Cap. único
Ela estava em pé perto de uma mesa. O rosto vermelho parecia ter sido esbofeteado (não, não havia. Só havia chorado demais), os braços cruzados e cobertos por um casaco pesado. Estava frio demais aquele dia, não só o dia, seu corpo também, e estava já perdendo a sensibilidade dos pés, era impressionante ainda estar (conseguir ficar) de pé. A respiração irregular e os olhos perdidos num ponto qualquer da sala.
Estava preocupada também... A situação de seus pais era irremediável. Mas nesse mês todo, esteve preocupada com Harry. Não sabia se ele estava bem, se voltaria, vivo, de onde estava. Para piorar não mandava cartas a mais de uma semana...
Harry se encontrava em um curso no ministério da magia para auror. Como sempre, precocemente (o primeiro com essa idade). Mal tinha completado dezessete anos e já estava a mais de três semanas naquele lugar... Hermione sabia os riscos que ele corria lá e tinha medo de que ele pudesse morrer, seria catastrófico naquele momento...
– Eu fui chamado para cursar nesse mês que entra a academia de aurores ingleses... – Harry disse para todos que estavam no jantar do caldeirão furado (isto é, os Weasley’s e Hermione).
Hermione arregalou os olhos e depois soluçou. Levantou e se dirigiu a ele e então, para desespero de Harry, ela lhe abraçou e começou a chorar muito.
-Você já decidiu não é? – ela balbuciou. – está comunicando não é? – Harry afirmou com a cabeça. Hermione chorou mais. – você tem, tem que me prometer que vai voltar – murmurou.
Ele sorriu – Vou tentar.
-Não é suficiente! – esganiçou.
-Por que está chorando Hermione? Deveria estar feliz.
Ela lançou um olhar de desprezo, gelado, um que nunca tinha usado com Gina (ela nunca havia usado ao menos com Malfoy). Esta somente abaixou a cabeça, sentida.
Rony ficou chocado com a reação de Hermione, ele não entendia o que aquilo significava, no entanto olhando a sua volta pode perceber que não poderia ser muito bom. Sua mãe estava com os olhos marejando e seu pai estava ligeiramente tenso, até os gêmeos pareciam ter perdido o ar brincalhão e adquirido, até meio inédito, posições sérias.
-Você sabe os riscos? – Soluçou.
-Snape me disse.
-E você vai assim mesmo? – perguntou inquieta.
-Você sabe que tenho que ir.
-Não. Não tem – as mãos dela agarraram sua blusa com força.
-Vai ficar tudo bem.
-Prometa-me que vai voltar – pediu olhando temerosa.
-Eu prometo, Mione. Mas você tem que me prometer que ficará bem.
-Contando que você me mande cartas de um em um dia.
-Dois.
-Certo... – ela sorriu ainda chorosa abraçando-o mais uma vez.
A família Weasley não sabia como agir... A garota não queria a aproximação de ninguém, desde que Dumbledore viera lhe falar pessoalmente.
Como de uma hora para outra pode acontecer tanta coisa?
Ela tinha pais... Não tem mais. Tudo por essa maldita guerra... Tudo por vingança, numa luta rotineira para ver quem fere mais. Tinha um vazio nela que não sabia bem se poderia encontrar algo que ‘tapasse’ aquele lugar, aquela ferida. Doía e doeria acordar e ver que nada seria igual, que facilmente mudaria. Que seus alicerces não estariam mais ali quando precisar de um conselho, de colo, carinho. Quando as coisas não estivessem dando certo, como ela gostaria, quando o corpo ‘arrear’ e ainda tivesse que continuar a caminhar. A morte agora se fazia tão banal, tão de clássica, simples.
Nunca se sentira tão fragilizada. A cabeça sugestionava estar livre de pensamentos, ou com tantos, que seu cérebro não podia captar nenhum. Não sabia onde estava ou se ainda conseguia caminhar. Não sabia se suportaria ou se definharia. Só tinha certeza que não era isso que se encontrava em sua mente...
Nada, no entanto tirava da sua cabeça essa seqüência: Seus pais, Harry... Morte.
Se lhe perguntassem o que ela queria fazer, ela responderia certamente: dormir. Só queria parar o tempo, onde não tivesse que se preocupar, que seu sofrimento passasse. Poderia até ser num universo paralelo...
