O Duelo



I


Houve um rebuliço imenso à essas palavras. Todos se levantaram e se endireitaram, para no momento seguinte saírem desembestados pela porta. Ninguém dizia nada enquanto corriam pelo corredor, sem saber que direção tomar.

- Pela esquerda - gritou Gina. Seu grande talento era saber pensar rápido. - Usem os miolos; ele vai querer chegar ao hall para aparatar!

Com essas palavras eles foram descendo rapidamente por todas as escadarias. Ao chegarem no primeiro andar, pararam derrapando para dar de cara do Draco dando meia volta.

Seria cômico se não fosse sério. Ao que parecia o rapaz se deparara com o restante do grupo cinco, que agora estava barrando a passagem da escadaria principal da Ala Norte, e tentara sair pelo outro lado.

Agora porém, estava encurralado. Ele virou-se com a mesma pressa com que parara e correu para o meio do corredor.

Parecia extremamente idiota, segurando a varinha inutilmente contra exatos trinta e cinco. Então, claramente percebendo a desvantagem, começou a chamar aos berros alguém.

O pessoal do lado da escada começou a rir. Riram tanto que Draco pareceu completamente ridículo. Mas pararam abruptamente quando Nott voou à frente estuporado por um raio vermelho de um feitiço.

- Vocês ficaram loucos? - perguntou em voz alta um dos bruxos encapuzados que subiam a escada por trás, apontando as varinhas para eles. Eles chegaram realmente à encurralar o restante do grupo cinco. Deviam ser uns quarenta. Pareciam um pouco preocupados em confrontar o temido grupo cinco, que parecera se reunir para dar cabo do Dragão Negro, mas não voltaram atrás.

Até então eles não haviam olhado muito bem para as pessoas no outro extremo do corredor. Tom viu um deles fixar os olhos neles, em ordem, e ir observando gradativamente. Aos poucos a cor foi esvaindo de seu rosto, até que este resolveu recuar o mais rápido que podia.

Então o resto dos Comensais foram olhando. Ficaram perplexos.

- Vejam, é Harry Potter! - exclamou um deles, apontando, surpreso, ainda correndo os olhos pelo grupo. - E… - mas a voz foi sumindo. Seus olhos acabavam de se fixar em Tom.

- …E Lord Voldemort. É - terminou ele para o Comensal, com ironia. O homem parecia que ia ter um ataque.

Draco pressentiu que sua cavalaria parecia disposta a sair correndo à qualquer minuto, então disse, rapidamente:

- Se matarmos todos esses traidores, não teremos com o que nos preocupar depois! - interpelou, sério, para os Comensais da Morte. - E poderemos continuar a destruir os trouxas, e não parar, como esse idiota quer que façamos - falou ele, exasperado, apontando para Tom.

Cerrou as sobrancelhas. Idiota? Era o que veriam.

- Aceita um duelo, Dragão Negro? - perguntou Tom, sobrepondo-se, tentando manter-se indiferente, mas apertando as mãos para impedi-las de tremer tanto de raiva.

Draco arregalou os olhos. Fosse o que fosse que estava pensando, não era aquilo. Ele ficou parado, encarando Tom; parecia estar vendo se era ou não vantajoso tentar uma luta de vida ou morte, na frente de todos. Era óbvio que ele vira que não.

- E-eu… - e olhou para os Comensais, que pareciam querer que ele tomasse alguma atitude. Virou-se enfim para Tom e respirou fundo. - Certo.

Tom sorriu. Se quisesse usar o pentagrama, ganharia facilmente. Mas preferiu não fazê-lo. Ao invés disso, para mostrar claramente que estaria jogando limpo, apenas tirou o objeto do bolso e entregou-o à Gina. Draco arregalou mais ainda os olhos, como se isso fosse possível, quando viu que o pentagrama estava em sua posse.

Enrolou as mangas calmamente enquanto observava o outro, que estava no mínimo pregado no chão de perplexidade. Pelo comportamento dos Comensais, todos silenciosos e apreensivos, eles não o atacariam, como mandava as regras de um duelo. Lentamente, as pessoas ao redor foram se movendo, até formarem um círculo um pouco torto ao redor deles.

