"Amigos"
- Não, Harry! - Mione lhe segurou pelo braço, quando ele se virava para seguir a ruiva. - Deixe-a ir. Ela precisa de um tempo...
- Mas Mione...
- Eu converso com ela, certo? Agora você e o Neville têm uns esclarecimentos a fazer.
Harry conteve um revirado de olhos. Devia ter previsto que, depois de passado o susto, Mione iria querer esmiuçar a história toda. Fez um aceno com a cabeça, concordando com ela e dando-lhe abertura para que começasse com o interrogatório.
- Porque o Neville sabia de tudo e nós não? - foi incisiva.
- Porque os pais dele estão na Ordem e sabem.
- Meus pais e meus irmãos também estão na Ordem e eu não sabia de nada! - Rony entrou na conversa.
- Eu sei por causa da Profecia. - foi só o que Neville falou, recebendo um olhar de censura de Harry.
- Que profecia? - Mione arqueou as sobrancelhas, virando-se para Harry.
- Como você mesma disse, parte dessa história está envolta em lendas. - deu um suspiro de cansaço. - Dizem que foi feita uma profecia dizendo que "aquele que pode derrotar o Senhor do Mal estava para nascer", filho de quem já havia enfrentado Voldemort e que isso aconteceria no final do sétimo mês.
- Não necessariamente seria você, não é?
- Na realidade, só havia outra opção. - Neville se manifestou, apontando para si mesmo. - Apesar de toda a sua preocupação com descendência nobre, ele resolveu escolher o que não tinha sangue-puro.
- Vocês estão falando sério? Acham que essa Profecia existe mesmo?
- Acho que ela se perdeu, Mione. - Mentiu Harry. Ele era um dos poucos que sabia, e não ia tornar os amigos um alvo para que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado soubesse o resto da profecia. - Mas, ao que parece, Voldemort soube dela e tentou matar o "escolhido" antes que pudesse ser uma ameaça pra ele.
Um silêncio pesado se fez na sala. Mione concentrada, tentando assimilar tudo o que podia, como se estivesse numa aula particularmente difícil; Rony com o olhar desfocado, olhando pela janela; Luna mantinha aquela sua expressão aérea, mas Neville, que estava ao seu lado, percebera como ela ficara tensa com o risco que o namorado correra. Harry apenas os observava, tentando assimilar suas expressões.
- E o Patrono? - Mione perguntou, do nada.
- Oi? - Harry se sobressaltou.
- Desde quando você executa o feitiço do Patrono?
- Eu passei as férias treinando exaustivamente com Sirius e Lupin na Sede da Ordem. Vimos muitas defesas e anti-azarações, mas a primeira que me fizeram aprender foi o Patrono, pois já sabiam que, desde a volta de Voldemort, os dementadores iriam se rebelar...
- Harry, mesmo treinando exaustivamente, o Patrono é um feitiço extremamente difícil; só quem está em NIEM de Feitiços o vê, e são poucos os que conseguem fazê-lo tão denso quanto aquele que você lançou!
Harry enrubesceu; aquela era a maneira de Hermione dizer que estava impressionada com o feitiço, e elogiá-lo.
- É verdade, Harry! Já vi Percy fazer esse feitiço e saiu apenas um borrão branco; ele estava se exibindo lá em casa depois de ter passado no teste para trabalhar no Ministério. - Rony completou a fala da namorada.
- Olhem, isso não foi nada de mais; eu tinha que lançá-lo, havia muitos dementadores e -
- Não diminua o seu feito! Se não fosse você, só Merlin sabe o que mais podia ter acontecido ontem! - Luna finalmente falou.
- O que não está certo é você lutar sozinho! Nós queremos e vamos ajudá-lo!
- Não, senhora! Tá doida, Mione? - exaltou-se.
- E você vai nos ensinar, Harry! - completou como se o amigo não tivesse objetado.
- Mione tá certa! Não vamos te deixar na mão! - Ron completou e se levantou, ficando ao lado da namorada, que estava de frente para Harry, ambos em pé.
- Vocês enlouqueceram, é isso! - resmungou em resposta. Neville e Luna também se levantaram, e os quatro formaram um paredão em frente a Harry, ansiosos por uma resposta. - Vocês não precisam se envolver nisso...
- Harry, todos nós corremos riscos; não é só V-Voldemort que está à solta, há também os Comensais e os que compartilham da ideia louca dele de nobreza de sangue! - Rony argumentou. - Minha família está na Ordem, minha namorada é nascida trouxa, meu melhor amigo é caçado pessoalmente pelo "Lord das Quantas" e eu não vou ficar esperando de camarote as coisas acontecerem!
