Estratégia
Teve uma noite confusa onde vários cachos dourados se misturavam com o sangue de um velho no chão, mas então Liv entrava no sonho para falar que suas mãos estavam ardendo e que suas unhas nunca mais cresceriam por causa dele e Beverly concordava com ela dizendo que nunca mais o perdoaria. Bev então era atacada por hienas famintas que conversavam sobre estar cansadas de lebres e gostarem mais de carne humana. Ele tentou argumentar com as hienas, dizer que deviam devolver Bev, mas elas perderam a paciência e o devoraram também.
-TAYLOR!
Abriu os olhos sentindo o coração pulsar fortemente. Sentou-se na cama e olhou para seu companheiro de quarto, Luc Wrinkle.
-Tudo bem, Taylor? Você estava gritando...
-Sonho ruim.
Luc riu amarelo e se dirigiu para a porta.
-Desça rápido ou você não vai ter tempo de tomar o café da manhã.
Taylor acenou com a cabeça e levantou da cama já desabotoando a camisa para se trocar. Passou a mão pelos cabelos e suspirou cansado, como se já não bastasse a noite que passara ainda teve um sono recheado de coisas ruins.
-Não tem como piorar –disse ele para si quando saía do quarto.
Mas disse isso cedo demais, assim que chegou no Salão Principal viu que sua situação estava pior do que imaginara. Até a noite passada a Grifinória liderava a Copa das Casas, por vinte e cinco pontos à frente da Lufa-Lufa. Agora estava em terceiro lugar, com míseros 15 pontos, pior que a Grifinória só mesmo a Sonserina que tinha 35 pontos negativos.
-Parabéns Looker –disse quintanista lhe empurrando.
Olhou para a mesa da Grifinória e encontrou os piores rostos que já vira. Seria impossível engolir qualquer coisa desse jeito. Deu meia-volta e saiu do salão já se dirigindo para fora do castelo para a Aula de Trato das Criaturas Mágicas.
-TAYLOR!
-O que é agora?
Ele enrubesceu quando viu que era Beverly que o chamara. Apesar de ela não vir com uma aparência agradável ele nunca teria coragem de ser rude com ela.
-Ah, me desculpe... Eu não vi que era você.
-Aham, sei. Talvez se fosse o zelador de Hogwarts você fosse mais educado.
Ele fechou a cara e voltou a andar, dando as costas para Bev que o seguiu.
-O que vocês tinham na cabeça quando fizeram aquilo?! Charles se recusa a me falar o que aconteceu direito então exijo uma explicação de você!
Ele olhou com raiva para ela, mas tentando se controlar.
-Em primeiro lugar: você não exige nada de mim.
Foi a vez de Beverly corar. Ela abaixou o rosto por alguns segundos e o levantou mais humilde.
-Ok, desculpa. Mas o que aconteceu?
-Inch fez insinuações sobre Liv e Charles não gostou. Ele a chamou de prostitua e também me chamou de mestiço, aí... Foi difícil segurar Charles, até o ponto que eu também não me controlei.
Olhou para Bev que parecia horrorizada.
-Ele chamou Liv de prostituta? Isso é horrível!
Taylor sorriu. Bev neste momento parecia mais chocado com o que Inch falara do que com o estado atual do zelador.
-Não me admira então que nós não tenhamos perdido mais pontos... Talvez não tenha como.
Taylor desviou de três segundanistas que insistiam em lhe bloquear a passagem de propósito, em sinal de protesto.
-Afinal, como a Sonserina ficou com pontos negativos? Isso não existe.
-Malfoy criou hoje. Disse que os acontecimentos da noite passada deveriam retirar mais do que os 45 pontos que a Sonserina tinha, até porque foram dois alunos da minha casa envolvidos.
Eles pararam em frente a orla da floresta proibida. Beverly estendeu uma trouxa de comida para ele.
-Você não pode ficar sem se alimentar –disse ela ainda tentando parecer estar com raiva.
Ele ia pegar a trouxa quando um feitiço atingiu o pacote e o desintegrou, a poeira voou através dos dedos de Bev. Olhou para os lados e John Smith passou olhando para ele sem falar nada.
-Ora, seu...