- Preparado? - perguntou em voz baixa para o outro, enquanto girava a varinha entre os dedos.

Draco cerrou os dentes. Endireitou-se e segurou a varinha com mais firmeza. Parecia imaginar que se iria morrer, preferia fazê-lo lutando.

Tom deu seu velho sorrisinho torto. Aquilo seria divertido…

Ele fez uma grande reverência, enquanto Draco parecia profundamente relutante. O rapaz mal abaixou a cabeça, parecia temeroso de desviar os olhos dele. Nada poderia definir a satisfação que estava sentindo naquele momento.

Então, ergueu a varinha rápido como nunca fizera. Draco mal percebera o que estava acontecendo, e no instante seguinte já estava sendo atirado longe com um feitiço. Este rolou alguns metros pelo chão de pedra, antes de levantar-se, furioso. Todos observavam em silêncio e pareciam não se atrever a falar algo.

Draco tornou a avançar. Parecia impossível que até na mais remota fantasia de alguém ali presente que o Dragão Negro fosse conseguir sequer arranhar o Lord das Trevas. Parecia claro quem era superior.

Passou-se um tempo em duelo. Tom estava apenas machucando-o um pouco, não estava atacando de verdade, mas Draco parecia ter sido pisoteado por uma manada de búfalos. Tinha vários arranhões e hematomas, mas fora isso estava inteiro, e tirando que estava ofegante de tanto ser atirado longe e levantar-se novamente, estava fazendo mais drama do que o necessário.

Mas Tom cansou-se da brincadeira. Estava ficando tedioso demais.

- Draco - chamou ele. O rapaz levantou o rosto, apoiando o braço no chão para levantar-se pelo que parecia ser a trigésima vez. Ele fez uma cara irônica de quem tinha muito pesar em fazer o que faria. - Sinto muito. [i]Crucio[/i].

Draco havia sido pego de surpresa. Caiu no chão gritando e se contorcendo no chão. Foram alguns segundos de agonia intensa que o outro sentiu, embora Tom gostasse de pensar que não estava sentindo nada. Levantou a varinha lentamente, para deixá-lo respirar.

- Malfoy, como ousou acreditar que podia ser melhor do que eu? Veja o estado lastimável em que está e olhe para mim. Achou mesmo que ia passar por cima de anos e anos de treinamento e talento natural, moleque? Achou mesmo que podia me oferecer um desafio à altura? Faça uma coisa: vá para longe, muito longe, e pratique magia, porque parece que você não aprendeu nada na escola, então você volta e me desafie para um duelo, o que acha? - perguntou, sarcasticamente, mirando de cima o homem caído aos seus pés.

Draco estava respirando com muita dificuldade, e levantou lentamente os olhos azuis claros e cinzentos para ele. E Tom admirou-se com o tanto de fúria que havia neles.

Ficara tão surpreso, fitando a cara pálida do outro que parecia tentar intimidá-lo com o olhar, que não percebeu que este apertava a varinha com força entre os dedos. Então antes que pudesse levantar a varinha e murmurar um feitiço que bloquearia o que quer que fosse, Draco já dava um sorrisinho triunfante.

- [i]Avada Kedavra![/i]


II


Gina fora pega com tanta surpresa quanto Tom. Assistira, como se fosse em câmara lenta, Draco erguer a varinha enquanto Tom parecia estar olhando para este como se nunca tivesse-o visto antes. Queria gritar para que esse olhasse para baixo, mas foi rápido demais.

No entanto, quando vira Tom mirar o outro com incredulidade, enquanto se deslocava para trás com o que pareceu ser um desagradável solavanco na barriga, envolto em uma luz verde azulada muito diferente de qualquer outro que já a vira, e desabar no chão, teve a horrível impressão que, se havia qualquer coisa que pudesse ser feita, era tarde demais.

Quando piscou estranhamente para a cena que via, percebeu que o corpo todo estava insensível de horror. Não podia… Não era possível que tivesse perdido-o [i]de novo[/i]!…

Inconscientemente ela avançou, pisando à passos superficiais que a todo momento a desequilibrava, até próximo aos dois homens que estavam no chão.

