O Lorde e a Sacerdotisa
“Mestre de Fantoches
Eu controlo suas cordinhas
Retorcendo sua mente e esmagando seus sonhos
Cego por mim, você não vê nada.
Apenas chame meu nome, pois eu irei ouvir seu grito”
(Master Of Puppets - Metallica)
Era uma trilha mal cuidada, onde o mato alto impedia a caminhada. Havia algumas pessoas ali, parecendo cansadas e suadas por estarem andando por muito tempo naquela trilha poeirenta. No meio daquele pequeno grupo, havia um jovem que muito lhe interessava. Ah, aquele jovem ele conhecia muito bem. Mas... para onde eles estavam indo? Ele não conhecia aquele lugar, e nem sabia o motivo que os levara até ali. Apenas sabia que aquele caminho levava para o local onde eles estavam escondidos. Mas que lugar seria aquele?
As imagens eram confusas, monótonas e repetitivas, mas ele não conseguia avançar mais naquelas lembranças. A todo custo, a última memória que conseguira visitar, era a imagem daquela trilha no bosque. Será que até mesmo a mente da jovem Weasley estava bloqueada para ele? E antes que o Lorde Negro desistisse de tentar penetrar mais profundamente na mente de Gina Weasley, uma imagem aguçou o seu interesse. Além das pessoas que ele já vira naquela lembrança, surgiu outra totalmente inusitada. Uma jovem de cabelos negros como uma noite sombria e que carregava um estranho símbolo tatuado em meio as suas sobrancelhas retas.
Aquilo, sim, era uma coisa interessante. Se fosse o que ele estava pensando... Ele só precisava avançar só mais um pouquinho naquela lembrança e conseguiria saber o que queria. Sim. Toda aquela história de “escolhido” o estava aborrecendo profundamente, era hora de acabar logo com aquilo. Era a hora de acabar com Harry Potter.
Agora ele conseguia ver Harry e o grupo de pessoas acompanhando a jovem de cabelos negros em meio a trilha. Viu o grupo que seguia a jovem parar em frente à um lago estranho, e quando faltava muito pouco para que conseguisse ver para onde eles estavam indo, algo fez com que ele perdesse a concentração. Escutou o som distante de conversas no andar de baixo de seu esconderijo e aquilo o irritou profundamente.
Vendo que não conseguiria se concentrar novamente naquela lembrança, pelo menos não naquele momento, Lorde Voldemort saiu de seus aposentos e desceu para o Hall do castelo, disposto a castigar a alma infame que tinha lhe tirado a concentração. Conforme descia as escadas, escutou o som de vozes aumentar gradativamente, e ele rapidamente reconheceu a dona daquela voz.
-...simplesmente bizarro, Rodolphus. - Bellatriz gargalhava, sendo acompanhada por seu marido. - A mulher era realmente estranha, sabe. Tinha um sinal esquisito pintado no meio das sobrancelhas e me olhava como se fosse melhor do que eu...
Aquelas últimas palavras chamaram a atenção do Lorde das Trevas.
“O destino sempre favorece Lorde Voldemort”
Sorriu internamente. Uma tatuagem pintada entre as sobrancelhas não era algo muito comum, principalmente entre os bruxos, que consideravam signos uma coisa realmente séria e que não poderia ser usada levianamente.
Seria apenas mais uma agradável coincidência?
Com passos leves e sorrateiros, ele chegou na pequena sala que ficava em frente ao Hall, sobressaltando o casal Lestrange.
-Bellatriz, siga-me - Voldemort ordenou, indicando o seu escritório que ficava no primeiro andar. Voltou a subir as escadas, com Bellatriz o seguindo.
Caminharam por um longo corredor de pedras cinzas, onde poucos archotes iluminavam os seus passos. Com um estalar de dedos, uma pesada porta no final daquele corredor se abriu, revelando o escritório do Lorde das Trevas.
