Sacrifícios



Harry correu para onde a mãe estava, apavorado e ignorando o fato de que o diretor se manteve alerta, varinha em punho, analisando o restante da ala hospitalar. Com um aceno de varinha, Dumbledore conferiu que não havia mais ninguém além deles, enquanto o garoto suspirava aliviado, ao ver que a mãe respirava, e a reanimou.


Ennervate! – falou Harry e Lilly abriu os olhos sobressaltada.


– G-G-Gina... Onde e-está Gina? Ele... ele a queria e – balbuciou, desorientada, virando-se para Dumbledore, que estava agachado ao lado de Snape – Não! Severo não!


Harry acompanhou o olhar da mãe e viu que Dumbledore a encarava de volta com os olhos brilhantes, confirmando que Snape estava morto.


Madame Pomfrey se levantou, sua essência cuidadora se sobrepondo o torpor ao qual havia sido imposta há pouco, e foi até o seu armário, pegar uma poção para acalmar. Lilly se desvencilhou de Harry e foi até o corpo de Snape, onde chorou copiosamente, abraçada a ele.


– Pomona, o que aconteceu aqui? – perguntou o diretor, enquanto ela trazia a poção tranquilizadora para Lilly.


– Eu... Eu não sei ao certo... quando vim ver o que estava fazendo barulho, fui atingida e só agora voltei a mim...


– Entendo... Por favor, Pomona, você poderia chamar os diretores de cada Casa para virem até aqui? – pediu Dumbledore, dando mais privacidade a eles, enquanto Lilly tomava um gole da poção trazida pela enfermeira.


Lilian se acalmou, mas não se afastou do corpo de Snape. Dumbledore pediu-lhe que explicasse, afinal, o que havia acontecido.


– Eu estava me preparando para me deitar. Gina já dormia, medicada, e Pomona já tinha se recolhido, quando ouvi a porta se abrindo. Imaginei que alguém teria trazido notícias, pois, além da enfermeira e de você, Alvo, eu sabia que apenas os professores têm acesso à ala hospitalar. Quando eu me levantei, ouvi Pomona perguntando o que estava havendo e depois o baque do seu corpo no chão. Mantive-me em guarda, esperando, e então eles contornaram o biombo que nos isolava do resto da sala, Severo e Voldemort...


– O QUÊ?! – Harry reagiu. – Voldemort entrou aqui? E sequestrou Gina? – levou a mão à tatuagem, chamando-a, e recebeu apenas o silêncio como resposta. Puxou o Mapa do Maroto do bolso das vestes, escrutinando-o, em busca da ruiva.


Neste momento, um ofegante Tiago empurrou a porta, que estava entreaberta, dizendo “comensais... na flo... floresta...”. Interrompeu-se ao constatar a estranheza da situação, perguntando tacitamente o que estava havendo.


– Lilian nos contava que Lord Voldemort entrou na ala hospitalar e levou Gina. – explicou Dumbledore.


Lilian tomou o resto da poção em um só gole, baixou os olhos para o corpo que jazia aos seus pés, enxugou as lágrimas que teimavam em escorrer e continuou o seu relato, em tom monocórdio.


– Lilian, saia da frente, senão você vai se machucar. – Snape falou, ao ver que Lilian se mantinha firme entre eles e Gina, numa atitude protetora.


– Ora, ora... Finalmente nos encontramos, “Sra. Potter”. – Voldemort quase cuspiu, ao falar seu nome. – Eu sempre quis conhecê-la, mas aparentemente Dumbledore escondeu você e a sua família por baixo das vestes!


Lilian recuou até encostar na maca, assustada com o tom ameaçador de Voldemort, que se aproximava, como quem tenta apreciar detidamente uma obra de arte.


– Naquele Halloween era para o moleque ter morrido, junto de vocês dois! Mas, por covardia, deixaram que outros morressem por vocês, não é mesmo? – Lilian ofegou ante a acusação e estremeceu quando Voldemort tocou em seu rosto, o longo dedo gelado, como de um cadáver.