- Mas vocês vão se expor e -
- Não me faça concordar com o que a Gina te disse, Harry! - o ruivo continuou. - Nós temos o direito de nos prepararmos para o que venha a acontecer, e, se você não quiser nos ajudar, treinaremos sozinhos, se necessário, mas não te deixaremos sozinho nessa luta!
- Você não tem como negar que é irmão da Gina, não é? - deu um meio sorriso. - Tá, eu treino vocês, mas vou logo avisando que boa parte do que eu usei em luta foi por mera sorte, e talvez eu não tenha muito a ensinar... A gente pode pedir pra Tonks nos treinar!
- Poderíamos, mas os outros não podem saber que ela é uma auror, não é?
- Mas Mione, só vamos treinar nós, não? - Harry olhou para a amiga, confuso.
- Não acho isso certo. Tenho certeza que muito mais gente vai querer treinar defesa e combate em Hogwarts!
- Você não cansa de eu te perguntar de cinco em cinco minutos se você enlouqueceu? As pessoas não acreditam que Voldemort voltou, me acham um louco exibicionista e nunca iam querer -
- As pessoas erram, Harry, e isso não quer dizer que vão prosseguir no erro! Veja o seu caso: você estava errado em esconder a verdade da gente, mas se arrependeu e nos contou. - falou como se explicasse para uma criança de seis anos. - Me dê uns dias, que eu vou falar com as pessoas certas, ok?
Harry abaixou os ombros, derrotado. Os quatro o olhavam quase sem piscar, à espera da concordância, que veio em seguida.
- Só não chame ninguém abaixo do terceiro ano!
- Se você acha que com essa imposição vai manter Liam afastado, sugiro que fale com ele pessoalmente! Eu tenho certeza de que ele vai querer participar!
* * * * * * * * *
Saíram da sala precisa um pouco mais leves, especialmente Harry. Apesar de saber que os amigos estavam potencialmente correndo mais riscos, ficou feliz com o apoio incondicional deles. "Apesar da explosão da ruiva!" - pensou, com desgosto.
- Ainda bem que você chegou, Mione! - Tonks quase gritou, e puxou a amiga para um canto da Sala Comunal, que eles haviam acabado de entrar.
Mione subiu as escadas correndo, acompanhada da auror, deixando Harry e Rony preocupados.
- Você acha que - Harry tentou não ser tão direto, mas não conseguiu. - que sua irmã está legal?
- Sinceramente? - fez um muxoxo com a boca. - Não mesmo!
Subiram para o dormitório masculino, mas Harry mal conseguiu dormir. Se recriminava mentalmente por se preocupar tanto com a ruiva, tendo milhões de coisas com que se ocupar, como o irmão que ainda estava na ala hospitalar, por exemplo.
- Gina? - Mione perguntou de mansinho, entrando lentamente no quarto ocupado pelas três.
- Desde que chegou aqui, ela só chora, Mione! Eu já perguntei o que era, mas ela não fala nada!
Mione deu a volta na cama onde a ruiva estava jogada de qualquer jeito, relativamente calma, soluços espaçados, mas ainda calada. Sentou-se na cama ao lado dela, e cruzou os braços.
- Estou muito decepcionada com você, Ginevra! - falou num tom triste. - Eu nunca esperei que você fosse fazer o que fez, viu?
- O que aconteceu, Mione? - Tonks perguntou, ao ver que Gina não ia responder ao que a garota falara.
- Tonks, você é da Ordem, então sabe o que vou dizer: Harry hoje fez uma coisa que eu, que sou amiga dele há mais de seis anos, nunca o tinha visto fazer! Ele se abriu, sabe? Contou o que o afligia. Ele nos disse que tinha se afastado de nós desde que soubera que Voldemort estava à sua caça, para nos proteger... Mas a mocinha aqui o chamou de idiota, egoísta e outros adjetivos absurdos e saiu da sala, como se fosse a dona da verdade!
- Ei, não foi assim, não! - tentou se defender, esquecendo-se um pouco das lágrimas.
- Foi sim! Você precisava ter visto a cara dele depois que você saiu, Gina! Eu sei que ele errou, mas foi com a melhor das intenções!
