Parte V



Parte V
Tarde da noite, três fortes estalos ecoaram beco meio sombrio situado em um vilarejo próximo a Godric’s Hollow, assustando um gato que ressonava tranquilamente dentro de uma caixa puída de madeira. A seguir houve um breve resmungo, que foi prontamente repreendido por uma segunda voz.
-Ah, francamente! – a voz que resmungou retrucou, meio carrancuda. – Com tanto lugar para aparatar, tínhamos que vir justo num que abriga um gato idiota que nos faz o favor de avisar para todo mundo que estamos aqui?
-E eles terão ainda mais certeza de que tem três elementos estranhos aqui se vocês continuarem com essa discussão! – uma terceira voz foi ouvida, soando repreensiva. – Portanto, quietos, os dois!
Hermione fez um muxoxo enquanto Rony tornou a resmungar algo baixinho.
-Temos que evitar usar magia a partir daqui, eles podem ter colocado algum feitiço de rastreamento na área; eu sei que vamos procurar pela outra extremidade da floresta, mas é só por prevenção. – Mione comentou, ignorando a repreensão de Gina. O local estava tão escuro que ela mal podia enxergar a amiga, mesmo ela estando ao seu lado.
-Oh, sim, e o que foi que acabamos de fazer, Mione? – Rony questionou num tom cético. A morena revirou os olhos e apenas tirou uma mochila dos ombros, passando a revirá-la calmamente. Instantes depois, os três foram completamente iluminados pela luz que saia de uma lanterna.
-Melhor assim. – a morena sorriu e, virando-se para os dois, estendeu objetos iguais.Gina tomou uma para si e a acionou rapidamente, começando a andar em direção à saída sem pestanejar. Rony, no entanto, ainda lançava um olhar estranho ao objeto nas mãos de Mione.
-Eu tenho mesmo que usar isso? – ele questionou, desanimado, enquanto guardava a varinha no bolso de trás do jeans que usava.
-Vocês vão vir ou não? – Gina questionou, voltando a luz da lanterna para a direção deles, estando a uma distância mais do que considerável.
-Toma logo, Rony! Ou será que você não é capaz de usar uma simples lanterna? –Hermione rebateu, praticamente empurrando o objeto nas mãos do rapaz. Rony fez uma breve careta e o examinou por alguns instantes.
-Mas... – ele murmurou para si e, depois de um pequeno impasse, conseguiu acionar a luz da lanterna. – Ah, então é assim? – disse num largo sorriso, voltando a atenção para Mione, mas ela não estava mais ao seu lado. O rapaz olhou ao seu redor e, num leve sobressalto, constatou que ela já seguia em direção à Gina. Bufou de raiva mais uma vez e começou a caminhar em direção a saída com passos apressados. – Esperem, vocês duas!
Eles prosseguiram em profundo silêncio. Saindo do beco, eles tomaram uma rua de casas enfileiradas, com suas luzes apagadas. Os poucos postes dali não proporcionavam uma iluminação maior do que uma penumbra. A lanterna de Rony, que estava na retaguarda, ia e vinha pela rua irregular de pedras enquanto ele observava tudo ao seu redor com um olhar atento.
-É a minha impressão, ou esse lugar está abandonado? – ele questionou num ar pensativo.
-São quase duas da manhã, Rony. É óbvio que não tenha pessoas na rua. – Hermione respondeu rapidamente. – Além do mais, não estamos em terreno trouxa agora.
-E vocês chamam isso de serem cautelosos? – o ruivo questionou, sisudo. – Eu entendo que aparatar em terreno bruxo não vai atrair muita atenção, mas, e essas lambermas?
-São lanternas. – Gina corrigiu, de imediato. – Elas são necessárias porque vamos precisar delas quando alcançarmos a floresta. – ela completou, apressando ainda mais o passo.