Snape se mantinha alerta, varinha apontada também para Lilian, e um filete de suor escorreu de suas têmporas, denunciando o nervosismo que o acometia. Voldemort tirou o dedo do rosto dela, com um esgar de nojo e deu dois passos para trás.


– Vamos começar a saldar a sua dívida, sua sangue ruim imunda: CRUCIO!


Lilian caiu no chão, debatendo-se, deixando à vista Gina, que dormia pesadamente, alheia ao que acontecia. Voldemort deixou Lilian ofegante e fraca, prostrada no chão, e foi até a maca onde jazia a garota.


– Milorde, precisamos sair daqui! Os quadros estão enfeitiçados para dar o alarme e...


– E agora é a hora de você provar a sua lealdade a mim: mate-a! – ordenou, apontando para Lilian, que mal conseguia manter os olhos abertos. Rumou até a porta, com Gina flutuando fantasmagoricamente ao seu lado.


Snape não se mexeu. Voldemort parou junto à porta entreaberta, impaciente, esperando que seu comensal executasse a tarefa que lhe havia sido incumbida.


– Ainda, Severo? – Julgou-o. – Você não se envergonha por esta fraqueza? – Com um muxoxo de impaciência, sacou a varinha mais uma vez. – AVADA...


– Então eu vi um clarão verde e gritei... Severo, ele... ele se colocou entre nós e perdi a consciência.


– Ranhoso se sacrificou por você? – Tiago estava perplexo.


– Por favor, não se refira a Severo desta maneira jocosa. – Dumbledore o corrigiu. – Ele sempre te amou, Lilly. Foi por este sentimento puro, do qual ele tentou se livrar de todas as formas sem sucesso, que consegui perdoá-lo pelo mal que lhes infligiu, e aceitá-lo como membro da Ordem.


– Como assim? O que Severo fez, Alvo? – Lilian perguntou, desconcertada.


– Foi ele quem entreouviu Sybilla na noite em que ela realizou a profecia, e a contou para Voldemort. – o diretor confidenciou aos Potter o que Harry já descobrira, com um suspiro. – Mas ele não sabia que a predição dizia respeito a você. Quando soube que Harry seria o escolhido, ele pediu que o mestre a poupasse. Quando Voldemort invadiu Godrics Hollow naquela fatídica noite, ele não honrou o pedido de Severo que você fosse poupada, Lilly.


– Do que vocês estão falando, afinal? – Harry perguntou, confuso.


– Falamos da noite em que você ganhou esta peculiar cicatriz, meu caro. À época, fomos informados que Voldemort atacaria em breve. Alguns membros seletos da Ordem da Fênix reforçaram a proteção da casa, mas era crucial tirar os seus pais de lá. Seus avós paternos, Harry, também faziam parte da Ordem e se ofereceram para ser sua guarda!


– Eles não tinham o direito de fazer isso! Não podiam ter decidido isso sozinhos! – Tiago explodiu. – Eu nunca teria concordado com isso!


– Não havia outra alternativa, Tiago! Sabíamos que vocês não aceitariam que eles corressem o risco, tomando os seus lugares com poção polissuco. Utilizamos todos os recursos que estavam ao nosso alcance, mas tínhamos consciência de que podíamos não ter feito o suficiente...


– Isso nunca fez sentido, Dumbledore! Vocês nos doparam, nos tiraram de lá, mas deixaram o Harry! Por que nós todos não podíamos ter fugido? Meus pais não precisariam ter morrido!


Lilian finalmente se afastou do corpo de Snape, levantou-se e abraçou o marido.


– Tiago, nós já conversamos sobre isso, meu amor! Por conta de Harry ter sido marcado por uma profecia, ainda que fugíssemos, não conseguiríamos evitar o que havia sido predito. Seus pais tomaram os nossos lugares porque, pela previsão, Harry sobreviveria ao ataque... Nós provavelmente não teríamos sobrevivido.


