Laranja é o novo preto



Harry continuava a posar para Colin, incentivado pelas gargalhadas dos colegas ao redor, e não percebeu a aproximação de Gina.


– Harry James Potter, o que significa essa palhaçada?


– Gina, como você está linda! – falou, embasbacado com a produção da ruiva: vestido verde escuro, tomara que caia, e os cabelos soltos, lisos e brilhantes.


– E você está RIDÍCULO! – devolveu, tentando evitar que ele percebesse o quanto havia ficado mexida com o elogio.


A sala, se possível, conseguiu rir ainda mais alto. Harry sabia que estava enrascado, mas estava tão feliz com a perspectiva de ir ao baile com ela, que não conseguia ficar sério. Passou as mãos pelo cabelo, denotando nervosismo, mas não havia como tirar o sorriso do seu rosto.


Ela arqueou as sobrancelhas, demonstrando a sua impaciência e, ao mesmo tempo, sinalizando mentalmente que estava esperando as explicações dele.


– Ah, Foguinho, você não gostou das minhas vestes? – fingiu inocência.


– Tenho várias perguntas a fazer neste momento, mas a principal é: por quê?


Ele coçou mais uma vez a cabeça, procurando, com o olhar, os demais colegas de time, e Ron veio em seu auxílio.


– Gina, a culpa não é totalmente do Harry por estar assim... Nós fizemos um trato com ele, para que ajudá-lo a ganhar a aposta, mas cobramos um preço... Este! – e apontou, teatralmente, para o capitão do time.


– Não acredito que vocês fizeram isso! E por que eu teria que passar por esse ridículo?


– Encare o acontecimento como o nosso trote de parabéns, por você ter quebrado o recorde de artilharia, que era da Corvinal.


Ela revirou os olhos, rendendo-se às circunstâncias, e deu de ombros. Vendo que a briga tinha acabado, os demais colegas que estavam assistindo à cena começaram a se dispersar. Harry aproveitou a deixa para se aproximar de Gina, passar o braço esquerdo pelas costas dela, puxando-a para um abraço mais apertado, e sussurrou, no seu ouvido direito:


– Isso só prova que somos feitos um para o outro: minhas roupas combinam com os seus cabelos e as suas, com os meus olhos!


Depois dessa, não tinha mais como ela se manter séria. Riu, a contragosto, afastou Harry com a mão esquerda em seu ombro direito e fez sinal para que fossem para o baile, nas masmorras.


– Neville não vai para o Baile? – Hermione perguntou, enquanto desciam as escadas juntos.


– Ah, Neville vai... – Gina respondeu. – Ele e Luna estão tentando se entender e vão juntos, hoje.


Quando chegaram às masmorras, os colegas mal disfarçavam que estavam rindo de Harry. Ele levantou o nariz e entrou no salão, sorrindo, e Gina não pôde fazer nada, a não ser imitá-lo, e foram seguidos por Hermione e Ron, rumo ao Professor Slughorn, que estava recebendo os convidados.


– Ora, ora, meu rapaz! – falou, no seu estilo bonachão. – Se vir vestido desta forma foi a sua tentativa para não ser ofuscado pela beleza da sua acompanhante, ouso dizer que quase surtiu efeito!


– Entre outros motivos menores, foi justamente essa a intenção, professor! – Harry entrou na brincadeira, puxando para mais perto uma Gina coradíssima.


– Então sejam bem-vindos. – continuou o professor. – Fiquem à vontade e preparem-se, pois consegui que a banda da filha de uma ex-aluna viesse tocar: “As Esquisitonas”!


Ao ouvirem a confirmação da presença da banda, houve uma comoção entre os que estavam perto de Slughorn, e algumas garotas correram para contar aos amigos.


– Professor, é verdade que teremos um vampiro na sua festa? – Hermione não aguentava de curiosidade, para saber se o boato que estava rolando era verdadeiro.


Slughorn se inflou todo, como se isso fosse de fato possível, e confidenciou, audivelmente, que sim, esta noite contavam com a presença de um vampiro, trazido por um ilustre membro do Clube do Slug, Eldred Worple, que escreveu a biografia daquela criatura, e chamou os dois para apresentá-los a eles.


– Eldred, meu caro, gostaria de apresentá-lo a estes distintos alunos da Grifinória, que muito se interessaram por conhecer um pouco do seu trabalho...