Eles não demoraram muito para avistar uma pequena praça, que parecia ser o local para onde todas as ruas do vilarejo convergiam. Em seu centro, havia uma suntuosa fonte da qual jorrava uma água cristalina; e de um banco próximo a ela, um gato preto os observava com seus olhos dourados e perspicazes.
Rony parou, lançando um olhar estranho para o animal, que os encarava de uma maneira meio suspeita, igualzinho a gata do zelador de Hogwarts, Argo Filch, quando sabia que os alunos estavam fazendo algo de errado. Instintivamente, levou a mão à varinha e apontou para o animal, que permaneceu imóvel. Murmurou um feitiço de revelação, mas nada aconteceu. Ainda ante o olhar penetrante do animal, pôs a varinha de volta ao bolso e respirou um pouco mais aliviado. Não era nenhum animago.
-Rony, o que você está fazendo aí parado? – Gina questionou, impaciente. – Vamos logo!
Ele apenas resmungou uma resposta antes de lançar um último olhar para o animal e recomeçar a andar. O animal os seguiu com o olhar e, depois de alguns instantes, desceu com leveza do banco onde estava e perdeu-se na meia-luz de uma rua qualquer.

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-Já está amanhecendo... – Hagnes comentou, pensativa, enquanto fechava as cortinas e voltava o olhar para o rapaz que estava sentado na poltrona próxima à lareira, abraçado às próprias pernas. – Sua coruja sumiu desde ontem à noite; isso não o preocupa?
Harry não respondeu, apenas continuou a apreciar o calor que emanava do fogo crepitando a sua frente, que lhe aquecia o corpo. Para falar a verdade, ele ainda custava a acreditar que estava ali e que permitiu que Hagnes o amparasse em seus ombros e praticamente o arrastasse até ali, com o intuito de que ele saísse um pouco daquele quarto que lhe serviu de refúgio nos últimos tempos.
-Ela deve estar caçando. – ele murmurou depois de um tempo, soando meio evasivo, encolhendo de leve os ombros.
-Eu não estou falando disso; e nós dois sabemos muito bem que você está ciente do assunto abordado aqui.– Hagnes prosseguiu calmamente. – Edwiges é mais esperta do que imagina; você a subestima se pensar que ela vai deixar as coisas como estão. Ela conhece mais de você do que imagina que ela conheça, Harry; e você sabe o que ela deve estar fazendo agora.
Ele apenas suspirou e se encolheu um pouco mais entre as cobertas, descansando o queixo num dos joelhos; seus olhos fitavam o fogo da lareira sem o enxergar realmente. Hagnes esperou, em silêncio, que ele se manifestasse, mas não obteve resposta alguma.
-Você sabe que eles vão vir... O que você vai fazer, Harry? – ela questionou, aproximando-se dele calmamente. – Você não pode ficar se escondendo deles por muito tempo.
-Eu sei, mas as coisas não são assim tão fáceis, Hagnes. – ele murmurou depois de um tempo em silêncio.
-Mas fugir nem sempre é a melhor solução, Harry.
-Sim, pode não ser das melhores; mas para mim é mais do que suficiente. – ele falou num suspiro cansado, abandonando a posição em que estava e voltando a firmar os pés no chão devagar. Ele se preocupou em ajeitar a coberta sobre o corpo por um período antes de esboçar um ar meio contrariado. – Pode me ajudar? Eu quero voltar para o quarto agora. – murmurou rapidamente, arrancando um breve sorriso de Hagnes.
-Vejo que está progredindo um pouco...
-Às vezes temos que aprender a conviver com nossos limites, mesmo que não o aceitemos de fato. – ele respondeu num resmungo, enquanto Hagnes o ajudava a se levantar da poltrona. Ela tornou a sorrir.
-Ainda assim é um começo. – ela ressaltou, sustentando-o pelos ombros, ajudando-o a voltar ao quarto calmamente. Um pouco depois dos dois sumirem por um pequeno corredor, um gato preto pulou para dentro de casa através de uma janela entreaberta e se aconchegou na poltrona em que Harry a poucos instantes havia ocupado.

