Capítulo IX
Capítulo nove
Como ele era idiota.
Como ele pudera trocar Hermione pela esposa? Tudo bem, afinal, era sua esposa,
mas ele soubera demasiadamente bem que ela nunca o amara e, inclusive, soubera
de seus casos amorosos enquanto eram casados e de como ela amara Karla e Helen.
Que ele não era nada exceto um amigo.
Mas ele cedera. Ele
amava Hermione mas no momento cedera para Lindsay, perdendo o amor de sua
vida... tudo estava errado agora e Rony não sabia o que fazer.
O sol já se pusera
e ele agora cambaleava em um dos becos escuros e úmidos de Londres, sentindo o
efeito do álcool correr em suas veias indo para seu cérebro, como uma alucinação.
Seu coração agora compassava aceleradamente e ele pôde perceber, em um dos
raros momentos em que tinha consciência, que seus pés conduziam-no para um
lugar que conhecia... mais perto, metros percorridos como riscos luminosos
coriscando seus olhos e ele então sentiu um baque e caiu no soalho.
Ouviu uma porta se
abrir e uma voz aflita gritar o seu nome; em seguida, uma mão quente
segurou-lhe ternamente o rosto e ele pôde ver enormes olhos castanhos
cintilarem de lágrimas, perscrutando-lhe.
-
Rony? - Era uma voz meiga e
juvenil, entrecortada por soluços baixos. - Tudo
bem? Venha... entre...
Sentiu mãos
comprimindo sua axila, levantando-o, as pernas arrastarem pelo chão conforme
era puxado e então, alguém sentou-o em uma poltrona e correu para fechar a
porta, batendo-a em um baque surdo ao passar por ela.
- Rony? - exclamou
Hermione, parecendo desesperada, os olhos empapuçados e brilhantes de lágrimas.
- O que há, Rony?
Ele segurou com mais
firmeza do tampo da cadeira e, então, sob o efeito daquela voz que mais parecia
um acalanto, sua visão foi recobrando ao normal, a nuvem prateada dissipando-se
ao seu redor e as cores ao seu redor tomando forma até que ele pôde contemplá-la,
completamente em estado de nervos, os cabelos cheios espetados como que por
eletricidade.
- Estou bem, Mione -
sussurrou, lentamente. -, bem... bem...
- Como Bem? -
repetiu a garota, irritando-se. - Você chega aqui quase desmaiado, parecendo um
drogado e ainda diz que está bem?
- Estou, claro -
disse ele, pestanejando diversas vezes para ter completa lucidez. - é só
que... Lindsay arranjou outra...
Um sorriso perpassou
o rosto de Hermione, calmamente.
- Ah... aquela
peituda que te tirou de mim... - murmurou, com suavidade. - sim, porque uma vez
eu achei um sutiã dela e aquilo caberia na minha cabeça facilmente... mas...
vaca...
- Eu quero voltar
para você - continuou Rony, temendo o pior. -, por favor... eu nunca deixei de
te amar nem um segundo. Se tivemos que enfrentar barreiras, era para fortalecer
o nosso amor, agora, por favor, volte para mim...
- Isso é piada?
- Não - replicou
ele, seriamente.
- Pois parecem -
prosseguiu Hermione, encarando-o da ponta do nariz com uma selvageria que Rony
sabia não pertencer a ela. -, mas agora eu quero que você saia daqui!
- Não, Hermione,
por favor...
Seus olhos
encheram-se de lágrimas e elas brotaram copiosamente, rolando por seu rosto
como se houvesse um chuveiro ligado regando-as; porém, Hermione sabia muito
bem, ou pelo menos pensava saber, que aquilo tudo não passava de uma encenação
categoricamente teatral e que ele não a amava e sim não queria ficar sozinho.
Mas embora não
tivesse ainda conseguido voltar para Harry, ela ainda o amava muito e aquele
amor corroia-a dentro de seu peito; sabia que ele também a amava, o que de
certa forma conformava-a.
- Para fora, Rony -
ela continuou, intolerável. -, agora.
Ele tentou
levantar-se, sentindo a pernas bambearem por alguns segundos, porém, juntou
todas as suas forças para conseguir manter-se erguido, afinal, Hermione
certamente pensaria que tudo não passava de uma encenação se ele caísse de
volta na cadeira.
A dor original do álcool
que bebera, começou a fluir novamente em seu cérebro e ele lutou para
conseguir atravessar a sala e o hall, parando à soleira; ergueu os olhos azuis
para Hermione, em uma tentativa muda porém desesperada, de chamar-lhe a atenção
e provar que era real. Que o seu sentimento em relação a ela era real.
Mas então, quando
ele fitou-a calmamente, a única coisa que pôde encontrar em seus olhos era um
ódio; ela o achava repugnante e nojento. Como tivera coragem de pisar sob o teto dela e de Harry?
Olhou-a mais uma vez
e então bateu a porta com selvageria, saculejando-a levemente. Pôde ouvir soluços
à soleira, porém, segurando as lágrimas que brotavam em seus olhos, ela
encaminhou-se para o seu quarto. Antes, parou no de Harry, observando-o com
vontade. Ele era tão lindo, os cabelos negros e despenteados moldurando o seu
rosto magro e bem feito; ele parecia ter sido meticulosamente talhado sob o
poder das mãos do Divino.
Hermione suspirou e
inclinou-se para selar-lhe um beijo doce e terno. Se ela pudesse tê-lo... ela
tinha que tê-lo... ela iria tê-lo.
Um sorriso brincou em seus lábios e então, os devaneios dissipando-se envolta
de si, ela voltou-se para a porta e espiou mais uma vez para dentro do quarto,
como para que se assegurar que ainda estava tudo bem...
*-*
Não sabia se estava
em uma rua ou em algum portal para o futuro, várias cores coriscando em sua
volta, como fogos de artifício no ano-novo, sendo que essas eram multi-cores e
giravam lentamente. Bebera novamente, assim que saíra da casa de Hermione e,
agora, sentia as pernas tropeçarem sobre si mesmas.
Desabou em um beco
escuro, tossindo muito e sentindo uma dor incomensurável em seu pulmão e estômagos.
As diversas garrafas de álcool que ingerira agora faziam efeito e ele sentia
apenas vontade de dormir... as pálpebras pesando... a dor crescendo dentro de
si e então a respiração foi desacelerando... até que ele podia sentir o hálito
saindo de sua boca pesadamente... a visão foi enturvando e ele foi
perdendo-a...
*-*
- Ele
parece estar acordando, senhor - disse uma voz feminina e Rony pôde ouvir o
farfalhar da caneta em um papel preso à uma prancheta.
- Sim... o coma alcoólico
está passando...
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!