Bellatriz permaneceu em pé, com sua postura altiva, que nem os anos de reclusão em Azkaban lhe retiraram, apenas aguardando as ordens de seu Mestre. Enquanto Bellatriz aguardava, Voldemort se encaminhou para um armário que ficava num dos cantos do aposento.
-Sabe, Bella, eu não pude deixar de ouvir a conversa que você estava tendo com Rodolphus, lá embaixo. - Voldemort se voltou e com um aceno de sua varinha, uma bacia de pedra veio flutuando atrás de si e pousou suavemente encima de uma mesa. - Fiquei extremamente curioso em saber quem foi a tão especial jovem que você encontrou.
Bellatriz piscou confusa, mas não deixou que isso fosse notado.
-Não achei aquela jovem tão especial assim, Mestre - A comensal retrucou, com uma ponta de deboche na voz. - Eu a vi na casa de Snape, quando fui buscar a poção que Milorde ordenou que trouxéssemos.
-Na casa de Severus... -Voldemort balbuciou, com um sorriso satisfeito no rosto. - Interessante.
Interessante? O que havia de tão interessante no fato de Snape ter arrumado uma concubina? Bellatriz simplesmente se achava incapaz de compreender isso, mas em se tratando de seu Mestre, certamente isso teria uma razão maior. Voldemort nunca fazia nada a toa.
O Lorde Negro se aproximou de Bellatriz e ergueu uma de suas mãos finas e pálidas até o rosto da mulher. Segurou o rosto dela firmemente e a encarou nos olhos. Um sorriso de satisfação brotou no rosto de Bellatriz, como se estivesse recebendo a mais voluptuosa das carícias. Mas o sorriso logo desapareceu ao ver que Voldemort erguia sua varinha.
-Bella, concentre-se no momento em que você viu aquela jovem - O Lorde disse suavemente, quase num sussurro. Ele tocou sua varinha na têmpora de Bellatriz e logo um fio longo e prateado se desgrudou da cabeça da bruxa, que soltou um suspiro, parecendo surpresa.
Voldemort não deu importância a isso e logo depositou aquele fio prateado na bacia de pedra que jazia encima da mesa. Era uma penseira. E logo uma massa branco-prateada que parecia líquida e gasosa ao mesmo tempo começou a se agitar e rodopiar dentro da bacia rasa de pedra da penseira. O Lorde agitou a bacia um pouco e logo uma jovem envolta em névoa surgiu de dentro daquela substância prateada. Era uma jovem de rosto sério e sobrancelhas retas, com um símbolo tatuado entre estas. Uma lua crescente azul que brilhava intensamente.
Aquilo era o suficiente para Voldemort. Era a mesma jovem que ele vira na memória de Gina Weasley. E aquele símbolo que a jovem carregava, se ele estivesse correto do seu significado...
-Bella, me estenda o seu braço esquerdo!
Master of Puppets
Mestre de Fantoches
I'm pulling your strings
Eu controlo suas cordinhas
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Twisting your mind and smashing your dreams
Retorcendo sua mente e esmagando seus sonhos
Snape acordou sobressaltado, sentindo uma ardência incômoda no seu antebraço esquerdo. Desvencilhou-se dos braços de Morrigan que estava adormecida ao seu lado e levantou-se. Toda vez que Lorde Voldemort convocava os seus Comensais, aquela marca em seu braço ardia, mas hoje ela estava mais dolorida do que das outras vezes e isso só podia significar uma coisa: Voldemort queria vê-lo.
Snape estava ansioso e temeroso ao mesmo tempo. O que Lorde Voldemort queria dele? Isso ele realmente não conseguia imaginar, mas mesmo assim, iria se apresentar frente ao Lorde das Trevas. Abriu o guarda-roupa e retirou de lá vestes negras e pesadas. Não eram muito diferentes das que ele costumava usar, mas aquelas tinham um peso diferente. Assim como as vestes esfarrapadas que os Elfos domésticos usavam, aquelas queriam dizer que ele estaria ligado à Voldemort, até o último de seus dias.
