Um novo começo
Mais um ano começa em Hogwarts. Harry, Rony e Hermione se preparam para seu sétimo ano. A cerimônia de seleção revela, entre outras surpresas, a entrada do primeiro mestiço na Sonserina desde a saída de Tom Riddle.
Max Togwar, filho de mãe bruxa, de família antiga e tradicional, e pai trouxa, é recebido friamente na mesa de sua casa, sem os tradicionais aplausos de boas-vindas dos alunos veteranos. Os únicos que aplaudem são os professores.
- Que coisa estranha...
- O que, Mione?
- Olha a cara do Snape... Ele não parece surpreso... – diz Hermione com ar pensativo.
- Vai ver, é desgosto. – diz Harry, olhando de relance para o professor.
- Ou está tão chocado que não consegue reagir. – diz Rony, olhando para a mesa da Sonserina, vendo os alunos desviarem o olhar do novo aluno e se espremendo para ficarem o mais longe possível dele, como se o garoto tivesse alguma doença contagiosa.
- Acho que não... Mas, de qualquer forma, Rony, somos monitores. Precisamos ficar de olho, para ver se não acontece nada com ele.
- Sei. E você vai fazer o que? Transferir ele para cá, caso aconteça alguma coisa?
- Não, Rony. Avisar Dumbledore. – corta Harry, muito irritado. – o pai dele foi morto por Lucius Malfoy. O que você acha que Draco vai fazer? Defendê-lo ou joga-lo para os leões?
- Então ele não é bruxo?
- Bom, se ele está aqui, algum poder ele tem, concorda? – aparta Hermione – além do mais, a mãe dele é bruxa.
- Como vocês sabem disso? Passamos boa parte do verão juntos e eu nunca ouvi falar desse cara. – Rony, com cara de magoado se vira para Harry. – e essa história do Malfoy? Como você sabe disso?
- Dumbledore me contou, na reunião dos monitores chefes, que havia um aluno novo que eu precisaria ficar de olho. Ele disse que tinha medo que o pior acontecesse. E aconteceu. O garoto foi parar na Sonserina.
- E eu estava presente quando Lucius atacou a casa a casa de Lupin, lembra? Foi quando eu acordei em St. Mungus que eu me lembrei. Quando ele aparatou do lado de fora, Lupin me empurrou pela porta dos fundos e me mandou correr. Saí pela rua, não vi o carro, e trombei com ele. Caí, o homem que dirigia saiu para me socorrer. Nisso, Lucius jogou um Avada que rebateu no pára-choque do carro e pegou no motorista, não em mim. O resto, só perguntando para o Lupin. Só sei que, quando eu acordei, tinha uma bruxa chorando perto da minha cama. Quando ela percebeu que eu tinha cordado, me perguntou se o marido dela tinha sofrido. Eu disse que não e ela me pediu para cuidar de Max, filho dela, que tinha recebido a carta de Hogwarts dois dias antes. Dumbledore me contou mais detalhes, mas, no geral, é isso aí.
- E tem mais, Rony. Dumbledore me contou que teremos professores novos esse ano. Com o afastamento da McGonagall, a mudança no Ministério e a viagem do Hagrid e do Lupin, teremos muitas novidades no discurso – diz Hermione com cara de enterro.
- Os professores não vão ser apresentados? Cadê todo mundo?
Hermione olha para a mesa principal e vê que Rony tem razão. Só estão presentes, além de Dumbledore e Snape, que conversam em voz baixa, o professor Flitwick, a professora Sinistra e a professora Sprout. Todos calados e olhando firmemente para os pratos à frente.
- Ele não vai falar, não? Estou com fome... – diz Rony, apertando a barriga.
Como se ouvisse Rony, Dumbledore se levanta e começa:
- Bem-vindos, alunos de Hogwarts. Tenho vários e importantes assuntos a tratar com vocês antes de dar início ao nosso banquete de abertura – olha gravemente para as quatro mesas e continua – como podem perceber, teremos muitos professores novos este ano. Nossos antigos professores, de maneira geral, gozam de boa saúde e estão se dedicando a lutar na guerra que, infelizmente, se desenrola em nosso mundo. Não darei detalhes agora, mas estou preparando boletins que aparecerão nos quadros de avisos de suas casas. Apenas vou adiantar que todos estão vivos e bem, com exceção do professor Binns, é claro.
