Reencontro

Capítulo I: Reencontro



Aqui estou eu novamente, perdida em lembranças, questionando-me o porque de tudo
ter tomado esse rumo, mas acho que não vale a pena, se ao menos eu pudesse...
-Hermione apurou os ouvidos, havia alguém subindo as escadas, fechou o diário e
pegou o primeiro livro que viu, fingindo estar concentrada na leitura.



- Srta., tudo está como pediu. E já tirei o carro da garagem caso queira ir para
o trabalho como trouxa. Ah, mais uma coisa, as mudanças vão chegar mais tarde. -
disse um homem de mais ou menos 50 anos.

- Muito obrigada, eu vou aparatar mesmo, estou quase em cima da hora, mas mesmo
assim obrigada, Júlio. - disse Hermione.



Júlio era um senhor de cabelos grisalhos e dono de um charme que a idade não foi
capaz de apagar. Muito prestativo trabalhava com Hermione fazia alguns anos, ela
o conhecera em uma de suas viagens, ele era somente um andarilho, sem família,
sem rumo que ficava sempre no mesmo banco na cafeteira da cidade, contando
histórias ou simplesmente observando as pessoas ao seu redor, tudo isso
contribuiu para que Hermione tivesse mais simpatia com ele.



A vida é realmente engraçada, entre tantas pessoas, ela fora conhecer logo
aquele homem enquanto procurava um lugar para sentar-se e beber seu chá em um
pub de Paris. Júlio sabia que aos poucos, de acordo com que a idade ia chegando,
seus dias ficavam mais curtos, mas decidira que não iria esperar a morte chegar,
não iria se internar em um asilo.



Foram se tornando cada vez mais amigos, e Hermione sempre depois do trabalho
passava por lá, para se encontrar com Julio e ouvir um pouco mais sobre ele foi
então que ele falou algo que a chamou atenção… "Enquanto minhas pernas possam
sustentar o peso do meu corpo, e minhas mãos sejam fortes o suficiente para
trabalhar, e minha mente possa trabalhar tão bem ou melhor do que antes, agora
que sei que erros não cometer, vou continuar aqui, esperando por alguém que
queira me dar uma chance de mostrar que posso ser mais do que um velho contador
de histórias. Muitos jovens como você, minha querida, acham que sabem muito, mas
não tem a mínima idéia de que a vida não passa de uma grande criança que não se
cansa de todos os dias nos pregar peças. Um dia ela tira, no outro ela dá. Você
tem que ficar atento, pois ela aguarda o momento para te desafiar, te dar o bote...
E vou te dar um conselho, não corra dela, corra para ela. Tente jogar o seu jogo,
tente aproveitar suas chances porque você só as tem uma vez". Mesmo depois de
tudo, guardava as palavras dele, talvez nem ele se lembrasse mas ela tinha cada
uma daquelas palavras anotadas em sua mente, em seu coração.



Foi ali mesmo, naquele dia, que o chamou para acompanhá-la em suas viagens e
ajudá-la com coisas da casa, deu é claro uma desculpa de que farejava a verdade,
mas não podia negar que as belas palavras, os olhos amigos e que sorriso maroto
- marca registrada de Júlio - a tinham encantado.



Hermione fechou o livro e foi em direção a estante do quarto, não suportava ver
nada fora do lugar, principalmente se aquele fosse o seu quarto.



Passeou os dedos pelos livros, lendo os títulos de cada um. Sussurrando para si
mesma o nome de cada um...A Arte das Trevas na Idade Média...Arte das Trevas:
Esse mal pode ser vencido?...Ascensão e Queda das Artes das Trevas...



-Seu lugar é aqui. - sussurrou Hermione colocando o livro que segurava em ordem
alfabética assim como os outros.



Ela riu. Rony provavelmente diria que os livros já começaram a me afetar se me
ouvisse falando assim, pensou Hermione em tom de divertimento.



-Oh, merda! Eu vou me atrasar.