Morrigan se mexeu na cama e sentiu um vazio ao seu lado. Acordou subitamente, como se só o calor do corpo de seu companheiro fosse capaz de lhe aquecer. Tão estranho aquilo. Eles estavam juntos a pouquíssimo tempo, mas só o simples fato de se separarem por alguns momentos já era o suficiente para que ficassem saudosos do corpo um do outro. Quando a Sacerdotisa conseguiu distinguir a figura de Snape em meio à penumbra do quarto, viu que ele terminava de vestir suas roupas negras e que segurava algo na mão e que ela não foi capaz de enxergar.
Ela se levantou sorrateiramente e se aproximou do homem.
-Severus, o que aconteceu?
Snape desnudou o seu braço e mostrou a Marca Negra brilhando assustadoramente.
-Ele está me chamando! - Ele respondeu, voltando a usar a máscara fria de sua personalidade. Voltando a ser o homem seco de antes e camuflando todas as suas apreensões.
Morrigan compreendeu na hora o que Snape queria dizer e temeu pela vida de seu amado. Sem conseguir conter o seu desespero, ela abraçou o corpo de Snape, enquanto lágrimas gordas e quentes brotavam teimosamente de seus olhos. O homem olhou para Morrigan com surpresa e segurando-a gentilmente pelos ombros a afastou de si.
-Morrigan, não torne as coisas piores. - Ele sussurrou, secando uma das lágrimas dela com a mão.
Olhou atentamente para ela e desceu a mão de seu rosto em direção ao colo. Sentiu Morrigan suspirar e tremer ante o toque dele. Mas não era nada do que ela estava pensando. Segurou com uma das mãos o pingente do colar que Morrigan sempre usava e que continha uma pedra-da-lua e com a outra mão puxou a sua varinha de dentro do bolso das vestes. Apontou a varinha para o pingente da jovem. Uma luz carmesim irrompeu de sua varinha e envolveu o colar de Morrigan.
Ela piscou confusa. - Severus, o que você está fazendo?
-Apenas tomando uma precaução. - A luz carmesim se intensificou mais um pouco enquanto Snape sussurrava um encantamento e logo em seguida apagou, deixando o quarto na penumbra. - Esse chamado do Lorde Negro foi muito estranho. Se algo acontecer comigo, enquanto você estiver com esse colar, eu conseguirei te encontrar, entendeu?
-Sim, entendi, mas será que isso é realmente necessário? - Agora as lágrimas de Morrigan haviam cessado e ela sufocou o seu pranto para o recanto mais longínquo de seu ser.
-Acredite em mim, no que diz respeito ao Lorde Negro, todo o cuidado é pouco. - Snape falou e seu rosto assumiu ares sombrios. - Volte a dormir, espero estar de volta em breve.
Snape se abaixou e pegou sua máscara que havia caído no chão no momento em que Morrigan o abraçara. Colocou-a no rosto e antes que desaparatasse tomou o rosto de Morrigan entre as mãos e beijou-a avidamente, como se aquela fosse a última vez em que estivessem juntos.
Quando a Sacerdotisa sentiu Snape se afastar dela, viu que com um estalo, ele já havia desaparecido dali. Afundou-se na poltrona que ficava no quarto, observando as sombras que a envolviam. Sentiu medo naquele momento. Gostaria de ter a Visão mais apurada para tentar saber o que aconteceria com Snape, mas o seu dom não era tão extenso quanto o de Eriu.
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Snape aparatou quase que instantaneamente no terreno do esconderijo de Voldemort. Ajeitou novamente a capa de suas vestes de Comensal e se encaminhou para a entrada, onde havia alguns outros Comensais por ali. Todos pararam e olharam para Snape com surpresa, como se ele fosse um espírito agourento ou algo do gênero.
Ele não se importou com o olhar surpreso dos outros e prosseguiu em seu caminho. Viu o casal Lestrange o olhando de maneira curiosa e a expressão da mulher era de puro deleite. Ele retribuiu com um sorriso debochado. Subiu as escadas e entrou num corredor de pedras frias e que levaria ao escritório de Voldemort.