Uma risadinha forçada cruza as mesas. Dumbledore conseguiu contar a piada mais sem-graça de sua existência.
- De qualquer forma, os novos professores serão apresentados vocês no final do discurso. Em relação ainda às novidades, espero que os alunos veteranos – e olha friamente para a mesa da Sonserina – recepcionem bem seus novos integrantes. Disse várias vezes nos últimos anos e friso agora: não importam nossa origem ou nossos antepassados, o que realmente importa é a nossa índole e o nosso coração. De qualquer forma, os avisos dados nos outros anos valem para todos: a Floresta Proibida é vetada a todos, somente os alunos dos terceiros anos em diante podem visitar Hogsmeade e a lista de objetos proibidos está com o Sr. Filch, nosso zelador. Maiores detalhes serão fornecidos pelos chefes de suas casas, em reunião amanhã pela manhã. Quero apresentar o professor Severus Snape, chefe da Sonserina e atual vice-diretor geral, que irá fazer a apresentações dos novos mestres.
Rony, Harry e todos os demais alunos, com exceção de Hermione e Draco, olham estupefatos para Dumbledore, que se senta com ar cansado, enquanto Snape se encaminha à frente e continua:
- Obrigado, profº Dumbledore. Como já dito, sou o atual vice-diretor do colégio e chefe da casa Sonserina. Sou mestre em Poções, ministro essa matéria para todos os anos e, neste primeiro trimestre, também acumularei a função de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.
Os queixos dos alunos caíram. O pior dos piores pesadelos acabava de se tornar realidade.
- Gostaria de apresentar meus colegas. Prof. Flitwick, mestre em feitiços e chefe da casa Corvinal – breves aplausos dos alunos, ainda chocados com a notícia, acompanharam mais um escorregão cadeira abaixo do diminuto professor – prof. Sprout, professora de Herbologia e chefe da casa Lufa-Lufa, e prof. Sinistra, de Astronomia.
Snape desce do tablado, segue até a porta principal do salão e volta acompanhado de sete pessoas, que se enfileiram e são apresentadas por ele:
- Gostaria de apresentar nossos novos mestres: Prof. Amorphis, de Transfiguração, transferido de Beauxbatons; Prof. Smilla, de Trato de Criaturas Mágicas; Prof. Balthus, de Aritmancia e Adivinhação; Prof. Jones, de História da Magia; Norton Douglas, nosso novo Guarda-caça; prof. Krum, de Vôo; e prof. Schell, de Estudos Trouxas.
Uma comoção toma conta dos alunos “Krum? É ele mesmo?”. O burburinho pára quando todos olham para Snape e a nova professora, que se cruzam. Um leve aceno de cabeça e um discreto sorriso de Snape acompanham à jovem professora em sua passagem. Gestos suficientes para os alunos se perguntarem quem de fato estava ali, se era o tão temido professor de Poções ou algum alien ou algo do gênero.
Quando todos se acomodam em seus lugares, Dumbledore novamente se levanta e dá início ao banquete.
- Vocês viram?
- O que Rony? Qual das novidades? O professor com cara de múmia da Beauxbatons? O fato de duas matérias de adivinhação totalmente contraditórias serem dadas pelo mesmo professos? Krum dando aulas de Vôo? O professor de História ser praticamente da nossa idade? Ou o fato do Snape sorrir para a professora de Estudos Trouxas? – Hermione fala rápida e muito rispidamente.
- Calma, Mione – Harry corta – Qual delas, Rony?
- O Snape... Ele pode sorrir... – Rony, com a cara mais chocada do mundo, completa – e conversa! Olha lá! – aponta discretamente para a mesa dos professores – Olha lá! Ele está conversando com a Schell, como pode?
De fato, o mestre em Poções e a jovem professora de Estudos Trouxas conversam em voz baixa, mas muito animadamente.
- Como pode? Bonita, trouxa, amiga do Snape...? Esse tipo de coisa não pode caber na mesma frase.
