Fantasmas a solta



Capítulo 11- Fantasmas a solta


O Salão estava ricamente decorado, aos poucos alunos que já haviam freqüentado festas da Alta Sociedade Mágica, o Baile de Hogwarts não estava deixando nada a desejar. Draco Malfoy sorria discreto e galante para seus alunos, envolvido numa aura de confiança e poder.


Não é à toa que não lhe tiram do trono. Você sabe agir como um rei” pensou Liv sentada calmamente em sua mesa. Cada vez mais sentia que os Malfoy deviam ser combatidos, e treinaria duro para que um dia isso acontecesse. Todos aqueles alunos estavam achando o diretor um máximo por fazer aquele Baile, e era assim que ele conquistava as gerações. Tirava com uma mão e dava com a outra.


-Canalha...


-Ora, Liv, hoje é dia de festa! –exclamou Sophie aproximando da prima.


Liv olhou atentamente para Sophie. Sempre achara que a prima fosse bonita, embora esquisita. Hoje tinha certeza. Sophie estava com seus cachos louros soltos e usava um justo vestido vermelho que lhe acentuava as generosas e bem feitas curvas. Não parecia a Sophie Bexter de sempre.


-Estou vendo, Sophie. Você parece estar gostando muito do Baile...


A prima riu e sentou-se com ela.


-Na verdade eu estou mais solta que o normal. Não beba daquele ponche azul-turquesa, ele é gostoso e fraco, por isso você toma muito e acaba ficando tonta.


-Draco Malfoy está permitindo bebida alcoólica aos alunos?!


-Só para alunos do sexto e sétimo ano –riu ela com descaso- Mas é só cerveja amanteigada e aquele ponche estranho –então a loura se aproximou dela e Liv pôde sentir o bafo da bebida. Sophie lhe apontou o dedo e balançou a cabeça negativamente- Estou lhe avisando: não beba do ponche.


Liv sorriu e afastou Sophie com as duas mãos.


-Ok, ok, Sophie. Eu não vou beber. Agora vá dançar!


Sophie riu tonta e levantou-se tropeçando em direção a pista de dança. Na verdade queria dançar também, mas estava desacompanhada e sabia que se ficasse sozinhas as pessoas começariam a olhá-la de forma desagradável, então preferia evitar a pista. Será que Beverly não viria mesmo para o Baile? Na verdade precisava conversar com a amiga, ela estava agindo de modo estranho. Parecia a antiga Beverly.


A banda fez uma pausa e começou a falar. Outro ponto para Draco Malfoy: Os Engravatados, a maior banda de todo os tempos. Apesar do nome, faziam o estereótipo de rebeldes que todos os rapazes queriam ser e que as meninas queriam como namorado. Ela mesma ficara duas horas na fila no verão passado para comprar o disco deles “Na minha lei”. O vocalista fez uma gracinha e todas as garotas riram, suspirando.


Agora, para preencher o coração dos todas as nossas musas aqui, nós vamos tocar o nosso sucesso romântico: O seu antídoto!”.


Adorava aquela música! Daria tudo para dançá-la... Mas era uma adolescente grávida e isso parecia afastar todos os rapazes de si. Se pelo Charles estivesse por perto. “Eu não pediria isso a ele” pensou com orgulho. Ele não gostava dela, não fazia sentido dançar uma música romântica com ele. O jeito era conformar-se com seu destino. Afundou triste na cadeira.


-Quer dançar, senhorita?


Olhou para o lado e um rapaz de cabelos escuros e olhos verdes lhe sorria largamente. Ela continuou de braços cruzados, ignorando a mão que ele lhe estendia. Sabia que a vontade de dançar com ela passaria logo na primeira pergunta:


-O que uma moça tão linda como você faz aqui sozinha?


-Eu estou grávida e a maioria das pessoas se recusa a se relacionar comigo –disse ela monotonamente e sem encará-lo.


Ela esperou que ele recolhesse a mão e fosse embora sem lhe falar nada, mas ele manteve a mão estendida na direção dela e exibiu um sorriso encantador.


-É uma moça corajosa. Geralmente as meninas grávidas na sua idade abortam ou abandonam a escola, indo criar seus filhos bem longe dos outros.