-Bev! –interrompeu ele segurando o braço dela- Não faça nada, está tudo bem.
-Mas...
-Não se esqueça que a sua casa tem pontos negativos. E que talvez o limite deles seja tão grande quanto o de números positivos.
Ela saiu sem falar nada e, principalmente, sem lhe desejar ‘boa aula’.
-Mau sinal –disse para si mesmo.
Juntou-se ao grupo e a professora começou a falar.
-Bom, começaremos o ano revisando o tipo de alimentação de animais domésticos. Cada grupo de três receberá um animal diferente e vários tipos de rações, ervas e tudo mais. Cada grupo deverá saber por si o que é o certo para alimentar seu animal.
Assim que ela terminou de falar todos se afastaram com um ou dois passos de Taylor. O garoto suspirou profundamente, teria uma semana difícil.
A sala estava em alvoroço. Charles estava sentado a um canto bem no fundo da sala, longe das demais pessoas. Somente Beverly e Liv ao entrarem não se afastaram dele. Liv também era recriminada por ter participado de alguma forma dos fatos da noite passada, e Beverly estava sendo recriminada através de olhares por ser irmã e amiga dos dois perturbadores da ordem.
-Você não precisa fazer isso, Bev –disse Charles assim que as duas se sentaram ao lado dele.
-Isso o quê?
-Sentar perto de mim. As pessoas vão ficar contra você.
-Charles está certo, Bev.
Beverly fez um gesto de descaso com a mão.
-Ora, deixe isso para lá. Dentro de uns dias eles esquecem. Eles sempre esquecem.
Charles não respondeu nada. Segundos depois Sally entrou na sala de aula, que se calou imediatamente.
-Bom dia. Antes de mais nada devemos esclarecer algumas coisas. Os fatos da noite que se passou foram decorrência de alunos que tentaram entrar na minha sala, sem minha autorização, para pegar emprestado algumas informações que não me são permitidas passar. Nada disso teria acontecido se ninguém tivesse saído da cama na hora indevida, portanto vou dar um conselho: não desobedeçam as regras. O diretor este ano será bem intransigente em relação às transgressões.
Charles não havia abaixado a cabeça um só momento, e no exato momento em que ela terminava de falar ele pensou ter visto um breve sorriso em sua direção.
-Ela sorriu para você? –perguntou Liv.
Ele confirmou com a cabeça.
-Ela sorriu para você –repetiu a garota sem acreditar.
-Já disse que sim.
-Ora, por que ela faria isso quando você arrombou a sala dela?
Charles levantou uma sobrancelha.
-Eu invadi a sala dela?
-Ok, nós...
Mas ele não respondeu nada. Será mesmo que ela havia sorrido?
-Bom, abram seus livros na página 26, vamos fazer uma leitura introdutória sobre duelos.
Ninguém se mexeu.
-Eu mandei abrir o livro na página 26 –disse Sally com voz enfática- Sim, Srta Combe?
-Duelos não faz parte do cronograma aprovado e recomendado pelo Ministério da Magia, professora Dust.
-Ah... –disse ela fazendo uma falsa cara de se lembrar de algo- É mesmo. Na França, meu país de origem, duelos é uma matéria essencial. Já havia me esquecido que a França está sempre um passo à frente da Inglaterra.
A reação dos alunos foi péssima. As meninas soltaram gritinhos indignados, os garotos inflaram o peito em um instante. A professora havia tocado numa questão delicada: a rivalidade histórica entre os dois países.
-A Inglaterra sempre foi e sempre será melhor que a França –disse um Corvinal em tom nada amigável.
-Ora, Sr. Davis... Um aluno de segunda série da França é capaz de vencer um aluno de sétima série da Inglaterra. Facilmente. –ela se encaminhou para o quadro e começou a apagar manualmente as instruções que estavam no quadro- Facilmente, eu diria. – em seguida resmungou algo baixo, mas em tom suficientemente alto para que os alunos entendessem- Onde já se viu, não ter duelos no cronograma! Uns 100 anos de atraso, eu diria.
Um barulho foi ouvido no canto da sala e todos se viraram. Charles havia colocado seu livro na mesa, coisa que havia acontecido poucas vezes desde que ele entrara no colégio. A boca de Beverly se escancarou quando ele abriu na página 26.
