O Maior dos Encargos



- Capítulo Doze -

O Maior dos Encargos

Harry acabara de entrar em uma sala totalmente diferente da que saíra a poucos instantes. Possuía um chão coberto de uma cerâmica lilás entalhada de símbolos estranhos que se moviam. Ao fundo havia uma mesa em madeira e um enorme trono de prata. As paredes eram decoradas com quadros de bruxos em duelo e ainda havia algumas prateleiras espalhadas pelos cantos das paredes. Harry não deixou de reparar que logo sobre o trono de Merticco havia uma enorme bola flutuante onde figuras informes distorciam-se como em uma geléia incolor, presas em uma cúpula.

- Não gostaria de passar detenções para nenhum aluno em nenhum momento do ano, mas como as circunstâncias apontam apenas para essa saída terei de deixar de lado o meu papel de amigo e empenhar a minha profissão de professor. Antes de mandá-los para a Ala Hospitalar gostaria de contar que o que vocês fizeram não aproxima-se nem nas mais remotas ocasiões de algo hilário. Além de infringirem aproximadamente quinze regras da escola, desrespeitaram regras de Duelos e de, até mesmo, etiqueta. - dizia Merticco olhando um pouco preocupado para os três garotos.

- Simplesmente ele começou xingando o Harry e a minha irmã. - disparou Rony sem pensar, interrompendo o professor.

- E agora você acaba de se incriminar falando quando não lhe cabe a vez. - dizia Merticco apontando o dedo para Rony, enquanto Draco coçava-se feito um louco em frente à mesa do professor.

- Você poderia ter o bom senso de nos emprestar três cadeiras? - falou Draco em uma voz distorcida.

- Claro. Peço perdão por minha falta - dizia Merticco ao que três imensos blocos de almofadas, todos de cor lilás, materializavam-se em frente à mesa - e lembro-lhes que quero que essa seja a primeira e última vez que vocês irão aprontar nas proximidades da minha sala. Terei notícia de qualquer erro ou desrespeito de regras nesse andar, lembrem disso.

Harry olhava atentamente para um dos quadros na parede onde um bruxo preparava-se para atacar um outro bruxo, encolhido no chão, com uma enorme fênix que circundava a sua varinha. Virando-se lentamente para a mesa do professor, que escrevia animadamente em um pedaço de pergaminho, algo lhe chamou a atenção. A bola flutuante começara a tremer e girar, primeiro lentamente, para a esquerda. As formas começaram a desanuviar e Harry podia distinguir uma mão feminina, com unhas longas e bem pintadas, aproximando-se da cúpula. A mão tocou na cúpula, que agora lembrava uma forma côncava de vidro, e Harry sentiu seu estômago revirar quando as unhas riscaram-na produzindo um ruído estridente que fez todo o seu sangue esfriar e paralisar...

A sala de Merticco desaparecera e Harry sentiu os seus pés tocarem em um chão de pedra grossa e mal entalhada. Havia um espelho à sua frente e o mesmo refletia um Harry de dezesseis anos olhando assustado para si mesmo. A curiosidade fez com que suas pernas marchassem lentamente em direção ao espelho, ao que o reflexo de um Harry de dezesseis anos tornava-se alguém mais jovem com doze ou treze anos. Aproximou-se até tocar na superfície do espelho com sua mão e sentiu uma fria sensação nas pontas dos dedos e logo toda a imagem reproduzia na face do objeto distorcia-se e transformava-se em um cômodo quase vazio, exceto por um berço e por uma mulher de olhos verdes e brilhantes que sorria brandamente para um bebê com uma cicatriz na testa. Também havia um homem no quarto, possuía cabelos negros e era magro e alto. Harry sentia-se feliz em ver si próprio nos braços de seus pais, sentindo um carinho que nem no mais belo sonho ele conseguira sentir. O cômodo aos poucos tornava-se maior e tomava cada vez mais espaço da sala que Harry se encontrava sozinho, mas ele não se importava apenas apreciava àquela estranha cena parecendo sentir todo aquele carinho em sua pele. O piso já não era mais de pedra e o cômodo em que se encontrava tornava-se iluminado, aos poucos alguns móveis de madeira apareciam no lugar. Sua mente revivia todos os momentos de sua vida como se a tivesse assistindo de trás para frente, sentia-se mais jovem e vivo, mais próximo dos braços de seus pais; estava voltando no tempo.

