Algo para relembrar
N/A: Bem, desculpa pela demora, sei que demorei e muuuito (meses na
verdade) com esse capítulo, mas eu aproveitei para organizar algumas coisinhas,
reeditei algumas coisas nessa fic, estudei pras provas - que infelizmente ainda
não terminaram - logo logo vou poder ficar em paz novamente!
Esse capítulo é dedicado a minha amiga e também beta reader, Dani Watson, que
tem me agüentado muito e me ajudou pacas! Brigada por tudo, moça! Te adoro,
viu?!
No último capítulo...
- Só me expliquem qual é o nosso papel, certo? - Pediu Rony, ele já sabia,
assim como toda a população dos acontecimentos bombásticos.
- Se manterem vivos, SE conseguirem terminar com tudo, no dia do ataque
poderão ter uma vida normal. Só por favor, mantenham-se vivos, essa é a tarefa
de vocês. Era Henry Grant, o responsável pelo Quartel dos Aurores.
Rony sentiu seu estômago remexer-se desconfortavelmente, como se estivesse em
uma montanha russa. Estava esperando por ação, a ação que não tinha há anos, e
sabia o que isso poderia significar, mas estava somente de volta a ativa.
Capítulo V - Algo para lembrar
Hermione ficou alguns minutos olhando para o homem a sua frente, que
continuava a falar, suas palavras não fazendo o menor sentido para ela.
- Não são obrigados a aceitar. - Disse o Auror, sem demonstrar qualquer tipo
de sentimento de companheirismo com relação a eles. Hermione aprendera que, em
um trabalho como aqueles é preciso ter, além de muita coragem, sangue frio o
suficiente como na medicina, para poder separar sentimentos de trabalho, mesmo
que isso lhe fizesse parecer desumano diante dos outros e pelo o que podia
perceber, Frank tivera muito tempo para treinar isso, algo que ela jamais
conseguiu fazer... - É bom que, - acrescentou ele - pensem antes de nos dar
qualquer resposta precipitada, acho que até amanhã é o suficiente.
Rony levantou a cabeça rapidamente, estarrecido - Um dia? - repetiu como se
tudo fosse uma grande brincadeira.
- 24 horas não são suficientes para o senhor?
- Não sei se percebeu, mas é das nossas vidas que vocês estão falando, e sim,
24 horas não são o suficiente pra mim... Não é um jogo de Quadribol ou qualquer
outra coisa fútil para se decidir assim. - Rony respondeu o tom vermelho
voltando ao seu rosto rapidamente.
Frank deu alguns passos à frente, ficando cara a cara com Rony, seus olhos
pegando fogo. Ele pigarreou, e então o mais friamente que pode continuou:
- Não podemos dar-lhe mais que isso, senhor Weasley. E como disse a
principio, não tem que aceitar, e além do mais, caso se esqueceu, 24 horas podem
significar a morte de outras pessoas, de centenas dela. Pode lhe parecer muito
pouco, mas faz toda uma diferença. E acho que seria bom ler novamente seu
juramento, talvez, o ajude a tomar uma decisão. Pode não parecer, mas tenho
família e sentimentos, sei que caso não tenham família pretendem ter algum um
dia, e isso será para o bem deles...
E quem vai espalhar os genes de Ronald Weasley nesse mundo se eu morrer? Se
eu morro, não tem família, o que me diz sobre isso? Pensou Rony ainda fuzilando
o homem com o olhar, a raiva queimando em seu coração.
Hermione voltou a abaixar a cabeça, sentindo como se uma pedra de gelo
descesse por sua garganta, queimando-a. Concentrando-se nas mãos tremulas que
apertavam com força seus próprios joelhos, ela podia sentir algumas lágrimas de
dor se formando em seus olhos, quando mais tentava conte-las mais aumentavam,
fazendo sua visão ficar embaçada contribuindo para que se deixar levar pelo
momento, pelo sentimento que parecia arrancar-lhe o ar, a vida...
Eu não tenho família, ela pensou amargurada. Os borrões trocados
por sua própria imagem, saída de um filme em preto e branco, parada no meio de
um cemitério que formava se pouco a pouco em sua mente. O lugar era, apesar de
tudo, bonito mas a melancolia era arrastada, assim como as folhas secas que
enchiam o lugar, pelo vento. O gramado era bem cuidado, seus vários tons de
verde formando um longo tapete que faziam com que seus pés afundassem enquanto
caminhava sobre ele.
Sua caminhada parecia interminável, suas narinas invadidas pelo cheiro das
flores e grama molhada lhe deixavam um pouco sonolenta, mas ela continuava
seguindo com um semblantetriste e cansado até uma lápide simbólica, sua ultima
homenagem a seus pais. Em grandes letras pretas no cimento lia-se claramente “A
Jane e Antonny Granger, que foram o exemplo vivo da mais pura bravura. Àqueles
que nos ensinaram a aproveitar cada minuto como se fosse o ultimo, prestamos
aqui uma última homenagem, desejando que encontrem a paz eterna que por tanto
tempo procuraram. Hermione J. Granger e amigos.
Aquilo fora a peça que faltava para conscientizar Hermione do que realmente
acontecera. Mais uma prova de que eles jamais voltariam, nunca mais....
Dissolvendo em sua mente aquela triste cena, seguiu um rápido flash deixando
a antiga lembrança para trás, e trazendo a Hermione uma memória que por tanto
tempo tentara esquecer agora um pouco mais clara que todas as outras, a mais
triste e mais nítida lembrança que possuía...
Ajoelhada no chão do quarto, com a cabeça baixa estava uma Hermione um pouco
mais nova e chorosa, seus lábios se mexendo sem parar, repetindo,
incansavelmente uma mesma palavra, ‘desculpa’. Mais a frente um Rony furioso,
gritava sem parar, seus gritos enchiam os quartos abafando o pedido de desculpa
e os soluços dados pela mulher. Esquecido ao seu lado, Harry estava quieto e
cabisbaixo, nada dissera, nem sequer um lágrima ou grito, somente pensamentos
melancólicos, alguns raivosos, em tentativa de encontrar uma solução, tomar uma
decisão, a qual poderia mudar muitas vidas, entre elas, a da mulher no chão.
na imensidão verde dos olhos de Harry, ela podia ver o transtorno, a
infelicidade e pela primeira vez em todos aqueles anos sabia que nada podia
fazer, não podia consolá-lo e dizer que tudo ficaria bem, agora encontrava-se na
posição que jamais pensou que poderia ter, a causadora de tudo aquilo. Começou
então, a perder-se em si mesma, a perder uma batalha que tratava consigo mesma,
odiando cada pedaço de seu ser, por chegar a ponto de magoá-lo.
Enquanto, no coração de Harry, uma barreira começava a se formar, barreira
que o separava do mundo e de todos, protegido de não ser mais magoado, e também
de amar verdadeiramente, era seu escudo contra dor e sua perdição. Harry estava
mais uma vez, guardando tudo para si mesmo, no mais profundo silêncio. Silêncio
que só ajudava Hermione a desesperar-se.
Um barulho de porta se fechando com brutalidade fez com que o copo de água
que estava a pouco na pontinha da cabeceira tremesse, caindo no chão e
quebrando-se um pouco antes do impacto, assustando Hermione. Estavam ali agora,
somente Harry e ela.
- Harry... - Ela disse em um sussurro chamando-o - eu não tinha intenção de
machucá-lo, jamais. Eu precisava fazer isso, eu precisava dos meus pais, você
faria o mesmo, você sabe disso. Eu não queria...
- Você não queria ter o mesmo destino que eu tive, e eu entendo. Mas por que
não me contou? Eu só queria entender isso... por quê? Pensou que não te
ajudaria, ou o que, Hermione?
- Não era certo eu te deixar preocupado, todos esses anos você carrega o
mundo nas costas, seria egoísta da minha parte te dar mais uma coisa para se
preocupar.
- Não seja burra, a quem tenta enganar? Você sabe que uma relação se defini
nisto, dividir os problemas, felicidades, retirar a máscara mesmo que signifique
ser franco e sair da vida de mistérios. Talvez tenha sido o melhor, afinal, que
tipo de mulher é você? Que tipo de mulher consegue subir ao altar, jurar ser
fiel enquanto engana o idiota que faria qualquer coisa por ela? - Harry se
ajoelhou ao lado dela, chorando de raiva, e segurou fortemente Hermione próxima
dele, próxima o suficiente para beijá-la, mas queria que ela visse cada lágrima
de que ele derramava por ela, não eram as primeiras, mas seriam as últimas. Com
uma brutalidade incrível, ele a levantou do chão, segurando seus pulsos, onde
começavam a surgir marcas roxas. Ele sabia que a estava machucando, mas queria,
a qualquer custo, que ela sentisse na própria pele a dor que ela o estava
causando, a dor que tanto o consumia. No entanto, se ele estava atingindo seu
objetivo ou não, Harry não tinha certeza, Hermione não protestava nem nada
continuando a encarar, timidamente, os olhos verdes.
Se aquilo pudesse fazer com que a dor dele se extinguisse, pensou mordendo os
lábios, seus pulsos queimando, que ele a matasse ali, naquele momento, de tudo
faria para que se remedisse perante os olhos verde-esmeralda.
- Você não é digna desse anel. - Ele disse retirando rapidamente do dedo da
dela o anel de noivado que a dera. Aquele tinha sido anel de sua mãe, e ele o
dera a Hermione por achá-la importante, por confiar tão cegamente nela e o que
ela o fizera? Arruinara seu mundo, pisara em seu coração. Harry a soltou,
empurrando-a em direção da cama, não se contendo Hermione gritou por medo e dor
por causa do impacto de seu corpo contra o chão. - Quando eu te pedi em
casamento você já estava ao lado de Voldemort? - Ele perguntou olhando para o
anel em suas mãos, seu tom de voz tinha mudado drasticamente, simulando uma
falsa tranqüilidade. Ele estava frio como gelo, ela pensou.
- Eu não estou e não estava ao lado do Lorde das Trevas. - Hermione fez
questão de pronunciar-se.
- Até o chama como um deles. - Harry disse, os olhos desviando do anel de
ouro e parando em Hermione, olhando-a fixamente como se ela fosse algo
desprezível. - Me responda, Granger!
- Sim. Eu já estava... - Hermione negou-se a continuar.
Harry gargalhou, assustando a morena.
