Baú e Varinha
Harry aproveitou a surpresa da ruiva e a puxou para mais perto. Se ela tivesse a mínima noção do efeito que causava nele, com certeza estaria completamente perdido (se é que já não estava).
Infelizmente (especialmente para Harry) Gina se desvencilhou e se postou a uma distância segura. A ruiva se manteve um tempo de costas pra ele, que esperava a explosão ou o que quer que ela fosse falar.
- Isso não está certo, Harry! – sussurrou. – Primeiro, você me propõe sermos amigos, depois me convida para o baile como se fosse a última cerveja-amanteigada gelada do deserto, então fica completamente neurastênico porque eu estava dançando com o seu irmão, tem uma crise de ciúmes do Malfoy e me agarra...
- Desculpa, eu –
Não conseguiu falar nada. A objetividade com que a ruiva expusera o que ele estava fazendo na última semana o atingira de forma cruel. Ela o encarou e ele finalmente percebeu que ela também estava sofrendo, em grande parte pela incoerência dele.
Sentou-se no sofá, frustrado. Frustrado por não poder dizer a ela o que quisesse; frustrado por não poder assumir que tudo o que mais queria era ficar com ela; frustrado por saber que Voldemort poderia se voltar pra ela, se soubesse o quão importante, para ele, ela é.
- Eu menti pra você. – ela falou, depois de um longo silêncio. – Menti quando disse que tinha dispensado Nick porque já tinha par; eu chamei Liam para ir comigo naquele café da manhã. Menti quando você me perguntou se eu não queria ir com outra pessoa ao baile. – suspirou, sentando-se ao lado dele. – Eu queria ir com você... Mas não queria mais sofrer, ou me iludir...
- Eu sinto muito, Gina... – calou-se. Não podia encará-la.
- Eu não posso esperar por você para sempre... – falou, num fio de voz.
Ele levantou o rosto e estudou-lhe as feições. Ela estava abrindo o coração, mas ele só conseguia enxergar que ela o estava dispensando. Entendeu que ela tinha mais alguém em vista; isso explicava, na cabeça atormentada dele, porque ela se afastara do beijo. Ela estava acabando o quer que eles um dia tiveram.
- Eu entendo. – mas não entendia. – Será que eu tenho o direito a um beijo de adeus? – suplicou, num murmúrio apático.
Ela ficou vermelhíssima; ele havia acabado de dispensá-la. E o pior: depois de ela ter dito que queria ter ido com ele ao baile, que queria que ele se decidisse em relação a eles... E ele decidiu; decidiu que não valia a pena.
- Odeio despedidas. – balbuciou antes de dar-lhe as costas e praticamente correr até seu dormitório.
Ele ficou no salão comunal até quase o amanhecer. “E assim acabou a mais bela amizade de 7 dias, 3 horas e 17 minutos.” – sentenciou, finalmente indo para o seu quarto.
* * * * * * * * *
As reuniões da AD se tornaram semanais durante o mês de novembro, mas em dezembro elas foram suspensas, por causa da proximidade dos exames. Continuaram estudando os feitiços básicos, e evoluíram para o estupora, o impedimenta e o silencio.
Gina e Harry não se falavam. Ela continuou na Armada, apesar de ele achar que ela só havia ficado por causa de Liam. Ele tinha que se segurar sempre que via Nick Owen perto dela, o que estava se tornando cada vez mais constante (apesar de ele não vê-la trocar sequer duas palavras com o corvinal).
Depois de uma aula particularmente puxada, onde treinaram estuporamento seguido de reanimação (muitos foram estuporados e reanimados mais de cinco vezes), Harry deu por encerrada a reunião.
- Agora que todos estão mais ou menos equiparados em feitiços simples, - alguns gemeram com o “simples”. – quando voltarmos do recesso de natal, podemos começar a estudar patronos!
A maioria esboçou sorrisos cansados, que Harry entendeu como o máximo de efusividade que poderiam ter com a notícia.
Desse dia em diante, como por mágica, não viu mais a ruiva, o que agradecia mentalmente, pois poderia tentar se concentrar nos exames, e nos afazeres da Ordem. Dezembro passou voando e já ia começar o recesso.
Nenhum aluno se inscreveu para ficar na escola, e a estação de Hogsmead estava tão lotada quanto na chegada para o ano letivo. Por medida de segurança da Ordem, seguiram no mesmo vagão os Potter, os Weasley, Neville, Luna, Hermione e Tonks.
Harry se sentou numa ponta da cabine, puxou um livro de azarações e enterrou-se atrás dele, lembrando um pouco Hermione. Liam sentou ao lado do irmão, seguido por Rony e Hermione; em frente ao apanhador da Grifinória estava Neville, seguido por Tonks, depois por Gina e finalmente, Luna, que estava mais próxima da porta.