-Charles, não! Não é aprovado!
-Dane-se! Nenhum francês fica a frente de um inglês!
Diante da atitude de Charles muitos dos rapazes esqueceram-se dos pontos negativos e imitaram sua atitude, ignorando o Ministério. Aparentemente o orgulho falava mais alto. Algumas meninas um pouco mais corajosas também abriram o livro.
-Ora, fechem seus livros! –disse Sally mal-humorada- Eu não vou contrariar o Ministério. Não é aprovado e pronto, não se pode mudar a mentalidade atrasada de vocês –ao dizer isso praticamente o resto da sala abriu o livro- Fechem os livros, estou mandando!
Liv e mais duas garotas Sonserinas abriram o livro também, de toda a sala somente Bervely continuava com o livro fechado.
-Meia-noite no parque. Estávamos numa noite escura quando alguns homens... –começou a ler em voz alta um rapaz truculento da Corvinal.
-Menos 10 pontos para a Corvinal! Estou falando sério! Caso alguém insista em continuar com o livro aberto terei de tirar pontos e distribuir detenções. E devo lembrar que a Sonserina não está em boas condições.
Ao serem ameaçados boa parte dos alunos lentamente fecharam seus livros. Sem o apoio dos sonserinos os corvinais também fecharam. Aos poucos ninguém mais tinha o livro aberto. Charles estava com a testa extremamente franzida e a boca bem contraída.
-Bom, agora vejamos... Já que duelos está fora do cronograma vejamos o que vamos fazer...
Alguns alunos bufaram indignados e Beverly reparou que por baixo da mesa vários dobraram o canto da página, provavelmente marcando-a para uma leitura mais tarde.
-Ah sim, abram na página 34... Animais mágicos peçonhentos. Vocês podem estudar isso, não podem?
O tom de deboche não passou despercebido. Ainda revoltados os alunos tornaram a abrir seus livros.
A manhã se estendeu vagarosamente para Taylor, as indiretas, os olhares censuradores e todo tipo de demonstração de animosidade fizeram com que ele estivesse bastante estressado quando entrou no Salão Principal para almoçar. Ia se sentar sozinho quando alguns metros além Charles levantou a mão acenando, certamente convidando-o a se juntar a ele.
-Olá -disse ele friamente.
-Dia ruim? –perguntou Liv.
-Péssimo.
Ninguém disse nada. Liv olhou para Bev esperando vê-la hesitando em dizer uma palavra de conforto para Taylor, mas na verdade ela nem parecia ter se tocado que ele havia sentado ao lado dela.
-O que você tem, Bev?
-Você disse que seu dia foi ruim, Taylor? –perguntou Beverly ainda olhando para os lados, ignorando a pergunta de Liv.
-Sim.
-Espere até a aula da Profª Dust.
-Para piorar?
-Não, pelo contrário, para aliviar sua situação.
Charles levantou os olhos para a irmã.
-O que quer dizer com isso? –perguntaram os dois rapazes em uníssono.
-Ora, você está sendo mais bem tratado agora que no café da manhã, irmãozinho.
-Não estou entendo onde quer chegar, Dylan.
-Não me chame assim! Sabe que não gosto do meu segundo nome.
O nome composto de Beverly sempre fora motivo para briga entre os irmãos.
-Pararei quando você parar com suas insinuações e falar claramente.
-Ora, você não vê? Depois da aula de DCAT todos estão te tratando melhor, a sua atitude fez com que todos voltassem a ser cordiais com você.
-Que atitude? –perguntou Taylor.
-Charles contrariou a ordem da professora em não fechar o livro. Ela insinuou...
-Disse claramente! –interrompeu Liv.
-Que seja... Disse que os ingleses são atrasados e que os franceses têm duelos como matéria essencial. Charles não aceitou o insulto e abriu na matéria, mesmo sendo proibido pelo Ministério.
Taylor deixou o queixo cair.
-Ela disse que os franceses são melhores?
Beverly bufou de impaciência.
