Sozinho
Harry fazia o "balanço" do mês enquanto ia à sala de Dumbledore. Janeiro passara rápido, mas estava longe de ter sido indolor, e fevereiro estava se apresentando ainda pior. Gina sequer mostrava se percebia a presença dele onde quer que estivesse; apesar de essa ter sido a intenção, afastá-la, doía muito nele aquele desprezo.
Mione tomou as dores da amiga, e parou de falar com ele, depois de ter tentado lhe passar um sermão, onde Harry repetiu a odiosa história que tinha inventado para a ruiva, e a amiga também se afastou.
Rony sim, não o decepcionou. Não percebeu de cara o que estava acontecendo, até Slug obrigar os três a fazerem uma poção juntos. Então viu que Mione não estava falando com Harry. Depois que soube do que se passara, duas semanas depois, deu um belo murro no "amigo", que ficou com o olho roxo uns dois dias, e desde então também não falava com ele.
As duas únicas pessoas que pareciam se importar com ele na Grifinória eram Liam e Neville. Tinha certeza que a mãe mandara o irmão segui-lo, mas era fácil despistá-lo. Em contrapartida, Neville o observava atentamente, apesar de não conversar mais do que amenidades, e sempre fazer par com ele em todas as matérias. Harry se sentia grato a ele, mas também se preocupava com o amigo.
Durante este mês, Harry usava todo o seu tempo livre, o que não era muito, na Hemeroteca de Hogwarts, pesquisando jornais da época de Voldemort, tentando entender como funcionava a mente maníaca daquele que o caçava.
Quanto mais lia, mais se convencia de que estava agindo certo em se afastar dos que amava; Voldemort dizimara famílias inteiras de aurores e de outros que considerava inimigos, além de matar por esporte multidões de trouxas.
Quando se sentava sozinho às refeições era a pior hora, para ele. Sentia os olhares da escola pesando sobre si, as pessoas não entendiam porque ele estava isolado, e ficavam fofocando alto, para ver se ele soltava alguma pista do que estava acontecendo.
Não contente do gelo a que Harry se submetera, os amigos também estavam estremecidos; Rony e Hermione não se falavam desde o baile, onde o ruivo começou um grudento namoro com Lilá Brown, que era toda ciúmes perto de Mione, a amiga mantinha o ar altivo, apesar de Harry, agora longe, perceber o quanto ela sofria cada vez que a colega de quarto se pendurava no pescoço do amigo.
Neville, que sempre mantivera uma certa distância do trio desde que começara seu namoro com Luna, manteve sua rotina, o que, por vezes, chateava Rony, já que ele continuava a falar normalmente com Harry.
O garoto sacudiu a cabeça com veemência, tentando tirar estas questões, que ele considerava menores, da cabeça e deu a senha às gárgulas.
- Desculpe o atraso, professor... - disse Harry, entrando na sala, deparando-se com o professor Slughorn, além do diretor.
- Não há problema, Harry. Sente-se. - Harry sentou-se ao lado de Slug, dando boa noite aos dois.
- Como vai, Harry, meu rapaz? - Slug perguntou, daquele seu jeito bonachão.
O garoto arqueou as sobrancelhas e conteve uma resposta malcriada. Não aguentava mais ser perguntado se estava bem, parecia que tinha virado moda se perguntar isso a todo instante para ele.
- Cansado, Professor. - foi a melhor resposta que Slug poderia receber.
- Harry, eu sei que sido muito difícil para você, mas se isolar dos seus amigos não é a solução. - Dumbledore começou a falar, com a voz calma.
- Eu não estou me isolando; estou dando segurança a eles.
- Harry, você está se machucando, e machucando seus amigos também!
- Eu sei do que Voldemort é capaz de fazer, e eu não quero perder as pessoas que são importantes para mim! Melhor longe de mim do que mortas, não? - respirou fundo, tentando conter a raiva crescente. "Ninguém me entende!" - O senhor me chamou aqui para... - deu a deixa, querendo mudar de assunto.
Alguns quadros na parede deram muxoxos de indignação pela maneira que Harry falou com Dumbledore, e um deles inclusive começou a resmungar: "Por isso que eu odiava ser professor! Para os alunos, não sabemos de nada, perante toda a experiência e leitura que eles tiveram em meros sete anos acadêmicos!".
- Phinneus, por favor! - Dumbledore pediu, sem se abalar. - Eu o chamei aqui, assim como chamei Horace, para que possamos discutir o que faremos com as Horcruxes que já achamos.
