porque eu ainda gostava de você... e então Vítor voltou para a Bulgária e eu não fui vê-lo, Ron, eu não fui... eu sei que esteve pensando nisso, mas estou dizendo que não fui... eu não queria que ele entendesse mal,então escrevi para ele e disse que não estava interessada nele daquele jeito, ele me respondeu tentando me fazer mudar de idéia e então eu disse que gostava de outra pessoa. Ele respondeu achando que era Harry e eu... e eu escrevi de volta dizendo que era você...’
Ela respirou fundo; a garganta dela estava quase doendo. Ela abriu a boca para falar, mas Ron a interrompeu.
‘Você falou para Krum…sobre mim?’
Ela assentiu, lágrimas preenchendo os olhos dela. ‘Eu disse a ele que sentia muito e tentei acalmá-lo depois disso e ele disse que ainda queria ser meu amigo, e então... então somos amigos... viramos correspondentes e é isso... é só isso... e agora... não ouço dele faz séculos, talvez ele esteja ocupado com o Quadribol, não sei... o ponto é, eu não me importo, ok? Ele é meu amigo, é legal, mas ele não é... ele não é...’ Ela ergueu uma mão e indicou Ron, quem estava a encarando.
‘E… e me desculpe por ser tão má sobre... sobre suas defesas,’ ela continuou. ‘Sei que pode defender gols sem ajuda, Ron, sei que sim, você é realmente bom, e eu não sabia porque você tinha ficado tão bravo comigo de uma hora para a outra... íamos para a festa idiota do Slughorn e você estava bravo comigo de repente e então... você e Lilá...’
Rn olhou para o outro lado.
‘Eu fiquei tão brava, Ron, eu estava... eu não entendia, vê? Eu achei... achei que você e eu estávamos... e então lá estava você, beijando ela, e machucou... machucou muito... eu queria machucar você também... então eu disse aquelas coisas ruins e convidei o porco do McLaggen para a festa só pra fazer ciúmes em você... e... eu queria magoar você porque você tinha me magoado... sempre que eu via você com ela era... era terrível, e eu não podia suportar, e... e---’ Ela se forçou a dizer em voz alta o desejo que ela tivera. ‘... fiquei desejando que você desaparecesse, fosse embora para mim não ter que mais olhar pra você, e... e então você foi envenenado...’
Ela caiu no choro e soluçou contra as mãos dele, que ela ainda mantia apertada nas suas. Ele ainda não havia falado. Ela sentiu uma mão dele sair da dela e sentiu então... uma pressão em sua cabeça. A mão dele estava movendo-se sobre o cabelo dela. Ele estava acariciando o cabelo dela. Ele nunca a tocara assim antes. Era lindo e horrível de uma vez só. Mesmo que os dedos dele a aliviassem, o coração dela doía. Ele nunca seria dela agora. Mesmo se ele e Lilá terminassem, ela tinha perdido-o. Ele não dissera o nome dele em seu sono porque a queria. Estava acabado antes mesmo de começar.
Ela olhou para cima, sentindo os dedos dele saírem do cabelo dela, e se obrigou a dizer as outras coisas que sabia que precisava dizer.
‘Não quero brigar com você mais...’ ela disse. ‘Eu odeio isso. Odeio... odeio não ser sua amiga. E... e eu não devia dizer isso... eu não devia porque provavelmente vai arruinar tudo... talvez apenas piore tudo, mas eu sempre gostei de você e ainda gosto, e sei que não se sente do mesmo jeito, e... está tudo bem. Está. Está tudo bem. Não quero mais brigar, não quero que me odeie, e... e... só quero que seja feliz. É tudo, Ron. Só quero que você seja feliz e não quero que sofra, e se está feliz com Lilá, então... então está tudo bem.
Ela largou as mãos dele e se sentou reta.
Ela estava pronta. Ela dissera tudo, não tão calmamente quanto gostaria, mas tinha dito tudo. Ela secou os olhos com as costas da mão.
Ele encarou por um momento, prendendo-a com o olhar, molhando os lábios, parecendo estar procurando o que dizer.