Era sempre assim para dizer a verdade. Sempre que se lembrava de um de seus
amigos ou qualquer coisa relacionada a Hogwarts ela se perdia em pensamentos,
esquecendo-se do tempo, do resto do mundo. Abriu a porta do armário para checar
se a roupa estava bem e tomou um susto ao olhar para sua própria imagem
refletida.



Ela não levava a sério quando as pessoas falavam que ela estava realmente
diferente, não só em suas ações mas também fisicamente, para Hermione, ela
continuava a mesma coisa, ou pelo menos era assim que ela gostaria que fosse.



Estava acostumada com sua antiga aparência, uma garota de cabelos ondulados
assustadoramente rebeldes e não com uma mulher que ainda preservava um pouco de
sua aparência quando mais nova. Até mesmo olhar-se era um tormento. Era mais uma
prova de que tudo havia mudado, que nada mais era como antes, nem mesmo ela.



Não entendia muito bem, mas era como se ela quisesse acordar um belo dia e que
quando olhasse para o espelho veria aquela garotinha CDF com cabelos lanzudos
esperando para tomar café da manhã com seus pais e seguir para a estação King's
Cross e se encontrar com seus melhores amigos....ingressar por mais um ano em
Hogwarts...



Mas tudo isso fazia parte de um passado distante.



Não havia muitas coisas que a deixasse mais próxima de Hogwarts e de seus
amigos. Ela continuava no mundo bruxo, mas sem eles, e isso não era algo
acolhedor, era torturante. A única certeza de que ela ainda estava de certa
forma ligada com eles eram as fotos que a transportavam por um momento de volta
para aquele mundo, e as lembranças.



A saudade, - ela pensou um dia deitada na cama de seu quarto com a foto do trio
inseparável de Hogwarts, um termo que por tanto tempo ela achou tão bobo, algo
sem propósito, que no fundo ela gostava, como se passasse confiança, ela não
sabia muito bem, - é capaz de matar, não sei quanto tempo eu vou agüentar. -
suspirou voltando a ler o poema que achara entre os pertences de sua mãe.



Hermione de volta a realidade balançou a cabeça em uma tentativa de afastar
aqueles pensamentos.

A roupa não está tão ruim, pensou olhando para a roupa que dava um ar de
executiva. O cabelo estava solto, o volume não era mais problema desde o seu
sexto ano e as ondas estavam mais definidas do que antes.



Hermione pegou a bolsa de couro preta e foi em direção para a porta, iria
despedir-se de Júlio, e logo depois aparatar se não perderia muito tempo
tentando parecer uma pessoa totalmente normal para os vizinhos trouxas.



No entanto, ela parou a mão na maçaneta, ela apressou o passo mesmo calçando um
salto alto, foi até a mesinha de cabeceira ao lado de sua cama, e pegou o
porta-retrato dela e dos dois amigos e abriu a gaveta dessa, e os colocou ali.



Ficar horas e horas quando estava em casa pensando em como eles estavam não era
vida, se fosse para viver assim, era melhor a morte.



---



- Eu peço um pouco de calma eles já deve estar chegando. - pediu Mick seu pé
batendo apressadamente no chão de madeira.



Depois de comandar o quartel dos aurores, Mick tinha sido transferido para um
outro setor, este tinha ficado inativo por alguns anos, já que o Ministro da
Magia não achava que seria necessário já que ''o mundo bruxo estava a salvo de
qualquer perigo eminente''.



O Setor de Treinamento para Aurores Avançados tinha sido criado há quase 24 anos
atrás por membros da Ordem da Fênix apoiados,é claro, pelo sábio Albus
Dumbledore. O grupo era composto pelos melhores aurores já vistos, porém, foi
''esquecido'' depois que foi travada uma batalha interna entre as alianças, isto
é, Ministério e a Ordem. Enquanto um (Ordem da Fênix) continuava em alerta,
querendo ter certeza de que todos os partidários de Voldemort seriam devidamente
extintos, antes de avisar a população de que estava tudo bem, o Ministério
tentava convencer a todos que o perigo já tinha passado e que trabalhavam
incansavelmente para que nada voltasse a atrapalhar sua tranqüilidade, o que
também era uma forma de voltar a ter o poder centralizado e rebaixar a Ordem
fazendo com que fossem a maior autoridade, e que os planos de nenhum ''traidor''
como Dumbledore interferisse. Foi uma bela história para dormir até que
Voldemort voltara a agir, com seus seguidores mais fortes e, é claro, com um
ódio fora de controle, querendo vingar-se. Aos poucos o caos reinstalava-se na
comunidade bruxa e o setor foi re-aberto, seus antigos membros sendo
re-convocados para mais um batalha.