- Quero que entreguem esse pergaminho aos diretores de suas casas e eles saberão o que fazer com vocês - dizia Merticco cortando um pergaminho em três pedaços - e se quiserem podem ir ainda à Ala Hospitalar, creio que não estejam de sentindo muito bem.

Harry sentia-se enjoado com uma imensa vontade de vomitar. Levantou-se assustado e saindo da sala de Merticco deparou com um corredor vazio. O desespero tomava conta de seu corpo, ao tempo que seu pulmão esvaziava-se de ar e se enchia de saudade. Parecia ter deixado uma parte de si naquele lugar, daria a sua vida para voltar àquele cômodo...

- Quero os meus pais... - pensava - Porque não posso tê-los um pouco comigo?

- Harry, você esqueceu a sua mochila na... Você está se sentindo bem? - dizia Rony com uma cara de espanto.

- Estou bem. Só um pouco enjoado. - dizia Harry observando Draco sair da sala de Merticco e sair correndo em direção à Ala Hospitalar.

Rony pôs a mochila de Harry nas costas e ficou observando atentamente o amigo que aos poucos ficava pálido e sem forças.

- Tenho certeza de que você não está bem. O que aconteceu? - perguntava Rony, antes de Harry despencar e cair desmaiado no chão.


Já era noite quando Harry pôde finalmente abrir os olhos e perceber que estava em um escuro e deserto cômodo, aconchegado em uma cama, imerso em um silêncio tão entediante que doía-lhe até os tímpanos. Os seus olhos não se encontravam em perfeito estado, estavam embaçados e lacrimejantes, e a sua cicatriz pulsava freqüentemente em sua testa dando-lhe a sensação que levava freqüentes alfinetadas em sua fronte. Não tinha muita certeza, mas acreditava que se encontrava hospedado na ala hospitalar, afinal nenhum ronco ou ruído anunciava a presença de algum companheiro de dormitório.

Se estivesse mesmo na ala hospitalar era a primeira vez que a via assim; tão escura e deserta, nem ao menos uma vela estava acesa, e até mesmo Madame Pomfrey não rondava por entre as camas àquela hora da noite. Tentou gritar, mas sua voz saiu em finos e fracos balbucios que se perderam em ecos nos amplos corredores de Hogwarts. Não agüentando mais aquela calmaria fez menção de se levantar e seu coração parou ao perceber que os seus pulsos encontravam-se atados a cordas enlaçadas à cabeceira da cama e que seus tornozelos estavam envolvidos em grossas correntes que pendiam do teto. Movimentou-se inultimente tendo como único resultado um maior aperto em seus músculos e ossos. Parecia que o seu sangue estava sendo trocado por uma crise incessante de desespero que invadia e fazia tremer cada parte de seu corpo.

- Não acredito que tenha maiores motivos para desesperos agora. - dizia uma voz calma e singela, que ecoou por todo o cômodo - Por favor, permaneça em repouso, será o melhor para você Harry.

Apertando os olhos para ver quem seria o dono daquela voz pacífica, Harry distinguiu um emaranhado de fios de cabelo e barba, tão alvos quando as nuvens do céu, que não pertenciam à alguém senão Alvo Dumbledore.

- Fique calmo. Não se esforce tanto. Você não está em condições. - dizia Dumbledore encostando-se ao lado da cama de Harry.

- Pr-prof... - tentava Harry dizer alguma coisa, mas apenas ruídos gagos e desconexos eram reproduzidos.

Dumbledore estalou os dedos e Harry enfim descobriu que se encontrava na ala hospitalar, pois todas as velas e archotes se acenderam dando visibilidade à um conjunto de camas já tão conhecidas ao garoto. Com um outro estalo as correntes que prendiam os seus tornozelos se desprenderam e desapareceram no nada e logo os seus pulsos também se sentiram livres novamente.

- Escute-me bem, Harry. Não aceitarei nenhuma interrupção enquanto eu falar e quero apenas que você concorde ou discorde do que direi com um aceno de cabeça, está me entendendo? - perguntou Dumbledore ao que Harry automaticamente balançou a cabeça positivamente.