‘Você ainda gosta de mim?’ era o que ele disse.
‘Quê?’
‘Você… você ainda… você sabe... gosta de mim?’
Hermione olhou para o outro lado; seu estômago se revirou novamente.
‘Sim.
‘Por quê?’
Ela olhou para ele; ela não esperara que Ron perguntasse porque. Como diabos ela poderia responder? Ele não sabia, ele não entendia porquê?
A face dele procurou a dela, e ela sabia que ele não sabia. Ele não parecia conseguir entender porque ela o queria.
‘Quero dizer...’ ele falou. ‘Eu fui tão mau com você... fui mau com você várias vezes...e não sou... não sou...’
Ele olhou para baixo, para suas mãos.
‘Não estou feliz com Lilá,’ ele disse em seguida,e então encarou-a. ‘Apenas fiquei com ela porque... eu estava bravo com você. Eu nem gosto muito dela.’
‘Não gosta?’
‘Não.’ Disse Ron. ‘Quero dizer... eu continuei com ela porque... você sabe...’
Hermione não disse nada. Ah, ela sabia. Típico garoto. Ela lutou contra a urgência de mostrar um sinal de irritação. Ele não dissera nada enquanto ela chorava durante o que falara. O mínimo que ela podia fazer era ficar calada e escutar o que ele tinha a dizer. E se ela fosse honesta, o coração dela não pôde evitar de ficar mais leve ao ouvir que Ron estava, de fato, desinteressado em Lilá Brown.
‘Ficou chato,’ ele continuou. ‘Esquisito, hã? Quero dizer... Simas me disse que eu tinha sorte, sabe, por Lilá não querer falar ou apenas conversar... e... estava tudo bem no começo, mas quando tentei perguntar coisas a ela, ela simplesmente... você sabe... e quanto mais eu ficava com ela mais eu pensava... mais eu pensava em você e como você me aborrecia me mandando fazer os deveres ou tentando me fazer juntar ao fale ou mesmo rolar os olhos quando eu contava uma piada... e eu senti falta disso.’
Ele fez uma pausa, ainda encarando as mãos.
‘Eu fiquei muito feliz quando você me convidou para aquela festa,’ ele murmurou. ‘Eu... eu queria convidar você, mas não consegui reunir coragem e então você me convidou, e... e foi como, eum alívio, acho. Se eu convidasse você, você talvez diria não, mas você me convidou, então eu soube... o que foi idiota, porque... eu devia ter descoberto, mas eu ficava pensando que talvez você estivesse apenas... não sei... eu não sabia o que pensar, mas então você me convidou e Gina disse aquelas coias e eu comecei a ficar nervoso com meus treinos e... eu pirei... eu ficava vendo você com ele e ficava pensando... ficava pensando que não havia jeito de eu conseguir, que você ficava nos comparando ou algo e eu sei que foi idiota, está bem, mas... diabos, eu sou um imbecil, não sou?’
‘Não, você não é---’
‘Sim, eu sou!’ ele disse fortemente, olhando para ela. ‘Eu estraguei tudo, Hermione. Sei porque você não me contou sobre Krum - porque você sabia que eu piraria e seria um idiota quanto a isso. E eu fui, não fui? Eu agi exatamente do jeito com que você achou que eu agiria. Só que pior, porque eu fui lá e agarrei Lilá, o que foi com certeza a coisa mais idiota que eu já fiz, e isso é alguma coisa.’
‘Não…’ sussurrou Hermione.
‘Eu só… não consigo acreditar,’ ele continuou como se não tivesse a ouvido. Ele estava olhando para as mãos novamente. ‘Quero dizer... por que você... gostaria de alguém como eu? É por isso que eu pirei por causa de Krum, entende? Por que ele é melhor que eu. Porque... porque é ele a quem você merece.Não eu. Eu só te magôo. Eu sempre fiz isso.’
‘Não diga isso!’
‘É verdade,’ ele insistiu, a encarando mais uma vez, os olhos vermelhos. ‘Você merece alguém especial, Hermione. Porque... porque é o que você é, sabia? Você especial, e... eu não sou.’