Liv corou, mas deu um sorriso sincero de gratidão. Não esperava essa reação dele.


-Não que eu não tenha pensado nisso...


-Mas permaneceu aqui. São as nossas escolhas que mostram quem somos.


Ela descruzou os braços e sentou-se de frente para ele. Com o corpo inclinado para levantar, mas ainda hesitante.


-Quem é você? De onde surgiu? Não é aluno de Hogwarts, com certeza.


-Sou produtor da banda. E quero dançar um pouco, então seria bom se você me acompanhasse até a pista –sorriu ele.


Ela aceitou o convite e lhe estendeu sua mão, que foi beijada por ele. Os Engravatados começaram a tocar a música e o rapaz a conduziu para a pista de dança. Liv imaginou que ele a seguraria de leve e com calma, para acompanhar a música, mas ele a pressionou firme contra o corpo dele, fazendo o coração dela disparar.


Uma guitarra melosa deu inicio a música lenta e o rapaz a seu lado fazia seu corpo deslizar, como se não estivesse no chão. Moviam-se no ritmo lento da música e ele respirava profundamente ao pé do seu ouvido, de modo sedutor. Quando o vocalista começou a cantar, ele o acompanhou sussurrando baixinho a letra. “Você está doente, querida, doente de amor. E não importa quem você procure, os medibruxos não vão te curar”.


-O que você quer? –perguntou ela sorrindo bobamente. Imaginava que coisas boas assim não aconteceriam mais para ela, não agora que esperava um filho. Ele devia querer alguma coisa.


-Você não devia se subestimar, Liv.


-Eu não lhe disse meu nome.


-Mas eu sei quem você é.


Eu conheço o seu mal, docinho. E só eu posso te ajudar”.


Ela ia se afastar dele para encará-lo nos olhos, mas ele percebeu e a segurou firme, impedindo o movimento. Ela não sabia se deveria se preocupar, mas não conseguia deixar de sorrir. Quando ele voltou a falar, estava com aquela voz grave e masculina sussurrando ao pé do seu ouvido, fazendo-a arrepiar.


-Eu realmente não a tirei para dançar por acaso. Mas você parece ser uma garota fantástica, Liv. Não deixe que as pessoas que levem pra baixo.


Ela respirou fundo e sentiu o aroma cítrico e agradável dele. Ajustou-se melhor ao corpo dele e deixou-se conduzir pela dança. “Pare seus encantamentos, desista dos seus livros, jogue fora suas poções. Hoje à noite o seu remédio sou eu”.


-Fui enviado aqui por Sally. Ou Dally. Ou seja lá como você a conhece. Tenho duas ordens dela e um recado.


-Pode dizer, estou ouvindo –respondeu ela. Era difícil pensar em Sally Dust quando estava abraçada a um rapaz lindo e sedutor, e que dançava maravilhosamente bem.


-Primeiro uma pergunta: por que não abriram o cofre?


-Tem um cofre na Sociedade?


Ele riu maroto.


-Não, não tem. Mas há a chave de um cofre do Gringotes entre um dos livros da sala. Vocês não são muito de ler, hein?


-Bom, quem mais mexe nos livros é Taylor, com a orientação de Harry e Gina... –respondeu ela sorrindo de si mesma. Céus, por que estava tão balançada por um desconhecido?


Ele sorriu, e embora ela não tivesse visto isso, várias pessoas estavam vendo. Algumas garotas que não entendiam porque Liv Orchis estava dançando com aquele lindo e misterioso homem. E a algumas mesas distante dali estava um atônito Charles, que parecia não acreditar no que seus olhos viam.


O seu antídoto. O seu antídoto. O seu antídoto, garota, sou eu”.


-Bom, a primeira ordem é essa: encontrem a chave e abram o cofre o mais rápido possível.


-Encontrar a chave, certo. Qual a segunda ordem?


-Incentivem todo o rumor a respeito dos fantasmas.


Liv hesitou e por pouco não parou de dançar, mas ele a apertou firme contra seu corpo e continuou conduzindo-a no ritmo da dança.


-Não existem fantasmas em Hogwarts.


-Existir, existem. Eles só estão presos, pagando um crime... Você sabe qual é o maior crime dos fantasmas, Liv?