Apesar dos tempos obscuros e do fato de estarem indo passar o natal no sombrio Largo Grimmauld, o grupo conversava alegremente, exceto o leitor. Harry tentava se concentrar no livro, mas era vão o esforço. Quando ia baixar o livro para tentar entrar na conversa, uma batida discreta se deu na porta.
Tonks a abriu e entrou por ela uma coruja parda, carregando um pacote e um pergaminho. Planou um pouco na cabine até deixar o embrulho no colo de Gina. Todos voltaram o olhar para a ruiva, que leu:
É possível que não nos vejamos até o Natal, então espero que você aceite este humilde presente.
- Só isso? – Luna perguntou, reparando que não havia assinatura.
- De quem é, ruiva? – Tonks se debruçou sobre a garota, e Mione também se aproximou.
- Abre logo! – as garotas pediram, ávidas.
Harry estranhou aquele movimento todo em cima da ruiva, e percebeu como as meninas estavam afetadas com o tal presente. Cochichou algo no ouvido de Liam, que se levantou e saiu da sala. Fez um sinal para os dois amigos, e se levantou.
- Olha, é um baú! – Luna falou, na sua expressão sonhadora. – Abre, Gina!
As outras duas fizeram coro à loira, e Rony e Neville se espantaram com o comportamento das garotas; parecia que estavam enfeitiçadas.
- Accio baú! – Harry gritou, antes que a ruiva pudesse abri-lo.
Foi tudo muito rápido; as quatro se levantaram na direção de Harry, que lançou sucessivos expeliarmus nelas, e pediu que os garotos o ajudassem. Ron estuporou Tonks e imobilizou Mione, que estava vermelha de ódio.
Neville jogou o corpo por cima de Luna, que desviara habilmente dos feitiços que o ex-namorado lhe lançara. Ele a prensou no banco, segurando suas mãos, enquanto ela se debatia loucamente.
Gina, que não tivera obstáculos até chegar em Harry, se jogou com tudo pra cima do garoto, totalmente transtornada. Harry mantinha o baú firmemente na mão, segurando-o atrás do corpo; a ruiva apoiou os joelhos na cintura dele, e tentava, em vão, alcançar o presente.
Harry girou o corpo e prenssionou a garota na parede da cabine, que tentava a todo custo sair do jugo; arranhava-lhe as costas, tentando pegar o baú, e ele tentava lhe segurar, com apenas uma mão livre; era arriscado demais tentar usar a varinha, já que ela poderia, nessa loucura que se apossara dela, tomar-lhe e azará-lo.
Lupin irrompeu a cabine com Liam ofegando em seus calcanhares. A cena era por demais bizarra; Tonks caída num canto, Mione paralisada do pescoço para baixo, visivelmente gritando e xingando Rony, apesar de não sair som de sua boca. O ruivo se mantinha alerta, entre a namorada e a auror.
Neville já havia imobilizado Luna, que era bem menor que ele, apesar de ainda resistir bravamente. Harry lutava como podia, mas a ruiva continuava se debatendo, e estava sendo cada vez mais difícil contê-la sem machucá-la.
- Accio baú! – o professor repetiu as palavras do garoto. Analisou por um tempo o que tinha nas mãos, murmurou algumas palavras e fez com que o baú desaparecesse. Nesse momento, parecia que as garotas tinham acabado de acordar.
Neville e Luna se separaram, constrangidos; Ron correu para tirar os feitiços a que havia submetido a namorada; Gina corou furiosamente, ao ver como estava agarrada a Harry, que respirava com dificuldade. Desvencilhou-se do rapaz, que gemeu ao sentar-se e encostar no assento.
- Enervate! – Lupin apontou para Tonks. – Será que alguém pode me dizer o que aconteceu por aqui? – perguntou sério, encarando a auror, que se levantou, vermelha.
Neville tomou a palavra e explicou o que havia acontecido. Enquanto falava, as garotas iam ficando cada vez mais vermelhas. Gina baixou a cabeça, e Mione não acreditava no que ocorrera; se não fosse os meninos, mais especificamente Harry, sabe-se lá o que poderia ter acontecido.
- Posso falar com você? – Lupin perguntou, com cara de poucos amigos, para Tonks. Saiu praticamente empurrando a garota da sala.
O clima que ficou na cabine foi pesado. Liam sentou ao lado de Harry, que fazia caretas de dor, massageando o ombro.
- Harry, como foi que você percebeu o que estava havendo? – Ron perguntou.
- Ah, cara, você viu como elas ficaram alvoroçadas por causa daquele presente... – falou, ainda fazendo caretas. – Então pedi pro Liam chamar Lupin e o resto vocês sabem.