Ele voltou a encarar as mãos. ‘Por isso que... por isso que nunca tomei a iniciativa. Por isso que eu não conseguia te convidar para sair ou para ser minha namorada. Não porque eu não gostava de você, mas porque... porque nunca acreditei que você realmente me quisesse.’
‘Eu queria,’ ela disse. ‘Eu ainda... eu ainda quero.’
Ele olhou para ela e deu-a um olhar severo. ‘Depois de tudo o que eu fiz? Eu fui horrível com você---’
‘Eu fui horrível com você,’ observou Hermione.
‘Mas eu não---’
‘Ronald Weasley, não se atreva a dizer que não é especial!’ ela explodiu, os olhos se enchendo de lágrimas. ‘Ou que você é idiota e que me magoa! Você não faz isso! Não faz! A única razão pela qual eu te aborreço com os deveres é porque sei que é talentoso e inteligente e você... você só não tenta algumas vezes, é isso! Você não acredita em si mesmo e deveria, porque você é muito melhor do que imagina. E não me importo que você seja pobre e não me importo que não seja famoso, nada disso importa, não acredito que você achou que eu me importaria com algo assim.’
Ela parou de gritar e se forçou a respirar forte.
Ron a encarou por um momento, e então sacudiu a cabeça e disse ‘Já acabou de gritar comigo?’
Ela abriu a boca para retorquir, mas parou, sentindo o riso em seu peito. Ela deixou-o sair, misturado com as lágrimas, meio feliz e meio tensa por eles estarem rindo pela segunda vez em um dia depois de semanas sem se falarem, e ela finalmente disse ‘Sim, acabei de gritar com você.’
Ele sorriu e ela acrescentou ‘Por enquanto.’
Ele riu novamente, e então tentativamente pegou a mão dela. ‘Também não quero mais brigar com você.’ Ele encarou as mãos deles. ‘Desculpe,’ ele disse, a voz fraca. ‘Desculpe por tudo, tudo de ruim que eu já disse ou fiz. Desculpe por ser o maior idiota do mundo. Desculpe por Lilá.’
Ele bravamente encarou-a, e ela simplesmente não conseguiu falar. Ela assentiu.
‘Eu… eu realmente senti sua falta.’ Ele falou.
Mais lágrimsa nos olhos dela. Sla sentiu como uma mangueira.
‘Eu senti sua falta também.’
‘Eu sou doido por você,’ Ron falou; ele estava tremendo, como se o esforço de dizer aquelas cinco palavras necessitasse de força física.
Ela o encarou com agonia e se atirou nele, jogando seus braços em volta dele e escondendo seu rosto no pescoço de Ron. Ela se descobriu chorando mais uma vez. A cabeça dela estava doendo de tanto chorar, mas ela apenas chorou ainda mais quando ele colcou seus braços em volta dela e a apertou contra si. Foi a coisa mais natural do mundo, se abraçar nele, ser abraçada por ele, e ela soube naquele momento que eles haviam finalmente, finalmente esclarecido tudo. Não haveriam mais mal-entendidos, não haveriam mais sinais desapercebidos, nenhuma besteira adolescente entre eles.
Ela se afastou, pronta para sentar-se de volta em sua cadeira, mas ele a impediu e manteve-a perto de si, e ela descobriu seu rosto a centímetros do dele. Ela podia sentir o cheiro dele - chocolate, ele devia ter comido Sapos de Chocolate de novo - e os olhos dele encararam fundo os dela.
Os lábios dele estavam bem ali, o coração dela estava batendo forte e ela tinha certeza de que podia ouvir o dele também. Ele a aproximou…
‘Ron, espere…’ Uma segunda vez ela colocou os dedos nos lábios dele. ‘Não podemos.’
Ron pareceu derrotado. ‘Por que não?’
‘Porque tecnicamente Lilá ainda é sua namorada.’
Ele suspirou e soltou Hermione. ‘É.’ ele disse miseravelmente. ‘Certo.’
