Prólogo
Rony descia apressado as escadas do dormitório masculino enquanto Harry tinha acabado de chegar a sala comunal da grifinória. Era manhã de Natal e a sala comunal estava vazia – exceto por Harry e Hermione. A maioria dos alunos havia ido passar o natal em casa, permitindo que o trio tivesse momentos como este freqüentemente.
A escola andava vazia. Devido ao medo que se alastrara no mundo mágico com os terríveis acontecimentos que seguiram desde a “descoberta” de Lord Voldemort bem vivo e ativo, os pais dos alunos julgaram ser mais seguro ter eles em casa durante as festividades do natal do que deixá-los em Hogwarts. Não que fosse ruim ter paz durante esse tempo. Harry, Rony e Hermione precisavam mesmo de sossego para conseguir fazer todos os deveres que os professores lhes passaram. Não era fácil estar no sétimo ano.
- A Gina já acordou? – perguntou Rony assim que chegou junto aos amigos.
- Feliz natal pra você também. – ironizou Hermione.
- Não, ainda não – respondeu Harry, temendo que os amigos começassem mais uma briga, o que vinha acontecendo com muito mais freqüência este ano.
Rony ignorou o comentário de Hermione e fitou o que ela tinha na mão direita.
- Você ganhou isso da Gina?
- Sim – respondeu – mas não entendo esse livro. Resolvi esperar ela acordar ao invés de eu mesma acordá-la. Ela parecia tão cansada ontem...
- Eu também ganhei um desses – Harry mostrou um livro idêntico ao de Hermione aos amigos.
- Quero saber por que ela nos deu isso de presente de natal... – disse Rony mostrando o seu, que era igual ao de Mione e Harry – Não consegui sequer abrir! – fez uma tentativa de abrir o livro que tinha em mãos, mas sem sucesso, a capa não seu moveu um milímetro sequer.
- Não, Rony – Hermione arrancou o livro das mãos do garoto – está trancado com magia! Você não vai conseguir abrir desse jeito.
A garota fez um gesto com a varinha mas o livro não cedeu.
- Não entendo – disse depois de tentar mais uma vez, murmurando um feitiço tão baixo que não chegou aos ouvidos de Harry e Rony – esse feitiço funcionou no meu.
- E sobre o que é o livro? – perguntou Rony com uma pontinha de curiosidade na voz.
- Bem... – começou Mione – o meu está em branco.
Sobre os olhares de incompreensão uns dos outros, resolveram esquecer um pouco o assunto. Ficaram alguns minutos ali, jogados no sofá perto da lareira.
Era uma manhã fria. Depois de Hermione tentar o feitiço que usara para abrir o seu livro no livro de Harry (sem resultados), resolveram esperar por Gina comentando sobre os outros presentes que receberam; entre eles sapos de chocolate, os famosos suéteres da Sra. Weasley, quites para limpar vassouras e um livro sobre elfos domésticos.
Depois de muito tempo Gina surgiu ao pé da escada. Ela estava visivelmente cansada e tinha olheiras enormes. Seguiu ao encontro do trio e murmurou um “feliz natal” quase sem fôlego. Sem estar preparada para isso, Gina foi bombardeada por perguntas.
- SERÁ QUE DÁ PRA FALAREM UM DE CADA VEZ? – gritou a garota para que sua voz fosse ouvida em meio as perguntas – eu não entendi uma única palavra do que vocês disseram!
- O que é isso, Gina? – perguntou Rony erguendo o livro à altura dos olhos dela.
- Seu presente de natal – respondeu se atirando na poltrona que havia ao lado de Hermione.
- Ah, é mesmo? Não me diga! – respondeu o garoto sarcasticamente. Estava visivelmente de mau-humor esta manhã.
- Então não me pergunte – rebateu Gina.
- O que o Rony quer dizer é que ele não sabe o que é aquele livro. – começou Harry – Nem nós – acrescentou olhando para Mione.
- Eu e o Harry nem conseguimos abrir os nossos e o da Hermione tá em branco! – disse Rony muito rápido, olhando para a irmã.
- É claro que tá em branco – disse – e o de vocês também.
Gina olhou para os garotos, mas percebendo que nem Hermione parecia ter entendido, acrescentou:
- É um diário.
- Um o quê? – perguntou Rony espantado.
- Um di-á-rio! Aquele lugar onde as pessoas escrevem sobre a vida delas... – respondeu Gina, os vestígios de sono deixando-a completamente.
- Ah! – exclamou Hermione, dando um tapa na própria testa – como foi que não pensei nisso?! Obrigada, Gina! Faz anos que não tenho um – disse sorrindo.
- De nada – Gina parecia completamente desperta agora, e com um humor um pouco melhor também – achei que vocês precisavam de um, sabe, pra desabafar. Os tempos estão difíceis... – parou ao notar um Rony boquiaberto.
- Quer que escrevamos em um diário? – perguntou ele incrédulo – isso é coisa de garotas!
Harry estava visivelmente desconcertado. Queria mais do que tudo que não houvesse uma briga naquele momento.
- Valeu, Gina – disse olhando a amiga e se apoiando no braço do sofá para se levantar – Vamos testar o nosso quite de manutenção de vassouras lá fora, Rony? As nossas estão precisando.