- O que me deixou possessa naquela conversa não foi isso! - quase gritava agora. - Ele não tinha o direito de decidir se afastar sem falar nada! Ele não podia decidir por nós dois! E daí que Voldemort está à caça dele? O que ele pensava, que eu ia sair correndo, com medo?
- Não foi isso o que você fez? Saiu correndo?
- Foi de raiva, que eu saí dali!
- Disso ninguém duvida! - resmungou Mione. - Gina, eu sempre estive do seu lado nessa história toda, - recomeçou. - mas você agora foi longe demais! Harry teve motivo de sobra para se afastar de todos nós, aguentou uma barra pesadíssima sozinho e você tem a audácia de chamá-lo de egoísta? ME POUPE!
- Mione, eu -
- Eu nunca imaginei que você fosse fazer uma coisa dessas! - interrompeu a ruiva. - Mas talvez tenha sido até melhor, pra ver se ele pára um pouco de se preocupar com você e desencana dessa história toda, porque, com certeza, você não o merece! - virou-se e saiu do quarto, intempestivamente, sendo seguida por uma estupefata Tonks.
* * * * * * * * *
- Cadê a Gina, Mione? - Ron perguntou, à mesa do café.
- Saí do dormitório e ela ainda estava deitada. - falou num tom impaciente, e ele percebeu.
- O que houve?
- Ah, Ron... Sua irmã é cabeça-dura demais! Eu disse umas coisas que estavam engasgadas na minha garganta pra ela, foi isso.
- Que coisas, Hermione Jane Granger? - sempre fora protetor com a irmã, apesar de não concordar com algumas atitudes dela.
- Você pode fazer de conta que não percebe que o Harry gosta dela e vice-versa, mas aqueles dois se amam, e ficam brincando de gato e rato! E eu não suportei vê-la tratando o Harry da maneira que tratou ontem!
- Mione, não se meta nessa história! É meu melhor amigo e minha irmã caçula, mas ainda assim não me julgo no direito de dizer nada... Eles é que têm que se entender!
- Sinto muito, mas eu não consigo ter esse distanciamento que você quer que eu tenha. Sei que errei, mas não me arrependo! Quem sabe agora ela enxergue o que está fazendo a eles dois!
- Me passa a manteiga, Mione! - pediu Harry, que havia acabado de se sentar ao lado deles. Ron e a namorada conversavam aos sussurros, e aparentemente o garoto não percebera que era assunto.
Mudaram o tema da conversa para amenidades e seguiram para a primeira aula de segunda, NIEM de Poções. Slug começou a aula falando do ataque do último sábado, e Harry percebeu que esse seria o assunto da escola por algum tempo, ainda.
Horace fez loas a alguns alunos da sala, que tiveram familiares feridos ou mortos, falando, inclusive, um pouco de Liam, Lily e Tiago para a sala toda. Depois, fez com que os alunos produzissem na aula galões e mais galões de poção revigorante, para abastecer a ala hospitalar.
Terminada a aula, o professor pediu para falar com os membros do seu clube: Harry, Neville, Draco, Blás Zabini e Hermione (que havia entrado no Clube ainda no ano anterior, por mérito, e não por consequências familiares).
- Meus queridos, vocês todos devem saber que Professor Dumbledore cancelou o Baile do Dia das Bruxas, que ia se realizar neste sábado. - Os garotos encaravam o professor abobadamente; pessoas estavam morrendo, e ele se preocupava com uma festa! - Resolvi, para não deixar a data passar em brancas nuvens, dar um festinha nas masmorras, só para convidados seletos... Vocês, como associados do Clube do Slug, estão convidados, e podem levar um acompanhante, certo?
Os cinco assentiram, e saíram da sala ainda boquiabertos. Mione resmungava baixinho que o professor era um inconsequente, e Harry e Neville se seguravam para não rir.
Na hora do almoço, não se sabe como, toda a escola parecia saber do baile privée nas masmorras, e estavam se engalfinhando por um convite dos "associados". Mione e Neville riam das tentativas frustradas que as garotas faziam para Harry, já que eles dois já tinham par.
Harry tentava se esquivar da terceira garota, até que percebeu que não ia conseguir almoçar em paz. Engoliu o mais rápido que pôde, e saiu correndo de lá, rumo à sala de Lupin, sua próxima aula.
- Novidades, professor? - Harry interrompeu Lupin, que estava concentrado lendo um pergaminho.
- O Ministério está em polvorosa! Eles não conseguem mais achar uma explicação aceitável para dar à comunidade bruxa, e as pessoas estão começando a acreditar em Dumbledore e em você...
