Capítulo VII
Capítulo sete
Lindsay bateu a porta e correu o trinco de ferro, girando a chave na
fechadura. Virou-se para o hall, onde Paula descansava calmamente, os cabelos
dourados cascateando pelos ombros e sobre as costas, o que dava-a um ar juvenil
que instigava Lindsay. A mulher sorriu e então encaminhou-se para a outra, abraçando-a
com ternura. Estava tão feliz e aquilo levava-a ao céu. Nem a perspectiva
eminente de que Rony chegaria logo e atrapalharia seu romance deixava-a de mal
humor.
- Vamos ver algum filme? - ela sugeriu, sorrindo simpaticamente para a
outra.
- Claro - respondeu Paula. -, qual podemos ver?
- Algum de romance, quem sabe... - disse Lindsay, dando-lhe a mão e
puxando-a para o quarto, onde havia um DVD novo; inseriu um cd dentro do
aparelho e desligou as luzes do quarto, fazendo com que apenas a luz prateada
que jorrava do monitor iluminasse-as.
Lindsay deitou-se na cama de casal defronte à televisão e Paula fez o
mesmo, inibida... tudo parecia tão novo e diferente... e há alguns anos atrás,
nunca se imaginaria com aquele tipo de relacionamento... o que a puxava de volta
a realidade era realmente o receio e o medo. Preconceito, talvez. Nunca vira
duas mulheres se beijando na rua e, quando era criança, ouvia a sua mãe
declarando abertamente ser contra a homossexualidade.
Mas aquilo ia além do optar. Ela amava Lindsay, querendo ou não e
sentia atração pela outra. Não optara por aquilo, pois, se pudesse escolher,
sem dúvida escolheria um homem alto e forte de olhos azuis, o que era
considerado certo
para a sociedade.
Como ela nunca percebera? A sociedade preocupava-se demasiadamente na
vida dos outros... o que o outro estava fazendo de errado - e se estivesse
fazendo algo, deveria ser punido! - o que estava acontecendo na vida do outro.
Se Emanuel soubesse que ela o trocara por outra mulher, certamente chamaria-a de
sapatão e diria que “tantos
anos batendo-a, acabou virando um homem forte... você é uma aberração”.
Era o que sua mãe falaria e ela sabia daquilo...
Seu coração acelerou quando ela sentiu uma mão quente percorrer-lhe o
pescoço e então lábios comprimirem contra o seu, uma língua sendo
introduzida em sua boca. Meu Deus, como aquilo era bom! Nunca conseguira sentir
aquilo com Emanuel, afinal, a maior parte das vezes que eles tinham algum tipo
de relação assim, ele amarrava-a ao estrado, despia-a e começava a
marturbar-se para conseguir uma ereção. Em seguida, postava-se sobre ela,
penetrando-a com rapidez.
Cinco minutos depois, ele ejaculava dentro dela e levantava-se
contemplando o corpo feminino e delicado, os dois seios murchos não
demonstrando prazer nenhum... e então, quase uma hora depois, ele entrava no
quarto e desamarrava-a, guardando as cordas grossas em um esconderijo para a próxima
vez que precisasse usá-las.
Visto assim, de longe, ela
imaginava-se como conseguira agüentar aquilo tanto tempo... como conseguira
suportar sequer o cheiro dele. Todo ele a enojava e dava-lhe vontade de vomitar.
Paula entregou-se ao beijo, cedendo às carícias de Lindsay sobre si. A
outra sabia como excitá-la, o que parecia uma graça concedida por Deus,
afinal, as duas eram mulheres e conheciam demasiado os lugares erógenos da
parte do corpo, o que não era completamente concedido para os homens.
Assim que as duas se desvencilharam,
Paula ergueu os imensos olhos azuis para a outra, as lágrimas despontando nas
pestanas e então sorriu, sentindo uma lágrima escorrer por seu rosto alvo.
- Como consegue viver assim?
- Assim como? - perguntou Lindsay, perplexa.
- Você sabe... com homens e... mulheres... - murmurou Paula.