- COMO EU FUI TÃO BURRO? - Ele gritou, seu punho fechado indo ao encontro do
espelho do lado de fora da porta do guarda-roupa. - VOCÊ NÃO PASSA DE UMA GRANDE
MENTIRA, HERMIONE GRANGER, TUDO NÃO PASSOU DISSO, NÃO FOI? EU PENSEI QUE VOCÊ
ESTIVESSE FELIZ AO MEU LADO, E TUDO ERA UM GRANDE TEATRO PRA VOCÊ. VOCÊ PODE
MENTIR PRA MIM, MESMO QUANDO EU ESTAVA SENDO SINCERO, MAIS SINCERO DO QUE EU ME
LEMBRO TE TER SIDO COM RELAÇÃO AOS MEUS SENTIMENTOS A ALGUÉM! COMO PODE SER TÃO
CRUEL? VOCÊ NÃO ME AMAVA NEM UM POUCO? O QUE EU TE FIZ PRA MERECER ISSO,
HERMIONE? TODAS AS NOITES, TODOS OS BEIJOS, AS DECLARAÇÕES, O CASAMENTO, NADA
MAIS QUE UMA RÁPIDA E DOCE ILUSÃO PRA MIM, E PRA VOCÊ UMA SIMPLES DIVERSÃO. -
Ele gritou, toda a dor sendo descarregadas, as lágrimas agora percorrendo
livremente o rosto pálido, Harry precisava mesmo que fosse por alguns minutos
deixar o mundo de lado e suas responsabilidades e poder ser um simplesmente um
homem desolado e magoado perante uma traição, sem precisar ficar controlando
suas emoções ou esconder-se para chorar, deixando, finalmente, tudo o que o
sufocava para trás.
Harry deu alguns passos para trás esbarrando na escrivaninha. Ele respirou
fundo tentando controlar-se enquanto as lagrimas corriam pelo rosto marcado por
muitas batalhas e perdas, tendo fim na boca seca deixando-o sentir o gosto
salgado da traição.
- Harry, não! Claro que não. Eu te amo, eu juro por tudo que é mais sagrado.
- Hermione disse, sua voz ganhando um pouco mais de força.
- Que tipo de amor é esse, Hermione?- Ele disse, secando as lágrimas
rapidamente e passando a olhá-la. Como se sentisse os olhos dele recaindo sobre
ela, Hermione levantou a cabeça em um movimento brusco lhe causando uma breve
fisgada de dor, mas continuou olhando-o, sua visão desfocada por causa do choro
incessante, o rosto de Harry entrando em foco segundos depois.
Pela primeira vez naquela noite não havia mais chamas de ódio queimando em
seu olhar, pareciam que tinham sido apagadas, proporcionando uma visão triste
àqueles que tinham conhecido um Harry cheio de vida, alegre. Ele carregava uma
mistura de tristeza, cansaço e decepção no olhar.
“Os olhos são a janela para a alma” Pensou Hermione.
Para alguns aquela seria a hora certa para agir, mas para ela era um motivo
para tremer dos pés a cabeça, desesperando-se em silencio. Harry tinha tomado
uma decisão, e esta não o agradava, mas fora o caminho que ele escolhera e não
voltaria atrás.
Harry abaixou a cabeça e olhou em direção do bolso, pegando uma pequena
caixinha preta. Hermione pôde ver uma lágrima solitária escorrer pelo canto de
seus olhos.
- Apesar de tudo,- a voz dele estava mais calma, ele estava usando todo seu
autocontrole, a respiração estava, no entanto, um pouco alterada - eu não te
desejo mal algum, espero que você jamais sinta o que eu estou sentindo, - Harry
depositou o anel de ouro com uma pedra de diamante que há horas atrás refletia
todo seu amor e felicidade ali, olhando-o mais uma vez e guardando-o
definitivamente - e quem sabe, você possa encontrar a felicidade que não fui
capaz de te dar. - Disse parando perto da porta, pensando se deveria ou não
voltar a olhar a mulher ali presente.
- Harry, por favor...Não faz isso... Por favor, não... - Ela pediu,
levantando-se o mais rápido que suas pernas bambas pelo medo permitiam. Ele
estava se despedindo, ela o estava perdendo pouco a pouco, era sua última
chance, ou o impedia de ir agora ou jamais o teria de volta, simplesmente não
podia deixar tudo o que tinham vivido morrer, fazer parte de uma página de um
livro que agora teria que mudar para ter continuação. Era o primeiro adeus.
Antes que pudesse chegar perto o suficiente para alcançar o braço de Harry e
fazê-lo ficar, ele tocou a maçaneta e abriu a porta, passando por ela em
seguida, sem nem ao menos dar um último olhar ou pronunciar uma única palavra
sequer.
Hermione ficou ali, parada, tremendo incontrolavelmente sobre suas pernas que
pareciam não mais fortes para suportar seu próprio peso. Sentia como se uma mão
invisível, vinda de algum lugar escuro e frio, apertasse seu coração com as
próprias mãos, e tentava sufocá-la, tirando-lhe o ar. Estava sendo envolta por
um manto negro de medo, solidão...
Como previsto, suas pernas cederam e seus joelhos foram ao encontro do chão
em um baque surdo. Hermione nem ao menos sentia a dor do impacto, havia uma dor
maior que aquela, uma dor insuportável...
Perdera sua família, perdera seus amigos, perdera seu amor, restara somente
sua vida, a que não tinha sentindo algum...
Ela fechou os olhos com força, pondo um fim as lágrimas, porque ninguém era
capaz de acordá-la daquele pesadelo? De livrá-la do tormento? Não havia mais
Harry e Hermione, não havia mais um trio, não haviam mais sonhos, ela estava
sozinha...sozinha...Abandonada por todos, só tinha agora suas lembranças...
- Hermione? - Chamou Rony discretamente enquanto Harry se virou para falar
com Lupin. A mulher levantou os olhos avermelhados e o olhou, confusa. - Bem,
acho que não tem motivo para eu perguntar se está tudo bem, obviamente não
está... Você tava pensando em quê? - Ele perguntou, curioso.
- Nos meus pais. Mas já passou. - Ela fez questão de acrescentar, limpando as
lágrimas e se arrumado na cadeira. - Você também não está bem.
- Eu tô ótimo. - Ele disse, tomando uma outra postura.
- Está pálido e suando. - Falou a mulher olhando para o rosto branco como
papel por onde escorriam gotas de suor.
Rony fingiu não ouvir o que a morena falava, simplesmente desviou o olhar, e
ficou pensativo, escolhendo as palavras.
- Vai aceitar fazer parte...bem...disso?
- Eu não sei... Vocês não me querem ao seu lado, e se eu for motivo de
distração, não irei ajudar...Eu sei que não sou bem-vinda.
- Ninguém disse isso. - Acrescentou rapidamente.
- Você e Ha...Potter estão mais surpresos do que eu. Não sei quanto a
você,mas ele não me quer aqui. Ele me odeia. - Ela disse triste olhando de
esguelha para Harry, ele conversava rapidamente com Lupin, provavelmente,
Hermione pensou, falando no como eles estão bêbados de me mandar vir aqui.
- Ele não te odeia. Ele só está magoado como eu estava...
Hermione pensou por um momento que tinha sido atingida por um raio, e olhou
para Rony, procurando entender.
- Estava? Não está mais? - Ela perguntou, negava-se a encher de esperança,
não era bom, só a deixava motivada a viver por um momento, e então, depois que o
efeito passasse, desejaria morrer por todos os dias de sua vida.
- Tecnicamente sim. - Ele falou, voltando a ser o antigo Rony que conhecera
em Hogwarts negando-se a entregar ouro facilmente. - Ainda não posso acreditar
que não confiou em nós para dizer o que estava ocorrendo, mas tenho certeza que
faria o mesmo se fosse a minha família ou você, ou Harry. Acho que fui um
pouquinho idiota - acrescentou - não te deixei falar... ok, eu fui muito
idiota, eu sei.
Hermione parou analisando Rony, talvez, o “Roniquinho” não estivesse morto,
só estivesse se escondendo atrás da postura de grande homem responsável.
- É bom ouvir isso. Saber que ainda tenho alguém com quem contar. - Ela
disse, não certa de suas palavras, um lado de seu cérebro a fazia lembrar que
aquilo fora somente um pedido de desculpa e não uma afirmação de que tudo
voltaria a ser como antes.
- Você sempre pode contar comigo. Eu estava de olho em você nos últimos anos,
era só você precisar que estaríamos com você. - Ele disse gentilmente, colocando
sua mão sobre a dela e apertando.
- Estaríamos?
- Oras, Harry está mais cabeça dura, não nego, e também não o conheço tão
bem, mas pelo o que me lembro dele, ele não te deixaria sofrer. - Disse Rony
sorrindo abertamente, isso arrancou um sorriso de Hermione. Era estranho sorrir
e sentir-se tão bem depois de tanto tempo sendo sufocada, mas mesmo assim não se
sentia completa, não era a mesma coisa. Era como tinham falado no dia em que se
reencontraram, nada mais seria igual, seriam somente uma sombra, um rascunho mal
feito do que tinham sido, e sempre pensariam em como teria sido se nada tivesse
acontecido...
Ela virou a cabeça, fixando o olhar onde Remo e Harry conversavam, queria ser
uma mosquinha pra saber o que tanto falavam, na verdade, queria saber mais do
que aquilo. Se ao menos soubesse se Harry queria que ela fosse
com eles, ele parecia tão indecifrável, como se uma parede de vidro os
separasse, que a impedia de saber o que ele queria, o que ele pensava.
Hermione precisava somente de uma palavra, de um gesto, de um sorriso, de um
olhar que comprovasse o que seu coração dizia, e então iria, sem pensar duas
vezes, com Harry para onde quer que fosse.
Algo dentro dela sabia que ele desejava que ela fosse, assim como ela queria
ir e também, depois de passar tantos anos protegendo-o, indo com ele em suas
aventuras além dos portões de Hogwarts, ela se sentia como uma protetora dele,
uma guardiã, era como se fosse seu dever cuidar dele, saber se ele estava bem ou
não. Protegê-lo era quase como uma obsessão para ela, desde que o conhecera esse
sentimento até mesmo um pouco maternal tinha surgido, mas era mais que isso.
Quem ama sempre tem essa mania boba de querer proteger o amado, Hermione
costumava dizer que era algo bobo, ingênuo, porque chega um ponto em que não
podemos mais proteger ninguém pois há o que seja maior do que nossa vontade,
algo que vai além da lógica, a morte. Desta não se pode fugir, não se pode
esconder.
Interrompendo seus pensamentos pela segunda vez aquele dia, Frank voltou a se
ajeitar em sua cadeira depois de uma demorada conversa com Dumbledore e encarou
os presentes, assim que obteve a atenção desejada, ele indicou com a cabeça
Dumbledore.
- Acho que seria melhor para todos, principalmente para vocês se não fossem
pra casa hoje. Temos um lugar onde podem ficar, é mais seguro. - Disse o
diretor, a voz rouca ecoando pela sala.
