O Plano




Fazia frio naquela noite. O céu do salão comunal estava nublado, de forma que nem mesmo a lua podia ser vista. O lugar estava repleto de estudantes, como sempre. O jantar ainda estava servido, apesar de ninguém mais dar atenção a ele. Sentados à mesa da grifinória estavam Harry, Rony, Gina e Hermione, todos em silêncio, mesmo que não fosse o que os demais colegas faziam. Fred e Jorge estavam discursando sobre mais uma de suas invenções para os novatos do primeiro ano, enquanto Hermione olhava feio para eles, mas sem fazer menção de interromper. Gina observava os outros com atenção enquanto Rony brincava com o resto de pudim em seu prato. Harry, não suportando mais o clima que se formara à mesa, levantou-se de um salto. Gina o seguiu. Hermione e Rony Olharam intrigados para o casal pensando se haviam perdido algo entre os dois.

Hermione levantou da mesa poucos minutos depois de Gina, tentando evitar ficar muito tempo na presença de Rony sem a ajuda dos outros dois amigos. O garoto, assim que percebera que Hermione havia se retirado, fez o mesmo.

Assim que chegou a sala comunal da grifinória, Hermione foi direto para o dormitório, onde pensou que encontraria Gina, mas ela não estava lá. Ficou deitada em sua cama pensando no que dissera mais cedo naquele dia a amiga. Ela gostava de Rony. Isso era a mais pura verdade, mas ela não estava disposta a agüentar tudo o que ele a estava fazendo passar. Decidira que se Rony não mudasse e deixasse de ser tão criança, ela iria desistir dele. E parece que o garoto não ia mudar.

Rony esperou que Mione subisse para seu dormitório e largou-se na poltrona mais próxima a lareira. Ficou assistindo o fogo crepitar até que o buraco do retrato se abriu. Harry surgiu correndo.
- Rony! Você tem que vir me ajudar, rápido!
- Que foi, cara? Tá passando mal? – perguntou Rony, sobressaltando-se.
- É a Gina! Eu não sei o que fazer, ela entrou naquela passagem secreta que tem logo depois da tapeçaria dos trasgos, mas não apareceu mais, não saiu do outro lado! – Disse Harry, parecendo aflito.
- Como assim “não apareceu mais”?! Onde tá a minha irmã?! – Rony já se dirigia ao buraco do retrato.
- Eu não sei! Eu já olhei lá dentro, e não a via mais!
Rony não esperou Harry terminar de falar. Já estava correndo até a tapeçaria.

- Hermione, acorda!
- Ahhh! – gritou ao cair da cama – Gina?! Mas por que é que você me acordou assim?! Que susto! – abaixou a voz ao ver que as colegas de dormitório se reviravam em suas camas.
- Esquece, Mione, você precisa me ajudar! É uma emergência!
- Que emergência? Você sabe que horas são?! Já passou da meia noite, Gina...
- Dane-se o horário, é o Rony!
- Ah... E o que é que tem ele? – perguntou fingindo desinteresse.
- Eu não sei, esse é o problema! Ele entrou naquela tapeçaria dos trasgos, aquela que tem uma passagem secreta e eu não o encontrei mais!
- Como é? – Hermione levantou-se da cama.
- Vamos, Mione, você tem que ir até lá!
- Por que eu preciso ir lá? Ele deve ter ido pra outro lugar... Ele e o Harry sempre gostaram de ficar perambulando por aí à noite.
- Você não entendeu... Ele sumiu! Entrou na tapeçaria e não saiu mais de lá, eu estou com medo! Você TEM que me ajudar!
- Se acha que é algo sério devia avisar um professor, eu sou monitora, não posso ficar andando por aí à noite por culpa do Rony, preciso dar o exemplo!
- Hermione! Por favor! É o Rony. O Rony! Quer por favor vir comigo?!
- Ah, ok, ok, se isso vai fazer você parar, então eu vou.
Gina suspirou, enquanto guiava a amiga pela sala comunal.