- Ah... bem... a minha mãe me expulsou de casa quando descobriu que eu
estava namorando uma garota e então eu fui viver na casa dessa garota. No começo,
eu percebi que era diferente, porque eu sentia atração sexual tanto por homens
tanto por mulheres e então eu tentei de qualquer forma reprimir esse desejo,
rezando a todo o tempo ou tentando ocupar a minha mente com outra coisa... até
que eu conheci essa garota, que se chamava Karla... a gente começou a se olhar
diversas vezes até que ela de declarou para mim.
“Naquela hora eu não sabia o que dizer, afinal, estava visivelmente
apaixonada por ela, mas algo dentro de mim dizia que aquilo era errado.
Finalmente eu cedi e nós começamos a namorar escondidas, nos tempos vagos no
colégio, ou trancadas no quarto uma da outra... até que a minha mãe me pegou
com ela. Ela chorou e berrou, dizendo que nunca se sentira tão envergonhada e
que Deus sabia como castigar uma mãe que amava a filha. E então, depois de
passar uma vigília na igreja, pedindo para que Deus consertasse a minha cabeça,
meu distúrbio mental, como ela disse,
vendo que eu continuava apaixonada por Karla, ela arrumou as minhas malas e
disse que nunca mais queria me ver, nem pintada de ouro.
E eu passei a viver com Karla. Os pais
dela não paravam em casa, sempre trabalhando em outros países e eu poderia
viver lá por anos e anos que eles nunca iriam descobrir, até que chegou uma
hora que nós decidimos nos mudar. E fomos morar em Boston.”
- Você já se aceitava? - perguntou Paula, os olhos marejados de lágrimas,
interessada.
- Não tinha como não aceitar - respondeu a outra. -, é claro que
sempre rola uma dúvida do tipo será que eu tô fazendo a coisa certa?,se existir um Deus, ele vai me perdoar por estar fazendo isso?. Mas
no final, eu me conformava... tinha Karla para me conformar... e eu amava-a...
amava-a mais que a mim mesma.
“A nossa vida era perfeita... completamente. Nós acordávamos sorrindo
e íamos dormir sorrindo. Até que...”, ela suspirou pesadamente e Paula viu
uma lágrima cintilar em seus olhos. “até que ela descobriu que estava com
uma doença... um câncer, para ser mais exata. O nosso mundo caiu e eu comecei
a obrigá-la a ir ao médico...”
- Obrigá-la? - Paula repetiu, curiosamente.
- Sim... ela já tinha entregado os pontos e agora queria morrer. Mas se
ela morresse, eu iria morrer junto e não podia deixá-la ir embora... mas...
ela foi... a doença a venceu e ela acabou morrendo... e eu fiquei sozinha. O
nosso apartamento parecia ter aumentado quilômetros quadrados de tamanho e a
solidão percorria-o todos os dias. Eu não tinha mais gosto para trabalhar e não
sentia nem vontade de sair da cama. E... eu fiquei com depressão... não era
uma tristeza simples de você chegar e falar ah,
tô triste, mas era uma vontade de não fazer nada. Às vezes eu estava
comprando alguma coisa no mercado e me vinha aquela vontade de chorar e eu
chorava copiosamente, durante horas e horas... até que eu vi apenas uma
alternativa - me mudar. Parecia esplêndido, uma cidade nova, uma vida nova. Sem
problemas. Sem lugares que me lembrassem Karla diretamente.
“Eu empacotei tudo e vendi o nosso apartamento, conseguindo algum
dinheiro para a viagem. E vim para Londres... no começo eu não tinha a ninguém,
até que eu achei Arthur Weasley em um pub.
Ele parecia tão triste quanto eu e disse que perdera a filha mais nova há
pouco tempo e que toda a família estava muito sentida. Horas e horas
conversando, ele decidiu me levar para conhecer seu filho, Rony Weasley e,
embora não tivesse gostado muito do rapaz, senti muita compaixão por Arthur e
decidi me aproximar dele.”
“O garoto também cooperou, afinal, estava marcado pela morte da irmã
e também queria satisfazer a família, e acabamos nos casando. Quando eu vi, nós
já estávamos morando sozinhos em uma grande casa sem nem ao menos nos falarmos
direito, exceto quando nos encontrávamos no pequeno bar a um canto da sala e
contávamos o que havia acontecido durante o nosso dia, inclusive nossos casos
extra-matrimoniais... e eu fiquei sabendo de sua paixão ardente por Hermione e
percebi que não sentia ciúme algum dele... eu sabia que, por um lado, eu
queria apenas mostrar a mim mesma que era capaz de relacionar-me com um homem.