Quando Harry estava no Largo Grimmauld durante o recesso, ouvira os pais falando com o diretor, Sirius e Lupin sobre a descoberta de mais uma Horcrux, mas Harry ainda não sabia como eles eram, tampouco como os membros da ordem os tinha achado.
Dumbledore abriu uma caixa e retirou alguns pequenos objetos dela. Professor Slughorn arregalava os olhinhos apertados ao perceber a quantidade de objetos e o que cada coisa era.
- Quatro Horcruxes foram encontradas até agora, meus caros. - falou Dumbledore, perante a expectativa dos convidados. - Este primeiro é o anel de Slytherin. - pôs o anel na mão. - Ele foi encontrado na antiga casa dos Gaunt, os últimos descendentes de Slytherin. - passou o anel para que Horace o examinasse. Harry não fez menção de tocá-lo.
- Impressionante, Alvo!
- Este outro aqui é a Taça de Helga Hufflepuff, encontrada no porão da Borgin & Burkes, onde Tom trabalhou quando terminou Hogwarts.
Dumbledore havia contado, também no recesso, que Voldemort fora aluno de Hogwarts, e estudara com Slughorn e com ele próprio. Desde então chamava Voldemort pelo primeiro nome.
- Este terceiro foi encontrado pelo irmão de Sirius, Régulo. Creio que seu padrinho deva ter te contado, Harry, - virou-se para o garoto. - que o irmão seguira as ordens dos pais e se juntara aos Comensais da Morte, mas desistiu de levar adiante, e foi morto. Só recentemente, depois que Sirius disponibilizou a casa para virar a sede da ordem da Fênix foi que achamos o Medalhão de Slytherin, e uma carta de Régulo explicando que tinha achado a Horcrux e que Tom provavelmente o mataria quando percebesse.
Harry olhou para o camafeu escuro e teve um arrepio estranho na nuca, quando o tocou. Decididamente, havia muita magia negra ali.
- Já este aqui, - continuou o professor, - devemos totalmente à Srta. Weasley!
- O que Gina tem a ver com uma Horcrux? - não conseguiu segurar a pergunta.
- No primeiro ano dela, este diário apareceu nas suas coisas, depois de terem ido fazer as compras para Hogwarts, na Floreios e Borrões. Ela me contou que houve uma briga feia do pai dela com o Sr. Malfoy na livraria, e presumiu que só podia ter sido ele quem tinha posto este diário nas suas coisas.
- Eu me lembro dessa briga! Foi o Sr. Malfoy quem provocou tudo!
- Pois bem... Assim que percebeu que havia algo estranho com o diário, ela pediu que eu o examinasse, e percebi imediatamente que havia algo errado. Ela não sabe quão perigoso esse diário é, eu lhe disse apenas que era uma brincadeira de mau gosto, e que daria um fim nele.
Harry sentiu um frio na espinha. "Gina, a minha Gina, com um pedaço de Voldemort guardado nas suas coisas... Decididamente Draco tem a quem puxar, e isso não vai ficar barato!"
- Horace, você descobriu alguma coisa? - continuou o diretor, interrompendo os pensamentos de Harry.
- Oficialmente não, Alvo. Mas creio que o melhor a fazer, por enquanto, é guardar estas Horcruxes num lugar seguro; Voldemort não deve ter dado falta delas ainda, e se as destruirmos, é possível que ele sinta. Ainda faltam três para serem achadas.
- Tenho que discordar, meu caro. O sétimo pedaço está no "corpo" de Voldemort agora, então faltam duas.
- Professor Slughorn, o senhor acha que ele pode ter feito mais Horcruxes, além das sete?
- Harry, Voldemort sempre foi obcecado por magia antiga, e uma das âncoras das mágicas ancestrais são os números cabalísticos, dentre os quais, o mais forte é o sete. Ele já transgrediu a essência do ritual da partição das almas, que inicialmente era em dois pedaços, passando para sete. Ele não se arriscaria a pôr a mágica a perder, afinal, é "vida" dele que está em jogo!
- Penso assim também, Horace. - virou-se para Harry. - Está ficando tarde, e eu tenho uma boa notícia pra você!
"Foi tudo um pesadelo!" - teve vontade de dizer, mas aguardou a notícia do diretor.
- Aguarde um minuto só! - e uma pequena lareira, que Harry nunca havia reparado, se acendeu. Depois de um minuto, um homem alto passou por ela, e Harry reconheceu o padrinho, seguido por um acanhado elfo doméstico.