- Como foi?
- Ufa... Quase que não deu, a Hermione pensa demais!
Harry riu. Realmente, tinha que admitir que não queria ter ficado encarregado de convencer Hermione a ir atrás de Rony numa tapeçaria.
- E o Rony? – perguntou Gina.
- Foi moleza. Ele ficou bem preocupado com você.
- Você me usou? Eu pensei que ia usar a Hermione! – disse Gina.
- Ah não, eu lembrei do 2o ano, de como ele tinha ficado desesperado. Achei que usar o seu nome teria um resultado mais rápido, já que ele tá com raiva da Hermione.
- É... Só estou fazendo isso por ele porque é um bom irmão... isso é, as vezes ele é um bom irmão...
- Ok Gina, melhor esperarmos lá dentro. Quanto tempo acha que demora?
- Pra se matarem? Menos de cinco minutos.
- Quis dizer... Pra se entenderem...
- Ah... Talvez a noite inteira, quem sabe.
Gina sorriu e seguiu Harry ao passar pela Mulher Gorda.




- Ai!
- Ai!
- Rony...?
- Sim, é você, Hermione?
- É, sou eu...
- Ai, Rony, você pisou no meu pé!
- Desculpa, mas o seu pé tá no caminho!
- Que caminho?! Aqui mal dá pra se mexer!
- É eu sei, mas eu sou maior, preciso de mais espaço!
- Ah, pode ir sonhando, fica aí encostado nessa parede!
- Eu já estou encostado na parede!
- Ahn... Então aqui é realmente muito apertado...
- Brilhante, Hermione...

Não entendia o que estava acontecendo. Num segundo estava chegando à tapeçaria dos trasgos e entrava para checar o que ocorrera com a irmã e no outro estava preso ali. E como se não bastasse, minutos depois Hermione também estava presa ali. Naquele vão de pedra totalmente apertado. Algo estava terrivelmente errado por ali.
- Ei, Hermione, o que veio fazer aqui? – perguntou o garoto.
- Eu vim procurar você! A Gina estava maluca dizendo que você tinha desaparecido atrás da tapeçaria...
-A Gina?! Você falou com a Gina? Quando? Ela tá bem?!
- Sim, eu falei agora pouco com ela... Espera.
- Que foi?
Hermione ficou em silêncio por alguns segundos. Ia fazer o movimento costumeiro de bater na testa que sempre fazia ao lembrar de algo importante que deixara passar, mas sua mão acabou atingindo o queixo de Rony antes de chegar a sua testa.
- Ai!
- Desculpe, esqueci que você estava aí... Afinal está escuro aqui. – disse a garota – Ei, Rony, você veio aqui procurar a Gina? – disse lembrando da preocupação na voz de Rony a menção do nome da irmã.
- Foi. O Harry disse que ela tinha sumido e...
- Então o Harry também! – interrompeu Hermione.
- O Harry também o quê?! – Rony começava a ficar irritado com a falta de explicações de Hermione.
- É simples, Rony. O Harry te disse provavelmente que a Gina estava aqui e a Gina me disse que você estava aqui e agora estamos presos nessa passagem secreta.
Hermione parou e esperou que Rony compreendesse. Como isso não aconteceu, exasperada ela continuou:
- É óbvio que isso foi armação!
- Armação? Do Harry da Gina?! Mas por que eles fariam isso?!
Hermione ficou em silêncio novamente.

Rony pensou que aquilo era tudo muito estranho. Por que Harry e Gina armariam para que ele e Mione ficassem trancados numa passagem secreta minúscula sendo que ele Hermione não estavam mais se falando. ”Espere aí”, pensou ”Será que eles estão tentando fazer com que eu e a Hermione façamos as pazes?”
Naquele momento Rony nem lembrava por que não estava falando com Hermione. Teve que pensar um pouco para poder ativar a memória de que Hermione agora era namorada de Krum, o Búlgaro carrancudo e popular. Sentiu o ódio inflar em seu peito. Como ela pôde depois de todos os avisos que ele dera?! Como ela pode escolher aquele cara?! O que é que ele havia feito de errado pra merecer estar preso com a namorada de Vitor Krum?!!!