Não tinha consciência que todos observavam calados, ao que parecera ser a coisa mais surpreendente do mundo, com um misto de espanto e compaixão, por ele e por ela, que agora sentia os joelhos cederem ao lado do corpo de Tom. Todos pareciam demasiado atônitos, como se não acreditassem realmente que Draco fosse capaz disso.

Ela sentiu as lágrimas cegarem-na, no momento em que debruçava-se sobre ele, querendo certificar a si que realmente estava… [i]morto[/i]!

- V-você não pode morrer - murmurou Gina, trêmula. - N-não agora… N-não antes de conhecer seu filho, seu nojento!… Você não po-pode me deixar sozinha… V-você tem que viver para a gente ficar junto para sempre, como você prometeu!…

Então sentindo que já soluçava tanto que não conseguia mais falar nada, escondeu o rosto na frente das vestes dele para chorar.

Se passou-se muito ou pouco tempo, Gina não sabia. Sabia apenas que o momento em que tinha consciência que seu querido Tom estava morto parecera conter a eternidade. Ninguém dizia nada, nem mesmo Draco, que não se levantara do chão e nem fizera qualquer movimento, apenas olhando para o que fizera.

Então, como se viesse de algum lugar longínquo, um resmungo que a fez sobressaltar-se chegou aos seus ouvidos.

- Ai, você quer parar de me molhar? - alguém reclamou. A voz vinha de muito perto.

Gina, incrédula, levantou o rosto e olhou para o dele. Este tinha os olhos semicerrados e parecia bastante atordoado. Porém, estava [i]vivo[/i]!

Ela mal tivera tempo de se boquiabrir, ele já parecia discernir quem é que estava sobre ele. Fixou os olhos escuros nela por um longo momento até reconhecê-la, para enfim falar baixinho e lentamente, de modo que só ela ouvisse.

- Foi o pior Avada Kedavra que eu já vi…

Ela deu uma risadinha nervosa. No instante seguinte ele já tentava endireitar-se, sacudiu a cabeça e pegou sua varinha que caíra próximo à sua mão. Logo, já estava levantando-se.

Gina levantou-se e recuou. O duelo ainda não terminara.

Deixou escapar um suspiro de alívio.

Draco mal conseguia acreditar. Este levantara-se de um salto, em seguida agachando-se um pouco sobre uma perna machucada que lembrara estar doendo. Levantou os olhos parta Tom, visivelmente transtornado.

- C-como? Como foi que…? - gaguejou o louro, arregalando os olhos para o outro.

Tom deu um fraco sorriso desdenhoso.

- Lágrimas de fênix têm poderes curativos; lágrimas de Gina têm poderes de ressurreição - disse ele, revirando os olhos. - É conveniente, não?

Draco olhou de relance para Gina, parecendo assustado. Tom viu, e teve um acesso de riso.

- É claro que não, seu idiota! Você é que não sabe nem lançar uma Avada Kedavra direito.

"Porém, o que quer que seja essa droga que você me lançou, me deixou uma dor de cabeça horrível. Diga adeus, Draco."

Gina viu-o erguer a varinha acima da cabeça. Ela pensou que Tom fosse lançar a maldição fatal, mas ele somente lançou outra Cruciatus.

Draco caiu novamente aquela noite, berrando de sofrimento. Mas Tom não se demorou muito. Daquela vez, quando ele suspendeu a maldição, Draco, deu um gemido de medo e arrastou-se até perto da parede.

Tom foi seguindo-o calmamente, enquanto mirava a varinha.

Draco encarava ao outro muito conformadamente temeroso. Quando Tom chegou na sua frente, apontando-lhe a varinha, ele apertou os olhos.

As pessoas ao redor tomaram um ar muito desconfortável, como se soubessem o que viria e que não estavam mais achando que aquilo era um espetáculo. Gina observou Harry e alguns outros desviarem o olhar. Hermione e os Malfoy fecharam os olhos. O restante dos Comensais da Morte pareciam não respirar.