-Hermione! – o rapaz, todo de negro, gritou. Entrando correndo no lugar, deixando sua vassoura no chão, a capa ficou esquecida no mesmo lugar, e se dirigindo a ela. – Eu sinto muito – a abraçou forte.
O corpo dela tremia e Hermione parecia não ter condições de falar, que não sabia falar. Ela resistiu ao abraço tentando se afastar, seu corpo endureceu.
-Vim assim que soube... Eu sinto muito. – murmurou vacilante. Mas lhe segurava ainda, a jovem desabou.
Preocupado, ele a segurou no colo. – Onde é o quarto dela? – perguntou desesperado para o atendente do caldeirão furado.
-Segundo a esquerda... Deixe que eu abra para você – saiu a frente.
-Obrigado, Sr.
***
Abriu os olhos lentamente... A seu lado encontrava-se Harry que a olhava ansioso.
-Como você se sente?
-Frígida... – oscilou.
Ele baixou a vista – Me perdoe...
Ela nada falou – não sabia que poderia estar aqui.
-Não posso.
-E então?
-Não queria deixar de te ver. Saber como você está – respondeu sereno. - Disseram-me que não come a horas... Você não pode ficar assim Mione – ele falou calmamente, como se estivesse falando com uma criança (como sempre fazia com o mesmo). – não me surpreende ter desmaiado.
-Mas como você fez...?
-Eu fugi de lá. Alvo não me deixou vir contar para você... Mas imaginei que você precisava de um amigo, não sei, qualquer coisa. E quebraria qualquer regra, se fosse para te ajudar...
Ouvi dizer que são milagres
Noites com sol
Mas hoje eu sei não são miragens
Noites com sol
Posso entender o que diz a rosa
Ao rouxinol
-Não deveria ter feito isso, Harry. Você está em treinamento.
-Isso pode esperar – falou em tom que não queria discussão. Hermione suspirou olhando as mãos. – prometeu que se cuidaria.
-E você prometeu mandar cartas...
-Bem, acho melhor você se alimentar. Já pedi pra trazerem algumas coisas – mudou de assunto.
-Não quero comer. É a última coisa de que preciso agora.
-Seu rosto não demonstra isso – retrucou a Sra. Weasley reprovadora, com uma bandeja equilibrada nas mãos (ali tinha de tudo).
Hermione tinha cara de quem ia vomitar...
Depois de praticamente ter a comida enfiada goela abaixo, a Sra. Weasley lhe deu uma poção sonífera com um ‘você precisa dormir, querida. E sem discussão!’, do mesmo modo que fez Harry deixá-la em paz, para dormir.
Peço um amor que me conceda
Noites com sol
15 de agosto, ela nunca esqueceria essa data. O caos que esse dia lhe trouxe.
A tarde está indo e ela ainda se encontra no cemitério. Perguntando-se o por quê de toda a crueldade...
Céus, por que eles? Não entendiam o que estava se passando, nunca fizeram mal a ninguém. Qual era o problema desses loucos? Queriam me atingir É, eles conseguiram, foi imundo, baixo, por que não me feriram? Doeria menos que vê-la assim, tão sem rumo.
Eu a observava de longe, não tenho coragem suficiente para me aproximar. Não conseguiria encará-la.
-Ela precisa de você – Rony falou seriamente.
Ofeguei. – Eu não consigo...
-Está sofrendo, tem de lhe falar algo. Se fosse o oposto tenho certeza que Mione estaria ali, para você.
-Eu, eu sei – respirando fundo, andei lentamente ao seu encontro.
Será que seus olhos demonstrariam acusação? Fúria? Nojo?
Mas não, quando cheguei lá, neles só havia medo e tristeza... Não sabia o que falar, para confortá-la.
Com ela sempre pareceu mais fácil. Suas palavras vinham com tanta naturalidade... E respeito.
Ela pôs as mãos no rosto chorando muito, então Harry a puxou para um abraço apertado. Hermione ficou de um modo resistente (ao mesmo tempo sem forças para afastar-se), as costas de suas mãos estavam no peito dele, além de cobrir seu rosto. Harry a segurou firmemente e com uma das mãos acariciava seus cabelos, desarrumados.