Como ocorrera da última vez em que estivera ali, Voldemort ordenou que ele entrasse antes mesmo que ele batesse na porta.
Snape entrou, fez uma reverência respeitosa e se postou em frente à escrivaninha de Voldemort, onde ele observava a massa branco-prateada dentro de sua penseira se agitar e rodopiar. O Lorde ergueu seus olhos viperinos para o seu Comensal e um brilho escarlate irradiou deles.
Obviamente aquilo deixou Snape curioso, mas ele se manteve impassível.
-Severus, a quanto tempo, não? - Voldemort abriu um sorriso medonho. - Eu fiquei sabendo que você arrumou uma companheira nesse tempo em que ficou afastado de suas atividades junto a mim, não foi?
Snape sentiu a pouca cor de seu rosto pálido fugir rapidamente e suas mãos úmidas de suor.
-Sim, Milorde, mas não é ninguém importante. - Respondeu calmamente, procurando fechar a sua mente mais do que o normal. - É apenas uma distração. - Mentiu descaradamente, com um sentimento ruim dominando-o.
-Certo, certo. -Voldemort entrelaçou os dedos longos e finos em frente ao corpo. - Eu realmente ficaria encantado em conhecer tão singular jovem. Pelo o que Bella me disse, ela me parece ser realmente especial.
Snape ficou perturbado. O que Voldemort queria com Morrigan? Nunca a vira antes. Em que ela poderia lhe interessar? E mesmo Snape sendo um bom oclumente, Voldemort foi capaz de ver a dúvida silenciosa que se apoderara dele. Isso estava escrito em seus olhos.
-Ela sabe de algo que me interessa, Severus. -Voldemort ficou sério e se levantou, parecendo mais alto e, também, mais intimidante. -E pelo o que vejo, você não tem a menor noção do que seja, não é?
-Não sei do que Milorde está falando.
-É, era o que eu imaginava. - Voldemort começou a se aproximar de Snape e parou em frente ao Comensal. - Traga-a para mim. Se for uma boa moça e colaborar comigo, pode ter certeza de que você será muito bem recompensado.
E o Lorde Negro lançou um olhar penetrante para o outro. Aquela era a deixa para Snape ir embora. E fazendo uma última reverência abandonou o aposento.
Quando desceu as escadas em direção ao Hall, viu que Bellatriz permanecia no mesmo lugar, mas desta vez estava sozinha, sem a companhia de seu esposo.
-Não sei porque o Mestre insiste em ser tão generoso com você, Snape! - Bellatriz falou, enquanto Snape se encaminhava para a saída. - Eu no lugar dele já o teria feito sofrer muito com a minha varinha.
Snape lançou um olhar gélido à mulher, que não se intimidou com isso.
-Espero que você aproveite a generosidade de nosso mestre e faça o que tem de ser feito. - Ela abriu um sorriso triunfante e sussurrou provocativa. -Ou a sua concubina irá ficar sozinha...
“Bellatriz usa o seu privilégio junto ao Lorde para me provocar. Cadela maldita!”
Snape deu as costas, com suas vestes negras agitando-se às suas costas e saiu, para logo em seguida aparatar para sua casa em Spinner’s End.
Blinded by me, you can't see a thing
Cego por mim, você não vê nada
Bella viu o homem sumir e subiu para o escritório de Voldemort. Ela tinha o raro privilégio de procurar o Mestre sem que ele solicitasse sua presença. A mulher podia até ser um pouco insana, mas era inteligente e uma das bruxas mais competentes que Voldemort já conhecera.
Quando entrou no aposento viu Nagini aos pés da poltrona de Voldemort, bufando e sibilando continuamente, numa conversa absorta com seu mestre. Às vezes Bellatriz achava que a única coisa viva que realmente importava para Voldemort era aquela cobra estúpida, pois ele a ouvia muito mais do que seus fiéis Comensais.