Ele estava mais cansado do que o de costume, através dos óculos de meia lua
podia-se ver claramente as olheiras. Dumbledore não tinha mais aquele mesmo
brilho no olhar, pensou Hermione, ele estava se apagando assim como a vida de
Dumbledore ia se esvaindo...
- Eu prefiro não ir... - Disse Rony apressadamente. Aquilo provavelmente
fazia parte do plano deles para que o trio continuasse vivo. Tinha muito no que
pensar por apenas 24 horas, ficar preso em um lugar onde os problemas o
cercavam, não seria bom, assim ele estaria louco antes que amanhecesse, mas não
tinha como fugir disso e Ron confirmou isso assim que Frank se manifestou, curto
e grosso:
- Não encare como um pedido, sr. Weasley, é uma ordem. - O homem desviou o
olhar do ruivo, o qual tinha as orelhas pegando fogo e consultou o relógio de
pulso. - Está na nossa hora. Dumbledore é melhor irmos, daqui a pouco a imprensa
vai lotar este lugar se souber que você está aqui... - Disse o homem saindo a
frente com um grupo de pessoas, os supostos ‘novos membros’ como Hermione
pensara mais cedo.
A imprensa vinha cercando Dumbledore e o Ministério fazia algum tempo. Todos
eram questionados, não havia mais autoridade para controlar o mundo bruxo.
Muitos desistiam de seus trabalhos e iam esconder-se no lugar que parecesse
mais seguro e a população tentava fazer o mesmo, misturando-se com trouxas, indo
para os lugares mais improváveis possíveis, todos os dois lados tinham algo em
comum, só em pensar em Voldemort e na Era de Terror causada por ele,
arrepiavam-se, temendo a morte. Até o próprio ministro tinha se afastado do
cargo por “motivos de saúde” enquanto toda a carga ia para Dumbledore e outros
membros respeitados da sociedade.
O caos era total.
Os únicos que estavam na mais profunda calma eram Comensais e Voldemort.
Outros países já tinham declarado alerta vermelho e recusavam qualquer tipo de
ajuda a Dumbledore, foram poucos aqueles que aceitaram mandar Aurores, mas o
pouco era muito pouco.
Era estranho como não conseguiam ver que se aliando a Dumbledore e outros
agora, tinham mais chances de vencer, mas não, recusavam-se afirmando que se uma
vez não tinham conseguido se livrar de Voldemort por conta própria e precisado
de uma ‘cobaia’, - um apelido carinhoso que tinha substituído o
“menino-que-sobreviveu” - não conseguiriam agora e nunca e, por isso mesmo, era
melhor manter seus Aurores em suas terras para defendê-las e morrer nelas em vez
de mandá-los para uma batalha já perdida.
- M#$ de imprensa! - Murmurou Tonks, colocando a capa de Auror sobre a jeans
rasgada e a blusa branca e pegando a varinha, seguindo na frente do grupo atrás
dela, seu cabelo amarelo destacando-a dos demais.
- Não esqueçam: não são obrigados a fazer nada que não queiram, mas contamos
com vocês, são os únicos aurores vivos - Rony gemeu - que já chegaram perto o
suficiente de Voldemort, até mesmo quando eram apenas três estudantes do
primeiro ano. - Disse Dumbledore, parado a porta, atrás dele estavam Remo com
suas roupas surradas, totalmente desarrumado, seguido por Tonks, Snape, - este
já no corredor, prestava atenção em tudo e em todos - e Minerva que assumira o
“cargo” de Hermione e buscava táticas além de fazer anotações diárias sobre tudo
o que acontecia. A professora agora era movida a poções depois de alguns ataques
perdera parte dos movimentos, mesmo assim, ela demonstrava grande desejo de
viver, diferente de Hermione que freqüentemente podia aos céus para morrer.
Dumbledore deu alguns passos à frente e estendeu a mão com um pedaço de
pergaminho para Hermione, um pequeno sorriso formando-se no canto da boca. O
professor podia ter perdido a força para andar rapidamente pelos corredores, e
até mesmo a de falar com a mesma firmeza como antes, menos o sorriso, para este
ele ainda tinha um pouco de força.
- É o endereço do lugar onde podem ficar, aconselho a irem juntos, por
segurança. - Ele disse dando um último olhar de despedida e saindo porta a fora
com os outros.
- Acho que esse trabalho vai demorar mais do que esperávamos. - Comentou Rony
indo até a cadeira onde Hermione estava e espiando por cima dos ombros da morena
o endereço. - Você tem idéia de onde fica isso?
- Nenhuma. Mas podemos achar talvez em um mapa, aqui tem mais ou menos uma
indicação de onde podemos nos localizar, deve servir pra alguma coisa... - Ela
disse muito vagamente, sabendo que os olhos de Harry estavam sobre eles.
- Vocês não precisam aceitar, não precisam ir. Na verdade, me dê isso. -
Disse Harry levantando-se bruscamente e indo parar na frente de Hermione, a mão
estendida esperando o pedaço de papel.
- Você não ouviu? Ordens, não um pedido... - Lembrou Rony.
- Se é por minha causa, a viagem acaba por aqui. Cada um aqui tem a sua vida,
suas coisas para se preocupar. Eu entendo que você, Rony, ache que tem que ir
por algo como consideração ou porque um dia fomos amigos - disse Harry muito
calmamente, como se Hermione não estivesse ali. Tanto ela como Rony pareciam que
estavam sendo esbofeteados. Harry tinha uma facilidade para falar, como se
tivesse há tempos decorando seu texto. - Somos velhos demais pra não sabermos
nos cuidar sozinhos e...
- E você é extremamente pretensioso por pensar que eu poderia ir
exclusivamente por sua causa. Acertei? - Perguntou Rony pondo-se na frente de
Hermione, ficando assim cara a cara com Harry.
Hermione sabia que eles só tinham começado com uma briga daquelas uma única
vez e ela se lembrava claramente que o motivo fora uma garota, só anos depois
ela chegou a saber que a tal garota era ela e isso a deixou profundamente
irritada e se sentira culpada pois os dois tinham passado quase 3 dias com os
olhos roxos, marcas de chutes e socos por todo o corpo, sem falar dos narizes
quebrados, é claro que estes tinham sido curados rapidamente por Madame Pomfrey.
Na época Rony tinha uma vantagem, era mais alto que Harry, mas agora,
analisou Hermione afastando-se um pouco dos dois e observando-os um pouco de
longe, eles eram da mesma altura, Rony talvez fosse um pouco mais forte, mas
Harry era mais ágil. Só de pensar na possibilidade dos dois brigando já podia
sentir suas pernas bambas, e sabia que teria que interferir caso eles não
chegassem a um acordo, como verdadeiros homens e não moleques. Uma onda de medo
invadiu seu peito quando deu mais atenção aos olhos verdes de Harry faiscando de
raiva assim como os azuis de Rony, iria começar, mais uma vez, uma serie de
palavras cruéis, maldosas...
- Há mais do que a sua vidinha em jogo, tem a vida dos meus futuros filhos,
dos meus irmãos, dos meus amigos, envolvidas nisso. Depende do sucesso dessa
“missão” a vida deles e se eu puder ajudar,eu irei fazer isso e mesmo que fosse
por “consideração” como você disse, não seria você que me impediria porque a
vida é minha e você fez questão de não fazer parte dela há muito tempo. - disse
Rony estridente, os punhos fechados com força.
Harry tinha ficado um pouco abalado com as coisas ditas por Rony mas não
houvera nenhuma mudança na sua expressão, ele continuava posto na frente de
Rony, encarando-o, esperando por mais uma chance de atacar.
- Será que vocês podem parar? Temos muito tempo para resolver nossos
problemas quando isso acabar. Terminar o trabalho para não nos vermos mais,
lembram-se? - Perguntou Hermione afastando Harry e Rony rapidamente e colocando
o endereço no bolso da capa e começou a empurrá-los para fora da sala.
- E você? - Perguntou Harry, malicioso não deixando que ela continuasse a
guiá-lo. - O que você pretende aceitando? Se fazer de ‘a santa’ pra ver se todos
esquecem do que você fez? Da traidora que você é?
- O seu problema é com o Rony, não comigo, por isso pode parando por aqui.
Nada que venha de você vai me fazer tirar do sério.
- Ora, eu acho simplesmente muito estranho. Você não foi capaz de arriscar a
sua preciosa vida há três anos atrás e agora você pode? - Harry perguntou, um
sorriso formando em seu rosto.
Hermione pensou em virar-se e encará-lo, mas não valia a pena, bastava
ouvi-lo dizer aquelas palavras para machucar-se, olhá-lo nos olhos e ver o ódio
queimando iria piorar a situação.
-Eu não tenho nada a perder indo, se é isso que queria ouvir. Eu posso ser
uma traidora, - ela disse pausadamente, em um tom ameaçador - mas felizmente,
não virei essa pessoa rancorosa que desconta sua raiva em tudo e em todos, sem
se importar se está machucando os outros ou não. Na verdade, é o que você melhor
sabe fazer ultimamente, não é? Espero vocês no estacionamento... ou preferem
aparatar e chamar a atenção das pessoas? - Sem nem esperar resposta, Hermione
saiu da sala, em passos rápidos e largos, Harry e Rony olhando para a porta
aberta, puderam ouvir os passos de Hermione se afastando.
- Acho que alguém aqui está na hora de parar com o jogo e começar a pensar...
E sabe, também é bom que comece a pedir desculpas. - Disse Rony friamente,
saindo do cômodo.
Harry deixou seus ombros caírem, desanimado. Porque sempre as coisas que
fazia saiam erradas? Será que eles eram tão idiotas para não perceberem que o
que estava fazendo era pra protegê-los?
Na verdade, precisava deles, sabia disso, não conseguiria sem eles, mas não
podia ser tão egoísta e fazer com que eles pagassem por seus erros... não
podia... Voldemort era sua responsabilidade e não a deles. Ele morreria para
proteger Hermione e Rony, mesmo que tivesse que machucar o amigo, sim, ele ainda
considerava Rony como um amigo, talvez mais que isso, um irmão, e Hermione
continuava sendo a mulher pela qual tinha se apaixonado.
Era duro ter que se comportar daquela forma rude e má enquanto queria
abraçá-la, tê-la em seus braços mais uma vez, sentir o toque, o beijo, o cheiro.