-Juro que irei tentar fazer o melhor por você... – murmurou.
-Por quê? Você não tem nenhuma responsabilidade – sua voz estava embargada. – para comigo – se afastou dele para olhá-lo. – Não é porque meus...
-Shii... – Falou seriamente a encarando, seus braços ainda segurando-a firme. – O por quê, você me perguntou. Vou lhe responder em três tempos: Primeiro: Desde que me tornei amigo da perspicaz Hermione Granger, ela é quase uma parte minha, assim como Ronald Weasley. Segundo: um amigo, em qualquer tempo, tem que dar forças, apoiar, como você já fez comigo. E terceiro: desde que briguei, gritei e chorei com você, por você e de você acho que tenho uma parcela de responsabilidade e direito de me preocupar – respondeu prontamente.
-Me diga Harry – ela murmurou quando ele voltou a abraçá-la. – Como lidar com isso sem enlouquecer? – sua voz falhou.
-Eu posso não entender o que, de fato, você está sentindo. Meus pais morreram cedo demais para eu ter alguma recordação... – suspirou. – Não vou te dizer que é fácil ou que nunca senti falta deles. A verdade é que eu sentia bastante falta antes, do que poderia ter sido e não foi. Mas acabei, digamos, ‘me acostumando’. Mas o que acho realmente é que seus pais não gostariam de vê-la sofrer. Eu sei, é doloroso. Senti isso quando Sirius se foi. E foi revoltante também. Salvar que... O que importa, agora, é que não sofra. Chore, vai lhe fazer bem, mas quando se lembrar deles, não o faça com sentimento de perda, e sim de saudade. Lembre dos momentos bons e dos não tão bons assim, que juntos, puderam superar. Mas você me perguntou o que fazer para não enlouquecer, certo?
-Anrrã.
-Bem, essa resposta é complicada, sabe? Eu nunca bati bem da cabeça e não sei, nesse tempo todo, se sou são o suficiente para respondê-la. – ela deu um sorriso fraco.
-Sabe... Eu queria te agradecer. Você fez do meu escuro um lugar iluminado... Quando você terá que voltar?
-Logo. Mas vamos combinar assim: quando você voltar para Hogwarts, eu também estarei voltando. Será menos de um mês agora. E espero que fique bem, me promete.
Ela sorriu incerta para ele – não posso te prometer isso.
-Hermione! Por favor! Você tem que fazer esse esforço...
-E se você não voltar? Você sabe que entanto estiver em treinamento pode acontecer qualquer coisa.
-Sei... – ele expirou. – mas eu vou voltar se você me prometer que ficará bem...
***
Onde só tem o breu
Vem me trazer o sol
Vem me trazer o amor
Pode abrir as janelas
Noites com o sol e neblina
Deixa rolar nas retinas
Deixa entrar o sol
-Harry! – Hermione o abraçou. Estavam em Hogwarts finalmente e agora nada poderia separá-los...
-Eu disse que voltaria – ele falou entre os cabelos dela. Hermione fechou os olhos e não pôde conter o choro.
-Eu tive tanto medo...
-Eu também, Mione. Eu também. Mas não chora...
-Você não me mandava cartas! – ela brigou encostando a cabeça no peito dele, não antes de bater em seu peito. – me deixou quase maluca sabia?! Você tinha me prometido...
-Eu não pude...
Então ela o olhou, e percebeu que ele estava com uma aparecia desolada, com ar cansado. E parecia que não estava se agüentando em pé.
-Oh! Harry... – ela levou a mão à boca. – Eles te forçaram muito?
Harry sorriu calmamente. – Está tudo bem.
-Acho melhor você procurar Madame Pomfrey. Ela com certeza deve ter algum fortificante para ajudar você. Eles não deveriam ser tão duros! Você só tem dezessete anos! Nem terminou a escola e...
-Mione! Tá tudo bem – ela sorriu se desculpando.
-Mas acho melhor mesmo você ir... O que?! – Harry estava a olhando seriamente.
-To bem, já disse.
-Não está mesmo! Você está tão abatido...