Hermione pôde sentir o ar mudando de densidade à sua volta. Ele estava pesado e isso emanava direto do rapaz à sua frente. Hermione levantou os olhos, agora já acostumados com a escuridão do local, mas mesmo assim só pôde vislumbrar a silhueta de Rony, totalmente borrada. Lembrou que não estava falando com ele porque ele era burro demais.

Ficaram ambos em silêncio e se movendo o mínimo possível para não tocarem um no outro durante quase duas horas. As pernas já doíam porque era apertado demais para que pudessem sentar. Apertado demais até para que um deles desse um passo para frente. Se o fizessem, se deparariam com a lei que diz que “dois corpos não ocupam o mesmo espaço”.
- Então – Rony quebrou o silêncio – você está feliz?
- Feliz? – Hermione se perguntava como poderia estar feliz diante da situação em que se encontravam. – Mas do que é que está falando? Estamos presos!
- Eu quis dizer sobre o seu namorado.

Ok, Rony tinha surtado.
Primeiro pergunta se Hermione está feliz em estar presa e agora quer saber sobre o namorado inexistente da garota.
Ela suspirou e disse:
- Você está se sentindo bem?
Rony demorou alguns segundos para responder:
- Não.

Passaram mais alguns minutos em silêncio. O ambiente ainda não havia melhorado. O ar ainda estava pesado.
- Como será que a gente sai daqui? – perguntou timidamente Hermione.
Não obteve resposta alguma, mas começou a pensar sobre isso. Como sairiam dali? Harry e Gina iriam tira-los de lá? Ela havia esquecido sua varinha, mas será que Rony trouxera a dele?
- Rony... Você está com a sua varinha aí?
- Mas é claro que não! – respondeu o ruivo irritado – se estivesse eu não estaria aqui preso com a namorada do Krum!
- Mas que besteira é essa? – perguntou a garota.
- Ora, você chama o namoro de vocês de besteira? – disse Rony zombando.
- A cada dia mais me convenço que você surtou, Rony. Eu não sou namorada do Krum nem de ninguém! – disse Hermione perdendo a paciência.
- Vai negar? Eu ouvi vocês conversando no três vassouras! – disse Rony tentando dar um passo a frente, mas só tirando as costas da parede de pedra, já que logo à frente estavam os pés de Hermione.
- Então da próxima vez que você ficar escutando conversas alheias, ao menos escute direito! Eu recusei!
- Recusou...? – Rony perdera um pouco a força da voz.
Hermione não respondeu. Achava que finalmente entendia o porquê de Rony ter gritado daquela maneira com ela, quando tentara fazer as pazes com o garoto depois do ocorrido com o Vitor.
- Você... – Começou Rony, enquanto Hermione suspirava de impaciência – não é a namorada daquele cara?
- Já disse que não.
O ar pareceu aliviar um pouco. A tensão dava lugar ao alívio involuntário de Rony. Tinha tirado um peso das costas que nem ele mesmo sabia que carregava.
Hermione estava com raiva de Rony. Por que é que ele tinha que ser assim? Por que nunca a escutava e sempre tirava suas conclusões sem dar a ela a chance de explicar as coisas. E por que ele se achava no direito de fazer isso com ela?
- Por que você tem que ser tão burro?! – gritou a garota, as lágrimas rolando pelo seu rosto sem que conseguisse contê-las.
- Eu... não sei. – disse ele simplesmente.
Novamente o silêncio, sendo interrompido somente pelos soluções de Hermione.
Rony esperou que ela parasse e continuou:
- Eu não sei... Mas é que quando alguma coisa acontece com você, isso... me perturba... eu não sei exatamente como, eu só sei que é assim, Hermione!
- Me perturba também quando você faz isso comigo! Eu odeio Rony, odeio que você fique se metendo nos meus assuntos! Que você fique me acusando de estar com o Vitor, sendo que eu não devo satisfação nenhuma a você!
- Mas eu quero te proteger! Eu não quero que aquele cara chegue perto de você!
- Por que, Rony? Isso não tem nada a ver com você! Ou tem?
Ficaram em silêncio, Hermione esperando a resposta de Rony.
- Você não consegue nem me dar um motivo pra que eu ache que você tem o direito de se meter na minha vida... e ainda vem me dizer que é pra me proteger, ora me poupe! Se eu quisesse namorar o Vitor você não teria como impedir! – gritou Hermione.
- Eu não quero que você namore ele. – disse Rony.
- Por que?
Novamente não houve resposta. Hermione tivera por alguns momentos a esperança de que se ela pressionasse bastante Rony seria possível ele perceber que o que sentia era ciúmes e que isso o levasse a talvez entender outro tipo de sentimento que pudesse ter por ela. Mas ele não parecia estar entendendo.
Ia desistir. Tinha que desistir. Hermione acabara de perder o último fio de esperança que lhe restava sobre Rony. Quando saíssem dali ela iria continuar sendo amiga dele e se conformar de que isso seria tudo o que seria.