Queria que pudessem se sentar os três juntos, em frente a uma lareira com
Hermione deitada com a cabeça em seu peito como fizera tantas vezes antes,
enquanto Harry acariciava os cabelos lanzudos da garota, embriagado pelo aroma
afrodisíaco dela, e Rony sentado perto deles mesmo que fosse somente pra fazer
caretas de nojo, demonstrando o quão irritante era aquela cena de pombinhos
apaixonados, mas no fundo o casal sabia que ele gostava de ver os dois juntos e
felizes. Eram assim que passavam algumas noites, juntos até o amanhecer, com
canecas de chocolate e doces por todo o lado, rindo e se divertindo, esquecendo
o mundo que os esperava, eram somente eles, os três amigos inseparáveis e mais
nada.
Se preciso, iria levar tudo até as últimas conseqüências se isso fosse a
garantia de que Hermione e Rony ficariam bem, mesmo que eles o odiassem ou nunca
chegassem a saber do que fizera e estava fazendo.
Estava fazendo a mesma coisa que Hermione fizera e um dia e a julgara como
uma traidora, mudando somente algumas partes da história, mas de alguma forma
era uma traição. Uma traição que se dava ao mesmo motivo: querer proteger quem
se ama, mesmo que seja preciso esquecer de si próprio e mentir para todos. Harry
tornara-se um enigma, para ele mesmo e para todos, uma contradição de
sentimentos em um só ser incrivelmente difícil de entender.
Ele aproximou-se um pouco da janela e afastou a persiana, tentando ver o
movimento na rua. Uma Hermione triste e emburrada se destacava na multidão. O
cabelo castanho escuro ondulado ao vento, balançando graciosamente, e deixando
com que seu rosto branco, com algumas sardas quase que invisíveis sobre o nariz
fossem vistos mais claramente. Feições finas davam um ar de uma linda boneca de
porcelana que ganhara vida... Harry deixou seus olhos recaírem-se sobre o que
ela segurava contra o corpo, depois de olhar com mais atenção viu que era um
bolsa preta. Hermione passava de cabeça baixa por aqueles que estavam em seu
caminho para esconder as lágrimas. Ela sempre faz isso, pensou Harry,
enquanto ela puxava a capa mais perto do corpo por causa do vento frio, o mesmo
que fazia com que os lábios avermelhados ficassem ressecados.
Harry sabia como era cada pedacinho do corpo de Hermione, podia até mesmo
saber o que os olhos dela transmitiam, uma grande tristeza misturada com ódio,
ele a vira assim por tanto tempo naquelas últimas horas, que era capaz de
formá-la, com todos os detalhes, na sua mente. Estava reparando em tudo, em cada
passo, sorriso, olhar dados por ela, sempre tomando o cuidado para que ela não o
visse, não queria iludi-la, não tinha mais nada para acontecer entre os dois.
Ele só podia memorizá-la e guardá-la em sua mente como uma doce lembrança, e era
isso que fazia. Escondia-se atrás de relatórios, e enquanto ninguém parecia
olhar, ele passava a admirá-la de longe.
Alguns simples gestos dela eram capazes de tirar-lhe o ar, a maneira como
colocava o cabelo para trás, de como sorria, de como chorava, nada era capaz de
abalar a beleza dela... Observando cada curva da morena, estudando seu olhar,
suas reações, o formato de sua boca, o formato dos teimosos cachos que de vez em
quando apareciam nas pontas do cabelo, era somente assim que encontrava alivio.
Tantas coisas dela para se lembrar, parecia tanto e ao mesmo tempo tão pouco.
Quanto mais a estudava, quanto mais a afastava, mais a desejava...
Esperou alguns minutos na sala, sabia que Hermione e Rony - este aparecera
tempo depois marchando para o estacionamento - não iriam sem ele, mas precisavam
de um tempo sem vê-lo mesmo que fossem alguns breves minutos de paz e então,
saiu do cômodo no qual fora deixado sozinho.
Para todos os efeitos a viagem transcorreu bem. Hermione no banco da frente
dirigindo calmamente, Rony ao lado dela estudando um mapa da cidade, no banco do
carona, e Harry atrás, deitado desconfortavelmente com o braço sobre os olhos.
Trocavam algumas palavras às vezes, para saber a localização, ou para perguntar
algo sobre o trânsito, mas nada além disso.
- É melhor mudarmos de roupas. Seria estranho se trouxas nos vissem todos com
esse uniforme branco... - Disse Rony apontando para a roupa deles.
- Ok, eu vou parar o carro em algum lugar.
- Não precisa, ou vai dizer que não usa a varinha quando está dirigindo? -
Perguntou Rony desconfiado.
- Claro que não! É como usar celular - Rony franziu a testa, mas Hermione
continuou - enquanto se dirige, pra você tudo bem que não está dirigindo, mas e
pra mim? E tem, também, as pessoas na rua... arriscado demais. - Disse Hermione
como a garotinha cê-dê-efe preocupada com as regras.
- Pára em qualquer lugar que está bom. - Falou Harry, a voz sonolenta, ele
parecia ter dormido toda a viagem. Ninguém o culpava, afinal de contas, estavam
há quase 1 hora dirigindo e isso quase os fez desistir de ir como trouxas e
simplesmente aparatar, mas Hermione se recusara terminantemente em deixar seu
carro abandonado.
Não demorou e Harry sentiu uma leve freada e o carro sendo desligado, e as
pessoas no banco da frente começarem a sussurrarem feitiços, transfigurando suas
roupas rapidamente. Ainda entre alguns bocejos ele se levantou, sentando-se no
banco, os óculos tortos sobre o nariz.
Harry parou olhando para frente, e viu a rua deserta. Levantando os olhos
para o espelho do carro viu como estava acabado. O rosto amassado e os óculos
desarrumados, a roupa amassada e o cabelo despenteado estavam fora de foco, e
quase como involuntariamente ele tirou os óculos e os limpou, arrumando-os em
seguida, já fizera aquilo inúmeras vezes. A cabeleira ruiva a frente finalmente
deixou de ser somente um borrão vermelho e tomou forma, assim como Hermione.
Harry deu uma rápida olhada nela e sentiu um frio percorrer sua espinha, ela
estava com uma roupa empresarial, assim por dizer, um conjunto azul claro, isto
é, saia - um palmo acima do joelho - e uma blusa branca de seda e um cardigan
e... Harry inclinou-se um pouco mais para frente, mordendo os lábios, seus olhos
passeando pelas pernas delineadas e parando nos pés de Hermione. E um sapato de
bico fino branco. Ele concluiu voltando a sentar-se direito no banco, ainda com
a velha mania de olhá-la dos pés a cabeça, notando qualquer diferença.
Ele fechou por um momento os olhos, tentando visualizar uma roupa para ele
enquanto Rony, que vira tudo inclusive a rápida passada de olho que Harry tinha
dado em Hermione, ria por Harry ser tão burro a ponto de deixar-se levar pelo
momento e não tivesse notado o fato de que mesmo olhando para a rua, Hermione
podia ver pelo retrovisor a movimentação de Harry e controlar os dois ao mesmo
tempo.
- Tudo bem. Pode ir. - Disse Harry, olhando para a roupa. Agora trajava um
palitó preto, por dentro uma camisa azul e uma gravata, também azul, mas um
pouco mais escura.
Hermione virou-se pra trás olhando o homem a sua frente, a roupa deixava as
pessoas totalmente diferentes do que eram na verdade, pensou.
- Nada mal. - Ela disse. - Mas, - Hermione soltou o cinto e agora foi sua vez
de inclinar-se mas para o banco de trás - chegue mais perto. – Ela pediu. Harry
a olhou um pouco confuso mas mesmo assim obedeceu, carrancudo, e ficou onde ela
pudesse tocá-lo. Hermione pegou a gravata, que estava somente passada sobre o
pescoço dele, olhando-a descontente. Virou-se mais uma vez para Harry, o
primeiro botão da camisa estava aberto, deixando a mostra parte do pescoço dele.
- Se quer usar uma gravata - ela disse enquanto abotoava a camisa. Sem querer,
sua mão encostou com a pele de Harry, foi como se tomasse um choque elétrico,
pois rapidamente ela retirou sua mão e pegou a gravata, e a ajeitava em Harry -
precisa além de estar alinhando, saber dar um nó direito. - Explicou para ele
como se dissesse para uma criança o porquê de não poder atravessar a rua sem
olhar. Depois de ter dado o nó, Hermione se afastou um pouco, e o olhou, virando
a cabeça procurando um ângulo melhor. - Agora sim. - Ela disse contente e
virando-se para frente, jogando o cabelo para trás. - E você, Rony? Também com
gravata?
- Nem pense, eu sei arrumar uma gravata, mas o momento mamãe e papai e o
filho irresponsável foi bom...
- Filho? Velho demais... - Ela disse rapidamente, sorrindo e voltando a ligar
o carro.
De alguma forma aquilo serviu para que Rony começasse o assunto de que ele
não era velho, ela que era jovem demais e isso deixou o clima mais amigável,
menos para Harry que parecia prestes a dormir novamente, mas tentava manter-se
sentado para não amassar o palito. Sua cabeça encostada no vidro da janela, o
olhar perdido, vendo somente alguns borrões de casas sendo deixadas para trás
pelo carro veloz.
- É esse o tipo de lugar que vamos ficar? Não tem movimento na rua, nenhum
trouxa, nada. Eu pensava que trouxas curtiam sentar na frente das casas,
fofocando, e que havia crianças lotando a sala.
- Tecnicamente em alguns lugares é assim. - Comentou Hermione lembrando-se do
ambiente em que vivera com seus pais.
- Isso é um sinal de que temos vizinhos chatos, muito chatos. Se precisarmos
de uma colher de açúcar, iremos morrer. - Ele comentou divertido. - Acho que é
aqui, Hermione. - Ele disse apontando para uma casa confortável e
consideravelmente grande.
Hermione começou a diminuir a velocidade do carro e se debruçou sobre o
volante, tentando ver a casa.
- Nada de feitiços, nada?
- Pelo visto, nada. - Disse Harry observando a casa da sua janela.
Hermione pegou o pedaço de pergaminho e viu o endereço, realmente era aquela
a casa.
- Talvez, - comentou Rony intrigado - Dumbledore tenha colocado feitiço para
que ninguém além de nós a veja. Vou perguntar pro pirralho ali...
- É melhor não. - Alertou Hermione, mas era tarde demais, Rony fez sinal para
um garotinho se aproximar.
- Oi. Olha só, você poderia nos ajudar? - Perguntou Rony gentilmente - Você
está vendo aquela casa ali? - Ele perguntou apontando para o grande jardim com
um muro baixo e um portão preto, sem perceber o quão idiota era sua pergunta.
- Claro que estou vendo, não sou cego. Por quê?
- Nada não. Pode ir. - Disse Rony desinteressado e voltando a encarar a casa.
- Desculpe. - Disse Hermione para o garoto de 6 anos, ele os olhou,
desconfiado e voltou para casa, arrastando no chão um ursinho de pelúcia um
pouco maior que ele. - Você realmente assustou a criança, Rony.