- Putz! – Ron murmurou, francamente impressionado com a rapidez do pensamento dele.
- Além do mais, podia ter sido enviado pelo Malfoy. – alfinetou.
- Como é? Porque o Malfoy te mandaria presentes? – Ron virou-se pra irmã. – Ainda mais desse tipo?
- Ron, era pra ser segredo, mas já que fizeram questão de estragar a surpresa, eu tenho que admitir: eu e Malfoy estamos saindo juntos há um tempo!
- O QUÊ?!? – Ron e Harry gritaram, ao mesmo tempo.
- Vocês são dois idiotas, mesmo! – a ruiva falou e saiu da cabine, seguida por Luna.
* * * * * * * * *
Não tiveram paz desde que tinham chegado ao Largo; Molly Weasley estava em polvorosa pelo risco corrido no expresso, especialmente pela sua filha. Agradeceu reiteradas vezes a Harry, que já estava vermelho, com tantos elogios e abraços da senhora ruiva.
Lily abriu caminho entre os garotos e deu um abraço apertado nos dois filhos. Ellen sorria por trás da mãe, esperando para abraçar os irmãos.
- Então, o que vai querer de presente de aniversário, hein? – Harry perguntou carinhosamente à irmã, erguendo-a nos braços.
- Esse ano você vai ter que descobrir sozinho! – riu, enquanto ele a punha no chão.
- Mulheres! Porque são tão complicadas? – perguntou-se em voz alta, teatralmente.
Levaram suas malas para os respectivos quartos: Harry dividiria o seu com Liam; Neville com Rony; Gina, Mione, Luna e Ellen dividiram um quarto maior no andar superior ao dos meninos. Já era noite quando se consideraram “instalados”.
Harry fora chamado para a reunião da Ordem, o que deixou alguns dos amigos meio revoltados. Os que não desceram para a reunião se juntaram no quarto das meninas.
- Ron, você sabia que Harry estava na Ordem? – Mione perguntou, e o namorado negou.
- Ele entrou na Ordem assim que fez dezessete anos. – Neville falou, e os amigos lhe dirigiram um olhar chateado, por ele ter mantido segredo disso. – Olha, eu só soube porque meus pais são da Ordem; eu não podia dizer algo que só cabe a ele contar!
- Ninguém está te culpando, Neville! – Gina interveio. – O problema não é você, e sim “Harry Potter e seus segredos”! – revirou os olhos.
Mudaram o assunto para o que fariam depois que terminassem Hogwarts. Neville, Mione, Ron e Harry já deviam estar encaminhando os estudos para conseguir seus cursos pós-escolares.
Conversaram por um bom tempo, até serem chamados para o jantar. Todos mantinham no rosto uma expressão séria, e Harry estava muito compenetrado; brincou com a comida e levantou-se assim que terminou a refeição, indo para a cama.
Deitou-se ainda se lembrando da reunião; os comensais estavam sendo discretos, o que dificultava prever seus passos. No dia anterior, o Sr. Olivaras havia sido sequestrado na sua loja, no Beco Diagonal. Ninguém vira nada (ou ao menos não quisera dizer), e as informações que tiveram foi dos gêmeos Weasley, que têm uma loja vizinha a de varinhas.
Revirou-se na cama; não dava pra ignorar que, lentamente, Voldemort e seus asseclas estavam ficando mais fortes. Harry não tinha medo deles, mas tinha medo do que podiam fazer com os seus. Súbito, sentiu uma fisgada que o lembrou da noite em que o Sr. Weasley fora mordido pela cobra.
Virou-se mais uma vez, e não percebeu que finalmente adormecera. Estava num quarto escuro e lúgubre, que tinha apenas uma réstia de luz, que vinha do tremeluzir de uma vela. Olhou ao redor e viu alguns vultos vestidos de branco, cabeça coberta com um pano da mesma cor. No chão, um homem, arquejando.
- Vai me dizer, ou não? – a voz de Harry saiu estranhamente aguda.
- Eu não sei de nada! – o homem gemeu. Harry percebia que sabia que o homem no chão alguma coisa de Voldemort, mas fazia uma força descomunal para se controlar.
- É hora de escolher de que lado você está! – vociferou. – Diga!
- Eu... não... sei... de... nada! – falou com a voz ainda mais entrecortada.
- Vejo que já se decidiu... – falou, com uma voz ainda mais fria e arrastada. Harry levantou o braço empunhando a varinha e gritou: - Avada -
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHH! – o garoto gritou, caindo da cama e segurando a testa com força; a cicatriz estava latejando.