‘Não é que eu não quero!’ ela disse rapidamente. ‘Só não acho... não seria certo.’
‘Eu sei.. Você está certa. Eu só...’
Ele a encarou e Hermione sugou um sorvo de ar enquanto ele passava os dedos pela bochecha dela e passava o polegar no lábio inferior da garota. Ela se sentiu repentinamente acesa e houve uma sensação vibrante no seu corpo todo. Ela tentou se manter calme e sentou-se.
Hermione o olhou e viu sua expressão, que estava meio contente, meio desejosa. Ela decidiu que gostava.
‘O que fazemos agora?’ ele perguntou, suas bochechas e orelhas avermelhando-se. ‘Quero dizer.... o que isso significa... você e eu... o quê? Eu dou o fora em Lilá e te convido para sair, ou algo?’
‘É… é isso que você quer fazer? Me convidar para sair?’
‘Não,’ ele disse, encolhendo os ombros, mas rapidamente emendou ‘Quero dizer, eu quero, quero sair com você, você sabe, para algum lugar, mas... mas eu sinto como... como se não precisássemos ser... você sabe... como se estivéssemos além... você sabe... não tenho idéia do que diabos estou tentando dizer.’
‘Eu sei o que você está tentando dizer,’ disse Hermione, incapaz de resistir pegar a mão dele novamente. ‘E você está certo. Parece meio bobo agora, não parece, para nós entrarmos em alguma espécie de... ritual, ou seja lá o que for. Já somos amigos.’
‘Melhores amigos,’ ele disse, entrelaçando seus dedos com os dela. Ela resistiu à vontade de suspirar. Ele estava segurando a mão dela, os dedos dele estavam nos dela. Era tão bom. Como alguma coisa tão pequena poderia ser tão boa?
‘Não quero que nada estrague isso,’ sussurrou Hermione, olhando nos olhos dele novamente.
‘Nem eu,’ disse Ron, fortemente. Parecia que ele queria dizer algo mais, mas ele parou. Hermione soube que ele queria que ela liderasse a conversa, e foi o que ela fez.
‘Não podemos apressar nada,’ ela disse, e ele assentiu.
‘Você está certa, não podemos,’ ele concordou.
‘Não nos falamos por séculos,’ ela continuou. ‘e fomos terríveis um com o outro.’
Ron não disse nada; ele apenas assentiu e olhou para a mão dela, que ainda estava na dele.
‘Acho… talvez precisemos começar do começo, um pouco.’ Hermione sugeriu tentativamente.
‘Quer dizer, só como amigos?’
‘Sim,’ disse Hermione, mesmo que doesse nela dizê-lo. Os arrepios em sua pele estavam fazendo-a ficar tonta, e parte dela não queria nada além de se atirar em Ron e beijá-lo até que tirasse todo o ar dentro dele.
Ele a encarou. ‘Amigos,’ ele disse, mas ele não a soltou. ‘E... então daí... depois de Lilá, quero dizer, podemos... ver o que acontece?’
‘Exatamente,’ ela disse, sorrindo. Ele entendera. ‘Devemos deixar as coisas acontecerem naturalmente, acho.’
Ele assentiu, encarando-a com uma expressão que agora era pura vontade. ‘Soa como um plano, então.’ A voz dele estava um tanto estrangulada, como se ele estivesse se contendo.
Ela sentiu-se empolgada, e soube que deveria ser firme, se ele colocasse seus braços em volta dela e suas bocas se tocassem ela não conseguiria pensar nem um pouco.
‘Ótimo,’ ela disse, mantendo sua voz calma, cuidando para manter-se sentada em sua cadeira, mas não largando a mão dele.
Sentaram em silêncio por alguns minutos, sem falar, ainda segurando as mãos. Lançavam olhares tímidos um ao outro de vez em quando, mas surpreendentemente, o embaraço era a única coisa embaraçosa entre eles agora. Parecia perfeitamente normal segurar a mão dele, sentir o jeito com que os dedos dele tocavam os dela, sentar em um lugar com ele e não falar nada. Era absolutamente maravilhoso, e pela primeira vez em meses Hermione sentiu algo muito próxima ao paraíso.