- Bom, Rony, eles estão conversando, não estão? Coma, aproveite o que pode ser a última refeição tranqüila da sua vida – Hermione diz muito sombriamente.
Depois que o último pedaço de sobremesa é devorado, Dumbledore se levanta e diz:
- Senhores, peço gentilmente que sigam para seus dormitórios com seus monitores e chefes-de-casa. Alunos da Grifinória, por favor, fiquem. Algumas informações ainda precisam ser passadas aos senhores.
Os alunos, lentamente, se retiram. Ficam apenas os Grifinórios, Dumbledore e o novo professor de Transfiguração.
- Antes que vocês me perguntem, A Prof. McGonagall está se recuperando muito bem, mas ainda está em St. Mungus e seu estado inspira, ainda, alguns cuidados. Como vocês ficaram sem chefe de casa, o Prof. Amorphis irá assumir o cargo. Ele é, como vocês verão, uma pessoa muito especial. John, por favor – e faz um gesto abrangendo os alunos.
- Obrigado, Dumbledore. Senhores, lamento muito profundamente o afastamento da Prof. McGonagall, talvez até mais que vocês. Antes que os inevitáveis boatos surjam, serei breve e claro. Minerva McGonagall é minha tia e sou Grifinório, como vocês. Podem consultar os álbuns de formatura. Estou lá, um pouco diferente, é claro; mas estou. Espero, apenas, ser justo e corresponder à altura do cargo. Obrigado.
- Muito bem, senhores. Boa noite.
Todos os alunos se encaminham, em silêncio, para a torre da Grifinória, totalmente anestesiados com tudo o que ouviram.
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Enquanto isso, na sala comunal da Sonserina, acontece um tumulto generalizado. Todos estão revoltados e gritam com o aluno novo, que chora encolhido em um canto. O mais raivoso, sem dúvida, é Draco, que humilha o pobre garoto sem dó. Ninguém percebe quando a porta da masmorra se abre e o chefe da casa se coloca ao fundo, apenas observando. Gradualmente, conforme sua presença vai sendo notada, o silêncio vai se alastrando.
- ... e fique sabendo, seu sangue-ruim, que se a Sonserina perder um ponto que seja por sua causa, vou pessoalmente...
- Vai fazer o que, Sr. Malfoy? – Pergunta o professor com sua voz mais letal. Draco fica vermelho e começa a gaguejar.
- Na-nada, professor. São apenas advertências.
- Advertências, ou não, Sr. Malfoy, devem ser dirigidas, principalmente aos membros de nossa casa, com respeito e serenidade, não como um cão raivoso, babando e tremendo.
Risinhos abafados surgem aqui e ali. Snape dirige o mais frio dos olhares aos sonserinos e diz:
- Estou atendendo a um pedido pessoal do diretor em relação ao Sr. Togwar. Espero que minhas intenções estejam claras. Caso algo aconteça a ele, pesadas conseqüências se abaterão sobre os senhores, estejam avisados. Sr. Togwar, me acompanhe.
O menino, visivelmente aterrorizado, acompanha o professor até a sala de aula. Entrando na masmorra escura e fria, mal consegue limpar as lágrimas que caem.
- Lucy, preciso de sua ajuda! – Brada o professor. Uma porta lateral se abre e a nova professora de Estudos Trouxas entra.
- Diga Severo... Por Merlin! O que fizeram com ele?
- Acho que nada físico. Mas veja se pode ajuda-lo, sim? Você me conhece.
- Claro, Severo, pode deixar... Venha cá, Max – pega o menino pela mão e o faz se sentar em um banco próximo. Enxuga as lágrimas do menino, olha nos olhos dele e diz – Você não sabe o quanto eu já passei por isso também... Você tem alguns poderes, querido?
- Sim, professora. Puxei pela família da minha mãe.
- Ótimo, querido, menos mal – se vira um instante e chama – Severo! – o professor apenas coloca a cabeça para fora da sala contígua, com ar de interrogação – qual elfo devo chamar?
- Twinky, ela é que está destinada para você.
- OK! Twinky!
Com um breve estalo aparece a elfa, com um ar muito deprimido. Assim que vê a professora e o menino, seu semblante melhora. Um leve sorriso aparece:
- Sim, mestra Schell?