- Harry! - Sirius abraçou o afilhado, que olhava abobado para o elfo, que ele agora reconhecia como Dobby.
- Mas como você o achou? O que ele faz aqui? - estava confuso.
- Lembra quando você me disse o que havia acontecido no trem? Naquela noite, em que eu vi o que não devia... - arqueou as sobrancelhas, divertido, e Harry sentiu o rosto queimar. - Então... Eu sabia que o conhecia, e fui fazer uma visita de cortesia à minha querida prima Cissa, onde encontrei Dobby a servindo.
- Quem é Cissa?
- Narcisa Malfoy, Harry.
- O QUÊ? Dobby é elfo doméstico dos Malfoy?
- Era! Armei uma pequena "distração" durante a minha visita, e Lucio acabou passando, sem querer uma meia minha, que eu disfarçadamente pus na sua mão, a Dobby, que foi libertado naquele momento. Ambos fomos expulsos da Mansão Malfoy, e nosso amigo aqui nos ajudou muito!
- Sirius Black, meu senhor! O senhor é tão bom! Dobby não merece tanta consideração! - o elfo gania de felicidade.
- Não se menospreze! Graças a você soubemos que foi graças ao Malfoy que Vol-das-Quantas voltou! - as orelhas do elfo murcharam, e Harry percebeu que o padrinho não dissera Voldemort porque sabia que Dobby se assustaria.
- Parabéns, Dobby! Eu sempre soube que você era um elfo valoroso, senão não teria conseguido me dar aquele "aviso" no Expresso Hogwarts...
- Harry Potter, meu senhor é tão generoso com Dobby! - o elfo começou a soluçar, emocionado, e se abraçou à perna de Harry.
- O que você resolveu, Sirius? - perguntou Dumbledore, com uma expressão divertida.
- É Dobby quem resolve! Eu ofereci emprego na minha casa, já que consegui me livrar do estrupício do Kreacher, estou mesmo precisando de ajuda para manter o lugar aceitável... Mas sei que será mais útil aqui, além de ele mesmo querer ficar mais próximo de Harry.
O garoto tentava acalmar o elfo, que ainda estava agarrado à sua perna. Sirius riu, e viu que Dobby já havia se decidido.
- A visita foi muito boa, mas tenho que voltar para a "Mui Respeitável Casa dos Black"... - fez uma reverência exagerada. Harry havia conseguido fazer com que Dobby o soltasse, e foi dar um abraço no padrinho. - Cuide-se, garoto! - falou, bagunçando os cabelos do "garoto", que já era mais alto que ele. - E cuide do furacão ruivo, tá? - provocou.
- É só o que faço, Sirius... Cuidar dela! - observou, triste.
O padrinho desapareceu na lareira, e Dumbledore perguntou a Dobby se queria trabalhar em Hogwarts, ganhando um salário e podendo, esporadicamente, encontrar Harry. O elfo recomeçou a chorar. O garoto agradeceu e aproveitou para sair de fininho.
* * * * * * * * *
Entrou na Sala Comunal escura, e já ia subir para o dormitório, quando alguém o chamou. Ele deu a volta e encontrou Neville sentado em frente à lareira, quase apagada.
- Eu queria falar com você Harry...
- Neville, está tarde, e -
- Não adianta mais fugir, Harry! Eu sei de tudo!
- De tudo o quê? - não ia cair nessa, se ele estivesse jogando verde.
- Eu sei da profecia, sei que você foi o escolhido, sei que poderia ter sido eu, e sei que Voldemort voltou.
Harry não falou nada, apenas olhou o amigo de queixo caído. Então percebeu a idiotice; óbvio que Neville saberia! Seus pais são da ordem, e quando Harry pediu que não contassem a ninguém, eles não estavam na reunião. Harry não percebeu a ausência porque a sua preocupação era que Rony ou Gina soubessem. Não aguentaria suas expressões de pena, ou que se afastassem com medo dele...
- E daí? - finalmente falou alguma coisa.
- E daí que você não deve fugir, Harry! Você está sofrendo, e os seus amigos têm o direito de saber o que está acontecendo!
- Neville, já escutei essa ladainha hoje... - cortou, grosseiramente.
- Isso prova que mais gente se preocupa com você! Não faça isso! Você não vê o quanto Mione e Rony sentem sua falta? Sem contar com Gina...
- Ninguém me entende, sabe? Eu me afastei porque não quero que nada aconteça com vocês! Se você sabe tanto, devia saber como Voldemort destruiu famílias e mais famílias pelo simples prazer de matar! Se ele pegar algum de vocês, eu não sei se posso suportar!