‘Hermione?’ ele disse, e ela tremeu. Era apenas o nome dela, mas o jeito com que ele disse, agora que as coisas estavam esclarecidas, agora que eles haviam ultrapassado a barreira, a fez tremer.
‘Quê?’
‘Como eu termino com Lilá?’
Hermione se ergueu; por um lado ela estava feliz que Ron estava realmente planejando dar o fora em Lilá. Do outro, ela não queria conversar sobre isso.
‘O que quer dizer, como você termina com ela?’
‘Quero dizer, o que eu falo?’ ele disse, e repentinamente pareceu um tanto perdido e desesperado. ‘Posso dizer a ela que estou com você?’
‘Não,’ disse Hermione, tentando não pensar no fato de que ela tivera um sonho muito parecido com isso.
‘Mas…’ reclamou Ron, e Hermione sacudiu a cabeça.
‘Você simplesmente tem de dizer a ela, Ron,’ ela disse. ‘Bem, você deveria ser legal com ela, suponho. Quero dizer, ela gosta bastante de você e você vai magoar os sentimentos dela, não há dúvida nisso, mas acho que se você a disser muito calmamente que não quer sair com ela mais---’
‘É, certo,’ interrompeu Ron. ‘Posso ver aonde vai parar. Ela vai cair no choro e perguntar o que estar errado e ela vai querer que eu fale sobre meus sentimentos, e... ugh, Hermione! Não quero uma cena dessa. Não posso só, sei lá, escrever um bilhete?’
‘Claro que não,’ disse Hermione. Ela não tinha certeza do por que, honestamente, ela estava sendo tão preocupada com Lilá. Talvez porque até mesmo Lilá Brown não merecia ter os sentimentos magoados mais do que o necessário.
‘Talvez eu devesse começar a ignorá-la,’ ele falou. ‘Ou encontrar um jeito dela terminar comigo.’
‘Ron!’
‘Quê?’ disse Ron, soltando a dela e juntando as próprias mãos, suplicante. ‘Vamos, Hermione, não é fácil terminar com alguém.’
‘Não me diga que vai levar o resto do ano para fazer isso, Ron,’ disse ela severamente.
‘Não vou!’ insistiu Ron, tomando as mãos dela nas dele. ‘Juro que não, acha que eu quero esperar mais por nós depois… depois…’Ele parou e ficou com um tipo de sorriso encantado na face. ‘Isso soa legal.’
‘O que soa legal?’
‘Nós.’
Hermione piscou e - Deus do Céu, isto estava ficando ridículo - sentiu lágrimas encherem os olhos.
‘Realmente soa legal.’ Concordou ela.
‘Mas… mas eu tenho de dar o fora em Lilá antes.’ Disse Ron. ‘E iremos devagar, para não estragar tudo.’
Hermione assentiu, sorrindo lacrimosamente.
‘Hermione?’ ele perguntou. ‘Sei que não posso te beijar ainda, mas... está tudo bem se eu te abraçar de novo?’
Ela hesitou.
‘Eu juro que não vou tentar te beijar,’ prometeu Ron, parecendo muito sério. O olhar de cachorrinho abandonado no rosto dele a amoleceu e de qualquer maneira, ela queria muito abraçá-lo.
Então ela se jogou nele o abraçando forte, rindo, chorando, os olhos dela se afogando em lágrimas e molhando o pescoço dele.
‘Você é doida,’ disse ele, um sorriso na voz enquanto ele a abraçava.
‘Eu sei,’ ela disse, a voz abafada. Ela se afastou. ‘Não acho... não vamos contar a ninguém, ok?’
‘Ok,’ ele disse, mas então franziu a cara em dúvida. ‘Por quê?’
‘Porque não quero pressão,’ ela disse, e num impulso ela tirou uma mecha de cabelo ruivo da testa dele. Ele fechou os olhos por um momento e se inclinou de encontro ao gesto, e Hermione sentiu outro arrepio. Ela ficou pensando se conseguiria ficar de pé quando fosse hora de ela ir embora.