– Boa noite, senhoras e senhores! – cumprimentou-os, enquanto lhes apertava as mãos, apresentando-se. – Sou biógrafo de criaturas fantásticas e, mais recentemente, relatei a história de Sanguini, um vampiro que tenta controlar seus instintos de beber sangue, para ser aceito na sociedade. Não é mesmo, Sanguini?


Sr. Worple virou-se de lado, procurando com o olhar o vampiro que deveria estar ali, mas o avistou a uns 3 metros, flagrando-lhe o olhar cobiçoso para o pescoço de uma convidada, enquanto bebia um suco de framboesa que claramente não estava o satisfazendo.


– Sanguini! Venha pra cá agora! – O vampiro voltou para perto do biógrafo, contrariado, mas, aparentemente, dócil.


Conversaram brevemente, mas o vampiro mantinha-se monossilábico e mais interessado em desviar o olhar para o pescoço que lhe chamara a atenção do que em entabular uma conversa sobre quão gloriosa era a sua opção de não beber sangue.


– Acho bom vocês duas ficarem longe de onde esse vampiro estiver, porque ele claramente está querendo sair do clube dos Sanguinolentos Anônimos! – avisou Rony, enquanto se deslocavam em direção ao local onde avistaram Neville e Luna.


Gina e Hermione se entreolharam, quando se aproximaram do casal. Estavam civilizados, mas havia claramente um climão entre Neville e Luna. Ele é muito inteligente, mas é incrivelmente burro quando se trata de engolir o orgulho e pedir desculpas. Ele nunca aceitou a brincadeira que Luna fez sobre Nick Owen, e ela se decepcionou muito por ele ter levado isso a sério, duvidando do que os dois tinham...


Obviamente, Harry e Ron não perceberam nada, e chegaram rindo e comentando sobre o encontro que haviam tido há pouco.


– Harry, adorei suas vestes! – Luna elogiou sinceramente. – Combinam muito com os cabelos da Gina!


Harry cruzou o olhar com Gina e começou a rir, quando Luna completou:


– E que interessante, Gina! Seu vestido combina com os olhos do Harry!


Ron e Hermione, que não haviam escutado o que Harry tinha sussurrado no ouvido de Gina, antes de saírem da sala comunal da Grifinória os observaram, surpresos com o óbvio, e fizeram coro às gargalhadas de Harry, Neville e Luna, enquanto Gina ficava, se possível, ainda mais vermelha.


– Só faltou uma coisa, para que combinássemos ainda mais, não é Harry? – Gina falou, num tom pretensamente doce. – Que eu tivesse uma sacola da DedosDeMel enfiada na cabeça, pra que as pessoas não me reconhecessem!


Continuaram conversando um pouco, admirando a decoração do salão, mérito dos caprichos já conhecidos de Slughorn, quando Harry avistou Lupin na festa, conversando animadamente com o Professor Ellis.


Harry pediu licença dos amigos um instante, pediu que se mantivessem naquele local, e foi falar com Lupin. Harry estava com a martelante desconfiança de que o professor estava presente nas masmorras para ser parte da sua guarda, e queria saber se estava acontecendo algo.


– Harry! Que bom que você apareceu! Quero te apresentar o Professor Jonathan Ellis, grande estudioso de magia antiga.


– Já fomos apresentados no Halloween, Lupin. Como vai, Harry?


– Vou bem, Professor, muito obrigado. – respondeu, apertando a mão que o professor lhe oferecera. – E os senhores já conheceram o Sr. Worple e seu amigo vampiro?


Lupin revirou os olhos e explicou que, se tivesse sabido que o Sr. Worple estaria presente nem teria aceitado o convite para vir à festa. Contou-lhes que, há anos, o biógrafo queria entrevistá-lo, para escrever a história de um lobisomem pacífico e sociável.


– Mas professor, a sua história de vida é realmente incrível, por que não deixar que o grande público a conheça?