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-Gina, se acalme; não está vendo que ela precisa descansar? Você não é a única a estar ansiosa ou preocupada aqui, mas precisa se lembrar que a Edwiges é só uma coruja!
Ela apenas respirou fundo e voltou a se sentar junto do irmão e da cunhada. Eles estavam no meio de uma clareira da floresta e, apesar do sol já estar alto, a temperatura estava ligeiramente agradável. Depois de horas de batidas mata adentro, Hermione avistara Edwiges pousando num galho de uma árvore próxima de onde eles estavam. Ao que tudo indicava, o animal pressentiu que eles iriam procurá-la e, de alguma forma, também parecia estar fazendo o mesmo em relação a eles.
A morena não conteve um grito de surpresa e a coruja, ao se dar conta da presença dos três, piou baixinho e voou imediatamente ao encontro deles, pousando no ombro de Hermione em seguida. Gina, eufórica, tratou de perguntar a ela onde Harry estava, mas tudo o que obteve um “Ela está cansada” de Hermione e um “Nós também estamos, então, vamos parar” de Rony como resposta. E depois de muitos protestos, ela acabou por ceder um pouco e esperar. Agora, Edwiges lançava um olhar estranho para as migalhas de pão que o ruivo tentava empurrar para ela.
-Parece que ela não gostou muito... Será por que ela sabe que eu não sou o Harry? – Rony murmurou num tom ofendido.
-Ou então, ela não está com fome necessariamente. – Hermione falou como se aquilo fosse óbvio, enquanto retirava uma garrafa de dentro da mochila e despejava um pouco na tigela em que antes estavam alguns sanduíches que a morena trouxera para a viagem. Quase que automaticamente, a coruja sacudiu as penas brancas e se aproximou da vasilha com água, sorvendo-a em grandes goles. – Ela está com sede. – ela completou num meio sorriso. Gina apenas suspirou, ainda um tanto quanto irriquieta.
-Nós estamos perdendo tempo aqui parados. – ela murmurou, olhando tudo ao redor com um ar aborrecido. – Harry pode estar aqui em qualquer lugar, precisando de nós... E, aqui estamos, sem fazer nada.
-Gina, por favor! – Mione protestou, sisuda.
-Por favor? Por favor?– a ruiva retorquiu numa voz impaciente. – Ele pode estar aqui perto de mim... Em qualquer lugar, Mione! Como você quer que eu fique? Como você acha que eu estou me sentindo agora, depois de tudo o que aconteceu? – ela lançou um olhar significativo para a cunhada, ao que ela respirou fundo. Rony as observou com um ar tipicamente desconfiado, mas não disse nada.
O silêncio reinou entre eles. Gina ainda mirou Hermione de forma ofendida por um tempo antes de abraçar as próprias pernas e descansar o queixo nos joelhos, ofegante. Logo sentiu o afago incerto e desajeitado do irmão em seus cabelos e encolheu-se ainda mais, tentando aplacar o misto de sentimentos que a arrebatava por dentro.
-Vai ficar tudo bem, Gina. – Rony murmurou ao que ela apenas assentiu num meneio de cabeça e suspirou, reprimindo as lágrimas que queriam escapar dos seus olhos mais uma vez.
Depois de minutos que, para Gina, durara uma eternidade, Edwiges soltou um pio alto e levantou vôo. Ela se levantou, num ímpeto, passando a correr floresta adentro, buscando não perder o animal de vista, sem se importar em confirmar se estava ou não sendo acompanhada por Rony e Hermione. Dentro de si apenas queimava a esperança de que Harry estava vivo e que ela iria, agora, encontrá-lo.