– Meus avós se sacrificaram por mim? – Harry perguntou, após um silêncio pesado.


– Eles sabiam o que estava acontecendo, meu rapaz. Sabiam o risco que você corria, ainda bebê, e o maior medo deles, além da sua segurança, Harry, era que seus pais fossem mortos nessa caçada. – Dumbledore explicou. – Quando chegamos a Godrics Hollow seus avós estavam mortos e você chorava, sozinho, no berço.


Snape aguardava do lado de fora da casa, acompanhado por Bartolomeu Crouch Jr. Os dois eram a guarda pessoal de Lord Voldemort, seus mais fiéis comensais. Seu mestre havia entrado em Godrics Hollow há tempo demais, pensavam. De onde estavam, presenciaram clarões verdes, mas não percebiam mais movimentação alguma vindo da casa.


Finalmente entraram na casa dos Potter. No chão da sala jazia o corpo inerte de Tiago. Seguiram mais adiante, buscando seu mestre. Quando chegaram ao quarto da criança, Snape ofegou ao ver o corpo de Lilly inegavelmente morto aos pés do berço, enquanto o garoto os olhava com curiosidade, sem emitir nenhum som.


Na luta para não demonstrar quão quebrado estava, Snape só percebeu a ausência de Voldemort quando Crouch se agachou e pegou a varinha do mestre, junto de suas vestes, caídas no chão.


– Como isso pode ter acontecido? – balbuciou o comensal, estupefacto, olhando do que havia restado de Voldemort para o bebê.


– Crouch, pecisamos sair daqui, senão, poderemos ser incriminados. – falou, ao ver que o outro comensal se aproximava de Harry, varinha em punho. – Não seja leviano! Há algo de muito estranho com esse garoto! – argumentou, ao perceber que Crouch tencionava terminar o serviço do chefe. – Se Milorde não foi capaz de matá-lo, não vejo como poderemos fazê-lo! Vamos sair daqui, precisamos encontrar os outros para definirmos o que faremos agora!


Crouch recuou, concordando com a argumentação de Snape, levando a varinha de Voldemort junto de si.


– Precisamos ser vistos longe daqui, para termos álibis consistentes. – Snape complementou.


– De acordo. Vou convocar todos para nosso ponto de encontro principal em duas horas.


– Neste intervalo, Severo veio me ver. Enroscou-se no chão da minha sala, como um animal ferido, chorando convulsivamente a morte de Lilian, dizendo que não queria que isso tivesse ocorrido e se dispondo a nos ajudar a vingar a sua morte. – contou o diretor. – Não havia dúvida alguma em relação à veracidade de seus sentimentos. Quando eu lhe disse que ele teria uma nova chance de agir corretamente, ele concordou em ajudar a Ordem por todo este tempo, como um agente infiltrado. Tudo isso, Lilly, por sua causa.


Lilian chorou ao ouvir as palavras de Dumbledore, perante os olhares constrangidos de Harry e Tiago, culpados pelo mau juízo que sempre tinham feito de Snape.


– Eu nunca imaginei que o Ran... desculpe, que Snape havia se arriscado por Lilly!


– Ele nunca quis que isso fosse de conhecimento público, mas eu não podia deixar que ele fosse vítima de calúnias absurdas, especialmente nas circunstâncias de sua morte.


O silêncio tomou conta da sala, quebrado apenas pelos soluços de Lilian. Harry voltou à sua busca por Gina e por Voldemort no Mapa do Maroto, mas não os encontrou em lugar algum.


– Tiago, esclareça-nos sobre o que está acontecendo na Floresta Proibida. – pediu Dumbledore, preocupado.


– Sirius e eu estávamos embrenhados na Floresta Proibida, fazendo a nossa ronda, quando um movimento anormal de pássaros mais para o centro dela nos levantou suspeitas. Nos aproximamos de uma clareira distante, e ela estava ocupada por comensais da morte, bastante agitados.