- Sei muito bem que nesse último verão a vida não tem sido fácil para você, não é mesmo? Duas vezes em um mês você se deparou com um portal do tempo e nas duas vezes se atreveu a tocá-lo. Acredito que você já deve ter descoberto o que seja um portal do tempo, não? - indagou Dumbledore e Harry simplesmente negou com a cabeça - Então terei de lhe dar maiores explicações. Um portal do tempo é algo como uma distorção, uma fusão para contar a verdade, entre duas dimensões de tempo. Aquela distorção que você viu na noite em que Voldemort atacou as cidades trouxas e até mesmo a sala que você freqüentou hoje no escritório de Merticco são produtos de um portal do tempo que está ti afligindo. No momento em que Voldemort assassinou os seus pais, e você os viu morrendo, e ele finalmente apontou a varinha para a sua testa os dois maiores anseios do mundo se chocaram, a sua vontade de permanecer vivo em companhia dos pais e a vontade de Voldemort de ti ver morto e enfim triunfar com as Artes das Trevas. Por ironia do destino nenhum dos dois anseios se realizou, afinal Voldemort até hoje luta para retomar o seu antigo poder e domínio e você infelizmente não tem a companhia de seus pais. Isso resultou em uma nova distorção a qual se transformou em um novo portal do tempo que quando você se aproxima tem a nítida impressão de que voltará a ter a companhia de seus pais, em vida, mesmo com Voldemort derrotado. Quando extraí você daquela distorção na noite da Primeira Obra, salvei não somente a sua vida, mas o destino de quase toda a humanidade. Se você tivesse finalmente atravessado aquele portal, muita coisa estaria mudada. Já parou para pensar quantos destinos teriam sido alterados se seus pais vivessem com você ou se você deixasse de existir nessa dimensão? Como que as dimensões entrariam em harmonia se a maior distorção do tempo havia sido ativada? Você pode e deve não estar entendendo muito do que falo. Isso ocorre porque certas revelações só podem ser dadas em determinadas épocas, pois nem sempre uma mente humana está preparada para tantas informações, mas a única coisa que espero que você entenda verdadeiramente é que ao tocar naquela distorção você apanhou algo do passado para si e abandonou algo de seu presente lá. Esse é o motivo de você ter se sentido tão mal antes de vir para a ala hospitalar. Tivemos que ti dar tantas poções e encantá-lo com tantos feitiços para que você não fosse retirado dessa dimensão que até mesmo Madame Pomfrey caiu em desmaio e no momento encontra-se no St. Mungus, mas sem maiores ferimentos ou perturbações. Peço-lhe somente uma coisa, não entre em contato com distorções que por mais que elas sejam verdadeiras, sejam a chave para realizar o seu desejo, isso apenas acarretará um mal irreversível para toda a humanidade. Não quero que você viva de um sonho, sei que isso é muito difícil para alguém tão jovem, pois até mesmo os velhos possuem aspirações, mas desejo apenas que você não se atreva, jamais, a se aproximar de uma outra distorção. Saiba que quero apenas o seu bem. - Dumbledore virou-se fazendo menção de se retirar do aposento e Harry já estava mergulhado em sonhos, mesmo tendo ouvido toda aquela explicação. Sua mente se esvaziava à medida que cada palavra ouvida penetrava em sua cabeça encaixando-se com outros pensamentos e formando novas conclusões. Via um pequeno círculo que se aproximava de seus olhos e nesse círculo via seus pais divertindo-se em uma floresta, e lá estava ele, Harry, sorrindo meigamente em meio à tanta beleza. A cama da ala hospitalar parecia viajar em direção à esse círculo que cada vez mais se expandia mostrando maiores detalhes de todo aquele lugar...

- Olha só, Thiago. Acho que ele reparou naquele unicórnio. - dizia Lílian felicíssima, os olhos verdes brilhando de felicidade, ao apontar para um belo cavalo com um chifre encimado em sua cabeça.

- Deixe-me ver se ele vai se dar bem com ele. - falava Thiago pegando o bebê e levando-o em direção ao unicórnio. O bebê fora colocado aos poucos sobre o lombo do unicórnio e Harry simplesmente sorria apreciando toda aquela maciez...