-Bella, eu realmente queria que você viesse. - o Lorde falou, após terminar o seu “diálogo” com Nagini. - Snape não vai ter coragem de trazer a jovem até aqui, eu vi isso em seus olhos e por mais que ele diga que ela não é importante, sei que existe um algo a mais. O idiota está amando. - Gargalhou ironicamente - Dumbledore ficaria encantado com isso.
Bellatriz ouvia aquilo tudo como se fosse a mais doce melodia.
-Escolha dois ou três Comensais e os envie até a casa de Snape. - As feições dele endureceram. -Tragam a jovem até mim!
Just call my name, `cause I'll hear you scream
Apenas chame meu nome, pois eu irei ouvir seu grito.
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“De novo não”
Foi o pensamento que ficou martelando na cabeça de Snape desde que ele saíra do esconderijo do Lorde. Quando voltou a aparatar em sua casa, ele se sentia atordoado, perdido. Mais do que nunca ele sentia falta dos conselhos de Dumbledore. Estava fatigado de toda aquela história, de toda aquela guerra. Ele mais do que ninguém sabia como tudo aquilo era desgastante, sofrido.
Entrou sorrateiramente no quarto e viu Morrigan semi-adormecida, abraçada ao travesseiro dele. Sentou-se na sua poltrona e ficou observando o sono irrequieto da jovem, que se remexia e balbuciava coisas desconexas.
Mais uma vez o sentimento de culpa o acometeu. A situação voltava a se repetir. Se ele entregasse Morrigan, voltaria a ter um lugar de prestígio e confiança junto à Voldemort e, assim, poderia prosseguir com seus planos. Mas ele não sabia o que Voldemort queria com Morrigan e nem que informações seriam estas que ele poderia obter. Será que Morrigan escondia algum segredo grave dele?
Mesmo assim ele não tinha coragem de levá-la a presença de Voldemort. Seria cometer o mesmo erro de antes, o mesmo erro que ele cometera ao contar sobre a profecia e que desencadeou na perseguição aos Potter e na morte de Lilly.
“Lilly”
Quanto tempo não passou com a culpa da morte dela pesando nas suas costas? Anos, muitos anos... E esse foi um dos motivos que o levara a se voltar para o lado da Luz e se aliasse secretamente à Ordem da Fênix. Culpa. Foi esse estranho sentimento que o tirara do caminho das Trevas uma vez. Culpa pela morte da mulher que amara.
E tudo voltava a acontecer.
Voldemort queria Morrigan e ele se viu na mesma situação de antes. Mas dessa vez era diferente. Não era a mesma paixão platônica que ele sentira por Lilly durante longos anos. Não. Morrigan era diferente, ele era correspondido nesse sentimento, que ele ainda não sabia definir o que era.
Afundou o rosto entre as mãos, sentindo a dúvida o consumir, assim como o fogo lento que borbulhava suas poções. Só foi retirado desse estado de torpor, ao sentir uma mão leve tocar o seu ombro. Ergueu o rosto e viu Morrigan parada à sua frente. Ela se sentou sobre os joelhos dele e o abraçou ternamente. Por um breve e sublime momento Snape se esquecera de seus problemas, embalado pelo aroma suave do cabelo dela e pelo calor que se desprendia de seu corpo.
-Está tudo bem? - Ela sussurrou no ouvido dele.
-Não sei... -Ele parecia confuso, sem ousar olhar nos olhos dela. - Eu espero que fique.
Snape se afastou e olhou atentamente para o rosto da jovem que estava em seu colo. Afastou algumas mechas daquele cabelo negro que estava em seu rosto e tocou levemente o sinal que ela carregava com muito orgulho entre as sobrancelhas.
-O que isso significa?
Morrigan suspirou. Disse a si mesma que só falaria sobre isso, caso Snape indagasse. Não iria falar mais do que o necessário.