-Você tá parecendo a Sra. Weasley – Hermione lhe olhou reprovadora, e Harry gargalhou. – Vamos jantar, procurar o Rony – ele lhe abraçou e então finalmente se dirigiram ao salão principal. Hermione se deixou levar, enfim estava sentindo-se mais tranqüila, era doloroso ainda lembrar dos pais. Mas como Harry dissera: eles não gostariam de vê-la triste, então ela tentaria viver o mais feliz possível, era uma promessa.
***
-Então faça seus exercícios.
-Ela só pensa em tarefas escolares? – Rony murmurou para um Harry concentrado numa questão de poções.
-Eu ouvi isso – Hermione ergueu a sobrancelha.
-Como ela faz isso? – Rony baixou mais um pouco a voz.
-Quê? O que disse? – Harry voltou-se para Rony.
-Ih! Hoje não tá dando pra conversar... – Rony recolheu seus livros sob olhar assassino de Hermione. – Que é? Nunca me viu não? – e Rony saiu sorridente.
-Deixa pra lá – Harry falou ainda olhando o livro. Hermione o olhou. – Não adianta ficar brigando com ele, você sabe. Rony só faz o que quer.
-Mas ele deveria fazer os exercícios! Se ele pensa que darei alguma resposta está muito equivocado – ela falou rápido.
Harry finalmente abaixou o livro e estava sorrindo. – Você tem que relaxar Mione.
-Quem sabe depois que eu terminar esta redação.
-Por que eu não me surpreendo com sua resposta?
-Talvez eu seja previsível demais...
-Você não é para os outros – ele lhe respondeu.
-Como?
-É tão simples Mione. Você não é previsível para o Rony ou Gina. Mas eu sei o que você está pensando e às vezes (muitas, na totalidade) até posso deduzir como vai agir.
Os verdes olhos dele pareciam nunca ter fim enquanto os olhava. Nunca paravam de brilhar, aquela luz intrigante. Talvez fosse verdade, talvez fosse demasiadamente pertinente a Harry... E ele a ela. Sim, ele a conhecia melhor do que ninguém...
-Pode ser... – ela se voltou pra o afazer um pouco corada. Isso não deveria estar acontecendo, não mesmo...
-Eu queria voltar no tempo - ele falou repentinamente. Hermione levantou os olhos e viu que Harry sorria marotamente. Aquele sorriso que ela conhecia bem demais... Que ela achava tão bonitinho, que a fazia rir mesmo sabendo que deveria estar reprovando sua ação, aquele sorriso, que, em muitas situações a acudia, a libertava daquele escuro, daquele vazio.
-E por que o Sr. gostaria de voltar ao tempo?
-Tentar fazer a Srta. – ele se debruçou sobre a mesa, se aproximando. – Granger ser um pouco normal.
-Eu sou normal!
Ele coçou a cabeça. – Não Mione! Normal do meu jeito e não do seu! – ele brincou.
Hermione pendeu a cabeça para o lado. – E como é o seu normal?
Harry ficou pensativo. –Acredite, não é fazer coisas doidas todo tempo.
-Não? Mas poxa... Eu estava crente que era assim...- Hermione exclamou debochada colocando o dedo na boca.
-Um dia, eu te ensino como é ser normal, do meu jeito.
-Um dia é muito longe, Harry – ela ficou repentinamente séria.
Ele se aproximou um pouco mais e então murmurou em seu ouvido. – Não quando se está falando com Harry James Potter.
Hermione fechou os olhos. Harry havia permanecido um tempo mais que o devido, ele percebeu, pois pôde se perder com o cheiro quase alcoólico do perfume de Mione. Ele se afastou um pouco e lhe deu um beijo na testa.
-Até amanhã, Mione.
Até...
***
Livre serás se não te prendem
Constelações
Então verás que não se vendem
Ilusões
O último dia em Hogwarts estava lhe trazendo pensamentos que tentava esquecer nessas últimas semanas... Agora estava sozinha, ou achava assim. Agora viveria sua própria vida, e cuidaria de si, e só. Agora não precisava mais se preocupar em perder algo em sua nova caminhada, na sua mais nova jornada. Pois seus amigos estariam lá, livres, principalmente Harry, que lutara tanto... Não só por si, mas também por todo o mundo...