Crime de fantasmas? Aquilo estava ficando estranho demais. Aninhou-se no ombro dele e sussurrou sorrindo:


-Não, não sei. Qual é?


Ele a girou e por um breve segundo seus olhares se cruzaram. O olhar dele era firme e duro, carregado de uma triste ironia.


-Eles nunca esquecem.


Ele a puxou novamente contra si e pôde até mesmo sentir as batidas fortes do coração dela. Liv ficou séria com a resposta dele, mas antes que alguém percebesse a mudança de humor dela, o rapaz a segurou firme pela cintura, fazendo-a suspirar. “Você está doente, amor, embriagada por mim. E não adianta fugir, você sabe que não consegue escapar”.


-Lembre-se da segunda ordem, Liv. Incentivem o rumor sobre os fantasmas. –sussurrou ele em seu ouvido- Nas salas comunais, nas conversas de banheiros. Toda fofoca é sempre bem-vinda, vocês não vão nem precisar se esforçar muito.


Ela deu um largo sorriso e a alguns metros dali Charles se remexeu incomodado.


-E qual o recado?


-O recado é para Beverly. Sally diz: “Eu confio em você. Muito obrigada”.


-O quê?


-“Eu confio em você. Muito obrigada”.


-O que isso quer dizer?


Ele sorriu e a girou novamente, arrancando suspiros dela e de outras garotas por ali que estavam morrendo de inveja.


-Isso, Liv, é algo que eu não sei. Sou só um enviado.


-E por acaso o enviado vai me dizer o seu nome?


Eu sei o que você quer, docinho. E eu quero te ajudar


Ele sorriu maroto e jogou a cabeça para trás.


-Luc Camel. A seu dispor...


Ela riu e balançou a cabeça.


-Esse não é o seu nome de verdade, não é?


-Não.


-Ok, Luc. Essa dança maravilhosa paga a sua falta de cortesia.


Ele a pressionou novamente contra o seu corpo e respirou forte contra o pescoço dela.


-Que bom que você é generosa.


Não desperdice o nossa mágica, não pense que isso é uma azaração, entenda o que eu quero te falar: Essa noite o seu remédio sou eu


Ela separou-se um pouco do corpo dele, só o suficiente para que pudesse encará-lo nos olhos. Merlim, de onde tinha surgido esse homem? Encarou-o firmemente. Ele estava fazendo todo aquele jogo com ela só para passar ordens de Sally?


-Eu não brincaria com você, Liv –disse ele sério, mas com um traço de ternura, adivinhando os pensamentos dela- Já lhe disse hoje que você é fantástica.


Ela fechou os olhos e saboreou aquela sensação que há tanto tempo não experimentava: ser beijada. Os lábios dele eram carnudos e macios, de modo que tudo o que ela mais queria era continuar e aprofundar aquele beijo. Enquanto o solo da guitarra soava alto, tudo que ela percebia era a língua dele percorrendo toda a extensão de sua boca com movimentos que deixavam sua respiração ofegante.


O seu antídoto. O seu antídoto. O seu antídoto, garota, sou eu”.


Com uma batida forte a bateria encerrou a música e todos os casais se separaram. Eles se encararam e Luc beijou novamente a mão dela.


-Foi uma dança incrível. É uma pena que eu tenha que ir...


-Afinal você é o produtor da banda –completou ela, exibindo um sorriso enorme e dois olhos brilhando.


-Isso sem contar o meu trabalho secreto –disse ele ao pé do ouvido dela, arrancando um riso da parte dela.


Eles se encaram novamente e ele se inclinou para ela, dando um selinho.


-Até mais, Liv –disse ele começando a se afastar.


Ela ficou parada vendo Luc sumir entre a multidão que voltava a dançar mais uma música rápida. Depois se virou e foi procurar alguns dos amigos. Não se importaria em passar o resto da noite sentada, seu Baile já estava ganho.


Olhou para os lados e Taylor lhe acenou, ela saiu andando em direção a ele. Estava tão desnorteada ainda pelo beijo que não percebera o olhar fulminante que Charles lhe lançava e nem que Taylor estava acompanhado.