- Eu não tenho culpa! Era só uma simples pergunta. Mas, o que me incomoda é:
por que nenhum feitiço?
- Voldemort não é o tipo de pessoa que anda entre trouxas, é? - Hermione
perguntou como se fosse óbvio demais.
- Vamos entrar ou querem que eu pegue um café? - Perguntou Harry saindo do
carro e batendo a porta fortemente.
- Calma, senhor! - Disse Rony, displicente.
Hermione e Rony foram os últimos a sair do carro. Hermione parecia um pouco
desconcertada por ter que deixar o carro ali, na frente de uma casa totalmente
desconhecida em um lugar que ela jamais ouvira nem o nome.
A casa era de qualquer forma bonita, mas era, praticamente, idêntica às
outras. Era o típico bairro suburbano: calmo, com casas espaçosas e chiques,
jardins cuidados e telhados vermelhos.
Ela sempre sonhara em morar num lugar como aquele, tranqüilo, onde os
vizinhos costumavam visitar os novos moradores, e as mulheres reuniam-se nos
domingos, enquanto os maridos juntavam-se para ver o futebol, e conversavam
sobre como as crianças tinham crescido, comentando a “novidade” que tinham
escutado no salão de beleza durante uma hidratação quase que por acidentalmente.
Era até mesmo um pouco fantasioso imaginar que um lugar tão perfeito existia,
mas de alguma forma, aquele ambiente a inspirava a pensar que tudo era verdade,
e estava feliz, mesmo que fosse desfrutar daquilo somente por uma semana ou
menos.
Hermione continuou parada na frente da casa, observando-a deslumbrada
enquanto Harry e Rony estavam a sua espera na porta, conversando. Era
praticamente a casinha de bonecas que ganhara quando pequena, mas agora mil
vezes maior, o jardim com flores espalhadas por todo o canto que deixavam no ar
um cheiro bom, uma mistura de grama verdinha molhada com o perfume de flores.
Todas a janelas estavam fechadas e não deixava com que ela tivesse uma maior
visão, mas por suas contas eram 3 quartos, e um sótão no segundo andar, mas não
tinha certeza, só conseguia ver a parte da frente, talvez, lá dentro fosse
maior, com mais cômodos, mas era realmente excitante estar ali, na casa de seus
sonhos...
- Eu acho melhor não usarmos a varinha, sempre tem um trouxa espiando. -
Disse Harry olhando para os lados, desconfiado, lembrando-se da mania irritante
de sua tia de querer cuidar da vida dos outros.
- Não podemos também simplesmente arrombar, ia chamar muita atenção também.
Sabe, nos filmes trouxas eles usam uma... - Antes que Rony terminasse de falar,
eles ouviram um grito agudo atrás dele, Harry e Rony virando-se rapidamente.
- Merda! - Gritou Hermione correndo para perto de Rony e Harry, a bolsa preta
perto do corpo. Ela parou ao lado dos dois, com uma cara fechada.
- Se ousarem rir, eu mato vocês! - Disse, olhando para a roupa agora mais
justa por causa da água. Ela passou a mão pelos olhos, tentando evitar que a
água caísse neles, respirando fundo para não começar a gritar.
O regadorautomático tinha sido ligado, espirrando água para todos os lados, e
Hermione que estava em um de seus passeios pelo jardim acabara sendo vitima
dele.
Harry olhou Hermione, a roupa toda encharcada colava no corpo dela, deixando
a vistas o corpo torneado dela, o cabelo molhado perdeu um pouco de seu volume
mostrando seu verdadeiro tamanho, um pouco mais abaixo do ombro, e um pouco
encaracolado. Ela tirou o cardigan ficando somente com a blusa branca, o sutiã
preto sendo revelado.
- Ah! Que bom que chegaram... - Comentou uma mulher de 45 anos,
aproximadamente, enquanto abria o portão da frente causando um barulho de
ferrugem, segurando um molho de chaves. Atrás dela, estava um homem loiro, muito
bonito, que vinha seguindo-a contra vontade. - Vocês devem ser nossos novos
vizinhos! Prazer. - Ela disse, rindo para Hermione - Sabia que esses regadores
iam causar problemas... - comentou puxando Hermione para um abraço, fazendo
questão de não se aproximar muito dela e então beijando as bochechas da morena
que sorria, sem graça, e também correspondendo.
- É... somos novos, mas como a senhora... - Perguntou Hermione. Harry e Rony
como guarda-costas ao lado dela. Se possível, eles estavam mais assustados que a
própria Hermione que acabara de ser abraçada por uma completa estranha.
- Nada de senhora, por favor! Acontece que o antigo morador deixou as chaves
conosco, o homem da imobiliária esqueceu, sabe ele era um pouco velho, -
interrompeu-a, rindo graciosamente - então sr. Walter achou melhor nos deixar
responsáveis por ela. Eu sou Kátia e esse é meu marido, - ela disse apontando
para o homem atrás dela. Ele mantia as mãos no bolso e parecia ter acabado de
acordar - Brian esses são...
Rony se apressou e apertou a mão de Kátia.
- Minha irmã Brigde e o marido dela - Hermione se controlou para não engasgar
com a própria saliva, enquanto Harry fechava a cara para Rony. - Ele se chama
Ronald e eu sou Harry. - Por um momento Rony sentiu Harry chutar sua perna e
isso quase estragou sua apresentação, mas ele continuou, como se nada tivesse
acontecido. - Harry Potter. - Ele disse agora cumprimentando Brian, estava com
as orelhas vermelhas, em um tom próximo ao de seu cabelo. Não se atrevia a
virar, ou começaria a rir da cara dos colegas de trabalho, por isso conteve-se
somente em conversar com os vizinhos.
- Se não se importa, nós vamos entrando. Temos que arrumar algumas coisas
ainda, desculpe por não convidá-los a entrar mas He.... Brigde morreria caso
alguém visse a casa desarrumada, não é amor? - Perguntou Harry passando a mão
pela cintura de Hermione, esta arrepiou-se por completo, mas continuou mantendo
a postura mesmo que um pouco ruborizada. Ele pegou as chaves da mão de Rony e
guiou Hermione para dentro da casa, seu braço ainda passado pela cintura dela.
Hermione se locomovia com dificuldade, tremia por sentir o toque de Harry,
seus braços e pernas pareciam estar petrificados. Ela olhava diretamente para a
porta, se Harry não tivesse quebrado o contato quando abria a porta, ela
provavelmente continuaria em choque e não conseguiria ouvir o que Rony diria a
seguir:
- Desculpe por eles. Muita preocupação com minha maninha, ela está grávida! -
Falou Rony alegremente indo para casa e fechando a porta na cara do casal.
Assim que Rony fechou trancou a porta, Harry e Hermione o jogaram
contra a parede, gritando.
- De onde você tirou a idéia de que somos casados? - Gritou Harry.
- Mas não era isso que vocês iam fazer? - Perguntou cortando Harry.
- E que eu estou grávida? Rony, não sabemos quanto tempo vamos ficar aqui, os
vizinhos vão notar!
- Inventamos outra mentira... - Ele falou despreocupado.
- Você inventou tudo sozinho e você sai disso. E trocar nossos nomes? Você
enlouqueceu!
Rony deu as costas e deixou os dois sozinhos na sala, ele somente tentara
ajudar, e os dois ingratos o tratavam daquela forma. Anos atrás, achariam que
fora um grande gesto do amigo pensar neles dois, mas agora... Ele parou ao pé da
escada, segurando o corrimão e olhou Harry e Hermione:
- Eu vou dar uma olhada lá em cima, por favor, não gritem. Esse tipo de gente
fica atento a tudo.
Hermione sabia que Rony não tinha a mínima intenção de fazer qualquer coisa
naquele momento, mas ainda insistia em deixá-los sozinhos como se fossem cair um
nos braços do outro, esquecendo todas as rixas. Era engraçado como muitas coisas
pareciam tão fácies para ele, enquanto pra ela não eram mais que uma ilusão a
qual ela queria poder acreditar tão piamente e pudesse vivê-la.
Ela olhou para os lados observando mais atentamente a casa e começou a
estalar os dedos das suas mãos, um atrás do outro freneticamente, era uma mania
que tinha desde os tempos de escola. Harry continuava de costas para ela o que
foi bom, porque ele não a viu dando alguns passos para trás, tropeçando no
tapete e quase quebrando um vaso de flores.
Aproveitando a mudança de cômodo, Hermione começou a estudar a casa também.
Agora estava em um corredor estreito e pequeno com só duas portas, a primeira
pelo o que deu pra notar parecia ser um armário de vassouras, assim como aquele
que Harry tinha lhe descrito quando falava qual era o quarto na casa dos seus
tios Dursleys e a última era a entrada para uma cozinha com paredes brancas, os
móveis também eram da mesma cor, um conjunto completo.
Instintivamente ela abriu a porta da geladeira, não tinha muita comida,
talvez algum membro da Ordem fizera compras, mas com certeza tinha sido um
homem, pensou olhando a quantidade de alimentos altamente gordurosos e uma
caixa, ainda fechada de cerveja amanteigada.
- Tem alguma coisa para comer? - Ela ouviu uma voz distante perguntá-la, com
um grito demonstrou sua surpresa. Hermione tirou rapidamente a cabeça da
geladeira duplex e isso lhe custou caro, pois bateu com a cabeça.
- Não. - Ela disse em um gemido fechando a porta com bastante força. Com
raiva, sentou-se no balcão que tinha na cozinha perto da janela, a mão na cabeça
procurando algum vestígio de sangue ou algo parecido.
- Está tudo bem? - Perguntou Harry se aproximando dela, e sentando-se na sua
frente. Hermione ainda tinha a mão protegendo o lugar onde machucara e por isso
ele precisou afastar sua mão para ver o que tinha acontecido.
Mais uma vez seus olhos se encontraram e os deixaram constrangidos,
afastando-se sempre um do outro.
- Não tem nada, além de um possível galo. - Ele disse arrumando-se no banco
desconfortável. Com um aceno com a varinha, Harry configurou pedras de gelo
envolvidas em um pano branco e deu para ela. - Vai resolver seu problema.
Hermione balançou a cabeça brevemente em agradecimento, ainda gemendo um
pouco quando o gelo encostou com a parte dolorida.
- Eu vou sair pra ver se acho algum supermercado. E bem, eu preciso das
chaves do carro.
- Na minha bolsa. E, pelo amor de Merlin, cuidado com o meu carro. Ai. –
Falou, os olhos lagrimejando por causa da dor de cabeça que começava a se
formar.