Sirius e Tiago circundavam a clareira onde os comensais se instalaram e perceberam que havia uma tensão crescente entre eles. Muitos conversavam entre si, confabulando se Voldemort realmente conseguiria matar Harry Potter, por baixo das barbas de Dumbledore.


– Vocês se lembram de como o mestre ficou fraco, depois de matar Lúcio? – ouviram um dos encapuzados conversando baixinho com outros dois. – Não sei se ele tem condições de enfrentar Dumbledore...


– Fale baixo! Se nos ouvirem vão duvidar da nossa lealdade!


– Só estou sendo sincero! – o primeiro respondeu, dando de ombros, como se não desse importância a isso, mas se calando cautelosamente em seguida.


– Melhor irmos mais para a frente, parece que estão chamando. – falou o companheiro.


Tiago e Sirius deram a volta ao redor da clareira, posicionando-se de frente à Bellatrix, que tinha a voz magicamente ampliada para ser ouvida por todos.


– Milorde deu ordens para que aguardemos o seu contato. Até lá, devemos nos manter embrenhados aqui na Floresta, para termos o fator surpresa ao nosso favor. Caso ele não se comunique conosco até o amanhecer, as ordens são de invadir a escola.


– Ficamos assustados e, como não recebemos notícias do Castelo sobre a entrada de Voldemort, resolvi voltar para trazer a informação e conferir se todos estavam bem, enquanto Sirius se manteve de guarda. – continuou Tiago.


Uma sombra de preocupação turvou os olhos de Dumbledore, que pediu uma breve licença para encaminhar mensagens de alerta aos membros da Ordem da Fênix.


Pouco depois, a porta da ala hospitalar foi aberta mais uma vez, dando passagem à Prof. McGonagall, que ficou em choque ao ver o cadáver. Enquanto Dumbledore rapidamente contava a ela o que havia acontecido, os demais diretores chegaram, seguidos pela esbaforida enfermeira.


– Prezados, esta noite Lord Voldemort entrou em Hogwarts. Ainda não sabemos como isso aconteceu, haja vista que todos os professores estavam em seus postos de guarda e apenas eles poderiam ter dado acesso à escola. Além disso, acabamos de ser informados que – Dumbledore foi interrompido pelo levantar de mão de Slughorn, pedindo a palavra.


– Alvo, talvez eu saiba o que aconteceu. Recebemos uma coruja urgente avisando que Draco Malfoy estava em Hogsmead, aguardando escolta para a escola. Pedi que Snape fosse até os portões buscá-lo. – a voz de Slughorn tremia um pouco. – Imagino que... talvez...


– Draco está em Hogwarts? De fato, isto explica muita coisa... Algum outro professor saiu do seu posto?


– Não, Alvo, todos os demais estão posicionados conforme havíamos solicitado. – McGonagall informou.


– Senhor, Draco está na sala comunal da Sonserina. – Harry complementou, de olho no Mapa do Maroto.


– Horace, preciso falar com Draco. Aguarde apenas as outras instruções e, depois de realizá-las, leve-o até a minha sala. – o diretor da Sonserina concordou com um aceno – Para completar, fomos informados que há comensais na Floresta Proibida. Diante desta situação extrema, precisaremos evacuar a escola, os alunos correm perigo. Por favor, vão até as casas e organizem a partida de todos em chaves de portal que providenciaremos no salão principal.


Os diretores das casas saíram ruidosamente da ala hospitalar, perplexos com o que estava acontecendo.


– Se os comensais estão aqui, Voldemort tem planos para se manter no Castelo. Além disso, eles não podem ter saído, nenhum outro professor deixou seu posto na escola. – ponderou Dumbledore. – Harry, encontrou algo?


– Devem estar em alguma sala que não tenha sido rastreada... – Tiago balbuciou, olhando o Mapa por cima do ombro de Harry.


Abriram o Mapa do Maroto numa mesa grande, todos debruçados sobre ele, enquanto Madame Pomfrey e Lilian tiravam o corpo de Snape do chão, e o levavam para uma parte mais isolada da sala, até que fosse definido o que fazer.