Estava tão orgulhosa, por ele... Ele era forte, ele provou que não era apenas um cara comum, ele provou que era mais do que pensavam (e Hermione ficava alegre quanto ele estava alegre). Ele lutou e venceu os seus temores... Por que ela não conseguiria? Se eram tão mais fáceis que os dele?
Estava feliz por não precisar passa mais noites em claro, estava realmente sentindo-se liberta. Poderia, enfim, enxergar além do horizonte.
A viagem de trem fora tranqüila, o dia estava estranhamente ensolarado, talvez fosse porque o humor de Hermione estivesse muito bom, ou porque ela não estivesse prestando válida atenção ao dia... Por que ela iria prestar atenção se tinha algo melhor pra fazer? Estava conversando com Gina. Harry e Rony jogavam uma partida de Xadrez bruxo.
-Então eu disse que iria pensar...
-Mas você não gosta do...
-Shii! Mione! – e apontou com a cabeça para Rony.
-Você não deveria brincar assim Gina. É maldade.
-Eu não vou aceitar Herm... Relaxa.
-E ela consegue? – Harry falou olhando Hermione. Esta deu um muxoxo.
-Eu estou calma. Estou calma... – Repetiu. Que mania irritante de lhe mandarem relaxar!
Seus amigos sorriram. E então em algumas horas chegaram na plataforma 9 ¾.
-Fiquem bem!
-Tchau! – acabara de se despedir dos Weasley...
-Então Mione. Quer que eu a acompanhe até em casa?
-Não precisa – sorriu agradecida. – pegarei um táxi.
-Se houver algum problema, sabe onde me encontrar, certo?
-Sei.
***
Um adulto, realmente consciente de todos os seus atos e que agora sim poderá ser julgado pelos mesmos. Harry estava fora de Hogwarts há três ano. Trabalhava, – gostada do que fazia - pagava suas contas (com facilidade), era relativamente responsável... Era inteligente, bonito e tinha amigos, muito bons. Ainda não se considerava totalmente feliz (era solteiro), mas faltava só um pouquinho... Ele tinha pensado quase um ano inteiro e tinha resolvido o que fazer. Finalmente ele mostraria a Hermione o que era ser uma pessoa normal ao seu ver...
Vem que eu estou tão só
Vamos fazer amor
Vem me trazer o sol
Vem me livrar do abandono
Meu coração não tem dono
Vem me aquecer nesse outono
Estava em casa, sentada em sua cama, lendo um bom livro, era o seu fim de semanas mais... Tedioso. Não era possível! Estava sozinha em casa, tranqüila, confortável, anos atrás era tudo o que sonhou, mas hoje... Era quase seu pior pesadelo (perdendo somente para a guerra, mais precisamente a morte de Harry – se arrepiou ao pensar nisso).
Três anos se passaram e ela quase nunca ficava sozinha. No primeiro ano, depois que saíra de Hogwarts, Gina foi passar as férias com ela. E Harry e Rony sempre davam um jeitinho de estar com ela. Três anos se passaram e Hermione ainda não conseguia esquecer tudo (de bom) que passara em Hogwarts, às vezes achava que vivia de recordações, ao menos até Harry aparecer em sua casa (na maioria das vezes de surpresa) e convidá-la para dar uma volta, ir para qualquer lugar... Ou só ficar conversando besteiras e tomando chocolate quente em sua casa (ou na dele).
Harry... Será que ele era a única razão de ainda conseguir sorrir? Pode ser, é provável... Era estranho, sempre parecia imaginar, saber, quando Hermione estava precisando de ‘colo’ e hoje era um dia, mas... Ele não estava ali. E Hermione percebeu (há muito) que ele era muito mais que seu amigo, Harry era seu confidente, seu ‘animador portátil’ (sorriu ao pensar assim), seu olhos e pernas quando já estava a ponto de desistir, seu ar, – quando precisasse – seu pensamento, seu coração, sua alma, enfim, ele era seu complemento, seu tudo, seu ser e estar. Ele só não era sua razão, isso ainda era uma característica só dela...
***
Entrando na casa (havia aparatado) sorrateiramente, - era tão divertido assustá-la! – foi lhe procurando. - só poderia estar no quarto, veio em seu pensamento repentinamente. – Andou até lá e tentou abrir a porta, claro que estava trancada, como ela era precavida (nota mental: lhe tirar esse costume)!