'Não devíamos esconder... seja lá o que for de Harry,' disse Ron.
'Não iremos,' disse Hermione. 'Vamos contar a ele quando... você sabe. Mas agora não quero ninguém esperando algo de nenhum de nós, sabe? Se dissermos a alguém que conversamos...'
'...você está com medo que nós estraguemos tudo, ou coisa assim?' terminou Ron.
'Sim,' disse Hermione, sorrindo. 'Não parece terrivelmente idiota?'
'Não,' disse Ron. 'Não parece.' ele fez uma pausa. 'Ok. Tudo que dissemos aqui está entre nós.'
'Nós,' Hermione repetiu, sorrindo. Eles congelaram novamente, naquela zona perigosa, os rostos a centímetros de distância, quando ela se afastou. Isso ia ser muito mais difícil do que ela imaginava.
Você está fazendo a coisa certa. Ele tem que terminar com Lilá primeiro, e então temos de ir devagar. Muito devagar. NADA vai estragar isso.
'Eu devia ir,' ela disse, e se forçou a se levantar. Realmente, suas pernas estavam um pouco trêmulas.
'Ok,' disse Ron, parecendo um tanto desapontado. Ele ainda estava segurando a mão dela e pareceu relutante em soltá-la. 'Você vem de novo?'
'Claro,' ela disse.
'Hoje à noite?' ele disse rapidamente.
Sim!
'Não hoje à noite,' ela disse, mordendo o lábio. 'Não devemos... não devemos nos ver demais sozinhos... não sei. Bem, um pouco sim, mas... não demais. Porque... você sabe.'
'Ah,' disse Ron, parecendo tristonho novamente, mas ele pareceu entender. 'Sim, sim, você está certa. Ok. Mas você vai vir amanhã, certo? Só por alguns minutos.'
'Posso fazer isso,' ela disse. 'Eu trarei seus deveres.'
Ron franziu a testa. 'Deveres? Ora, vamos, Hermione!'
Ela riu. 'Você vai ficar pra trás! Lembra do ano passado? Você prometeu que não ia---'
'Deixe meus deveres em paz, eu sei,' disse Ron, sorrindo. Ele ainda estava segurando a mão dela. 'Você podia fazê-los por mim. Estou inválido, sabe. Pode ser carga demais para mim.'
'Há há,' disse Hermione, e ela tirou a mão dela da dele delicadamente. Ele deixou os dedos delas se afastarem e manteve os olhos fixos nos dela enquanto ela se afastava da cama dele, em direção à porta.
'Tchau,' ela falou, sorrindo, se sentindo boba, querendo beijá-lo até não poder mais, dizendo a si mesma para desaparecer antes de fazer isso.
'Tchau,' ele respondeu, e deu um aceno a ela enquanto ela saía pela porta. Ela saiu com os olhos dele nela, sorrindo de uma maneira nova que a fazia ter arrepios até nas pontas dos pés. Ela manteve os olhos nele até que fechou a porta.
Enquanto ela caminhava para a sala comunal, sentiu-se vazia novamente, mas desta vez não era ruim. Em vez disso, ela se sentiu empolgada. Contente. Ela começou a rir. Pequenas risadinhas que escaparam de sua boca. Ela riu o caminho todo até a Torre da Grifinória.
Comentários (2)
Eu gosto de fics assim, que usem lacunas deixadas por Rowling de uma forma inteligente e que deixa um gosto de 'será que isso aconteceu mesmo? Poderia ter acontecido'...E a sua é exatamente isso.Uma junção clara de conhecimento de personagens com uma sutil porém LINDA habilidade de narrar. ~E quando digo sútil é porque é calmo, é simples, sem aqueles exageros de palavras idiotas que não servem pra nada além de enfeite~Parabéns pela fic. Merece um 10, pena que é apenas até 5.Parabéns meeeeeesmo.
2013-01-16Lindaaaaaaaaaaaa...
2012-11-15