Harry não ouviu Liam perguntar o que estava havendo, tampouco a porta sendo aberta e dando passagem para seus pais, Sirius e Lupin, que estavam fazendo a ronda na casa. “Vigilância constante!” – era o que Moody sempre dizia.
- Harry! – Lily o chamava, em vão. A dor era tão lancinante, que ele sentiu que, em breve, sucumbiria.
* * * * * * * * *
Gina desceu as escadas correndo, seguida de perto pelas garotas, que acordaram com o grito que a ruiva dera. Não entendiam o que se passava, mas sentiam que era algo sério. Chegaram à porta do quarto de Harry, e perceberam que realmente havia acontecido algo; Liam estava branco, olhando aterrorizado para a porta agora fechada, guardada por Sirius e Lupin.
- Eu preciso ver o Harry! – Gina falou, precipitando-se para a porta.
- Agora não é hora, Gina! – Lupin lhe segurou o braço. – Ele não está bem.
- Eu sei disso! – puxou o braço de volta, impaciente. – Ele precisa de mim!
Os dois homens se entreolharam por alguns instantes, voltaram a encarar a ruiva, que os esperava, exasperada. Sirius deu um suspiro e fez sinal para que Lupin se afastasse para ela passar.
Quando entrou no quarto, viu Lily desesperada ao lado de Harry, que estava de joelhos no chão, pressionando a testa com as duas mãos, gemendo de dor. Tiago não sabia como ajudar, já que nem a esposa estava conseguindo algum avanço; a frustração estava estampada nos seus rostos.
Gina correu para onde ele estava, ajoelhou-se na sua frente e acariciou-lhe o rosto. Ele abriu os olhos sem foco por um instante, fechando-os em seguida, mais angustiado. Ela se aproximou um pouco mais, tirou-lhe as mãos da fronte e começou a massagear a sua cicatriz.
- Calma, Harry! – murmurava, enquanto ele respirava um pouco mais compassadamente.
- O Sr. Olivaras – balbuciou. – culpa... eu...
- Não foi culpa sua! – ela rebateu, agora beijando-lhe a testa, carinhosamente.
- O que aconteceu? – Tiago perguntou, quando viu o filho um pouco mais calmo.
- Voldemort matou o Sr. Olivaras agora há pouco. – Gina respondeu, objetiva.
- É verdade, Harry? – Lily perguntou, assombrada por Gina saber o que se passou com o garoto só de estar perto, enquanto que ela não conseguira nenhum avanço.
O garoto assentiu, mas continuou balbuciando palavras desconexas, como “assassino”, “fui eu”, “culpa”.
- Eu já lhe disse que a culpa não foi sua! – Gina foi firme. – Eu vi tudo! Foi ele quem matou o Sr. Olivaras, Harry! Você não podia ter feito nada, por mais que quisesse! – segurou-lhe o rosto, encostando o nariz no dele. – Não foi você! – falou, beijando-lhe o rosto carinhosamente.
Continuou abraçada a ele, de joelhos no chão, até que se acalmasse por completo. Lily olhava os dois boquiaberta e emocionada com o carinho da garota pelo seu filho. A senhora pegou da sua maleta de medibruxa um frasco de uma poção do sono, e pediu para que o marido a ajudasse a pôr o filho na cama.
- Com essa poção, você vai dormir profundamente por umas seis horas. Não se preocupe, quando a poção estiver perto de passar o efeito, venho aqui te acordar! – Lily apressou-se em dizer, quando o garoto quis objetar.
Gina começou a se afastar, aliviada por Harry estar mais calmo, só agora atentando para a estranheza da situação. Não pôde pensar por muito tempo, pois o garoto lhe segurou a mão e lhe puxou para perto da cama.
- Ginny, fica essa noite aqui comigo, por favor! – pediu, entrelaçando os dedos aos da ruiva. A garota olhou para Lily, que assentiu de pronto para que ela passasse a noite lá.
- Não se preocupe, eu também passarei a noite aqui, seus pais não vão se preocupar. Amanhã conversaremos todos! – assegurou a senhora.
Gina suspirou aliviada; sabia que não conseguiria dormir, com medo que Harry tivesse outro sonho ou coisa parecida. Deitou-se ao lado dele, e se pôs a passar os dedos lentamente sobre a cicatriz, enquanto ele relaxava.
* * * * * * * * *
Tá, eu sei que é inaceitável demorar tanto tempo pra postar, mas não deu pra fazê-lo antes! Coisas de estágio e faculdade... =(
E, infelizmente, o destino é piorar! Estou à beira de um ataque monográfico, e meu já escasso tempo vai ficar quase nenhum! =’(
Mas eu não abandonei nem abandonarei a fic! Sempre que puder, postarei! Muito, mas muito obrigada pelos votos e comments!
Bjos a todos! =D
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