Ele não iria estragar a surpresa, pegou um canivete (um parecido com o que Sirius anos atrás lhe tinha dado) e passou pela fechadura. Ouviu-se um ‘clic’.
-Droga! –murmurou e abriu a porta. Hermione olhava para ele com a sobrancelha erguida, contendo o sorriso.
-Por que gosta tanto de me assustar?
-É porque é bonitinho o pulo que você dá – lhe deu um beijinho no rosto. – E então quer sair?
-Que bom que chegou, eu não estava mais agüentando – fechou o livro com força.
-Céus! Hermione! – falou com cara de quem tinha visto algo muito revelador. – Você não agüenta mais ler o livro, ou eu que ouvi demais?
Ela sorriu e lhe deu um ‘soquinho’. – Não, você não se enganou. Sabe, eu também sou humana...
-Eu só percebi isso agora... – respondeu sarcástico. – O dia chegou!
-Que dia? – ela saiu do banheiro (que tinha no quarto) fechando o zíper do vestido.
-O dia! – falou como se fosse óbvio (só pra irritá-la). Não dava um minuto para ela lhe pedir ajuda.
-Que dia? – perguntou tentando em vão chegar até um pouco antes do pescoço. – Não fique parado ai! Me ajuda.
-Só estava esperando você pedir – ele sorriu. – pronto.
-Mas de que dia você está falando.
-Oras Mione. Vou te ensinar o que é ser normal ao meu ver.
Ela sorriu. – Até que fim!
***
-Certo, onde vamos primeiro?
-Assim não teria graça, Mione.
Ela o olhou. Confiava nele. Tudo bem. Seria mais interessante.
Ele a puxou e passaram a andar de mãos dadas.
-Então não quero discussão – ele disse.
-Contanto que você não queria me matar...
-Eu não quero – Harry sorriu.
Eles andavam calmamente, Harry não tinha pressa então pressuponho que Mione também não. Ele parou em frente a um parque, era lindo, cheios de árvores, verdes, flores... Tinha um ar puro.
-Que graça... – Hermione suspirou olhando o local. Tinha bancos e crianças brincando, tinha até um rio...
-Eu sei... Vejo que gostou.
-É maravilhoso. Nunca tinha vindo aqui...
-Eu sei disso também – respondeu olhando-a.
-Tia... – uma criancinha puxava a barra do vestido de Hermione. Ela olhou para baixo.
-O que foi? – perguntou se ajoelhando.
-Pode pegar minha bola? Ela ficou presa naquela árvore e está muito distante pra mim pegar.
-Claro – Só que ela também não alcançava. Harry se aproximou e pegou.
-Aqui...
-Brigado! – o menininho exclamou sorridente. – Sr.
-Harry – ele disse. O garotinho sorriu mais uma vez e depois saiu correndo.
Depois de uns minutos o mesmo menininho vinha segurando a mão de uma Sra.
-Aqui vovó, ele que me ajudou. O Harry... Não é?
-Sou sim.
-E eu tinha pedido ajuda para namorada dele. Mas ela também não conseguiu – ele sorria.
Eles se entreolharam risonhos.
-Muito obrigado...
-Não foi nada, Sra.
E então se afastaram. Eles passearam por todo parque com tranqüilidade, conversando, brincando, relembrando. Fizeram um lanche numa cafeteira e Harry a levou pra casa.
Ela abriu a porta e o deixou entrar.
Hermione balançou a cabeça. – Namorados...
-O que? Não é tão difícil acreditarem nisso.
Ela o olhou estranho. – Harry fala sério. Tudo bem que nos já, e diversas vezes, fomos confundidos, acharam que éramos namorados, mas nunca demos motivos para isso.
-Você acha? – perguntou sério.
-Sim. Você não? – se dirigiram para cozinha.
-Sabe que pensando melhor acho que sempre demos motivos.
-Como assim?
-Aquela coisa nossa de nos entendermos sem se falar, alguns julgam assustador. E a nossa intimidade... Mesmo não tento acontecido nada, você sabe, pensam mal.
-Tem também aquele ataque da Cho que depois todos souberam que foi por causa de mim... – Hermione disse pensativa. – Eu nunca entendi qual era a dela... Por favor! Ter ciúmes de mim?
-O que tem você?