-Significa que entreguei minha vida à Deusa, para que ela faça o que bem quiser dela. Mesmo que um dia ela exija minha morte. - Morrigan falava suavemente, como se estivesse explicando isso para uma criança. - Significa que sou uma Sacerdotisa dos Mistérios Antigos.
-Naquele dia em que nos vimos no Pub, logo imaginei que você não era uma mulher comum. -Snape tocou o rosto dela - Mas tenho medo do que isso possa significar.
-Não precisa temer. Eu não temo o que possa acontecer comigo. -Ela falou, como se estivesse vendo diante de seus olhos, todos os temores de Snape.
Mas ambos se sobressaltaram, ao ouvir o som da porta de entrada ser arrombada bruscamente por magia. Snape se levantou rapidamente, retirando sua varinha de dentro das vestes. Morrigan estava petrificada. Ela era uma Sacerdotisa, não uma guerreira, não sabia o que fazer para se defender.
Snape se precipitou para fora do quarto e encontrou dois Comensais que ele não foi capaz de identificar, subindo as escadas.
-Sectumsempra! -Snape bradou com ira, enquanto via um Comensal desabar e rolar escada abaixo, deixando um rastro de sangue para trás.
-Estupefaça!
O outro Comensal foi mais rápido e estuporou Snape, deixando ele caído no chão, no topo da escada.
Morrigan estava de posse de sua varinha e sua adaga de Sacerdotisa. Não conhecia nenhum encantamento que pudesse ajudá-la naquele momento, mas se sentiu inflamada de coragem. Resolveu ir em auxílio de Snape. Quando saiu do quarto, não conseguia enxergar muita coisa por causa das trevas que reinavam na casa e por isso não viu quando um Comensal se aproximou dela e torceu o seu braço para trás, a imobilizando.
-Severus! - Ela gritou, sem saber que Snape estava desacordado a alguns metros.
-Quietus! - O comensal falou, apontando a varinha para a garganta de Morrigan. Ela se debateu, tentando se soltar dos braços fortes do homem de rosto desconhecido. Com uma cotovelada, ela conseguiu se desvencilhar e avançou para o homem, empunhando a sua adaga, que ela cravou no abdômen do homem.
-Vagabunda maldita! - O comensal urrou, sentindo o sangue ensopar suas vestes, antes de tombar para o lado.
-Petrificus Totalus - Uma voz feminina falou, atingindo Morrigan com o feitiço do corpo preso.
O corpo da Sacerdotisa cambaleou um pouco e caiu de costas. Ela se sentia desesperada, sem saber o que iria lhe acontecer. Estava petrificada, sem poder falar e totalmente no escuro. Escutou o som de uma gargalhada feminina, que a cada momento ficava mais alta.
Laughing at my cries
Rindo de meus gritos
-Venha, queridinha, o Lorde das Trevas nos aguarda! -Bellatriz sorriu triunfante, vendo o estado em que Morrigan estava. Segurou o pulso da moça e com um estalo, Bella desaparatou, levando Morrigan consigo.
A Sacerdotisa voltou a ter a sensação desagradável de ter os olhos forçados para dentro de suas órbitas, com tudo girando ao seu redor. Mas dessa vez fora um pouco mais insuportável do que da outra. Quando conseguiu abrir os olhos, estava em um aposento frio e pouco iluminado.
Bellatriz soltou o braço de Morrigan, com uma certa sensação de alívio, por poder se ver livre do contato com aquela mulher. Deixou-a largada no chão, como se fosse uma boneca de trapos e saiu.
Hell is worth all that, natural habitat
O inferno vale aquilo tudo, habitat natural
Alguns minutos se passaram, sem que Morrigan conseguisse se mover. Estava assustada e com medo, mas não temia por si e nem por sua vida. O seu maior pavor estava em saber se Severus estava ferido ou não. Ele sim era um motivo forte para que ela se preocupasse. E os minutos se arrastavam lentamente e pareciam horas intermináveis. Aos poucos, Morrigan foi sentindo os seus músculos e percebeu que o encantamento que a mantivera petrificada estava acabando.