– A Sala Precisa não constava no Mapa, mas foi destruída hoje. – Harry contou ao pai. – A não ser que...


– A não ser que estejam na Câmara Secreta. – completou Dumbledore, com pesar.


Mais uma vez a porta se abriu. Dela, entraram Hermione, Rony e Neville, escoltados por Lupin.


– Alvo, Minerva me pediu para acompanhar os garotos até aqui e lhe avisar que os alunos já estão no salão principal, aguardando.


– Obrigado, Remo. – agradeceu, enquanto Lupin e Tiago se cumprimentavam, a exemplo dos garotos. – Tiago, precisaremos de reforços na Floresta Proibida. Por favor, siga com Lupin até os portões da escola, para dar acesso aos membros da Ordem. – virou-se para os garotos, depois que os adultos saíram. – Tenham muito, muito cuidado. Preciso ir ao Salão Principal, providenciar o seguro deslocamento dos alunos, mas vocês devem continuar a busca. Qualquer novidade, avisem-me – pediu, antes de sair da ala hospitalar.


– Harry, o que está havendo? – Neville perguntou.


– Professora McGonagall nos convocou a todos na torre da Grifinória, avisando que Hogwarts havia sido invadida e que deveríamos sair da escola! – Mione explicou.


– Como somos maiores de idade, nos voluntariamos para ficar e lutar! – Ron complementou.


Harry explicou aos amigos sucintamente o que estava havendo, e que precisavam encontrar a Câmara Secreta pois, provavelmente, Gina havia sido levada para lá.


– Ai, Merlin! – Mione gemeu. – Harry, o que Hagrid te contou sobre a Câmara, na noite em que vocês enterraram a acromâtula?


– Ele disse que Aragogue era dócil, que gostava de ficar em lugares escuros e frios e que... – interrompeu-se, finalmente juntando os pontos. – e que nunca poderia ter matado a menina que morreu no banheiro!


– Murta! – Mione matou a charada, e Harry confirmou.


– Quem é essa? – Ron perguntou.


Hermione contou aos meninos que havia um banheiro no 2º andar que era assombrado pelo fantasma de uma menina, e que, provavelmente, havia sido morta pelo monstro da Câmara Secreta.


Quando abriram a porta do banheiro, nâo a viram de imediato. Murta Que Geme estava sentada na caixa de água do último boxe, e os recebeu com desconfiança.


– Ah, é você... – disse quando reconheceu Harry, num tom um pouco ofendido (talvez esperasse que ele a tivesse visitado após a prova do lago, no Torneio Tribuxo) – Que é que você quer agora?


– Perguntar como foi que você morreu.


A atitude de Murta mudou na hora. Parecia que nunca alguém lhe fizera uma pergunta tão elogiosa.


– Aaaah, foi pavoroso – disse com satisfação. – Aconteceu bem aqui. Morri aqui mesmo, neste boxe. Me lembro tão bem! Eu tinha me escondido porque Olivia Hornby estava caçoando de mim, por causa dos meus óculos. Tranquei a porta e fiquei chorando e então ouvi alguém entrar. Disseram uma coisa engraçada. Deve ter sido numa língua diferente, acho. Em todo caso, o que me incomodou foi que era a voz de um garoto. Então destranquei a porta do boxe para mandar ele sair e ir usar o banheiro dos garotos e então... – Murta inchou, fazendo-se de importante, o rosto brilhante. – Morri.


– Como? – perguntou Harry.


– Não faço ideia. – disse Murta, sussurrando – Só me lembro de ter visto dos olhos grandes e amarelos. Meu corpo inteiro foi engolfado e então me afastei, flutuando... – Ela olhou para Harry de forma sonhadora. – E então voltei. Estava decidida a assombrar Olivia Hornby, sabe? Ah, como ela se lamentou ter-se rido dos meus óculos.


– Você só viu os olhos? – Hermione inquiriu, e Murta confirmou.