-Harry! Por Deus – estava começando a ficar sem-graça. Então se virou para pia, poderia fazer um café, é seria boa idéia. No entanto o rosado do seu rosto aumentava.
-O que? Não a entendendo. O que tem você?
-Ela! E ter... Eu. Não... – Hermione falou sem coerência. Estava de costas para ele.
Harry sorriu e se aproximou. – O que tem você? – segurou seu ombro por trás. Não deixou de perceber que Hermione se arrepiou ao seu toque. Sorriu novamente.
-Só... – ela virou-se hesitante. Encarar os olhos dele não seria uma boa idéia, principalmente porque tinha certeza que ele percebeu seu corpo se arrepiar... - É estranho ela ter tanta raiva de mim. Eu não fiz nada por mal.
-Você não fez nada Hermione. Não que me prejudicasse – murmurou olhando-a penetrante. O coração dela perdeu o compasso e o ar ficou preso.
-Eu... – tinha que dizer alguma coisa aquilo tudo estava muito... abrasador, quer dizer estranho...
Ele sorriu se aproximando um pouco mais – Você...?
-Eu... – ela recuou um pouco, mas estava já entre a pia e Harry. ‘O que estava pensando? É claro que Harry não iria... Ele não iria...’ Fala alguma coisa! – Você quer chá? – perguntou.
-Prefiro chocolate quente – falou ainda olhando-a, ela não entendia o que significava aquele olhar, se estava tentando dizer alguma coisa...
Hermione ficou parada, ainda olhando-o até perceber e virar-se para preparar o chocolate, suas mãos estavam tremendo... Ainda sentia a presença de Harry atrás de si e aquilo estava a deixando mais nervosa.
Ele se aproximou mais um pouco, segurou seus ombros e lhe beijou o pescoço. Hermione respirou fundo, surpresa. Ele parecia que não ia se afastar. E realmente, a mulher estava gostando do contado dos lábios de Harry com seu pescoço. As mãos dele lentamente desceram até sua cintura, como se quisessem provocá-la. E ela acabara de deixar cair a panela em que pensava fazer a bebida...
Hermione não agüentava mais, o que ele pensava que era?! Voltou-se para trás e seus olhos travaram nos dele. Ele estava sério. A respiração dele também estava irregular. Hermione engoliu tudo que estava pensando dizer, como um passe de mágica tudo tinha desaparecido dando espaço para que ela percebesse que a boca de Harry era tão vermelha. Ela abriu um pouco a sua, pois tinha desaprendido como se respirava pelo nariz... As mãos dele seguraram a pia, prendendo-a ali. Quando Harry se aproximou novamente, seus lábios pareciam brincar com os dela, instigando-a. As mãos de Hermione foram para o rosto dele, puxando-o para si, permitindo que continuasse o contanto, quase criando vida própria, pedindo mais. Em algum momento Harry pressionou seu corpo mais para perto da mulher, esta o abraçou.
-O que estamos fazendo, Harry? – perguntou ela ofegante, enquanto ele beijava seu pescoço. – Você... Eu... Não... Certo – ela gemeu alto.
Ele acariciou seu rosto. – estamos sendo normais... Meu amor – falou carinhosamente. O que Hermione achou que ainda tinha de razão se esvaiu. Desta vez foi ela que lhe beijou, lhe tomou como seu.
E em toda vida lhe amou como se fosse o último de seus dias, sempre, sempre e sempre... Porque agora era normal, porque não adiantava negar, porque sabia que ele era o único que poderia lhe fazer feliz verdadeiramente, porque ele era seu ser e estar...
E agora ele sentia-se feliz, poderia gritar e sorrir para qualquer um na rua. Porque finalmente mostrara ( ou tentava) a ela como era seu normal ao seu ver... Só faltava ela parar com aquela mania de sempre trancar a porta do quarto, mas como o tempo...
Deixa entrar o sol
Pode abrir as janelas
Noites com sol são mais belas
Certas canções são eternas
***
“E nosso amor, que brotou
Do tempo, não tem idade,
Pois só quem ama escutou
O apelo da eternidade.”
Carlos D. de Andrade
***
Oi!
E aí? Como vc’s estaum?
Gostaram da fic? Espero que sim.
B-jinhos!
***
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