- É por que eu gosto de você.
Rony tivera que reunir toda a coragem que tinha para dizer aquela simples frase. Parecia tão fácil, mas a todo o momento que tentava dizer, as palavras simplesmente não saíam. Mas agora era o momento. Não podia mais fugir, não podia mais ficar se escondendo atrás da imagem do amigo super-protetor. Tinha que tomar uma atitude.
- Eu gosto muito de você, Hermione. – continuou, enquanto ela estava em silêncio.
- Gosta...? Mas mesmo assim isso não lhe dá o direito de se meter...
- O que eu quero dizer é que... – interrompeu-a Rony – Eu amo você Hermione.

Por essa ela não esperava, realmente. No momento em que decidira desistir ouvia o que quisera ouvir durante muitos anos. Mas agora não sabia o que fazer. Era o Rony. Seu amigo Rony, a pessoa que mais a tirara do sério em toda a sua vida e também a que mais despertara sentimentos dentro dela.
- Eu entendo se você quiser esquecer o que eu disse e continuar sendo minha amiga, mas não pode mais dizer que eu não tenho o direito de tentar te proteger, porque eu acho que eu tenho!
- Hã... Não... Tudo bem, eu não vou mais dizer isso. – falou a garota.

”Por que é que tinham que estar em silêncio de novo?!”, pensou Rony. Era constrangedor, mesmo sem conseguir ver o rosto dela.
- Eu... – começou Hermione, mas não conseguiu continuar. Não pensara que era assim tão difícil dizer o que sentia por alguém.
- Você não tem que falar nada, Hermione. Tá tudo bem, eu entendo. Não tem por que você gostar de um cara como eu. Eu sou atrapalhado e burro, como você mesmo disse agora pouco e não venho realmente de uma família rica... E também não jogo profissionalmente quadribol, entao -
Hermione ficara boquiaberta com as coisas que estava ouvindo Rony dizer dele próprio. Ela não podia deixar a pessoa que ela amava se sentir daquele jeito! Sem pensar muito, empurrou seu corpo contra o de Rony, envolvendo-o num abraço, passando seus braços em volta do pescoço do garoto. Nas pontas dos pés falou perto do ouvido de Rony:
- Você é mesmo um idiota, atrapalhado e vive copiando os meus deveres ao invés de fazer os seus, mas eu te amo por isso e por tudo o mais, Rony!
Ele passou os braços pela cintura da garota e se curvou para fechar a distância que separava suas bocas, pela diferença de altura. Os lábios se tocaram e imediatamente nenhum dos dois lembrou de mais nada. Nem de Harry, nem de Gina, nem de que estavam presos numa passagem secreta, nem que já fazia horas que estavam ali. Só existiam Rony e Hermione e o resto do mundo não importava. Beijaram-se com ternura à princípio e o beijo foi-se aprofundando quando Rony roçara sua língua nos lábios da garota que abrira a boca para dar passagem a ele. Foi um beijo longo, cheio da ansiedade da espera que teve para poder ser trocado.
Abriram os olhos ao terminarem o beijo, sem fôlego e notaram que não estavam mais dentro da passagem da tapeçaria dos trasgos. Sorrindo, Hermione tomou a mão de Rony e juntos retornaram cuidadosamente a sala comunal da casa, mas não foram dormir.


(Fim, porém vem um pequeno epílogo)

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