Que eu não fora castigada pela morte de Karla, afinal, eu era como qualquer
mulher... por outro, aquilo não passava de uma fachada para manter uma família
igualmente marcada pela morte, assim como eu estava.
Alguns meses depois de casar-me, comecei a sentir o coração acelerado
por uma jovem chamada Helen... Rony sabia muito bem dela, mas não incomodava-se
nem um pouco sobre o nosso romance... foi um amor lindo. Curto, porém lindo. Até
que eu encontrei-a transando com outro, como eu te disse. E eu decidi voltar
para Rony. Por um momento achei até que estava apaixonada por ele... até...
agora.”
Lindsay ergueu os olhos para a outra, quase soluçando de chorar;
lembrar-se de tudo aquilo não era prazeroso e ela ainda sentia a falta dos braços
de Karla, às noites.
- Você ainda a ama, não é? - perguntou Paula, secando as lágrimas que
haviam transbordado de seus olhos.
- Sinto muito sua falta, não vou mentir - replicou a outra. -, porém,
eu sei que não posso tê-la novamente e apenas guio a minha vida. E tenho sorte
de encontrar uma pessoa tão perfeita assim, novamente.
- É que... eu não sei... eu tenho medo... isso... é normal? -
continuou ela, calmamente.
- Bastante normal - respondeu Lindsay, com seriedade. -, anormais, nós não
somos. Existem diversas formas de expressar o amor e não é porque nos
relacionamos com pessoas do mesmo sexo que nós estamos erradas. Existem
diversos casais homossexuais que têm uma convivência melhor do que heteros!
Desde que... - e abaixou a voz, suavemente. -, eu perdi a minha Karla, eu deixei
de acreditar em Deus... acho que, se ele existisse, não deixaria os problemas
que têm acontecido continuar, ao contrário, daria um simples sopro sobre o
mundo e tudo seria consertado. Mas, não... ele está lá só para julgar. Na bíblia,
diz-se que os homossexuais são errados e devem queimar no lago de fogo. Mas, se
eu nasci assim, eu não tenho culpa alguma... não é uma opção, torno a
repetir... é algo que você já nasce com e simplesmente desenvolve conforme
você cresce... Deus está lá só para dizer o que é certo e o que é errado e
quem deve ou não ir para o paraíso. Portanto, nas minhas noites de depressão,
eu vi que não valeria a pena uma vida assim... que apenas ser julgado pelos
seus erros, não era certo. Eu não
estou errada por me apaixonar por outra mulher.
Paula balançou a cabeça, afirmativamente. Lindsay estava certa,
quisesse isso ou não; desviando o olhar, viu que o filme estava já nos créditos,
letras brancas subindo pelo monitor negro; Paula abraçou a outra, sentindo o
seu corpo quente contra o seu e os seios comprimindo-se nos dela.
Um conforto inundou-a e ela sorriu, inclinando-se para sentir os lábios
da amada.
- Eu te amo - ela sussurrou, calidamente.
- Eu também te amo - respondeu Lindsay. - e mais...
E abaixou o rosto para encontrar os lábios da outra, introduzindo sua língua
sedenta de paixão. Explorou toda a sua boca, sentindo calafrios
percorrerem-na... naquele instante, ouviu-se um estrondo e a porta abriu-se com
selvageria.
O beijo cessou e Lindsay só pôde ver
a silhueta no recorte de luz que derramava do portal; cabelos meio-longos e
ruivos, Rony agora arfava de raiva, os punhos cerrados, veias latejando na têmpora.
- Lindsay - disse ele, perigosamente. -, precisamos conversar... agora!
Gente... x.x~ desculpaaaaaa XDDDDDDDD
É que eu tenho andado meio preguiçoso pra escrever e escrevo de vez em nunca o.o' mas eu juro que termino essa fic XD É que vc sabe neh, problemas u.u' aí vc perde a vontade de fazer um monte de coisas =\ mas td bem... eu escrevo... escrevi até uma short pra mandar prum concurso... se der certo. Continuar escrevendo ou então vou acabar entrando em crise. É isso =*
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