- Do que você tá falando, Rony? – perguntou Gina. Ela parecia ofendida.
- Você acha que eu e o Harry vamos escrever em um diário? – disse Rony, ignorando totalmente o convite do amigo – Quer que todos no dormitório fiquem comentando, é? Você acha que...
- Ronald Weasley! – cortou Gina – Não acredito que estou ouvindo isso – disse a frase se levantando da poltrona em que esteve jogada.
- Francamente, Rony! Um diário não é só coisa de garotas, como você disse! – falou Hermione se erguendo também, ficando ao lado de Gina e na frente de Rony. Harry jazia esquecido perto do buraco do retrato.
- Não?! Então por que eu nunca vi um garoto com um diário? – rebateu Rony ficando de pé também, se erguendo acima das garotas devido à sua altura.
- As pessoas não saem por aí contando que têm um diário! – Gina parecia muito irritada.
- Eu acho que a Gina tem razão – argumentou Hermione – já que estamos sob toda essa pressão, seria bom desabafar. E por que não em um diário?! Assim não precisamos lançar nossas preocupações em cima dos outros.
- Harry! – chamou Rony, fazendo Harry dar um pulo, estava concentrado pensando em quantos passos precisaria dar para fugir da discussão – Você concorda com isso? Vai escrever em um diário?
Harry demorou alguns segundos para responder. Analisou a situação: de um lado um Rony exasperado, com um olhar que dizia “Vamos, Harry! Concorde comigo!”. De outro uma Hermione decidida e uma Gina irritada, as duas com o mesmo olhar inquisidor de “concorde com ele e você morre.”.
- Eu não sei.
Foi o que conseguiu responder, e isso não tornou a vida dele mais fácil. Parecia que Rony, Hermione e Gina estavam decididos em fazer de Harry o juiz daquela discussão. Passou um bom tempo ouvindo os argumentos dos dois lados:
- Não há nenhuma lei que diga que garotos não podem escrever em diários! – disse Gina quase gritando.
- E nenhuma que diga que devam! – retrucou Rony.
- Se você não gostou do meu presente é só devolver! – continuou a garota – me desculpe se eu pensei em ajudar!
Rony pareceu tentado a pegar o diário que deixara caído no chão quando se levantou.
- Não se atreva a fazer isso, Rony! – disse Hermione que percebera o que o amigo pensava em fazer – isso seria uma grosseria grande demais até mesmo para você!
Harry se sentia tonto. Toda aquela gritaria logo de manhã e antes do café, não poderia fazer bem à saúde. Achou por bem intervir:
- Será que vocês não vão parar com isso nunca? – os três se viraram para Harry. Pelas suas expressões parecia que o haviam esquecido novamente.
- E por acaso você tem a solução? – perguntou Rony quebrando o silêncio que perdurou depois que Harry os interrompera.
Harry pensou um pouco e depois disse:
- Bem... Eu não tenho problema algum em escrever em um diário – continuou um pouco cauteloso por causa dos olhares incrédulos de Rony – então acho que se...
- Vai ser o seguinte, Rony, - Gina interrompeu Harry – eu te desafio! – disse a última palavra com bastante ênfase.
- Você o quê?! – Rony a fitava boquiaberto.
- Desafia? – disseram Hermione e Harry ao mesmo tempo.
- É. Eu o desafio a escrever nesse diário durante... vejamos... um mês. Se depois você quiser parar, tudo bem.– continuou Gina.
- Eu não vou aceitar esse seu desafio idiota, Gina!
- Hum... entendo. Está com medo. – os olhos de Rony, que a fitavam, lhe lançaram um olhar fulminante – Eu também estaria com medo no seu lugar, Rony, você nunca teve um diário antes, não é à toa que não é capaz de escrever em um...
- Não sou capaz? Eu posso escrever em um diário de olhos fechados se eu quiser! – Gina teve que controlar o sorriso que teimava em querer se formar em seus lábios. Conseguira o que queria.
Hermione parecia fazer um grande esforço para não rir também. Harry continuava atento à conversa curioso para saber aonde ela ia dar.
- Então, você aceita o meu desafio? – perguntou Gina.
- Certo – respondeu Rony depois de pensar um pouco – mas a Mione e o Harry vão ter que aceitar também!
- Por mim tudo bem – respondeu Hermione quando os olhares recaíram sobre ela.
- Por mim também – disse Harry.
- Está combinado então! – disse Gina – Quero me trocar para ir tomar café. Você vem, Mione?
Gina e Hermione subiram ao dormitório enquanto Harry e Rony continuaram na sala comunal. Os dois trocaram um olhar e lembraram-se que não tinham perguntado à Gina como fazer para abrir os seus diários.
*
No dormitório das meninas Gina ria alto enquanto Hermione concordava com ela que Rony era muito fácil de manipular.
- Mas eu realmente fiz isso pensando em ajudar o Rony – disse Gina conseguindo parar de rir – e a você e o Harry também – acrescentou.
- Acho que precisamos disso, Gina. Obrigada. – disse Hermione deixando o dormitório.
Depois que a amiga saiu, Gina pegou um embrulho que estava embaixo de seu travesseiro. “E eu também” pensou tirando o pano que cobria um livro idêntico ao de Harry, Rony e Hermione.
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