Gina observou apreensiva. Sabia que por mais que Draco Malfoy tivesse transtornado muito a vida de muita gente, ainda mais a dela, não aprovava que devia morrer, assim, naquele estado.

Então Tom, que encarava Draco fixamente, abaixou a varinha.

- Não é preciso terminar esse duelo para saber quem é melhor - disse, friamente. - Nunca mais ouse aparecer na minha frente, nem a pisar neste castelo, ou você realmente terá o que merece.

As pessoas em volta olharam, como se não tivessem ouvido direito.


III


Tom dava as costas, e ia afastando-se calmamente. Gina foi ao encontro dele e parou quando estavam na frente um do outro. Sorriu.

- Bela escolha - falou para ele, colocando as mãos em seus ombros. - Estou muito orgulhosa.

Ele deu um sorriso muito fraco em resposta. Levou a mão lentamente aos cabelos ruivos dela, enquanto parecia estar fazendo algo mágico em tocá-los. Então Gina percebeu que fazia tanto tempo que não se viam que ele queria tocá-la novamente com o a mesma intensidade que sentira saudades. Ela sabia… Era o mesmo o que sentia.

Gina sentia-o aproximar ao mesmo tempo que ale decidira fazer isso. Preocupava-se apenas com o momento… Queria beijá-lo do mesmo modo que faziam todos os dias antes de serem separados, apenas para sentir que ele estaria ali para ela do novo… para sempre…

Mas antes que se beijassem, um ruído os despertaram do momentâneo estado onírico em que haviam mergulhado e eles olharam para ver o que estava acontecendo. Viraram-se em tempo de ver Draco Malfoy sair correndo pelo corredor, sob o olhar de todos, e desaparecer na escada. Parecia que vê-los se beijando já seria humilhação demais por uma noite.

Uma vez distraídos, voltaram a se olhar, mas Gina não tinha mais coragem de fazer o que ia fazer, mesmo porque agora tinha consciência de quanta gente estava olhando, parecendo esperar alguma coisa. Ela sorriu timidamente para ele e apressaram-se em se desvencilhar.

Gina procurou olhar para os lados, e viu Harry encarando-a. Mas não parecia furioso nem nada; sorria conformadamente para ela. A garota então endireitou-se e dirigiu-se à eles. As pessoas ao redor começaram a se dispersar lentamente.

Parou em frente à ele, Hermione e Rony.

- Foi muita gentileza de vocês ajudar a gente - disse ela, retribuindo o sorriso de Harry.

Ele abanou a cabeça.

- Sem [i]ressentimentos[/i] - disse, revirando os olhos. - Eu odiava o Draco mesmo…

- Harry! - censurou Hermione, enquanto Rony ria.

Gina alargou o sorriso.

- Mesmo assim, obrigada.

Hermione deu um suspiro.

- Receio que agora teremos que ir atrás de um Draco Malfoy que acabamos de deixar escapar…

Eles deram um sorrisinho culpado. Gina não pôde deixar de notar que eles mais se divertiam sendo rígidos em certos assuntos e fazendo vista grossa em outros do que qualquer coisa, considerando que eram uns dos melhores aurores do Ministério. Parecia que faziam apenas o que lhes convinham ser justo.

- Como vai o bebê, Gina? - perguntou Hermione, parecendo se lembrar de algo muito importante.

Gina ergueu uma sobrancelha.

- Estava bem, quando saí de casa, quatro horas atrás - respondeu, displicente, mas encontrando os olhos de Rony e fazendo-o sorrir com ela. - Por que não volta comigo hoje à noite? Assim pode vê-lo.

- Ah, eu adoraria - respondeu a amiga. - Mas não vai traze-lo?

- Provavelmente eu vá fazer isso daqui à alguns dias - disse, com sinceridade. - As coisas ainda estão um pouco confusas por aqui para eu trazer meu filhinho tão querido. Digo, pode haver algum doido que ainda possa querer seqüestrá-lo, e não posso me arriscar. Além disso, eu ainda não sei transportar coisas muito bem, ainda mais uma criança. Estou contando com Tom para isso.
Nesse momento ela sentiu que um par de mãos pousavam em seus ombros.