Harry ignorou o último comentário e pegou a bolsa de Hermione, ficou um pouco
sem graça, era como se invadisse a privacidade dela. Bem, ele disse para
si mesmo com a bolsa na mão, ela sabe que você está fazendo isso.
Decidindo-se por não ficar procurando coisas lá dentro, ele colocou a mão na
bolsa. Usando somente o tato tentou achar o chaveiro e assim que o fez pegou-o e
o tirou da bolsa rapidamente, somente não esperava que viesse algo mais junto,
era um envelope. Na frente podia-se ver a letra de Hermione, uma forte
curiosidade se apossou dele, podia simplesmente guardar ou então pegá-lo.
Talvez, fosse algo do trabalho, ele pensou virando o envelope na mão e para sua
surpresa o destinatário era ele e Rony.
- Achou a bolsa? - Ela gritou da cozinha.
- Sim. - Ele disse colocando a carta no bolso e fechando a bolsa. Pensou em
dizer até logo, mas desistiu saindo antes que Hermione alcançasse a sala e
encontra-se somente sua bolsa no sofá e observa-se, pela janela, Harry com as
chaves na mão indo para o carro.
- Tchau pra você também. - Ela sussurrou subindo as escadas, ainda tinha o
segundo andar para explorar.
Harry parou o carro ruas depois do novo ‘lar’. Definitivamente não tinha que
ter pegado a carta da bolsa de Hermione, mas não pudera evitar e de qualquer
forma, já que estava endereçada a ele e a Rony era porque algum dia ela
pretendia enviar. Pensando por outro lado, ela tinha tido várias oportunidades e
mesmo assim mantinha a carta com ela, nem tinha feito menção dela, quem sabe
tinha desistido de entregar, Harry se perguntou, o envelope entre seus dedos.
Eu posso devolver sem abrir. Ele pensou. Mas também, Harry ia jogar a carta
no porta luvas mas parou, se eu simplesmente devolver a carta vou sempre pensar
no que poderia ter nela, principalmente se Hermione não a entregasse. Na verdade
não sabia mais o que valia mais, voltar sem lê-la e ter consciência limpa ou
abrir e acabar com o mistério, mesmo invadindo a privacidade de Hermione.
Esquecendo-se de tudo e de todos, ele desarrumou o cabelo e em seguida
colocou a cabeça apoiada no volante, simplesmente não sabia o que fazer. Tudo
aquilo o estava deixando doido, pareciam que anos tinham se passado, se sentia
velho e cansado, não sabia, há muito tempo, o que era dormir o sono dos justos,
pois suas noites eram repletas de sonhos em que Hermione estava com ele, em seus
braços ou então pesadelos onde sua futura esposa era nada mais que um caso do
qual fora encarregado de cuidar.
O tempo se arrastava, prolongando sua tortura mais e mais, horas que não
passavam, dias inacabáveis, porque todos tinham se juntado contra ele? Que erro
cometera para tantas coisas acontecessem, uma atrás da outra? Sua única certeza
era de que o mundo não era justo, a vida, tão pouco, então por que ele estava
pensando em ser ou não justo com ela? Ela tinha tomado todas as decisões
sozinha, sem consultá-lo, sem pensar no que poderia acontecer com a vida deles,
se isso era justo Harry não sabia o que não era. Recobrou a postura, e pegou o
envelope, abrindo-o. Em seu interior haviam duas cartas, cada um com um
destinatário diferente, ele pegou o que estava destinado a ele e colocou a de
Rony novamente no envelope.
Amado Harry,
faz muito tempo desde que escrevi minha última carta para você, eu sei. Sei
também o quanto adora recebê-las ou pelo menos um dia adorou...
Se está lendo-a é porque alguma coisa aconteceu a mim naquela batalha. Há
tantas coisas que gostaria de esclarecer, de dizer, e talvez não tenha tempo
para tanto, mas tentei reunir aqui em poucas palavras o que esperei tanto para
lhe dizer.
Não fui a pessoa perfeita para você, mas tudo o que eu fiz teve um motivo, eu
realmente não queria que tudo tivesse acabado de maneira tão drástica. Para ser
sincera, foram muitas as vezes que eu imaginei de como nosso relacionamento
poderia acabar, todos as maneiras, todos os motivos, menos a qual se seguiu, e
podia até mesmo sentir a dor que era pensar em te perder, mas hoje eu sei que
ela é mais do que algo que eu possa imaginar, vai além disso, além de qualquer
sentimento que já posso ter experimentado.
É engraçado, de tantos os títulos que ganhei, eu errei em algo tão óbvio,
algo que podia ter evitado e simplesmente não o fiz, que não precisava mais que
uma simples conversa para ser resolvido. Talvez, até soubesse que era essa a
resposta, porém mesmo assim tentei carregar o mundo nas costas, e foi a pior
coisa que já fiz, a coisa pela qual sempre me arrependerei.
Sabe, sempre te admirei por isso, sempre conseguira agüentar tantas coisas
juntas, sem jamais desistir e de alguma forma, de alguma milagrosa forma, tudo
acabava bem, e por ingenuidade minha pensei que isso aconteceria novamente.
Perdi um amigo, um irmão, um amante.
Procurei em todos os livros, em todos os lugares, em cada registro, de como
alguém pode perder uma pessoa como eu perdi você. Será que alguém mais é capaz
de fazer isso ou somente eu, fui tão tola?
Não é uma carta para pedir seu perdão, não o mereço, mas precisava escrevê-la
e saber que pararia em suas mãos.
Jamais me perdoarei por fazê-lo sofrer tanto, você era a última pessoa no
mundo que merecia algo assim depois de tudo que passou e mesmo assim eu o fiz,
fui egoísta e cruel, eu sei, mas tenha certeza que essa não era minha intenção,
nunca quis machucar a pessoa que mais amei, a única pessoa que me fez sentir tão
bem e tão amada sem precisar me fazer de forte, sendo somente eu.
Foram, sem dúvida alguma, os melhores e inesquecíveis anos da minha vida. Sem
você eles não existiriam, não haveria a nossa história, a história de Harry e
Hermione e eu serei grata por isso, eternamente.
Lembro-me de cada palavra, de cada beijo, do seu toque, do seu cheiro e
sempre vou lembrar pois são impossíveis de esquecer e é nessas horas, quando me
lembro de você, que meu desejo de voltar no tempo aumenta para fazer que tudo
tome um outro rumo, talvez não terminássemos juntos, mas qualquer coisa, até
mesmo minha morte seria melhor a fazer você sofrer...
Eu sinto muito, Harry. Desculpe-me se não sobrevivi para lhe dizer isso,
olhando nos seus olhos para que você visse o quão arrependida eu estou. Talvez
tenha sido melhor assim, pôs um fim no meu sofrimento e eu espero que isso
também aconteça a você e que possa seguir sua vida, seu caminho, como há muito
tempo tinha que fazer.
Acho que não posso me despedir sem dizer que agradeço por cada instante que
passamos juntos, de todo amor que dedicou a mim, por ser assim desse jeitinho
mesmo, sem mudar nada, pois foi por esse Harry que eu me apaixonei, pelo qual
estou apaixonada até hoje, e se isso ainda faz alguma diferença para você, eu te
amo, Harry James Potter, sempre o amarei.
Sempre sua,
Hermione J. Granger
- Até que ser trouxa não me parece ser tão ruim... um bom lugar para se
viver, muito tranqüilo isso daqui... - Comentou Rony abrindo a porta da sala de
estar que dava para uma varanda grande o suficiente para duas cadeiras de
madeira de balanço e uma mesinha entre elas. Ele carregava junto de si uma caixa
retangular preta.
Harry o seguiu, sem dizer uma só palavra, estava assim desde que chegara,
deixara as compras na cozinha e fora pro quarto. Ele sentou-se em uma das
cadeiras e passou a observar a rua quase deserta, a não ser por um grupo de
crianças que estava um pouco distante dali, sentadas em um circulo,
brincando com algum jogo trouxa que ele não era capaz de reconhecer. Seus olhos
recaindo sobre uma garotinha de 10 anos, aproximadamente, de cabelos ondulados e
expressão serena, ela lhe parecia muito familiar, talvez fosse porque gastara
muito tempo imaginando de como seria um filho dele e de Hermione, e agora, vendo
uma menina tão parecia com ela, com seu olhar determinado e as sardas no rosto
lhe despertara essa lembrança. De qualquer modo, ele pensou enquanto a garota
corria atrás de uma bola, se Hermione não tivesse tido aquele aborto espontâneo
seu filho estaria agora com 3 anos, e aquela menina era alguns anos mais velha.
- Você quer um? - Perguntou Rony interrompendo seu devaneio e abrindo a
caixa, oferecendo a Harry alguns charutos.
- Não sabia que fumava... - Disse Harry pegando um e olhando-o.
- Bem, tecnicamente eu não fumo. Mas em situações como essa, quando estou
sendo ‘pressionado’, prefiro me distrair um pouco, ou vai dizer que não há nada
que faça com que você se liberte dos problemas?
Harry não respondeu, só continuou olhando o charuto entre seus dedos.
- Sabe... sempre desejei um lugar como esse, onde eu posso ter uma vida
tranqüila, assim como eu espero que minha morte seja. Não sei se já pensou a
possibilidade de estar um belo dia sentado, daqui a uns 40 anos - Harry riu, ele
tinha sérias dúvidas se viveria tanto, mas se acontecesse, para ele seria quase
como uma milagre muito bem vindo - sentado em uma varanda como essa aqui, o
vento batendo no meu rosto, me causando uma leve sonolência e então, partir para
encontrar meu pai. Mas antes disso, - disse Rony colocando o charuto perto do
nariz e sentindo seu aroma. Ele fechou os olhos enquanto o cheiro invadia suas
narinas. – espero que, um dia, depois de um grande acontecimento, levar meu
filho para um lugar tranqüilo onde possa ouvir os pássaros cantando, sentir o
cheiro do vento, saboreando uma brisa quente de verão e então voltarei a fazer
esse mesmo movimento, buscando por sentimentos perdidos, por lembranças, na
verdade, eu não sei. Quando meu pai me chamou para uma conversa dessas...
- Sabia que tinha algo assim no meio. - Comentou Harry, fazendo em seguido um
movimento para Rony prosseguir.
- Eu fiquei observando-o fazer isso, mesmo sem entender o que era realmente,
algo me atraiu naquela cena, acho que foi porque aquela foi a ultima vez que o
vi vivo. - Rony respirou fundo. - Sempre que me lembro dele, a imagem de nós
dois no topo da colina me vem a cabeça, ele e seu sorriso calmo, nossas risadas.
E...
-E você fica feliz por isso. - Acrescentou Harry em um murmuro.