– O que pode matar apenas com o olhar? – Ron perguntou, meio apavorado.


– Onde foi exatamente que você viu os olhos? – Harry perguntou, enquanto Hermione matutava, entre seus botões, conjecturando.


– Por ali – respondeu Murta, apontando vagamente na direção da pia em frente ao boxe em que estava.


Correram para a pia. Parecia uma pia comum. Eles caminharam cada centímetro, por dentro e por fora, inclusive os canos embaixo. E então Harry viu: gravada ao lado de uma das torneiras de cobre havia uma cobrinha mínima.


– Harry! Já sei! Provavelmente o que matou Murta foi um Basilisco! De acordo com o livro Animais Fantásticos e Onde Habitam, “suas presas são excepcionalmente venenosas, mas seu órgão de ataque mais poderoso são os grandes olhos amarelos. A pessoa que o encara sofre morte instantânea”. – Ron gemeu mais uma vez.


– Essa torneira nunca funcionou. – disse Murta, animada, quando Harry tentou abri-la.


– ... E Murta ouviu alguém falando em uma língua diferente! Provavelmente a pessoa precisa saber ofidioglossia para abrir a Câmara Secreta, e entrada deve ser por aí! – continuou Hermione, eufórica.


– Harry – disse Rony –, diga alguma coisa. Alguma coisa em língua de cobra.


– Mas... – Harry se esforçou. As únicas vezes em que conseguira falar a língua das cobras foi quando estava diante de uma cobra real. Ele fixou o olhar na gravação minúscula, tentando imaginar que era real.


"Abra", mandou.


Ele olhou para Rony, que sacudiu a cabeça.


– Nossa língua.


Harry tornou a olhar para a cobra, desejando acreditar que estivesse viva. Se ele mexia a cabeça, a luz das velas fazia parecer que a cobra estava se mexendo.


Abra – repetiu.


Só que as palavras não foram o que ele ouviu; um estranho assobio lhe escapara da boca e, na mesma hora, a torneira brilhou com uma luz branca e começou a girar. No segundo seguinte, a pia começou a se deslocar; a pia, na realidade, sumiu de vista, deixando um grande cano exposto, um cano largo o suficiente para um homem escorregar por dentro dele.


Harry ouviu Rony soltar uma exclamação e levantou a cabeça. Decidira o que ia fazer.


– Vou descer – anunciou.


Ele não podia deixar de descer, agora que tinham encontrado a entrada para a Câmara, não se houvesse a mais leve, mínima, imaginária chance de salvar Gina.


– Eu também – falaram os amigos, em uníssono.


– Não podemos ir todos; além de muito perigoso, precisamos avisar Dumbledore! – Harry ponderou.


– É a minha irmã que está lá: eu vou! – Ron afirmou, categórico.


Após alguns instantes em que os garotos tentaram em vão demover Hermione de os acompanhar, Neville resolveu ir até Dumbledore, avisá-lo que haviam encontrado a entrada da Câmara Secreta.


Harry respirou fundo e começou a descer. Foi como se ele se precipitasse por um escorrega escuro, viscoso e sem fim. Viu outros canos saindo para todas as direções, mas nenhum tão largo quanto aquele, que virava e dobrava, sempre e ingrememente para baixo, e ele percebeu que estava descendo cada vez mais fundo sob a escola, para além das masmorras mais fundas. Atrás ele ouvia Rony, batendo-se ligeiramente nas curvas.


E então, quando começava a se preocupar com o que aconteceria quando chegasse ao chão, o cano nivelou e ele foi atirado pela extremidade com um baque aquoso, e aterrissou no chão úmido de um túnel de pedra às escuras.


– Devemos estar quilômetros abaixo da escola – disse Harry, sua voz ecoando no túnel escuro.


– Provavelmente debaixo do lago – sugeriu Mione, apertando os olhos para enxergar as paredes escuras e limosas.


Os três se viraram para encarar a escuridão à frente.