- Levante-se garoto. Você já está em condições suficientes de tomar um bom café da manhã. - dizia uma voz feminina, longínqua, que ecoava em toda a mente de Harry e se apagava à medida que se propagava - Vamos, seu preguiçoso. - sorria uma mulher vestida de branco.

Harry abriu os olhos preguiçosamente e avistou uma mulher de cabelos negros e olhos castanhos observando-o; um largo sorriso espalhado em seu rosto.

- Estou substituindo Papoula enquanto, infelizmente, ela se encontra internada no St. Mungus. - essas palavras pareceram chocar pela primeira vez a mente de Harry.

- Quê aconteceu com ela? - dizia Harry encostando-se na cabeceira da cama.

- Ela meio que passou dos seus limites, sabe. Muito trabalho e agitação não fazem bem para ninguém. Está em um repouso intenso no hospital, mas acredito, e torço, que hoje mesmo ela retornará a esse lugar que ela tanto adora. - sorria a mulher jovialmente, enquanto servia Harry com uma bandeja caprichada, cheia de pães, molhos e presuntos e ainda uma quente xícara de chocolate - Coma. O diretor disse que você vai precisar de muita energia para se recuperar totalmente.

- Por favor, poderia me informar que horas são? - dizia Harry deliciando-se com um pãozinho mergulhado em molho rosé.

- Ainda está cedo, são oito horas. Mas acredito que você não vai precisar se preocupar em ir para aulas, você ainda deve...

- Não. Preciso ir para as aulas, estou ótimo. - dizia Harry, fingindo não sentir uma enorme ânsia.

- O diretor me advertiu que...

- Sou eu quem diz quando estou ou não estou bem, e agora quero ir para a aula. - dizia Harry com ignorância tomando um último gole de chocolate quente e se retirando abruptamente da ala hospitalar.

Percorreu vários corredores e escadas até chegar à torre da Grifinória onde a Mulher Gorda cochilava apoiada na moldura do quadro.

- Verniz de Monsol. - disse Harry para a mulher que girou nas dobradiças e deu acesso ao salão comunal da Grifinória. O salão comunal estava quase vazio exceto pela presença de um calouro ruivo que lia distraidamente o Livro Padrão de Feitiços 1ª Série.

Guiando-se para seu dormitório, Harry vestiu-se rapidamente com seu fardamento e analisando o seu horário de aulas do dia, que indicava as duas primeiras aulas de poções e logo após o almoço uma dupla de Defesa Contra as Artes das Trevas, pôs os seus livros em sua mochila e desceu correndo as escadas de volta ao Salão Comunal. Antes de sair do salão viu os olhos do garotinho ruivo paralisarem em sua testa e antes que pudesse dizer algo Harry se encontrava no corredor em frente ao quadro da Mulher Gorda.

- Muito bem, mantenha-se calmo... É um novo dia. - sussurrava para si mesmo, enquanto caminhava em direção às masmorras.

Mal caminhara dez minutos e se viu à porta de entrada da sala de poções e logo percebeu que havia alguma coisa estranha naquele lugar, afinal Harry nunca ouvira tanta conversa e agitação em uma sala de Snape mesmo quando o professor não estava presente. Abrindo a porta avistou um grupinho de alunos da Sonserina conversando e sorrindo maldosamente sem se preocupar se faziam ou não barulho. Andou por entre as bancadas, sob olhares irônicos e murmúrios seguidos de gargalhadas, e sentou-se entre Rony e Hermione que já haviam acendido o fogareiro de seus caldeirões.

- Ainda bem que você já está melhor, Harry. Não me senti muito bem ontem sabendo que você estava tão mal na ala hospitalar. - Hermione sorria e observava Harry como que esperando ver o garoto cair em um desmaio, Rony, porém olhou secamente para ela fazendo estranhas movimentações com os olhos, como que em linguagem de sinais.

- É... - começou Rony sem jeito - não tenho uma notícia nada boa para ti dar. - Harry logo largou a mochila sobre a bancada e olhou seriamente para Rony - O Prof. Snape, é... - Rony gaguejava como que sem palavras para falar.

- Sinto muito, Potter, mas você terá que deixar um pouco a companhia de seus coleguinhas aí. - dizia Draco totalmente curado, aproximando-se da bancada dos três.

- Que é que você está... - virou-se Harry, encarando Draco nos olhos.