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Harry acordou com alguma coisa morna e pequena a mexer no seu cabelo. Ainda sonolento, o moreno resmungou para que o deixasse em paz e tornou a fechar os olhos, com o intuito de retornar ao sonho que estava tendo, que nada mais era do que uma boa recordação de tempos atrás. A sua vida atual estava resumida a isso: lembranças...
O carinho prosseguiu e, um pouco mais ciente das coisas ao seu redor, Harry percebeu que havia uma leve pressão de garras sobre suas costas e, num longo suspiro, deu-se conta de quem o havia acordado.
-Edwiges! – ele protestou, carrancudo, recebendo um pio satisfeito da coruja como resposta e um toque do seu bico em seus cabelos. – Eu estava dormindo, sabia? – ele disse num gemido, enterrando o rosto no travesseiro com certa preguiça. – Por que você me... – ele prosseguiu, mas automaticamente parou ao recordar-se das palavras de Hagnes.
Harry, então, se viu muito desperto e, num ímpeto, o rapaz se ergueu da cama, ignorando a sensação de dor que o acometera. Edwiges piou de forma indignada com o súbito movimento do moreno e fincou um pouco mais as garras nas cobertas de Harry, farfalhando as asas numa tentativa de equilibrar-se. O tecido escorregou pelas costas do rapaz e, com um novo pio arrastado, a coruja pulou para o ombro de Harry, que apenas piscava, aturdido; atento aos sons ao seu redor.
O moreno escutou por alguns instantes para notar se havia alguma espécie de movimentação no andar de cima. Edwiges piou novamente e beliscou de leve a orelha dele antes de ir embora, mas Harry não se virou para olhá-la e continuou buscando novos ruídos que lhe indicassem a presença de novas pessoas no local.
Ao dar-se conta de que não havia, aparentemente, ninguém além de Hagnes dentro do casebre, o moreno suspirou, aliviado, e voltou a se deitar com um gemido, enterrando mais uma vez o rosto no travesseiro. E ele já estava quase a pegar no sono novamente quando entreouvira sonoras batidas numa porta.
Pensando que o ruído foi apenas fruto da sua imaginação, o rapaz tornou a resmungar e afundou ainda mais o rosto em seu travesseiro. As batidas soaram novamente; Harry ergueu o rosto e arregalou os olhos ao notar que tudo era bem real. Ignorando a sensação incômoda no seu estômago, ele, inconscientemente, sufocou a respiração e pôs-se a escutar, mais atento do que nunca.
-Boa tarde, senhores... Estão perdidos? – ele entreouviu a voz segura de Hagnes logo depois de um breve ranger de porta.
-Não, senhora. – uma voz respondera de forma receosa. Harry não precisou ouvi-la mais uma vez para reconhecer que era de Hermione. Ele respirou profundamente em resposta. Pelos “senhores” dito por Hagnes, Rony poderia estar com ela... E também...
-Gina... – ele murmurou, sentindo o coração falhar uma batida e um leve arrepio percorrer todo o seu corpo.
-Hagnes. – a voz da própria despertou Harry dos seus pensamentos. – Pode me chamar de Hagnes, se preferir.
-Certo, então... Hagnes. – Mione falou novamente, num tom meio nervoso. – Eu sou Hermione Granger, e estes são Ronald e Ginevra Weasley.
Harry tornou a suspirar e, cruzando os braços sobre o travesseiro, descansou o queixo sobre eles e piscou de modo demorado. O rapaz sabia que, mais cedo ou mais tarde, ele acabariam por achar o seu paradeiro. Em momento algum, Harry chegou a duvidar disso; mas ele sabia que demoraria um pouco mais se Edwiges não interviesse contra ele. Ele havia tomado uma decisão e não estava disposto a voltar atrás. Era o melhor a ser feito.
-Todos apresentados, então. – Hagnes tornou a falar, naquele tom que Harry sabia que ela sempre utilizava com ele quando parecia saber o que lhe vinha em mente. Contudo, não soube precisar se ela o usou por conta de saber que ele estaria escutando, ou simplesmente por algo que percebera somente por observar a feição de seus amigos ou Gina. – Não querem entrar? Acredito que a conversa que querem ter comigo possa ser um tanto quanto longa e presumo que não achem confortável tê-la aqui fora.