Lumus! – murmurou Harry para a sua varinha, que se acendeu. – Vamos! – chamou os amigos e lá se foram os três, seus passos chapinhando ruidosamente no chão molhado.


Mas o túnel estava silencioso como um túmulo, e o primeiro som inesperado que ouviram foi o ruído de alguma coisa sendo esmagada quando Rony pisou em alguma coisa que descobriram ser um crânio de rato. Harry baixou a varinha para olhar o chão e viu que se encontrava coalhado de ossos de pequenos animais. Tentando por tudo não imaginar que aspecto teria Gina quando a encontrassem, Harry, à frente, virou uma curva escura do túnel.


– Harry... tem alguma coisa ali... – disse Rony rouco, agarrando o ombro do amigo.


Eles se imobilizaram, observando. Harry conseguia apenas ver o contorno de uma coisa enorme e curvilínea, deitada atravessada no túnel. A coisa não se mexia.


– Talvez esteja dormindo – sussurrou, olhando para os outros dois atrás. Harry tornou a se virar para olhar a coisa, o coração batendo tão forte que chegava a doer.


Muito devagarinho, com os olhos o mais apertado possível, mas ainda vendo, Harry avançou aos poucos, com a varinha erguida.


A luz deslizou pela pele de uma cobra gigantesca, colorida e venenosa, que se encontrava enroscada e oca, no chão do túnel. O bicho que se desfizera dela devia ter, no mínimo, uns seis metros de comprimento.


Harry se aproximou para ver de perto o tamanho daquela coisa, então ouviu um grito e mal teve tempo de reagir, quando, com um estrondo, o teto cedeu.


O túnel se encheu de poeira por alguns minutos, e Harry tentava se ambientar, mas sem fazer muito barulho. Quando as partículas voltaram a se assentar, o garoto viu que o desmoronamento havia bloqueado toda a passagem.


Aproximou-se do aglomerado de pedras cautelosamente e chamou pelos amigos, preocupado.


– Harry? Você está bem? – ouviu a resposta de Hermione.


– Estou inteiro! E vocês? O que aconteceu?


– Estamos bem! – Hermione afirmou. – Ron se assustou com umas aranhas que...


– Eram muitas aranhas! – o garoto tentou explicar.


– Claro que eram, basiliscos são seus inimigos mortais!


– Parem de discutir, pelo amor de Merlin! – Harry pediu. – Do lado de cá eu não vejo como abrir passagem, acho que o teto não está seguro...


– Aqui está a mesma coisa... – Hermione admitiu. – Vamos tentar retirar algumas pedras com cuidado, para fazer uma passagem, mas isso, mesmo com magia, deve demorar um pouco...


– Certo. Então vocês vão tentando abrir caminho e eu vou continuar... Não temos tempo a perder!


Despediu-se dos amigos, que lhe desejaram sorte e pediram que tivesse cuidado. Em pouco tempo, parou de ouvi-los tentando abrir passagem no monte de pedras e se concentrou em frente. O túnel dava voltas e mais voltas. Cada nervo do corpo de Harry formigava desagradavelmente.


Ele queria que o túnel terminasse, mas temia o que encontraria no fim. E então, ao dobrar mais uma curva, deparou-se com uma parede sólida à sua frente, em que havia duas cobras entrelaçadas talhadas em pedra, os olhos engastados com duas enormes esmeraldas brilhantes. Harry se aproximou, a garganta seca. Não havia necessidade de fingir que essas cobras de pedra eram reais; seus olhos pareciam estranhamente vivos.


Ele adivinhou o que precisava fazer. Pigarreou e os olhos de esmeralda pareceram piscar.


Abram — disse, num sibilo grave e fraco.


As cobras se separaram e as paredes se afastaram, as duas metades deslizaram suavemente, desaparecendo de vista e Harry, tremendo dos pés à cabeça, entrou.


Harry se viu parado no fim de uma câmara muito comprida e mal iluminada. Altas colunas de pedra entrelaçadas com cobras em relevo sustentavam um teto que se perdia na escuridão, projetando longas sombras negras na luz estranha e esverdeada que iluminava o lugar.