- Isso mesmo que você ouviu - anunciava Draco aumentando o tom de voz -, tenho o prazer de ti informar que a partir de hoje você não poderá mais ter a companhia desses dois durante a aula de Snape, portanto cuide de mudar de lugar... São ordens de Snape. - Draco sublinhou essas últimas palavras.

- E por que dia... - Harry começou antes de ser interrompido.

- Acho que você deve estar com problemas auditivos, Sr. Potter. Não ouviu o que seu colega falou? Saia já de perto desses dois - Snape olhou arrogantemente para Rony e Hermione - e cuide de encontrar um outro lugar para se acomodar. Não ti darei a permissão de ficar junto deles em minhas aulas.

- Mas por que... - Harry levantou-se sem ao menos perceber, a mão vasculhando o bolso em busca da varinha.

- Os motivos são os mais variados. - Snape caminhava em frente à classe - Notas baixas, mau comportamento e, além de tudo, notas baixas. Infelizmente fui forçado a ti aceitar em minha sala de aula, algo pelo qual ainda sinto remorso, mas não ti deixarei fugir mais nenhum dedo da minha linha... Francamente, um A em poções não é coisa que eu aceite... Sente-se já ali, na quarta cadeira atrás do Sr. Malfoy, garanto-lhe que em boa companhia você obterá bons resultados. - e virando-se sacudiu a varinha ao que palavras negras se materializaram em um quadro alvo anunciando os ingredientes da poção que teriam que preparar na primeira aula de poções.

Com os olhos cheios de lágrimas e com meia dúzia de palavrões para serem disparados pela garganta, Harry acomodou-se em seu novo calvário e começou a preparar, sem nenhuma cautela, a Poção do Assombro.

No término da aula, o que deveria ter ficado azul marinho borbulhava em um tom avermelhado dentro de um frasco com os dizeres “Harry Potter” em um garrancho ilegível.

A sineta nem acabara de anunciar o final definitivo daquela tortura e Harry já havia saído em disparada, a raiva tomando conta de seu corpo, ao Salão Principal e lá chegando jogou todo o seu peso sobre a mesa rezingando para si mesmo os acontecimentos daquela manhã. Rony e Hermione logo chegaram e sentaram-se ao seu lado querendo fazer companhia.

- Não fica assim, - dizia Hermione alisando o cocuruto de Harry - ele ainda vai ter o que merece.

A raiva por tudo que o rondava fez Harry não apreciar até mesmo o delicioso pudim de caramelo servido após o almoço deixando-o intacto após quinze minutos de tentativas, sem resultado, de devorá-lo. Rony e Hermione pareciam entender o que se passava no interior de Harry, pois simplesmente permaneciam calados conversando baixinho entre si, como que não querendo incomodar ninguém.

Aos poucos o ânimo de Harry voltava à tona e foi com um pouco mais de esperança que ele partiu, às duas horas, para a sua primeira aula de Defesa Contra as Artes das Trevas.

- Você precisava ver como foi legal a aula do Prof. Flitwick ontem, pena que nem você nem o Rony puderam assisti-la. - comentava Hermione pela primeira vez desde que saíram do Salão Principal, já à porta da sala da Profa. Willa.

Girando o trinco da porta Harry se viu em um dos lugares mais estranhos que se pode imaginar. Parecia estar em uma espécie de campo de treinamento, de teto um tanto alto para uma sala comum, possuía um solo de barro batido, bem como mesas feitas de madeira tosca e além de tudo com enormes caixas cobertas por cortinas negras encostadas nas paredes. De algumas caixas estranhos ruídos eram emitidos. Murmúrios, ganidos; não deixavam de demonstrar que alguma coisa muito interessante estava escondida sob aquele manto.

O centro da sala estava livre de qualquer objeto bizarro, nele encontravam-se apenas almofadas, feitas de um emaranhado de palha seca enrolada em sacos feitos de fio de náilon, que se amontoavam, ao redor do que devia ter sido uma fogueira.

- Onde é que estamos? - Harry ouviu Hermione falar para si mesma enquanto aproximava-se cautelosamente do centro do lugar.

- Essa professora é mesmo normal? - assustava-se Rony com um cacarejado que vinha de uma caixa a poucos metros de distância.