Houve um breve silêncio – que Harry deduziu ser devido à uma troca de olhares surpresos entre os três por causa do que Hagnes falara – seguido por um ruído de passos. Ele ouviu Edwiges piar longamente antes que alguém voltasse a falar.
-A senhora... Hum, desculpe, você mora próximo a Godric’s Hollow. – Hermione começou num tom evasivo. – O que eu tenho para dizer é algo delicado; e eu não sei ao certo se está ciente de um acontecimento estranho que ocorreu no vilarejo recentemente...
-Sim, eu estou ciente. – ela disse num tom simples. – Sei também que não foi tão estranho para mim quanto foi para vocês, mas eu conheço toda a verdade. Resumidamente, houve uma batalha entre dois bruxos.
-Hum, você é trouxa ou bruxa? – ele ouviu a voz de Rony soar pela primeira vez naquela conversa, num tom evidentemente curioso.
-Acho que talvez seja um pouco dos dois. – Hagnes falou num tom vago. – É difícil saber, ao certo. Mas vocês não vieram aqui para me perguntarem sobre isso, se eu não estou enganada. – Harry ouviu-a continuar num ar sereno. Havia algo na personalidade dela que lhe lembrava Dumbledore e o rapaz percebeu, naquele momento, que era o fato de ela esperar a palavra dos outros, mesmo que já saiba o que eles realmente desejam manifestar.
-Estamos aqui a procura de Harry Potter. – ele ouviu a voz de Gina soar de modo imperioso e um tanto quanto impaciente. O rapaz sufocou a respiração enquanto sentia um calor subir pelo seu corpo ao ouvi-la novamente; o estômago revirou de modo ainda mais significativo. – Não sei se você o conhece, Hagnes; o caso é que essa coruja que está empoleirada na sua poltrona pertence a ele. Ela me entregou um objeto que pertencia a ele e, poupando-lhe de alguns detalhes, nos guiou até aqui. O que nós gostaríamos de saber é se você possui alguma notícia dele, ou se...
-Não, ele não está aqui. – Hagnes completou num tom impassível. Harry soltou a respiração lentamente e sentiu-se hesitar um pouco; por um breve instante, pensou se aquela foi a melhor decisão, mas preferiu não pensar sobre o assunto enquanto ouvia a mulher continuar. Agradeceu mentalmente a Hagnes por ter aceitado a sua decisão e cumprido a sua palavra, mentindo sobre seu paradeiro. – Assim como Edwiges os guiou até a minha casa, ela me guiou até Harry. Eu o encontrei, desmaiado, no chão da floresta. Eu trouxe Harry até minha casa e cuidei dele, mas lamento dizer que ele já partiu.
-Ele... Partiu? – ele ouviu Rony questionar, meio incrédulo. A desapontamento na voz do amigo estava nítido, mas Harry novamente não quis pensar sobre isso. É necessário, ele repetia para si mesmo, é necessário. – Quando?
-Ontem, pela tarde. – Hagnes explicou lentamente.
-E ele estava bem? – foi Hermione quem questionara dessa vez.
-Posso dizer que sim.
-Como você soube da batalha que ocorreu entre ele e Voldemort? – Gina inquiriu com profundo rancor e Harry sentiu um frio estranho imergir sobre o seu corpo.
-Potter me explicou o ocorrido. – Hagnes explicou, utilizando novamente aquele tom de quem sabia mais do que o outro supunha que ela soubesse. – Conversamos quando ele estava plenamente lúcido. Então, posso dizer que não houve nenhum dano em sua memória, se é isso o que está pensando, Ginevra. – ela prosseguiu gentilmente.