Moveu-se lentamente e tentou buscar sua varinha, mas viu que esta havia caído no chão, no momento em que caíra petrificada. Mas conseguiu trazer sua adaga consigo. Não era algo realmente poderoso para quem estava num covil de comensais, mas ao menos ela já não se sentia tão desamparada.
“Mãe, eu sei que abandonei a minha vida e os meus votos em Avalon, mas ainda assim, não me desamparai neste momento”
Suas preces foram interrompidas quando escutou o som de passos no corredor de fora. Ela tentou reunir o resto de dignidade que ainda lhe sobrava e se recompôs. Viu a porta do aposento se abrir e uma luz fraca e débil iluminou o seu rosto. Uma figura alta e esguia entrou no aposento. As luzes aumentaram apenas um pouco. Junto com o som de passos se aproximando, Morrigan era capaz de ouvir um som semelhante ao sibilo de uma cobra. Não era apenas semelhante. Realmente era o sibilo de uma cobra.
Nagini deslizou suavemente pelo chão de pedra e se aproximou de Morrigan, que se levantou, mantendo a postura firme e segura que uma Sacerdotisa de Avalon deveria ter. A cobra encarou Morrigan, como se a analisasse de cima a baixo, mas Morrigan não se intimidou.
-Milorde, tenho a impressão de que suas suspeitas estão corretas! -Nagini sibilou, voltando sua cabeça em direção à Voldemort, que acabara de entrar. - A jovem me parece bem “peculiar”!
-Calma, minha cara, que vou tirar minhas próprias conclusões! - Voldemort sibilou na língua das cobras, fazendo com que Nagini se afastasse da Sacerdotisa.
Nunca em sua vida, Morrigan experimentara tanto pavor. Voldemort não havia lhe feito nada ainda, mas ela já estava no mais absoluto estado de pânico. Agora ela compreendia porque as pessoas o temiam tanto. A aura dele emanava a mais primitiva maldade que um ser humano era capaz de ter. Era maldade em seu estado bruto, puro, por assim dizer.
Master, master
Mestre, mestre
Voldemort se aproximou de Morrigan, que havia se erguido um pouco cambaleante.
-Ora, ora, vejam só. - o Lorde encarou Morrigan - Uma autêntica Sacerdotisa de Avalon! Quanta honra tê-la em minha humilde morada.
O que você quer de mim? - Morrigan cuspiu as palavras, sentindo asco da figura a sua frente.
-Não fale assim com o mestre, sua insolente! - Bellatriz, que estava num dos cantos escuros do aposento, gritou, com a varinha empunhada na direção de Morrigan. Mas um gesto de Voldemort a conteve.
-O que eu quero de você? - Voldemort repetiu suavemente. - Ora, é apenas um interesse acadêmico. Qual o bruxo que nunca ouviu falar na mítica Ilha de Avalon? Eu apenas desejo conhecer um dos lugares mais impregnados de magia do mundo.
Enquanto encarava Morrigan, Voldemort tentava através do elo visual, penetrar na mente da Sacerdotisa. Mas ela sabia muito bem guardar os seus pensamentos. Jurara que manteria Avalon a salvo, nem que precisasse morrer para cumprir essa promessa. A Ilha Sagrada deveria ser mantida em segurança, longe do olhar maldoso dos homens.
-Nunca! - Morrigan sibilou, sentindo a magia da Deusa inundar o seu corpo.
“Deusa, não me abandones nesse momento. Não por mim, mas por Avalon”
Voldemort ergueu sua varinha.
-Imperius!
Uma sensação de leveza e descontração tomou conta de Morrigan. Os problemas haviam sido esquecidos, sua mente estava sossegada e tranqüila. Ouvia no fundo de sua mente, uma voz lhe dizendo:
-Leve-me à Avalon!
Ela já estava quase cedendo, mas o seu olhar vago caiu sobre o Lorde Negro e ela lembrou-se de onde estava e do que estava acontecendo. Gritou e se contorceu, como se cordas invisíveis estivessem atando o seu corpo.