-Engraçado o que aconteceu agora, não é? –disse ela bobamente, meio que falando para si mesma, embora olhasse para Taylor.


Taylor olhou para Charles e tentou não parecer rude.


-Digamos que eu não vi tanta graça assim, Liv...


-Ele veio passar ordens de Sally.


-Então aquele homem fabuloso veio passar um recado de Sally... Pela sua boca?! –ironizou Charles.


Mas Liv não percebeu a ironia, riu como se Charles tivesse dito uma piada.


-Bom trocadilho, Charles. E, pois é, ele é um enviado de Sally.


Antes que Charles dissesse alguma coisa, Taylor aproximou-se de Liv e falou em um tom mais baixo:


-O que ele disse?


-Trouxe duas ordens. A primeira é achar uma chave para abrir um cofre no Gringotes.


-Chave?!


-É, parece que dentro de algum dos livros na sala da Sociedade tem uma chave. Nós temos que encontrá-la e abrir o cofre o mais rápido possível.


Taylor franziu o cenho e olhou para sua companheira, e só então Liv notou com quem ele estava: Louise. A garota estava bonita, mais do que o normal. O vestido azul de tomara-que-caia estava realçando o busto da garota e tinha caído muito bem nela. A morena ficou encarando a companheira de Sociedade, não tinha nada contra Louise, mas... E Beverly?


-E qual a segunda ordem? –perguntou o moreno interrompendo seus pensamentos.


Ela abriu a boca para falar, mas foi interrompida por uma onda de gritos que veio da pista de dança. Ela arregalou seus olhos e suas pupilas dilataram para ver melhor o que estava acontecendo: inúmeros fantasmas estavam sobrevoando as pessoas que estavam dançando. Eles pareciam estar tentando falar algo, mas não dava para entender, apesar da banda ter parado de tocar, o barulho era enorme por causa dos gritos.


-Tem algo errado aqui... –disse ela levantando-se desesperada, acompanhada de seus amigos.


Ok, nenhum estudantes tinha visto um único fantasma em toda sua vida, mas eles estavam mortos! Não podiam ferir ninguém, além do que nem era tão assustadores assim.


-Olhe para cima, Liv! –gritou Charles.


Não eram os fantasmas que estavam causando os gritos. Havia um poltergeist sobrevoando os alunos, ele usava o chapéu seletor na cabeça e carregava longas e pesadas correntes. Balançava-as e girava-as no ar, ameaçando jogá-las no chão.


-Não. Ele está ameaçando o diretor! –constatou Taylor.


E Taylor estava certo. Draco Malfoy tinha a varinha apontada para o poltergeist, mas parecia pálido e hesitante.


“MALFOY MAU. PRENDEU O PIRRAÇA E TODO MUNDO. NÃO QUER QUE EU CONTE O SEU SEGREDO?” gritava o poltergeist sobrevoando rapidamente a cabeça do diretor, as correntes passando a poucos metros da cabeça de Draco. “EU SEI O SEU SEGREDO! EU SEI O SEU SEGREDO! HÁ HÁ HÁ! QUANTOS VOCÊ MATOU PARA DURAR ATÉ HOJE?”


Draco ficou lívido e gritou algo apontando para o poltergeist. Mas o feitiço que acertou Pirraça foi lançado por outra pessoa: Fay Malfoy. A mulher exalava fúria e muitos alunos se afastaram com medo. Tinham mais medo dela que de Pirraça, talvez. Assim que Pirraça caiu ela apontou para o alto e paralisou todos os fantasmas de uma só vez.


Com um feitiço não-verbal ela juntou todos e começou a puxá-los por meio de magia. Todo o Salão estava calado e havia um silencio mortal.


-Todos para suas salas comunais imediatamente –bravejou ela- O BAILE A-CA-BOU!


Draco abriu a boca para falar, mas o olhar fulminante dela o calou. Ele balançou a cabeça e olhou para os alunos.


-Não ouviram a Sra. Malfoy? Todos para a cama!


Os alunos começaram a andar, mas Liv continuou parada e segurou a mão de Taylor.


-Eu ainda não lhe disse a segunda ordem –sorriu ela, como se lembrasse de alguma coisa.