Harry permaneceu em silêncio e sentou-se em uma das almofadas observando tudo aquilo e fingindo não ouvir vozes místicas que insistiam em rondar aquele lugar. Aos poucos a sala enchia-se de alunos, que também assustados, sentavam-se vagarosamente sobre as almofadas aguardando a tão esperada Profa. Willa.

A mesma não tardou a chegar e a sua simples presença fez com que todos os murmúrios, até mesmo os das caixas encobertas, cessassem instantaneamente.

- Bom dia! Espero que tenham gostado desse nosso mais novo ambiente que a mim é tão agradável. - sorria a Profa. Willa e a sala de repente parecia ter se tornado algo mais belo e apreciável - Acomodem-se por favor. Hoje conheceremos os Hookboosters.

Muitos alunos esbugalharam os olhos e encolheram-se rapidamente, parecendo incomodados. A professora guiou-se ao centro do círculo formado pelas almofadas de palha e conjurou uma caixa negra de tamanho maior que um livro. Abrindo a parte superior um cheiro aconchegante invadiu o lugar enquanto estrelinhas douradas eram impelidas por todos os cantos deixando tudo belo e lúcido.

- Isso é que é um Hookbooster? - perguntava Neville espantado apontando para as estrelinhas flutuantes - Pensei que eles fossem negros e tivessem chifres! - Harry achou que isso sim é que deveria ser um motivo para espanto.

- Sim, eles possuem chifres. Mas alguém me ouviu dizer que isso são Hookboosters? - respondeu a professora arrogantemente, mas ainda assim deixando tudo mais calmo e belo. - Essas “estrelinhas” são apenas Pó de Chifre de Unicórnio cristalizados em essência de Morton. - explicava a professora como se todo mundo soubesse o que ela dizia - Você acha mesmo que eu iria soltar um Hookbooster aqui sem antes deixar o lugar pouco propício a ele?

Nisso Hermione agarrou a barra das vestes de Harry que viu alguns outros colegas empunharem desesperados as varinhas.

- Você disse que vai soltá-lo? - perguntou Simas, uma expressão de terror fazendo-se em seu rosto.

- Claro! Qual seria a graça se ele ficasse preso? - ironizava Willa agora sem aquele tom tão bondoso.

- Ma-mas eles são violentos... São mortais! - gritava Dino ficando de pé, a varinha já empunhada.

- Você não confia em mim? - dizia a Profa. Willa, as lágrimas percorrendo os seus olhos - Menos quinze pontos para a grifinória por sua falta de confiança a uma professora tão, tão... Tão como eu. Agora quero que vocês deixem de idiotice - mudava a professora de um gaguejado para uma voz enraivada - e se preparem para o que tenho para mostrar.

A turma se silenciou e a Profa. Willa guiou-se até um canto de parede onde havia uma enorme gaiola coberta por um manto cor de vinho, acenou com a varinha e a caixa flutuou poucos centímetros do chão e seguiu-a até o centro da classe. Harry viu alguns alunos da sonserina parecerem estranhamente inquietos e Crabbe parecia estar com alguma coisa entalada na garganta.

- Aqui está o nosso Hookbooster. Não quero histerismo nem nada do gênero. Ele nem é adulto. Quero apenas que fiquem atrás daquela linha azul - e no chão uma linha azul se fez - com as varinhas em punho. Espero que tenham me entendido, sem histerismo.

Os alunos rapidamente encaminharam-se para trás da linha azul e sem maiores movimentações empunharam as varinhas, afastando-se o máximo que podiam do centro da sala. Parte de Harry estava interessada em descobrir porque os olhos de todos tremiam ao ouvir o tolo pronunciar da palavra Hookbooster, mas o mesmo não se precipitou e seguiu o exemplo dos mais apavorados.

- Muito bem. Aqui está o nosso convidado. - anunciou a professora retirando o manto cor de vinho e fazendo gritinhos escaparem por todos os lugares.

Depois de ter visto o que havia na gaiola, Harry se achou um estúpido ao ter se assustado por tão pouco. Afinal, para quem já havia visto um testrálio, um enorme casulo negro e espinhoso com duas caudas não era nada de mais. Ali estava o Hookbooster, imóvel feito uma pedra no centro da gaiola, a coisa mais desinteressante que Harry podia ter imaginado.