- Harry, eu sei como deve estar sendo difícil pra você, mas, por mais nobres que sejam as suas intenções, você não pode decidir por ninguém!
- Já passou pela sua cabeça que eu prefiro que eles tenham raiva de mim e fiquem bem, a sentirem pena, ou medo, e acabarem se machucando?
- Mais do que você os está machucando? Harry, a Gina -
- Não me fale dela, por favor! - pediu, com a voz fraca.
- Harry, fale com ela, pelo menos... O Rony e a Mione vão ficar chateados, mas depois o perdoarão. Mas Gina não agirá assim, você sabe!
- Neville, eu amo a ruiva. Tanto que dói! E é por isso que não vou me aproximar dela... Ela não merece passar por isso. - o amigo tentou falar, mas Harry não deixou. - Por favor, não comente com ninguém essa conversa, tá? Eu vou me deitar. - e saiu do salão, de cabeça baixa.
* * * * * * * * *
Fevereiro voava, e Harry percebeu que faltava pouco menos de duas semanas para a segunda tarefa do Torneio Tribuxo, e até então não tinha conseguido desvendar o segredo do Ovo de Ouro.
Cada vez que o abria, ele soltava um uivo lamurioso, e Harry não entendia nada. Cada dia que passava, ele ficava mais nervoso, e procurava salas isoladas para tentar descobrir o que seria a tal prova.
A menos de uma semana da prova, Harry fazia tudo com o ovo do lado; comia, assistia as aulas e até tomava banho com ele. A prova ia ser no domingo, e já era terça-feira. Ele resolveu que não ia dormir enquanto não descobrisse do que se tratava.
Andava a esmo pelos andares, coberto pela inseparável Capa da Invisibilidade, até que passou perto de um banheiro feminino e escutou alguém chorando. Sabia que não era certo, mas entrou no banheiro. Devia ser um aposento abandonado, porque estava cheio d‘água, e em alguns pontos, havia água até os joelhos.
Todos os boxes estavam fechados, e Harry tentava fazer o mínimo de barulho, para não assustar a garota. Então, da última porta da fileira, saiu ainda soluçando um fantasma. Harry se assustou, soltou o ovo, que caiu com estrépito no chão e rolou, até ficar submerso, num canto da sala, puxando a capa de cima dele no caminho.
- Murta! - lembrou-se de que tinha um banheiro assombrado por uma garota, que chorava o tempo todo. "Droga, onde eu vim me meter!"
- Quem é você? - perguntou, calma. - Esse é um banheiro de meninas!
- Eu sei. Me desculpe, mas escutei alguém chorando e vim ver se precisava de ajuda.
Murta o olhava desconfiada, mas sorriu para ele. Então ele relaxou; não ia ser pego no banheiro feminino, ao menos isso! Abaixou-se para procurar o ovo, e o viu borbulhando na poça d‘água. Então teve um insight de que o som debaixo d‘água devia ser diferente.
- A chinesa mergulhou o ovo numa banheira... Deve ser melhor para ouvir...
- Murta, muito obrigado! - E saiu correndo em direção ao banheiro dos monitores, que era menos movimentado e ele sabia a senha, desde que Rony tornara-se um deles.
- Depois apareça, pra me visitar...
- Com certeza! - gritou, já dobrando no corredor.
* * * * * * * * *
Procure onde as nossas vozes parecem estar,
Não podemos cantar na superfície,
E enquanto nos procura, pense bem:
Levamos o que lhe fará muita falta,
Uma hora inteira você deve buscar,
Para recuperar o que lhe tiramos,
Mas passada a hora - Adeus esperança de achar.
Tarde demais, foi-se, ele jamais voltará.
A melodia que tocava do ovo não saía da cabeça de Harry, que agora que descobrira como ia ser a prova, passara de desesperado a completamente insano. Pelo que entendera, iam levar algo importante para ele para debaixo d‘água e ele teria uma hora para recuperá-lo. Só havia um probleminha; ele não era o que se podia se chamar de um exímio nadador. Além disso, sabia que os sereianos habitavam as partes mais fundas de lagos. "Como vou respirar por tanto tempo?"
* * * * * * * * *
Eeeeeeeita que é coisa!
Estava ficando muito grande, e tive que cortar assim, meio na metade...
Estou numa lan house, mas eu tinha que vir postar!
Obrigada pelos votos e comments e até o #11! (ai, papai!)
Bjos. =D
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