-Pois fale rápido! –sussurrou ele, empurrando Louise para que ela fosse logo para a sala comunal.


-“ Incentivem todo o rumor a respeito dos fantasmas” –repetiu ela.


Taylor a encarou por um segundo então sorriu também.


-Será moleza... –falou, olhando ao redor as pessoas que se arrastavam assustadas- Boa noite, Liv.


Ela lhe beijou a bochecha e começou a andar para a sua própria sala comunal. Tinha sido uma noite e tanto! Caminhava distraída entre os alunos amedrontados quando uma mão a segurou, forçando-a para trás.


-Me espere –disse Charles, pondo-se ao lado dela- E tire esse sorriso do rosto. Podem achar que é devido ao fiasco a que Draco Malfoy acabou de se submeter.


Ela lembrou dos olhares horrorizados, cheios de inveja, que várias garotas lhe lançaram enquanto dançava e balançou a cabeça.


-Duvido muito. Qualquer um sabe porque estou sorrindo.


Ele fechou a cara e andou calado por todo o caminho.


-Boa noite, Charles –disse ela, com um pé na escada para o dormitório feminino.


-Não mesmo –disse ele a puxando para um sofá no canto da sala.


-Charles, você está machucando o meu braço!


-Senta aí –disse ele a jogando no sofá- O que você pensa que estava fazendo?!


Ela ficou sentada ainda perplexa somente o encarando por mais de um minuto. Tinha noção de que as pessoas ao redor estavam os observando e, provavelmente, todas essas pessoas davam razão a Charles.


-Eu. Eu é que lhe pergunto... O que você pensa que está fazendo?! –disse ela levantando, ainda com um sorriso felino no rosto.


-Você! Se esfregando com aquele...


-Não me interessa o que você pensa a respeito disso, Charles! –interrompeu ela, levantando a voz de modo ameaçador- Mas me decepciona muito que você se preste a esse papel machista. Sou a mãe do seu filho, não sou um objeto seu!


-Não disse que era –envergonhou-se ele, abaixando a cabeça e olhando para seus pés.


-Acho que as palavras não foram necessárias nesse caso.


Ela olhou em volta e as pessoas tentaram disfarçar, fingir que não estavam ouvindo. Exceto Anne Broun, que lhe encarou de cima a baixo como se Liv fosse um inseto, demonstrando claramente que a considerava uma perdida. A voz de Luc ecoou em sua cabeça.“Mas você parece ser uma garota fantástica, Liv. Não deixe que as pessoas que levem pra baixo”. E ela não deixaria.


-Nem pense em fazer algo assim de uma próxima vez. Eu danço com quem eu quiser, beijo quem eu quiser e isso não é da sua conta. Ou da conta de qualquer outra pessoa deste castelo. Está me entendendo?


Ele resmungou algo parecido com um sim, mas não a encarou nos olhos. Ficaram em um silêncio constrangedor por uns instantes até que ela voltou a falar. Já não havia mais ninguém na sala comunal.


-Você pensa como eles, não é? Que eu sou uma vadia, uma perdida, uma imoral e tudo mais.


-Não, não penso –disse ele, levanto os olhos para encará-la de forma firme- Nunca pensei.


-Pois não foi o que me pareceu –disse ela. Antes que ele respondesse, ela caminhou até as escadas e subiu para seu dormitório. Beverly a esperava de pé, andando de um lado para o outro.


-O que aconteceu? –perguntou a loira, apertando suas mãos contra o robe.


Liv olhou para a amiga em trajes de dormir e balançou a cabeça.


-Por que você não foi ao Baile?!


-Não quis. O que aconteceu?


Liv olhou para as outras colegas de quarto. Camila já estava dormindo, enquanto Pamela fingia estar. Mas Anne não fazia questão nenhuma de disfarçar que queria ouvir a conversa das duas.


-Fantasmas. Surgiram sabe-se lá de onde e assustaram a todos. Fay Malfoy nos mandou de volta para nossos dormitórios –respondeu ela. Fez questão de parecer casual enquanto falava o nome da mulher do diretor, mas sabia que Beverly entenderia o recado. A mulher continuava espionando e vigiando os alunos.


A loira pareceu chocada e sentou-se em sua cama sem conseguir entender.