- Eu… hum… tenho que te agradecer, Potter - disse a voz de Tom de cima de sua cabeça, como quem estivesse um pouco contrariado.

- Dispenso os agradecimentos - respondeu Harry, displicentemente. - Apenas cuide bem da família que você tem, e pare de olhar para mim, que minha cicatriz dói quando você faz isso.

- Certo. E não precisava me dizer a primeira parte… - resmungou o outro, em resposta, apertando um pouco os ombros dela, e Gina sentiu que ele parecia estar contendo a resposta grosseira. Deu um sorrisinho divertido.

- Nós faremos o favor [i]à Gina[/i] de esquecer que vocês estão vivos - acrescentou Harry, ainda bastante displicente, o que fez Gina rir mais ainda.

- Hum - disse Gina, mais para cortar as hostilidades do que qualquer outra coisa. Mas então ficou séria. De repente lembrara-se de algo. - Harry, mas e a profecia? - perguntou, incerta.

O rapaz, Rony e Hermione entreolharam-se.

- Acontece que a Trelawney profetizou outra coisa - disse Harry lentamente, voltando a olhar para Gina. - Ela disse que "uma pessoa mudaria o futuro, a profecia ditada há vinte e uma primaveras atrás se substituiria se os rivais se unissem contra o homem tomado de ódio." - Então levantou os olhos, cautelosamente, para Tom, as sobrancelhas ligeiramente cerradas. - Não contou a ela, não é?

Tom simplesmente não respondeu de imediato.

- Não havia necessidade. Até onde sei, só dependia da sua escolha, Potter - respondeu educadamente.

Mas Gina já estava sorrindo.

- Então… um de vocês não precisará morrer?

- É - responderam ambos em uníssono.

Seu sorriso se intensificou.

- Que maravilha! E isso significa que…?

- Nada - cortou Tom, secamente. - Não significa absolutamente nada.

- Mas…? - recomeçou ela, olhando de um para o outro, sem saber o que pensar.

- Eu não odeio menos o Potter e, pelo que sei, nem ele eu, embora não queremos mais nos matar - explicou, pacientemente.

Ela continuou mirando-os, momentaneamente confusa, então reabriu o sorriso.

- Já é um grande começo - disse com um suspiro, revirando os olhos.

Harry e os outros se encararam um instante, em silêncio, então este deu um breve sorriso à ela e alegou que precisava ir. Rony e Hermione concordaram. Depois de despedirem-se brevemente, os três amigos afastaram-se para ir embora.

Ela e Tom ficaram observando-os desaparecer pela esquina, por um momento, em silêncio, até que ele disse:

- Será que eu devia avisar que estão indo para a direção errada?

Gina riu.

- Não. - E virou-se para ele. - Acho que está na hora de ir para A Toca. Nosso filhinho deve estar berrando de fome à essa hora - falou, passando os braços ao redor do pescoço dele.

Ele deu um sorriso de verdade.

- É um bom motivo. Sabe, eu vou ficar aqui, até resolver tudo com os Comensais. Em três dias, eu vou te buscar - disse ele, abraçando-a, de modo que ficassem bem juntos.

- Não demore. Quero voltar para o meu quarto em Basilisk Hall o mais rápido possível - falou, em voz baixa, o rosto à uma curta distância do dele.

- O quarto dezessete? Eu acho que não… Acho que ficaria bem melhor acomodada no quinze, sabe… - respondeu ele, chegando ainda mais perto.

Gina sorriu no curto instante que antecedeu o beijo. À tanto tempo que esperava por aquilo… Foi como não ter que pensar em nada até o momento em que tivesse que fazê-lo. Mesmo assim estava feliz: teria sua família inteira como sempre desejara, pelo menos por um bom tempo, até que alguma fatalidade tirasse um deles de jogo. Mas, por enquanto, não tinha que pensar nisso. Tinha que pensar somente no quanto ela, Tom e Richard seriam felizes, junto aos outros filhos que haveriam de vir, por quanto tempo o destino os mantivesse juntos.