Com o coração batendo muito depressa, Harry ficou escutando o silêncio hostil. Será que o basilisco estaria à espreita num canto sombrio, atrás de uma coluna? E onde estaria Gina?


Ele puxou a varinha e avançou por entre as colunas serpentinas. Cada passo cauteloso ecoava alto nas paredes sombreadas. Manteve os olhos semicerrados, pronto para fechá-los depressa, ao menor sinal de movimento. As órbitas ocas das cobras de pedra pareciam segui-lo. Mais de uma vez, com um aperto no estômago, ele pensou ter surpreendido uma delas se mexendo.


Então, quando emparelhou com o último par de colunas, uma estátua alta como a própria Câmara apareceu contra a parede do fundo.


Harry teve que esticar o pescoço para ver o rosto gigantesco lá no alto. Era antigo e simiesco, com uma barba longa e rala que caía quase até a barra das vestes esvoaçantes de um bruxo de pedra, onde havia dois pés cinzentos enormes apoiados no chão liso da Câmara. E entre os pés, de bruços, jazia um pequeno vulto de cabelos flamejantes.


— Gina! — murmurou Harry, alerta. Sabia que Voldemort estava ali, em algum lugar, à espera que ele mordesse a isca. Infelizmente, não havia outra alternativa. Aproximou-se de onde ela estava. — Gina... Não esteja morta... Por favor, não esteja morta... — balbuciou freneticamente. Abandonando um pouco o cuidado, agachou-se, segurou Gina pelos ombros e virou-a. — Foguinho, por favor, acorde! — murmurou Harry desesperado, sacudindo-a.


EXPELLIARMUS! – Harry ouviu a voz de Voldemort, e sentiu a sua varinha saindo de sua mão. – Ora, ora, ora... Finalmente nos encontramos, Harry Potter!


* * * * * * * * *


Pessoas,


Sei que demorou demais, mil perdões, mas realmente estou fechando a fic, e não gosto de deixar pontas soltas.


Esse capítulo ficou um pouco menor que os últimos, mas acredito que o próximo (o último) bata todos os recordes, hahaha ;)


Agradeço loucamente aos votos e aos comments (sério, é muito legal receber o feedback de vocês, me emociona muito, especialmente porque vejo que o amor à saga da JK Rowling continua firme e forte, não apenas em mim)!


Grande abraço para Fláh Tanganelli, Hilary Morgana Juno Soares Lestrange, Juh Tralba, Láh Jane Weasley, Larissa Granger, loucapotterygina, Mariano Silva, Martha Weasley, MilaPotter, sasa lovegood, Su Weasley Potter e Virgínia Potter 07!


O último provavelmente será postado no carnaval… Viajo na próxima segunda e fico um mês fora, sem computador (graças a Merlin! o/)


Beijo grande, nos encontramos no fim desta estrada longa e louca, de mais de 9 anos, para alguns (ainda fico de cara com a idade desta fic!)


Obrigada pela paciência e, principalmente, pelo apoio!


Boas festas, que 2015 seja maravilhoso!
:***


p.s. Sobre a sugestão da Su Weasley Potter (de fazer uma fic entre esse fim e o da outra, onde contaria a vida deles entre os dois finais): se essa parte não couber no final, talvez eu faça um epílogo (mas acho que não teria material pra uma fic completa)...

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Comentários (3)

  • sasa lovegood

    Obaaaa...estava sem internet e quando voltou entrei aqui e vi que vc havia atualizado!Otimo capitulo!Estarei aguardando então a atualização do carnaval.Beijos! 

    2015-01-19
  • Beatriiiz Potter

    Amei a sua fic ja está nos meus favoritos!! posta vai to morrendo de curiosidade!

    2014-12-26
  • loucapotterygina

    Por favor posta mais, o que vai acontecer Harry e Gina não podem morrer, eles tem que ter filhos!!! Todos tem que ser felizes!!!

    2014-12-23
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