- E sobre o último ataque?
- Nada de substancial; não-oficialmente, a ação dos Comensais em Hogsmead foi considerada pelo Quartel dos Aurores como vandalismo.
- Como é que é? Como Frank e Alice permitem que uma notícia dessas saia?
- Infelizmente, não há provas de nada, e os Longbottom estão sendo pressionados pela ala conservadora do Ministério a sustentar a história deles; optaram então por trabalhar por fora do quartel, mais especificamente na Ordem, assim podem manter o emprego que lhes dá informações utilíssimas, que são repassadas quase que imediatamente aos membros da Ordem.
- O pior é que eu entendo o que é viver tendo que se tolher... - sussurrou, sentando em frente à mesa do professor.
- Você tá legal?
- Já tive dias piores... Eu - hesitou, mas resolveu falar. - Eu conversei ontem com os meus amigos, e lhes contei que eu sou... Você sabe, o "Menino-Que-Sobreviveu"...
- E como eles reagiram?
- Melhor do que eu esperava. - falou, num tom triste.
- Não parece! O que houve?
- O que houve? O de sempre! Houve Gina Weasley... - confessou. Queria muito falar com alguém, e não dava pra tratar desse assunto com Rony; Neville estava sempre ocupado, e a magia de proteção reforçada no castelo não permitia que usasse o espelho para se comunicar com o pai.
- Ruivas! - deu um meio sorriso divertido, e deu um tapinha no ombro do quase afilhado. - Falando nela, ela está doente? Porque não veio à minha aula hoje de manhã?
- Gina faltou aula?
- E olha que ela não é nem de chegar atrasada!
* * * * * * * * *
Gina entrou no Salão Comunal tiritando de frio. Abraçava-se ao corpo, numa tentativa vã de se esquentar, e foi para perto da lareira, que estava quase apagada, pois era alta madrugada.
- Incendio! - o fogo voltou a crepitar.
- Ai! Você quer me matar do coração? - Gina excalmou, assustada.
Harry estava sentado numa poltrona grande em frente a lareira, sua favorita, esperando a ruiva desde cedo, monitorando seus passos pelo Mapa do Maroto. Apesar de poder ir atrás dela, preferiu esperá-la. Ela estava tão preocupada em se aquecer que não percebeu que ele estava ali. Ele se levantou e tirou o casaco, pondo-lhe sobre os ombros.
- Eu preciso falar com você, Gina! Ontem eu -
- Pode parar! - ela pôs os dedos sobre os lábios dele, tirando-os pouco depois, ao perceber a intimidade do ato. - Sou eu quem precisa falar com você! Desculpa ter saído daquele jeito ontem, desculpa por ter te chamado de egoísta e de idiota e desculpa por eu ter sido tão intransigente... - falou numa respiração só.
- Você não tem que pedir desculpas, Gina... Só precisa dizer que entendeu os meus motivos e dizer que me perdoa. - praticamente suplicou.
- Eu entendo que você teve os seus motivos, mas sinceramente, eu ainda não posso te dizer que te perdoo, porque ainda me dói muito essa história toda.
Ele ficou calado, em pé, na frente dela, apenas a observando. tentando gravar na memória os traços do rosto, o reflexo do fogo brincando nas íris castanhas dela, o perfume que ele reconhecia de longe. Queria se aproximar, mas sabia que não devia.
- Eu só quero te dizer que conte comigo! Eu não me afastei e nem me afastaria de você por causa desse maníaco! - ela completou.
Harry enrubesceu um pouco por causa de direta que ela lhe mandou, mas, apesar de ela saber os seus motivos, nada mais havia mudado; Voldemort continua à espreita, e ele não era louco para pagar pra ver e pôr a vida dela em risco.
- Sei que não é o que você merece, ruiva, mas é o que eu posso te oferecer: amigos? - estendeu a mão pra ela, ansioso.
- Se é o que você quer... - fechou a mão na dele.
* * * * * * * * *
Foi malz a demora =(
Gostei desse capítulo não, mas fazer o quê, não é? ele é importante pro desenrolar da história, então, sorry mesmo...
O próximo devo postar só ano que vem, mesmo! Viajo em três horas (e nem fiz a minha mala, escrevendo aqui!) =P
Feliz Ano Novo a todos, bjos mil, e só quero avisar que o capítulo ainda demorou mais para sair porque eu caí na besteira de começar a ler a fic da Morgana (HP e o País das Fadas) e não consegui para mais!
Até 2006, bjos a todos! =D
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