Houve um profundo silêncio e Harry sentiu-se extremamente tenso. Por um momento, desejou saber o que estava acontecendo, mas por fim só quis que aquilo acabasse logo. Ele julgava que, se não estivesse naquele estado, já teria irrompido escada acima e se mostrado para os amigos, desistindo daquela (estúpida) idéia de se afastar deles; de se afastar de Gina. Mas era necessário... Nada poderia voltar a ser como era antes.
-De qualquer forma, obrigada pela informação, Hagnes. – Hermione disse num tom rouco e cortês. – E, desculpe-nos pelo incômodo, nós...
-E o que me garante que ele ainda não esteja aqui? – Gina interrompeu Mione bruscamente. Harry piscou, meio receoso, sentindo o coração bater acelerado contra o peito.
-Gina, por favor! – Hermione a repreendeu quase que imediatamente.
-Por favor digo eu, Hermione! Eu não engoli essa história. – ela disse num ar determinado. Harry trincou o maxilar ao mesmo tempo em que sentia o coração querer voar pela boca. Ele não sabia se por medo de ser descoberto ou pelo efeito que a voz dela, dita nesse timbre, causava nele.
-A minha palavra é suficiente, Ginevra. Mas, no entanto, se ela não basta para você, permito que a confirme com seus próprios olhos. – Hagnes disse num ar sereno e Harry quase saltou da cama devido ao susto. O que ela queria, afinal? Que ele fosse descoberto? Ofegante, o rapaz pareceu ainda mais interessado na conversa entre eles, refletindo se seria ideal ou não ele sair da cama e se esconder embaixo dela. Aquela, em sua opinião, era uma atitude tão estúpida que o moreno sentia seu orgulho protestar, ofendido, e protelava em realizar o que a mente havia idealizado... Mesmo sabendo que era estritamente necessário se desejava permanecer oculto ante os olhos dos amigos e de Gina.
-Eu...
-Não é preciso. – Hermione a interrompeu bruscamente. – Desculpe-me por isso, Hagnes, mas ela está um pouco exaltada.
-Eu não estou exaltada, Hermione! – ele ouviu a ruiva exclamar, num tom de voz meio alteado. – Eu estou muito bem! Só acho estranho o fato de Edwiges nos trazer aqui para nada!
-Ela não os trouxe para nada, Gina, Edwiges os trouxe para que vocês soubessem que ele está bem. – Hagnes se pronunciou, séria. – Eu sei que é doloroso, principalmente para você, imaginar que o Harry não quis vê-los, mas posso dizer que, quando ele se sentir pronto, esteja onde estiver, ele irá até vocês.
-Como você... – ela murmurou num tom meio sufocado e Harry sentiu o coração se contrair bruscamente. É necessário... Não há como as coisas voltarem a ser como era antes, você sabe disso. Ele tornou a repetir em pensamento, de modo firme.
-Porque, quando ele estava inconsciente, foi por você a quem ele chamou, na maior parte do tempo. – Hagnes respondeu num ar gentil. Harry cerrou os olhos fortemente ao sentir que eles arderam um pouco.
O cômodo acima permaneceu no mais profundo silêncio, durante longos minutos. Logo depois, Harry entreouviu Rony, Hermione e Gina se despedirem de Hagnes e andarem até a porta. O moreno escondeu metade do rosto no travesseiro e engoliu um soluço que quis escapar dos seus lábios quando o silêncio tornou a se fazer presente no recinto.
-Foi melhor assim. – ele sussurrou para si, abrindo os olhos esverdeados, deixando uma pequena lágrima escapar pelo seu rosto enquanto apertava a borda do travesseiro com força. – Você sabe que sim, Harry, você sabe...
“... Que jamais irá ser feliz...”.
-E que irei fazer parte de sua vida para sempre...


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N/A: XD. Bem, aqui termina mais um capítulo. / Lisa esperando ameaças de morte e azarações pelo comportamento do Harry /

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