Eram poucos os aurores que tinham experiência e capacidade de entrar, os grupos
eram quase nada comparados aos Comensais que tinham um número muito maior de
aliados, mas se treinados como deviam, eram os melhores, sem sombras de
dúvidas...



- O que eles tem de tão especial? Estão dormindo com você? - zombou Melanny
Dash.



- Não. Acontece que, como você sabe precisamos de pessoas competentes
trabalhando nesse caso, ou seja, pessoas diferentes de você. Melanny, você sabe
que está aqui somente porque sua família é adorada, ao contrário de você.
Lembre-se que é somente uma ajudante de palco, nada mais. - Mick saiu da janela
e foi até uma das cadeiras mais próximas, sentando-se e continuou a falar,
mudando o tom para um mais calmo. - E bem, nossos convidados ainda precisam
passar por testes, eu espero que eles cheguem a tempo.



- Com licença - pediu uma mulher baixa e gorducha, as maças do rosto pegando
fogo.



- Sim?



- Um dos senhores que o senhor aguarda já chegou.



- Mande-o entrar, Vera.



A mulher se retirou e murmurou muito tímida para que o homem entrasse, quando
este entrou, ela demorou mais tempo do que precisava para fechar a porta. Se
poderia ficar mais uns segundos que fossem admirando o belo homem, ela o faria.




- Por favor, senhor ...? - Perguntou Dash, brincando com um de seus cachos
loiros, observando o homem por cima de seus óculos finos.



- Potter.



Uma das sobrancelhas da mulher ergueu-se quase que involuntariamente,
despertando somente quando ouviu o clique da porta atrás de si fechando-se.



- Sente-se, não pretende ficar aí, não é mesmo? - Perguntou Mick, pegando uma
pasta com as referencias do auror. - Bem, - ele disse jogando a pasta de lado -
acho que não é nenhuma novidade o motivo de estar aqui, não é mesmo? Não sei o
porque de todas essas pastas mas, sei que não está acostumado a esse tipo de
trabalho, pelo menos não em conjunto pelo que diz naquela ficha, mas é
necessário e são ordens de seus superiores. - Ele acrescentou.



- Mas pelo visto também não são muito bons na hora, não é mesmo? - Perguntou
Melanny ajeitando-se na cadeira, e arrumando alguns papéis sobre a mesa.



- Creio que não vá encontrar problemas em trabalhar com eles. Já recebeu as
informações necessárias no seu antigo setor, não?



- Já me deram uma base sobre o que vou ter que agüentar aqui. - Harry disse,
displicentemente.



- Ótimo. Nos poupa de todo aquele papo cansativo que conhecemos. Enquanto seus
colegas não chegam - Mick fez um gesto majestoso com a varinha e configurou três
copos com bebida. Deseja um drinque? -Ofereceu, despojado - não vai dizer que
prefere um charuto, por favor.



- Harry? - perguntou Ronald Weasley, descrente, quando desaparatou na sala.



Mick bateu os calcanhares virando-se para o novo 'visitante', a sobrancelha
erguida.



- Oras, porque a surpresa, Sr Weasley? Parece que já se conhecem, então não vejo
motivo para algazarra. Esse é um dos seus parceiros com quem vai trabalhar. Vou
deixar seu convite de um drinque para depois, sr. Potter. Vamos ao que
interessa,Melanny, por favor, dê para eles o relatório sobre o caso.



A loira parecia desconcertada, olhava dos pés a cabeça para cada um dos recém
chegados. Harry e Rony ignoraram o olhar dela, ambos não sabiam que teriam que
trabalhar juntos, não depois de tanto tempo. Poderiam esperar por qualquer outra
pessoa menos que a dupla seria composta por Harry Potter e Ronald Weasley.