- Exatamente. A última lembrança dele foi algo realmente feliz, eu sempre vou
me lembrar do meu pai como alguém alegre e não daquele homem em uma cama do St.
Mungus. Eu quero ter lembranças felizes como aquela, e essa, com certeza, vai
ser uma dessas memórias que vão entrar para minha coleção. Estamos
juntos...novamente.
- Rony, como você pode pensar em uma “lembrança feliz” na situação em que
estamos?
- Ora Harry, isso daqui é história, haverá livros sobre isso, e mesmo se eu
morrer, alguém vai saber que eu fiz isso, mas um motivo para que seja algo ...
“tocante” ...- Ele disse abafando um riso, e então voltando a postura séria - E
além disso, é a primeira vez, em anos que nos encontramos em um mesmo lugar, e
mesmo que o sentimento de matar um ao outro ainda seja grande, - ele acrescentou
lembrando-se da briga que ocorrera mais cedo - algo me faz acreditar que ainda
podemos ter momentos bons juntos, nem que seja somente para relembrar... isso
daqui me faz lembrar do nosso antigo apartamento, das horas de conversas
inacabáveis, dos risos, dos planos diabólicos
contra os Sonserinos...
“E também a tensão que pairava sobre nós quando um tinha que ir para uma
missão, sem saber se era a última vez que nos víamos. A adrenalina era
torturante e ao mesmo tempo maravilhosa, lembra-se? Nunca temi a minha morte,
não posso negar que ainda acho reconfortante a idéia de morrer dormindo, mas
temo pela sua vida, pela a vida da Mione, dos meus parentes... E é exatamente
assim que estou agora, não sei se vou estar vivo daqui a duas horas, um dia, um
ano, uma década, só preciso ter certeza de que soube viver, que aprendi com meus
erros e que eu morri lutando pelo o que eu acredito, pelas pessoas que eu amo.”
“Todos esses sentimentos estão juntos novamente, e eu me sinto completo,
porque de qualquer forma, eu tenho a Hermione e você ao meu lado,
independentemente de quanto tempo vai durar, sei que por alguns momentos, depois
desses anos, eu realmente estou vivo, e vou aproveitar cada secundo, desde agora
até o fim disso.”
Harry continuava a ouvir as palavras de Rony atentamente, observando as
nuvens e seus formatos, pensando.
- Acho que vou começar a preparar o jantar. - Disse Rony levantando-se e
pegando a caixa preta, Harry balançando a cabeça. - Mas posso te fazer uma
pergunta? - Ele disse tentando esconder o interesse de saber a resposta - por
que você se empenhou em sofrer sozinho, porque isso não te ajudou em nada, devo
dizer, além do mais, você ainda não perdoou Hermione mesmo sabendo que faria o
mesmo...Porque, Harry?
- Talvez, eu a tenha perdoado há muito tempo, mas há outras coisas além
disso... Um dia, quando isso acabar, eu os contarei...
Hermione franziu a testa, parada atrás da porta se escondendo de Rony e Harry
enquanto ouvia cada palavra que eles diziam, seu coração enchendo-se de
esperança. Ela mordeu os lábios fortemente, tentando controlar-se.
- Só não espere para fazer isso tarde demais... - ela ouviu Rony dizer, seus
passos aproximando-se dela.
Hermione secou as poucas lágrimas e arrumou a roupa e o cabelo, tentando
recompor-se e saindo de perto da varanda, como se nada tivesse ouvido, mesmo com
seu coração aos saltos, em seus olhos um fino fio de esperança formando-se...
Passava um pouco mais das 22 horas, Hermione estava sentada no balcão da
cozinha e Rony estava a sua frente no fogão, ele parecia gostar de cozinhar,
essa foi a primeira impressão que ele tinha passado quando se ofereceu para
fazer o jantar, até que começou a ficar impaciente, repetindo que não estava
ficando como o de sua mãe costumava ser. Hermione até tentou oferecer ajuda e
sugeriu que mudasse de prato, um rápido macarrão estaria ótimo, simples e rápido
e, além de tudo, fácil, mas Rony continuava a se negar, ele estava há quase 3
horas com a barriga no fogo e não ia desistir agora.
Hermione estava faminta assim como os outros moradores da casa, mas pensou em
sair e comprar uma pizza, já que tinha medo que saísse uma ‘gororoba’, mas
pensando por outro lado, nenhuma comida que fosse ruim poderia ter um cheiro tão
bom, podia? Ela molhou os lábios com o restinho de suco que tinha no copo a sua
frente, ainda estava com a mesma roupa, mas depois de um tempo andando pela casa
e fazendo aquele “barulho irritante”, como Rony tinha dito, e por seus pés
começarem a latejar ela tinha tirado os sapatos, ficando somente de meia, saia e
a blusa branca, o cardigan tinha sido esquecido no sofá de couro na sala.
Olhando por cima dos papeis que a cercavam, viu Rony sorrir, mais tranqüilo.
- Bem, - disse ele tirando a tampa da panela e olhando dentro dela. Hermione
só teve tempo de vê-lo tirar o rosto rapidamente antes que uma bolha de água ou
seja lá o que fosse aquilo, o atingisse no rosto - está tudo pronto, o caldo
está no ponto. Minha especialidade... - ele disse, desfazendo o sorriso quando
viu Hermione erguer a sobrancelha. - Não precisa me olhar com essa cara!
Hermione riu e voltou a olhar pros papeis, tudo era cansativo e interminável.
Seu estomago doía de tanta fome, mas não se atrevia a falar isso para Rony, do
jeito que ele estava sairia faísca. Deixando de morder a ponta da caneta, ela
tirou o pequeno cacho que caia sobre seus olhos e marcou com caneta vermelha uma
linha no relatório, fazendo uma pequena anotação do lado.
- Pode me fazer um favor? - Pediu Rony cautelosamente.
- Depende.
- É tão simples. É só ver se o Harry já saiu do banho e chamá-lo... - Disse
Rony concentrado no nó do avental branco.
- Se é tão simples, porque você não vai? - Perguntou a mulher,
voltando a morder a caneta, agora um pouco mais forte.
- Eu tenho que ficar de olho no...
- Eu faço isso. Posso lhe garantir que ele vai ficar mais feliz em te ver do
que em me ver. - Acrescentou rapidamente.
- Mas é claro que não! - Gritou Rony. Ele olhou-a envergonhado e continuou
com um outro modo - é especialidade Weasley e não Granger. Se minha família sabe
que você chegou perto desse prato... - Rony passou o dedo indicador pela própria
garganta e fez uma careta. - E você sabe que eu não estou brincando! Você
conhece minha mãe! - Acrescentou rapidamente, tentando ser convincente.
- Ok, Rony, mas se ele tiver um ataque vou deixar bem claro que você me
obrigou a ir e quem vai te matar, sou eu. - Ela falou juntando os papéis na mesa
e colocando-os em uma pasta. Logo se virou e foi em direção a porta, deixando
Rony com um sorriso vitorioso no rosto.
Arrastando os pés muito lentamente começou a subir as escadas para o segundo
andar, os degraus eram maiores do que tinha notado, pensou, seus pés tocando no
quarto degrau.
O que diria quando chegasse lá? Ele provavelmente ia mandá-la cair fora e ela
ficaria muito sem graça, sem falar no pequeno detalhe, ficaria raivosa. Também
não precisava deixá-lo pisar nela, era entrar e sair, só isso. Rony tinha razão,
não era tão difícil. Disse para si mesma, chegando ao corredor.
A casa continuava praticamente vazia, os corredores brancos não tinham nem ao
menos um quadro sequer nas paredes, muito diferente da casa em que tinha vivido
com seus pais onde todas as paredes eram lotadas com fotos dela e de seus pais,
mais aquelas que eram dela junto a Harry e Rony.
Quando se viu parada a porta de Harry tomou um susto, estava tão preocupada
em demorar em chegar lá para poder pensar em algo que não parecesse um pretexto
para vê-lo e tinha deixado-se levar por quadros e paredes vazias. Vamos,
Hermione. Disse para si. É estender a mão, bater na porta para
avisá-lo de que você está aqui fora, e ver se ele está dormindo ou esqueceu do
jantar, alias, a comida está na mesa, e acabou! Não pode demorar mais que
simples 30 segundos e o que são 30 segundos comparados a uma eternidade?
Perguntou-se, parecia uma jovem de 15 anos encontrando-se às escuras com o
namorado.
Ainda relutante bateu na porta. Por que tinha ido para a Grifinória se em
horas como aquela coragem era o que menos tinha? Nada. Nenhuma resposta, nada.
Harry deveria ter pegado no sono ou estava tomando banho. Abriu a boca tentando
chamá-lo mas não tinha qualquer vestígio de voz. Mais uma vez bateu na porta.
Nada.
- Ele dormiu. - disse rapidamente, feliz por não precisar ouvir os desaforos
dele. Hermione virou-se e começou a andar pelo longo corredor. Não tinha nem ao
menos dado o terceiro passo quando ouviu a voz de Harry distante dizendo para
entrar.
Hermione parou no meio do corredor, talvez, estivesse ouvindo coisas. Ok, não
estava ouvindo coisas, fora ele que a chamara, então ela tinha agora que entrar,
tecnicamente era isso, não?
- Estou falando sozinha, no meio do corredor, isso não está acontecendo! -
Sussurrou, não queria que mais ninguém ouvisse aquilo.
Quase que involuntariamente, virou-se e traçou o mesmo caminho que da
primeira vez, indo para o quarto dele. Por um momento pensou que seus passos
estavam fortes demais, fazendo um barulho que ecoava em todo o corredor, porém
somente depois notou que eram as batidas do seu coração, aceleradas.
Colocou a mão sobre a maçaneta e empurrou a porta com cuidado para não fazer
muito barulho. Hermione não havia entrado no ‘novo’ quarto de Harry, tudo ainda
estava arrumado a não ser pela cama que estava com o lençol amarrotado, e a
cadeira da escrivaninha fora do lugar. Passou os olhos rapidamente pelo quarto e
então voltou, pousando os olhos na cama, seus olhos se arregalando. Sobre a cama
estava a roupa que Harry usara mais cedo aquele dia, e mais em baixo, seguindo a
mesma direção porém no chão estavam o par de sapatos fechados pretos dele.
Hermione sentiu a boca ficar seca. Estar ali já a causava isso, mas pensar em
encontrar Harry ali, nu, piorava tudo e como já esperava, suas mãos ficaram
geladas, e passou a suar frio. Despertando-a da visão de um Harry nu a sua
frente, foi chamada a atenção quando ouviu o barulho de alguém saindo da porta
ao lado – esta, obviamente, dava para o banheiro- e o viu ali, olhando-a com
cara de confuso. Seu primeiro pensamento ao ver a roupa sobre a cama era que
quando o visse fecharia rapidamente os olhos, não que nunca o tivesse visto nu,
mas eram em situações diferentes. Porém, para sua surpresa, a primeira ação foi
olhá-lo por inteiro, mordendo o lábio inferior com força, prendendo a
respiração.