- Agora ele vai se mostrar verdadeiramente. - sorriu a professora sacudindo a varinha e com isso uma brisa afastou as estrelinhas brilhantes do centro da sala.

Um tremor se fez quando a gaiola começou a se partir e as duas caudas do Hookbooster chocaram-se com o chão. Muitos alunos gritaram e se encolheram nos cantos de parede ignorando os olhares espinhosos da Profa. Willa.

Harry deu um passo para trás quando quatro enormes e peludas pernas brotaram do casulo e em sua fronte um chifre cor de sangue começou a surgir...

- Isso sim é algo para se ter medo. - pensava Harry forçando um par de pernas trêmulas a permanecer em pé.

Ali estava o temido Hookbooster com suas quatro e peludas pernas negras, um chifre pontudo e avermelhado, duas caudas espinhosas e um enorme e grosso casulo em suas costas.

- Quando eu gritar três quero que todos vocês estuporem-no, O.K.? - gritava a Profa. Willa o máximo que podia tentando abafar os gritos horrendos do monstro - Três, dois e...

O monstro movera-se velozmente e chicoteara o rabo no tronco da Profa. Willa, que fora lançada velozmente por sobre as mesas de madeira. Em um ato impensado Harry atravessou a risca azul apontando a varinha para o monstro e gritou: Estupefaça.

Um raio vermelho sobrevoou toda a sala e atingiu em cheio o casulo do monstro, mas não surtiu o menor efeito.

- Estupefaça. - gritou Harry novamente, tentando agora atingir uma das caudas do monstro. O outro lampejo apenas colidiu na cauda da esquerda e ricocheteou nas paredes atingindo Neville no peito. - NINGUÉM VAI TER A CORAGEM DE ME AJUDAR? - desesperou-se Harry, enquanto jogava-se no chão desviando de uma chicotada nas pernas.

Um risco vermelho passou zunindo por suas orelhas e atingiu a parte superior do chifre do Hookbooster... Ele tombou para a direita e virou-se agressivamente para o lado de quem o incomodara.

- É agora. - pensou Harry, aproveitando-se que o monstro ficara de costas para ele e se jogando sobre o seu casulo. Era algo frio e duro que emitia um gás inodoro por uma cavidade cercada de espinhos. O monstro parecia não perceber que alguém se alojara em suas costas, mas fazia esforços para ficar de pé; e levantou-se revelando ter pouco mais de cinco metros de altura... Harry sentiu as suas costas se chocarem com o teto da sala e cada vez mais sentia os seus ossos querendo se rachar. Em desespero enfiou a varinha por entre os espinhos do casulo e gritou o primeiro feitiço que lhe veio à cabeça: Incendium.

Harry não soube a seqüência exata do que acontecera depois das chamas adentrarem pela cavidade espinhosa do casulo do monstro, só sabia que alguma coisa pressionava fortemente o seu estômago deixando-o impossibilitado de respirar.

- Harry, você está bem? - gaguejou Hermione, olhando nervosamente para o garoto.

- Meu estô... quer ar. - balbuciava sem fôlego e logo sentiu algo sendo arrastado de sua barriga para o chão.

Erguendo um pouco a cabeça avistou um enorme chifre avermelhado caído ao seu lado e próximo a sua barriga uma enorme perna peluda jazia, ainda em movimento. Levantando-se por completo percebera o estrago que fizera. Lá estava o Hookbooster caído no chão, talvez morto, com o casulo quebrado em quatro partes e expelindo fogo pelo o que deveria ser os seus olhos.

- É. Você conseguiu. - Harry escutou a Profa. Willa dizer antes de desmaiar sobre os ombros de uma garota da Lufa-Lufa.

- Você foi demais, Harry. Simplesmente o melhor. - sorria Hermione para ele, as mãos trêmulas.

- Quem foi que disparou aquele feitiço estuporante no chifre dele? - perguntou Harry curioso, alisando o estômago que doía.

- Adivinha só? - balbuciou Rony tristemente.

Draco passara por Harry, esbarrando em seu ombro, com um sorriso maldoso abandonando propositalmente um bilhete e retirando-se da sala acompanhado por Crabbe e Goyle. Harry abaixou-se, apanhou o pergaminho, desdobrou-o e leu: “Dívida de Bruxo”.

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