- Twinky, por favor, este menino precisa de uma xícara de chocolate, poderia providenciar? Alguns sanduíches e chá para mim e para o Prof. Snape também seriam muito bem-vindos.
- Num minuto, mestra Schell – e some com um leve estalo. Exatos 60 segundos depois, ressurge carregando duas enormes bandejas com chá, chocolate quente, sanduíches e várias outras coisas. Carrega também um imenso sorriso – Mais alguma coisa, mestra?
- Não, Twinky, muito obrigada.
- Ao dispor, mestra – e some com um estalido.
- Max, ouça, sei que nada do que eu disser agora vai aliviar o que você está sentindo. Acabou de perder seu pai, foi convocado para cá, seus colegas estão sendo cruéis, mas quero que saiba que pode contar comigo, com o Prof. Snape e com o Prof. Dumbledore para o que precisar. Não tenha vergonha de procurar os monitores das outras casas, eles estão avisados sobre a sua situação e vão ajudar, também. Tome, pegue aqui – passa uma xícara de chocolate quente para o menino – tome tudo. Vou deixa-lo por alguns instantes, ok? Preciso dar uma palavrinha com o Prof. Snape.
O garoto apenas mexe com a cabeça, enquanto enxuga as últimas lágrimas.
Lucy se levanta e segue até o gabinete de Snape.
- Severo, você ainda tem daquela poção para dormir sem sonhar?
- Não, meu último estoque está com Papoula. Ele vai precisar?
- Não sei. Deixei-o tomando chocolate, não sei se vai adiantar. Severo, estou preocupada...
- Com ele? Não fique. A fúria de Draco é mais barulho que estilhaço, vai passar.
- Não, não com ele, comigo. Será que as defesas que você e Alvo me deram vão ser suficientes?
- Terão que ser Lucy. Não poderei ficar ao seu lado sempre, acumulando quatro funções.
- Sei disso, só estou falando. Será que Papoula ainda está acordada?
- Acha mesmo necessário mandar ele pra lá?
- Acho.
- Tudo bem – pega um pouco de pó de flu e joga na lareira – Madame Pomfrey?
- Sim, professor?
- A Prof. Schell que falar com você.
- Diga, Professora?
- Por favor, Papoula, você ainda tem daquela poção para dormir sem sonhar?
- Acho que nosso novo aluno vai precisar.
- Sim, tenho. Mas preciso examina-lo antes.
- Claro, vou leva-lo.
A fogueira volta ao normal. Severo se aproxima de Lucy e gentilmente a abraça por trás.
- Promete que ele ficará bem?
- Lucy, apenas posso prometer que, se algo acontecer a ele, o aluno responsável será punido.
- Não sei... Bom, você conversou com ele, o que acha?
- Não conversei, trouxe ele direto pra cá.
- Bom, acho melhor ir vê-lo.
Deu um beijo rápido em Snape e voltou para a sala. Encontrou o menino adormecido em cima da carteira, visivelmente exausto. Tinha tomado o chocolate e comido algumas coisas, mas tudo estava lá praticamente intacto. Pegou o menino no colo, levou para a sala comunal, o ajeitou na cama e voltou para a masmorra de Snape, levando as bandejas.
- Quer comer alguma coisa? Você quase não jantou.
- Tem sanduíche de queijo?
- Tem, tome.
- Falei com Papoula, avisei que não seria mais necessário ele tomar a poção, mas ela me pediu para levar o garoto lá amanhã cedo.
- Pode deixar que eu levo – Lucy se senta em uma poltrona, mexendo uma xícara de chá – sabe, parece que eu estou me vendo refletida nesse menino. E olha que ele tem poderes, ainda poderá se defender, não vai precisar ficar no bolso dos professores como eu.
- Se acalme, Lucy. Dumbledore nomeou Granger para cuidar dele. Ela pode ser... Como direi?... Bem assertiva quando se trata de seus interesses e obrigações. Nada de grave acontecerá a ele.
- È o que espero, Severo. È o que espero. Vou me recolher, você vem?
- Claro.
Encaminham-se para o quarto, cada um com a cabeça mais pesada que o outro, pensando em seus problemas.
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