– Harry, eu não acho que quem é diferente tenha que, necessariamente, aceitar as regras da sociedade e se submeter a elas... Eu não me mutilei para caber numa roupa que não é minha, diferentemente do pobre do Sanguini! Eu simplesmente sou um cara tranquilo e, entre muitas das minhas características, sou um lobisomem. Não acho, sinceramente, que expor a minha vida a pessoas que não me conhecem e que têm todos os “pré-conceitos” e preconceitos do mundo vá ajudar em algo... Por outro lado, foi muito bom ter vindo e ter reencontrado o meu antigo professor de DCAT! Conversávamos aqui um pouco sobre o artigo que o Professor Ellis está desenvolvendo sobre Proteções Mágicas de Família...


– Exatamente. Como eu já estava dizendo a Lupin, o mundo bruxo moderno aparentemente não dá mais tanta importância aos rituais ancestrais e à magia pagã, alicerces de praticamente tudo o que conhecemos hoje...


Harry deu atenção redobrada à conversa, pois sabia que se tratava de algo muito importante e também extremamente pertinente ao momento que ele estava passando agora, com a mistura insólita de profecias, horcruxes e lendas. Entretanto, sabia que aquele não era o local apropriado para fazer perguntas mais específicas.


Neste momento, um movimento perto de onde os amigos estavam o chamou a atenção. Gina e Luna pareciam extremamente alteradas, discutindo uma com a outra, frente aos estupefatos amigos. Harry achou aquilo muito estranho e apressou em se despedir dos professores, pedindo desculpas por ter que sair de tão interessante conversa.


Nesse ínterim, os acordes iniciais da banda começaram a tocar, e a multidão que aguardava o show começou a se deslocar, uma massa compacta, bem entre Harry e os amigos. Ele bem que tentou furar a turba, mas era impossível.


Quando finalmente conseguiu passar, correu para onde estavam, e viu Neville tentando conter Luna, totalmente descontrolada, e Hermione reanimando Rony, que estava caído no chão.


– Graças a Merlin você apareceu, Harry! – Hermione falou, preocupada.


– O que aconteceu? Onde está Gina?


– Foi tudo muito rápido! Gina e Luna começaram a discutir por causa do Draco e –


– O QUÊ?


– Me solta, Neville! O Draco é meu! Não posso deixar a Gina roubá-lo de mim! – Luna continuava a se debater.


– Harry, acho que foi uma poção do amor, e das mais fortes! Gina estuporou Rony e saiu correndo, e nós não tivemos como impedi-la! Neville tentava conter Luna e eu simplesmente não consegui reagir!


Mione tentava se desculpar, já chorando. Harry procurou febrilmente o Mapa do Maroto no bolso interno das vestes, com o coração quase saindo pela boca. Esperava que não fosse tarde demais! Encontrou os pontinhos do Draco e da Gina numa sala mais afastada, ainda nas masmorras.


Correu o mais rápido que conseguiu, com Hermione e Rony no seu encalço. Neville ficou no salão com Luna, tentando evitar que ela se soltasse e piorasse ainda mais a situação.


A porta estava entreaberta, o que aumentou ainda mais a raiva que Harry estava sentindo. Parecia que Malfoy nem se preocupara em se resguardar, tão confiante estava de que seu plano ia funcionar perfeitamente.


Harry entrou na sala silenciosamente, varinha em punho, e, quando os avistou e teve a sensação de que o seu estômago foi para os pés. Draco pressionava Gina contra a parede, os dois quase se engolindo, enroscados feito enguias, e ele passando as mãos acintosamente no corpo dela.


Harry não conseguia pensar, respirar e, nem tampouco, acreditar no que estava vendo. A certeza de que Draco estava se aproveitando do estado alterado de Gina o tirou do torpor que estava e Harry canalizou o ódio que estava sentindo para o feitiço que lançou.


O “estupefaça” foi tão forte que o corpo de Draco ricocheteou e caiu, com estrondo, no chão, inerte. O problema é que Gina absorveu todo o impacto e também desmontou, desacordada.


Harry não conseguia esboçar reação, além de tremer, da cabeça aos pés. Hermione e Ron correram para onde a ruiva havia caído, para reanimá-la e ver como ela estava.


– Gina, você está bem? – Ron perguntou, quando ela abriu os olhos, com dificuldade.


– O que aconteceu? Onde estou? – balbuciou, sendo amparada para se levantar.


Aparentemente o efeito da poção se dissipara, após o impacto do feitiço. Ela olhou pro corpo caído em ângulos estranhos do Draco e perguntou, mais uma vez, o que estava havendo.


