Um Beijo - Olavo Bilac



Eu estava sentada naquela cadeira fria, naquela escuridão... Mas não me importava. A janela aberta, o vento cortante e a chuva gelada batendo no meu rosto. Eu não me importava. Mas o silêncio. Silêncio gritante, furando meus tímpanos. Mas meu Lorde mandou esperar. Esperar pelo meu servo útil, seu servo inútil. Ele foi o mais fiel, mais próximo ao inimigo, à vítima.

Batidas na porta. Um fio de luz. Passos.

-Milorde! O que há aqui dentro? - Perguntou o traidor.

-Um presente de boas-vindas! - Respondeu a voz de meu Lorde.

A porta se fechou com um baque. Estava trancada. Senti o pulsar dele acelerar à medida que os segundos passavam.

-Lumus!

Um fio de luz saiu da varinha dele. Veio na minha direção. Fugi.

A luz vermelha ascendeu. A varinha apagou. O reconheci. Fui até ele e o beijei.

-Como nos velhos tempos! - sussurrei. - Amado, o que tu fizeste?

-Eu...

-Shhh!!!

O beijei novamente. Como... nos velhos tempos... Meu amado! Foi, pela última vez, como nos velhos tempos...

Foste o beijo melhor da minha vida,

ou talvez o pior... Glória e tormento,

contigo à luz subi do firmamento,

contigo fui pela infernal descida!




O abracei, com receio de fazer o que eu fui fazer. Senti as lágrimas escorrerem, manchando a camisa dele de sangue.

-Ashley? O que foi?

-Meu amado! O que tu fizeste?

-Ashley?

Eu o beijei. Nos deitamos na cama. Ele, achando que teria uma noite inteira com prazeres; eu, sabendo que teria que fazer o pior a qualquer momento, antes do amanhecer.

Não podia esperar mais, ia acabar não fazendo. Mordi-lhe o pescoço. Senti seu corpo estremecer. Suguei-lhe até a última gota de sangue.

Meu amado estava gelado. Meu amado estava...

-Morto...



Morreste, e o meu desejo não te olvida:

queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,

e do teu gosto amargo me alimento,

e rolo-te na boca malferida.



Minutos se passaram. Meu Lorde chegou.

-Ashley! Você é genial! Veja! Está morto!

-Sim...

-Agora, você merece... Será minha amante!

-É...

-Vamos transar!

Eu o carreguei para a cama. O beijei no pescoço. Não pude resistir. Maldito! Mordi-lhe. O gosto amargue de sangue-ruim desceu pela minha garganta. Um bruxo me derrubou com um feitiço, e Meu Lorde caiu no chamo, fraco pelo veneno de vampiro. Desmaiei.



Acordei numa cela; num lugar frio, úmido e escuro. Junto comigo, haviam várias pessoas deitadas, com uma expressão de horros na cara, mas não estavam mortas... Estavam apavoradas...

-Meu amado, porque não me levaste contigo? Num ato traiçoeiro como o meu? - eu não ouvia a minha voz. O que aconteceu? - POR QUÊ?!



Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,

batismo e extrema-unção, naquele instante

por que, feliz, eu não morri contigo?



Mas, então, eu ouvi um gemido às minhas costas. Parcia...

-Querido...? - eu olhei para trás.

-Quem...?

-Meu Amor!

-Ashley! - Mas...

-Você não estava morto?!

Ele não respondeu. Os dementadores nos cercaram. Eu me lembrei. Meu amado... Morto...

-NÃO!!! - eu estava sonhando.

Acordei suada, em casa. Um homem estava investindo contra mim.

-SAIA!!

-Eu sou seu...amante... tenho direito!

O arremessei para longe.

Fugi de Little Hangleton e fui morar em Hogsmead, um povoado inteiramente bruxo próximo de Hogwarts. Lá, eu me lembrava todo o dia do nosso último momento, amado. Nosso último segundo. Seu últimos suspiro de vida... de amor... E o meu também, querido amado...



Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,

beijo divino! e anseio delirante,

na perpétua saudade de um minuto...





FIM!

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Tahi! Bom, eu não sei como se chama isso, mas essa é uma "song" com um soneto do Olavo Bilac! Se alguém souber o nome, me avisa!
Bjus
Tata Malfoy

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