-Hogwarts nunca teve fantasmas. De onde eles surgiram?


-Vai saber...Imagino que depois de hoje, a escola continuará sem eles.


-Você gostaria que a escola tivesse fantasmas, Liv? –ironizou Anne, se intrometendo na conversa.


-Sinceramente não faz diferença alguma na minha vida –sorrindo petulante para a colega de quarto- Aliás, é bom que não tenha. Mantêm-se a ordem da escola.


Anne virou-se de costas para as duas.


-E por que você demorou? –questionou Beverly, aproximando-se da amiga e falando baixo, para que Anne não voltasse a perturbar.


-Eu e Charles discutimos. Estávamos lá embaixo, na sala comunal.


-Por quê...?


Liv sentou-se na cama da amiga e começou a contar tudo o que havia acontecido. Beverly ouvia calada com custo, sentia vontade fazer comentários e perguntas o tempo todo, mas era melhor deixar a amiga falar tudo de uma só vez. Ao final estava morrendo de raiva do irmão. Como ele podia ser tão burro?


-Não quero que você interfira, Bev. Eu já conversei com ele e deixei as coisas bem claras. Simplesmente finja que nada aconteceu.


-O quê?! Você vai fingir que nada aconteceu?


-Não, Beverly. Eu ainda estou com raiva dele, mas você não tem nada a ver com essa história.


Bev assentiu com custo e ficou encarando a amiga ainda com raiva.


-Ora, não faça esse bico. Você está grande para isso! –riu Liv, batendo na amiga com o travesseiro- Aliás, deixei de te contar uma coisa.


-O quê?


-Luc não trouxe somente as duas ordens. Trouxe um recado também: para você.


-Sally mandou um recado para mim?!


-Aham. Ela disse “Eu confio em você. Muito obrigada”.


Os olhos de Beverly encheram-se d’água instantaneamente. Como Sally podia saber o que ela estava fazendo? Como estando longe, foragida e anônima aquela mulher poderia saber o que se passava com ela? A loira sorriu e limpou as lágrimas. Era bom saber que pelo uma pessoa a entendia e confiava nela.


-Você disse isso ao Taylor?


-Claro que não! O recado era para você!


-Pois bem... Diga. Diga e acrescente um recado meu: Não vou contar nada a ninguém.


As duas ficaram se encarando. Liv não estava entendendo nada, e a reação emocionada da amiga lhe parecia muito estranha.


-Aconteceu algo que eu não saiba, Bev...?


-Taylor não comunicou a todos?!


-Comunicou o quê?


A loira apagou o sorriso sincero e tentou manter um fraco. Cortava-lhe o coração continuar essa farsa, mas era necessário. “E agora não estou sozinha” pensou ela, numa faísca de esperança.


-Pergunte a ele. Na verdade Taylor já deveria ter falado sobre isso.


-Mas...


-Boa noite, Liv.


A morena ficou encarando a amiga, agora quem tinha raiva era ela.


-Não vai me contar?


-Já disse que não. Vá dormir. –riu a loira- Vá e sonhe com o seu dançarino.


Liv riu também e saiu da cama da amiga. O dia de amanhã seria cheio, mas por enquanto tudo o que ela queria era realmente cair na cama e dormir. E sonhar.

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N/A: Olá pessoal! Tá aí mais um cap é mil perdões pela demora! Eu viajei no Carnaval e depois fui direto pra Viçosa, fazer minha matricula, ver onde eu vou morar, comprar móveis e coisas do tipo. E quando eu voltei, bem, me deu uma falta de paciência para ficar no pc escrevendo, porque eu queria ver os meus amigos. Sorry! O próximo capítulo já está em andamento e deve sair na próxima semana, para compensar a demora deste aqui, ok? Rsrsr E para não perder o hábito, se você chegou até aqui, entre para campanha “Eu faço uma autora feliz” e deixe uma resenha! Bjusssss, Asuka

LadyStardust: Não, eu não tinha desistido da fic, mas a sua resenha apareceu em ótimo momento, porque me fez tomar vergonha na cara e voltar para o pc para escrever! Rsrsr Bjussss

Flávia : Taí aí o capítulo! rsrs Bjusss

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