A vida é uma grande ironia, pensou Harry concentrando-se no trabalho, não era a
hora certa para pensar em vida pessoal.



- Melanny? - chamou Mick



Esta ainda estarrecida com o acontecimento piscou os olhos algumas vezes e
balançou a cabeça o mais discretamente que pode.



- Sr. Potter... - ela chamou entregando a apostila sobre o caso, Harry desviou o
olhar por um momento de Rony e voltou sua atenção para a apostila, na frente os
dizeres 'ESTRITAMENTE CONFIDENCIAL' estavam em vermelho. Assim como Rony ele
começou a folheá-la.



- Bem, vamos as apresentações. Meu nome é Mick Jordan e esta é a senhorita
Melanny Dash, - disse apontando a mulher com cabelos loiros escuro e grandes
olhos azuis, ela levantou a mão como se estivesse no colégio respondendo à
chamada - nós estamos encarregados de passar a vocês as informações extras do
caso, no momento um dos responsáveis desse caso está viajando a trabalho,
provavelmente não chegue a tempo, mas em breve vocês poderão conhecê-la, também
terão a honra de trabalhar com ela.- Havia uma pitada de rancor na voz do homem.
Ele ainda se negava a acreditar que tinha perdido um cargo melhor para uma
mulher,tinha tido alguns problemas por causa da bebida e isso custara caro,
perdera parte do respeito no departamento. Depois de anos naquele trabalho
'desgastante' como adorava dizer, o álcool o acompanhava por onde quer que
fosse, aos poucos perdendo seu caráter, seu trabalho. Era sua segunda chance,
alguns relutavam por deixarem com algo de tal importância, outros ainda
afirmavam que ele era competente quando não estava movido a base de Vodka ou
Uísque.



- Como vocês parecem se conhecerem... - continuou agora saindo da postura séria.



- Sim. Velhos amigos. - disse Rony. Ele não culpava Harry pelo o que acontecera
a Hermione, e entendia também o porque do amigo ter ficado tão afastado depois
do que aconteceu, ele tinha que admitir, também se afastara de outras pessoas
além de sua família depois do ocorrido.



- Hem-Hem - interrompeu Mick. - Os senhores foram chamados aqui porque são os
melhores em suas áreas e espero que isso seja realmente verdade como consta em
seus currículos. Espero que vocês não tenham problemas em trabalharem juntos, e
vou relembrar que isso aqui é um trabalho, não quero nada relacionados à vida
pessoal dos senhores, se são os melhores como está aqui, vocês sabem que
qualquer tipo de briga não será tolerado.



A porta se abriu com brutalidade. Um homem esguicho vinha trazendo uma prancheta
e anotando com uma rapidez incrível o que a morena que andava a seu lado falava.




- Quero em minha mesa um resumo completo com todos os casos depois que eu fiquei
fora e - Hermione andava o mais rápido possível, deveria estar ali há minutos
atrás. Mesmo tendo sido promovida a pouco tempo, o diretor de seu Departamento a
tinha encarregado de tomar conta da parte técnica e além disso ela também seria
a parte ativa juntos de outros aurores, ela realmente não tinha o que reclamar,
seu emprego era maravilhoso, - a quantia que recebia também era maravilhosa -
sempre com ação e viajava a todo o momento, o que foi muito bom no inicio já que
se encontrava em uma 'fase crítica' de sua vida particular...- Oh, Mick! -
exclamou a morena voltada para o homem de cabelos grisalhos a sua frente - Que
bom que consegui chegar a tempo! - Ela estava excitada para o novo trabalho -
Quem são os nossos... - a mulher agora se referia aos homens que trabalhariam no
caso, ela passou os olhos pela sala até parar nos 'novatos' - O que vocês fazem
aqui? - o sorriso simpático desaparecendo de seus lábios.



- Reunião entre amigos? - arriscou Melanny. Ela se endireitou na cadeira, aquilo
prometia.

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