– Do que é que você se lembra, Gina?


– Mione, eu me lembro de ter aceitado o brownie oferecido pelo garçom e de tê-lo dividido com a Luna e só...


– Gina, naquele brownie havia uma fortíssima poção do amor, provavelmente plantada pelo Draco... Vocês duas ficaram incontroláveis! Você estuporou o Ron e saiu correndo atrás do Draco! Nem sei o que teria acontecido se você tivesse tomado a dose inteira da poção... Mas sei o que teria acontecido se Harry não tivesse te achado... – completou, com nojo.


Gina avistou Harry, branco, ainda, sentado no chão, encostado na parede da sala, tremendo. Ela fez menção de se aproximar dele, mas foi Ron que os trouxe à realidade, dizendo que tinham que sair dali rápido, antes que fossem pegos, afinal, Draco era monitor e, mesmo eles tendo razão, era possível que tivessem que responder por algo.


Ron ajudou Harry a se levantar, saíram da sala e trancaram Draco nela. Não era o que ele merecia, mas era a retaliação que poderiam fazer, no momento.


Ron e Mione voltaram para o salão, deixando-os sozinhos. Gina tentou se aproximar de Harry, mas ele se afastou, envergonhado, dizendo que a culpa do que ocorreu era dele, e que não queria tê-la machucado.


– Harry, por Merlin, você me salvou, não foi culpa sua!


– Não, Gina. Eu deveria ter te dito a verdade a mais tempo, mas vou tentar compensar isso agora!


E a levou até a sala do diretor. As luzes estavam acesas, e Harry bateu na porta, aliviado por não ter que acordá-lo. Dumbledore os recebeu com óbvia curiosidade e pediu que se sentassem.


– Professor, eu trouxe a Gina aqui para que o senhor a explique tudo o que está acontecendo. Hoje quase aconteceu um desastre e tenho certeza de que, se ela soubesse do que está havendo, teria evitado o que aconteceu.


Nos minutos seguintes contou para o diretor o que havia acontecido nas masmorras.


– Concordo com você, Harry: já é hora da Gina saber da verdade!


O garoto anuiu e foi em direção à porta.


– Harry, por favor, fique. – Gina pediu.


– Não, Gina. Você vai ficar mais à vontade sem a minha presença. – respondeu, cansado.


– Então me espere na sala comunal, pelo menos!


– Foguinho, eu sempre vou esperar por você! – disse, com um sorriso triste, e fechou a porta atrás de si.


* * * * * * * * *


Sei que a frequência com que as pessoas leem e comentam as fics diminuiu bastante, mas será que os leitores que apareceram por aqui estão todos relendo a fic inteira, como a Lily_Van_Phailaxies comentou que estava fazendo, no capítulo anterior?


Se sim, espero que se divirtam com tudo novamente! :)


O capítulo de hoje foi um pouco mais curto que o anterior, mas é importante para o fechamento da trama. Admito que tinha pensando em fazer mais uns 3 capítulos, mas acho que os personagens falam demais, e é possível que eu tente fechar tudo até o capítulo 40!


Beijos e até o próximo capítulo!


p.s. Eu nunca pensei em largar essa fic, e esse sentimento de carinho por ela vem, em grande parte, por todos os comentários recebidos, em toda a sua conturbada história! Se não fossem vocês, leitores, ela provavelmente não existiria. Muito obrigada a todos!

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Comentários (4)

  • Victórie Weasley Lupin

    Concordo com elas, estou borbulhano de felicidade que você voltou a postar! E seu trabalho esta perfeito, não se preocupe com o tempo desde que você poste alguma coisa nós vamos ficar felizes de você não ter abandonado a fic.Xoxo, Vicky. 

    2013-12-02
  • allissandra

    adorei que vc voltou a postar.reli toda as duas fics,muito boas,e posta logo.

    2013-11-23
  • G F.K

    Fico feliz q tenha voltado a postar aki mulher, tbm li a a fic todinha de novo.. agora as coisas estão começando a esquentar e to louco para ver o desfecho disso td.

    2013-11-22
  • loucapotterygina

    Nossa fiquei hiper mega feliz que vc voltou a postar. Parei até de estudar Genética Medica só pra ler, posta mais e logo por favor!

    2013-11-21
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