Então se afastaram um pouquinho. Gina não abriu os olhos de imediato. Quando o fez, foi para ver que ele também não o fizera.

- Acho que tenho que ir - disse, com um fraco sorriso, enquanto assistia-o abrir os olhos lentamente.

Ele apenas respondeu com um sorriso, deu-lhe um beijo na bochecha e disse para que fosse com "os aurores", se eles não tivessem achado a saída ainda.

- Estarei te esperando - falou Gina, baixinho, antes de virar-se e correr em direção onde Harry, Rony e Hermione tinham desaparecido.


IV


Tom aparatou por fora da casa. Viu que a porta da cozinha estava aberta e rumou até ela. Espiou para dentro e viu quem parecia ser Molly Weasley falando com um homem. Ele deu uma batida na porta.

O homem olhou para ele e, Tom sabia que aquela expressão que era quase de perplexidade, reconheceu Arthur Weasley. Então Molly se virou e deu um sorriso. Chamou-o.

- Eles estão lá em cima. Você sabe qual é o quarto. - Então acentuou o sorriso e acrescentou: - É um garoto lindo.

Ele retribuiu o sorriso, e não precisou fazer força para isso. Sem dizer uma palavra, virou-se e subiu dois degraus de cada vez. Parou em frente à porta e abriu-a devagar, sem bater.

Ele não teve muita certeza do que fez depois. Só sabia que no instante em que olhou para dentro, viu a janela aberta, as cortinas transparentes movendo-se lentamente á brisa fresca que entrava por ela. Na cômoda em frente, havia um vaso com flores; ao lado delas, alguns cartões. Então, ao lado da cômoda, encostada na cabeceira da cama com travesseiros, estava Gina.

Os cabelos dela brilhavam ao sol fraco que entrava pela janela. Ela tinha os olhos baixos para um embrulhinho nos seus braços, mas os ergueu assim que ele entrou no quarto. Abriu os sorriso estonteante nos lábios rubros e tornou a baixá-los para os braços.

- Vem aqui - sussurrou ela, ainda sorrindo.

Ele não sabia porque seus pés estavam dormentes. Pareceu que levou um século para que atravessasse o pequeno quarto até ela. Via uma cabecinha cheia de fiozinhos negros, um corpinho enrolado em uma manta branca… Quase não conseguia acreditar.

Gina ergueu um pouco o bebezinho nos braços e virou os olhos para ele.

- Pega - falou ela, baixinho.

Ele vacilou. Gina estava pedindo para ele pegar o bebê?…

- Mas…

A garota pareceu saber exatamente o que se passava na sua cabeça. Alargou o sorriso e cerrou as sobrancelhas.

- Não seja bobo - sussurrou, parecendo achar graça. - Ele é seu filho.

Então, muito distantemente, ele decidiu. Com as mãos trêmulas, inclinou-se para eles. Um instante depois, recebia aquele garotinho nos braços.

Como se está fosse uma realidade muito distante, como num sonho, ele se viu, desajeitado, segurando um bebê. O garotinho dormia. Tom podia sentir a respiração da criança. Ele tinha a pele muito clara e os cabelos muito negros; os olhos, as orelhas, o nariz… era tudo tão pequeno…

"Não acha que se parece com você?", disse uma voz baixinha, cheia de felicidade, acordando-o de repente.

Ele não reparou que estava sorrindo.

- Eu? Não… - falou, também em voz baixa. - Acho que se parece com um duende, ou algo parecido - brincou.

Gina deu uma risadinha baixa, depois censurou.

- Não o subestime. Vai se tornar um homem tão bonito quanto você - sussurrou, insinuante.

Ele continuou mirando o filho por um tempo, estupefato… Era o seu filho, ali. O seu herdeiro… O garoto tinha o seu sangue, e o de Gina. Mais do que nunca agora, eles tinham um elo. Um elo forte. O maior elo de todos…

"Gina… Qual foi o nome que você deu à ele?"

"Eu pensei em Richard…"

"Richard… Richard Riddle… É um belo nome.

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A fic ta quase acabando, ah...

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