Sem importar-se de que Harry a observava, Hermione continuou olhando. Harry
tinha uma toalha branca enrolada a cintura enquanto a outra estava sobre o
ombro, o cabelo preto molhado, e ele encontrava-se sem óculos fazendo com que os
olhos verdes não fosse ofuscados.
Era o que se podia chamar de “o cara perfeito”. Ombros largos, braços fortes,
um abdome perfeito. Harry tinha o corpo todo malhado, isso era outra vantagem
para os homens que trabalhavam como Auror, exigia muito trabalho físico e que
com o tempo dava ótimos resultados, Hermione perguntou-se então se ele andava
malhando pois não lembrava do corpo dele ser tão definido como agora, não que
houvesse algum problema para ela. Harry era perfeito demais para ela, era
impossível que algo pudesse mudar sua opinião.
Era incrivelmente doloroso para ela, lembrar-se de que já estivera aninhada
entre aqueles braços, sua cabeça sobre o peito dele, ouvindo os batimentos
cardíacos e a respiração regulada dele, ter suas mãos entrelaçadas com as dele,
passando dias, tardes e noites inteiras somente assim. Saber que estavam juntos
era um consolo.
Levantando o olhar, viu uma gota de água vinda do cabelo molhado percorrer o
rosto bronzeado de Harry, e Hermione continuou acompanhando-a com o olhar,
passando pela testa, bochecha, desviando-se um pouco de seu caminho e terminando
na boca.
Hermione mordeu os lábios com mais força, esperando que pudesse se
transformar naquela gotícula cristalina de água e ter a mesma sorte e poder
sentir novamente, mesmo que por míseros segundos, o gosto dos lábios dele.
Com um brusco solavanco foi trazida para Terra, seus olhos parando nos de
Harry, agora totalmente ciente de que ele a observava.
- Ahm...er... - Hermione pigarreou - eu pensei que você
estava...er...dormindo. É pra avisar que... - Hermione estava confusa, tentava
de todas as formas não cair na tentação e voltar a olhar o corpo de Harry, mas
sua tentativa era em vão, pois cada vez que seus olhos encontravam com os dele
esquecia-se do que falava, o porquê de estar ali. - O Rony pediu pra avisar que
o jantar está pronto. Eu vou deixar você er... - Ela fez um rápido gesto com o
dedo indicador indicando Harry seminu e balançou a cabeça, afirmando que ia
fazer aquilo, mais para ela do que pra ele enquanto dava alguns passos para trás
ainda olhando-o como quem não queria nada.
Hermione virou-se rapidamente, pensando estar perto o suficiente da porta, as
maçãs do rosto pegando fogo, mas isso era o de menos, só queria sair dali antes
que o pior acontecesse, mas com sua pressa acabou esbarrando na escrivaninha,
esta a acertando em cheio na barriga. Com uma cara de dor afastou-se mais um
pouco, agora dando passos totalmente contrários do que os de antes, na direção
de Harry.
- Você está bem? - Perguntou Harry, segurando-a antes que Hermione se
machucasse ou caísse no meio do quarto e virando-a para ele, suas mãos segurando
os pulsos dela, os corpos separados por alguns centímetros.
Ela, que ficara um pouco pálida, recobrou toda a sua cor quando sentiu o
toque de Harry.
- Eu to ... razoavelmente bem... eu acho - disse, seu corpo comprimido com o
dele.
- Por que não fica aqui? Só por hoje... Juro que vai valer a pena...- ele
disse ao pé do ouvido dela, sua voz quente e sedutor.
O que ele está fazendo? Ela perguntou em pensamento. O que eu estou
fazendo aqui?
- Não é certo... - Hermione falou, tentando convencer mais a ela do que a
ele, sua voz quase sumindo, tentou sair do alcance dele, mas notou então, que
nenhum de seus sentidos queria atender seu comando.
- Está com medo? - Harry perguntou afastando um cacho que caia sobre o ombro
dela deixando livre o caminho até seu pescoço, Hermione podia sentir os
primeiros vestígios de uma barba a se formar roçando em seu pescoço, enquanto
Harry a cheirava e depositava beijos ali.
As mãos de Harry deslizaram até a cintura dela, fazendo-a arrepiar-se por
completo.
- Não... não estou com medo... - ela disse com sérias duvidas se ele
conseguia ouvi-la, sua voz parecia tão distante dali. De todo o modo, sua frase
também não era muito confiável, já que no fundo de sua cabeça, ouvia alguém
alertá-la para sair dali para não se arrepender depois, para não haverem
corações partidos, mas não conseguia, seu corpo não respondia as suas vontades,
estava totalmente maravilhada em poder sentir novamente o toque tão doce de
Harry, os beijos quentes e tentadores...
Chegara a pensar que estava totalmente recuperada, mas não, seu corpo ainda
era dependente de tudo aquilo, de todo aquele sentimento, do prazer que somente
Harry podia proporcionar-lhe e agora que encontrara finalmente o que, por tanto
tempo esperava não seguia comandos, só deixava-se dominar. Aquela boa e velha
explosão de sentimentos que acontecia quando estavam juntos, era a sua perdição.
A todo o instante arrepiava-se ao senti-lo, sua respiração era quase
impossível de sentir por estar tão fraca, mas Hermione não se importava, sabia
que seria recompensada como devia; suas narinas eram invadidas pelo cheiro de
água misturada com sabonete de Harry que a deixavam tonta, incapacitada de
pensar em outra coisa que não fosse ficar ali com ele, seu coração... ah, este
estava totalmente descontrolado, em alguns momentos ela tinha certeza de que ele
ia parar, não agüentando mais aquela tortura, e então, acelerava, ajudando mais
ainda para que se perdesse em tudo aquilo.
‘Peça para ele parar agora antes que seja tarde demais’ ela ouviu uma
voz alertá-la, mas agora nada mais importava, só precisava continuar ali, e o
resto não importava... Ela fechou os olhos sentindo as mãos de Harry começarem a
subir por seu corpo, parando no fechecler da blusa e o abrindo, e então voltaram
para o ponto de partida, os dedos dele brincavam fazendo círculos sobre os
ombros dela até alcançarem as alças da blusa, e afastando-as do ombro, enquanto
ele recomeçou a beijá-la. Hermione encolheu-se um pouco, seus pelos da nuca e
braço arrepiando-se, ela estava ciente que estava praticamente sem blusa.
Harry traçou um caminho beijando-a até chegar a orelha dela e mordendo o
lóbulo, Hermione mordeu o lábio inferior com mais força, ansiosa pelo momento em
que ele realmente a beijaria.
- Eu preciso de você. - ela o ouviu dizer, a voz dele parecia estar dentro de
sua cabeça devido à proximidade, ela continuou com os olhos ainda fechados,
certa de que era somente mais um sonho, um ótimo sonho. Hermione sentiu como se
estivesse flutuando acima das mais altas nuvens, perto das estrelas, a um passo
da lua. Cada letra, cada palavra, viajando de seu ouvido ao seu coração em uma
corrente elétrica fazendo seus sentidos despertarem, seu coração batendo mais
forte que nunca, como se aprendesse a viver novamente, mesmo que somente por uma
fração de segundo, uma lágrima de muitas que ainda viriam surgindo em seus
olhos. Sua boca cada vez mais seca esperava ansiosa por um beijo, seu corpo
implorando por mais sensações que lhe pareciam tão boas e novas.
Sentia-se como se recuperasse seu amor perdido, tudo lhe estava sendo
devolvido, cada sentimento, cada sensação, ou melhor, tudo estava ali, guardado
em seu peito tentando ser esquecido, mas agora não precisava mais disso, só
precisava se entregar, reencontrar a paz e o amor...
Hermione passou os braços pelo pescoço de Harry, suas mãos se entrelaçando
atrás dele. Com mais um rápido beijo na orelha, Harry se afastou, sem quebrar o
abraço, mas ficando frente a frente com ela, primeiramente se assustou a ver as
lágrimas que brotavam nos olhos cor de mel, porém não precisava perguntar-lhe o
que era, pois o melhor do amor entre eles era que podiam se comunicar, entender,
decifrar o outro somente com um olhar.
Um sorriso começou a se formar nos lábios de Hermione, ela voltou a fechar os
olhos esperando por um beijo dele, não era preciso ver, somente sentir, e assim
o fez, a respiração quente e até fraca de Harry em seu rosto seguido pelo toque
dele, com todo o carinho do mundo, Harry acariciou o rosto dela, explorando-o
até encontrar os lábios rosados em um beijo carinhoso e calmo que aos poucos foi
aumentando o ritmo chegando ao ponto de machucar, mas nenhum dos dois parecia se
importar, suas cabeças moviam-se na mais perfeita harmonia, seus lábios
encaixando-se, perfeitos um para o outro, e o abraço... Este se tornara mais
forte, quebrando qualquer barreira que pudesse haver entre eles.
Ambos necessitavam daquilo mais do que qualquer outra coisa, não tinham outro
pensamento a não ser o de prolongar aquele beijo o máximo possível, não sabiam
mais o que era dor, o que era brigar, o mundo de nada importava, precisavam
somente apreciar o momento. O sentimento, a necessidade, eram os mesmos, era
como o primeiro e último beijo, era também o passaporte para o prazer e amor...
N/A: Mais uma vez desculpa pela demora, e espero que vocês gostem desse
capitulo que está pronto a um tempinho, mas eu ainda tinha que arrumar algumas
coisas. Por favor, comentem, preciso saber o que acharam, sem comentários nem há
porque de continuar a escrever essa fic...
Agradecimentos e desculpas à:
Angela Miguel, Dani, Gabilha, Becky-smyt, Ligia, Lu Spindola, Messalina, Dark
Angel, Madam Spooky, Franci Flom, oficial-ricardo, Mione G. Potter RJ, Fernanda
Mac-Ginity, Tonks, Amanda Neves, DDH, Chaterinne Potter, Ana Maria, Ana, Mari e
Isa.
Comentários (1)
Eu te digo o que eu achei desse capítulo: ESTÁ O MÁXIMO!! Estou completamente a flor da pele! Tremendo! Rindo! Chorando! Comemorando...!! SUA FIC TÁ INCRÍVEL!! SIMPLESMENTE PERFEITA!! (ai, meu coração... acho que tô tendo um ataque cardíaco...^^") Continua, pelo amor de Merlim!! Faz esse amor dar certo!! Faz eles voltarem de vez... *-*
2011-11-26