-Não vou fazer isso. - Ela bradou, cuspindo na cara viperina de Voldemort.
Voldemort respirou fundo, o olhar mais assustador do que nunca. - Bella, faça as honras!
Morrigan escutou o som do salto das botas de Bellatriz ecoar no aposento e ficar mais alto, enquanto ela se aproxima de Morrigan.
-Com todo o prazer, Milorde! - Ela gargalhou, puxando a sua varinha. -Crucio!
Aquela era dor que superava todas as dores. Era como se pequenas facas de fogo fossem cravadas em seu corpo, mutilando os seus membros. Ela se ouviu gritar, como se o seu espírito fosse se desprender de seu corpo a qualquer momento. Caiu sobre os seus joelhos, arfando, enquanto aquela dor lancinante tomava conta de seu ser e lhe turvava a visão. Mas logo a dor cessou, quando Bellatriz suspendeu a maldição.
-E então, você ainda não quer colaborar comigo? - Voldemort se ajoelhou ao lado de moça, sussurrando de mansinho em seu ouvido.
-Jamais... - Ela respondeu com fúria, a respiração entrecortada. - Prefiro a morte.
-Não seja por isso... - Bellatriz ergueu mais uma vez a varinha contra Morrigan. -Avada ke...
-Não, mulher estúpida! - o Lorde vociferou, voltando-se para Bella. - Eu preciso da Sacerdotisa viva, você não entende?
-Me perdoe, Milorde. -Bella se ajoelhou em frente à Voldemort, beijando a barra de suas vestes. - Me castigue se necessário...
“Pela Deusa, essas pessoas são doentes, completamente loucas”
-Quem sabe mais tarde, Bellatriz, agora não! - Voldemort sorriu cruelmente. -E Snape?
-Ficou desacordado na casa dele. - A comensal respondeu, voltando a se erguer. - Os dois inúteis que foram comigo estão feridos e eu não consegui trazer Snape e a vadiazinha aparatando.
Vendo que Morrigan empalidecera ainda mais depois do nome de Snape ter sido mencionado, o Lorde Negro alargou o seu sorriso.
-Sabe, Bella, Snape já não vai me ser tão útil assim. Volte lá e mate-o! - ele falou calmamente, como se estivesse conversando sobre o tempo.
Aquela frase teve o efeito desejado. Morrigan começou a chorar copiosamente, o corpo pequeno e machucado pela tortura se agitando em soluços frenéticos.
-Não farei mal a você e nem a Snape. Apenas colabore comigo... - Voldemort ergueu o seu dedo longo e frio e afastou uma mecha de cabelo que escondia o rosto de Morrigan. - Leve-me até Harry Potter!
Your life burns faster
Sua vida queima rápido
Obey your Master
Obedeça seu mestre
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Sobre o capítulo: Como diria a Belzinha, baixou um “caboclo escrevedô” em mim, já que esse capítulo foi escrito praticamente todo hoje. Ele poderia ter sido feito antes, mas eu realmente não tive muito tempo pra isso.
Ai, vocês não sabem como eu sofri pra fazer a Morrigan e o Snape serem separados e torturados daquele jeito. E fala sério, o Voldie é bem pentelho às vezes, né? Por que ele tinha que acabar com o clima desse casal? rs
Definitivamente, eu não regulo muito bem. Num capítulo, cenas fofas e românticas e no outro, torturas e duelos. Falando em duelos, me perdoem se a invasão dos comensais em Spinner’s End ficou muito ruim, mas eu não sou muito boa para descrever cenas de ação, ok?
Aproveito pra agradecer infinitamente os comentários de vocês. Me fazem sorrir bastante, viu ;D
Os trechos em negrito ao longo do capítulo são da música Master of Puppets do Metallica. Com certeza, essa é a música do Voldemort.
Acho que é isso.
Grande beijo e bom feriado prolongado pra vocês.
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