-Vocês não vêem? –disse ela como se estivesse explicando o óbvio para uma criança- Ela proibiu a leitura, proibiu, vêem? E ela sabe perfeitamente que Charles iria contrariá-la, ela fez isso propositalmente, para desviar a atenção do ato dele!
-Bev, você está viajando! –disse Taylor, e Liv e Charles concordaram com a cabeça- Ela proibiu a leitura, apesar de nos insultar, ainda assim ela seguiu as ordens do Ministério.
Bev riu sarcástica.
-Ora, ela não proibiu a leitura, ela nos desafiou! O insulto à Inglaterra foi intencional, para que isso despertasse a vontade de provar o contrário e todos lessem.
Os três encararam Beverly com desconfiança.
-Não acreditam? Olhem para os lados! Há mais alunos lendo do que comendo, até mesmo alguns de outras casas, e isso significa que a história já se espalhou! A intenção dela não era esquecer esse assunto, era colocá-lo em evidência.
Dessa vez não houve como contrariar a garota. Beverly estava certa, muitos alunos estavam comendo debruçados sobre seus livros, fato bem incomum. E também era verdade que alunos de outras casas –até de outros anos- também estavam lendo.
-Será que foi intencional? –perguntou Charles estupefato.
Beverly bufou. Taylor continuou olhando para os alunos então olhou para a professora sentada ao lado do professor de Aritmancia.
-Eu estou de olho nela –disse Beverly convicta- Se os atos dela ficarem muito suspeitos Draco Malfoy será informado sobre a ótima professora que contratou para nós. A perfeita professora francesa.
Ninguém disse nada, cada um tinha a cabeça em um lugar.
Durante a tarde, assim como Beverly havia previsto, mais e mais pessoas leram a página 26 do livro de DCAT, e até mesmo Taylor, que não estivera presente na aula pela manhã, também estava sendo ligeiramente esquecido.
Entrou no seu quarto no fim das aulas do dia e encontrou uma carta em cima de sua cama.
Prezado Sr. Looker,
Esteja hoje às 19:30 na minha sala para discutirmos sua detenção.
Atenciosamente,
Joan Took
-E ainda tem isso! Por quanto tempo será que vou ficar de detenção?
Tomara que não seja mais que um mês...
Olhou para seu relógio, ainda havia bastante tempo. Saiu do dormitório e desceu as escadas, saindo em seguida da Sala Comunal. Tinha algo a fazer.
Quando Sally parou em frente à porta de sua sala encontrou Taylor, que estava sentado no chão esperando-a.
-Olá, Sr Looker.
-Olá, professora –disse ele se levantando.
Sally abriu a porta e iluminou a sala. Em seguida se sentou em sua cadeira e fez sinal a Taylor para que ele se sentasse.
-Aceita um chá?
-Não, obrigado.
-É uma pena, chá é muito bom –disse ela servindo uma xícara para si- O que deseja, Sr. Looker?
-Entender esse livro –disse ele jogando o livro na mesa dela.
-Ora, claro que há passagens que você não deve entender, ainda não foram estudadas. Em minhas aulas discutiremos os tópicos, aprofundaremo-nos acerca dos assuntos muito ricos e interessantes que o livro contém.
-Eu não me expressei direito. Quero saber o real sentido desse livro. Qual é a do autor?
-Vamos corrigir sua pergunta... “O que o autor pretende passar com esse livro?”.
Taylor suspirou.
-O que o autor pretende passar com esse livro?
-A experiência que ele passou. Só isso.
-SÓ?! –indignou-se ele, mas recobrou a postura- Desculpe, professora., mas creio que se ele realmente quisesse passar suas experiência não falaria somente em metáforas.
Sally o observou atentamente.
-Um dia você entenderá.
-Não preciso dessas metáforas idiotas... –disse ele se levantando.
-Não são as metáforas que você deve entender, Sr. Looker.
Taylor parou com a mão na maçaneta e olhou para ela.
-É preciso entender outra coisa antes.
-O quê?
-Você sabe que esse é um livro que pode ser classificado de vários modos, inclusive como um livro histórico e como um livro político.
-Histórico sim, isso é óbvio, mas político...
-O autor expressa a opinião dele sobre o governo. Sobre o Ministério.
-Não vi isso.
-Está presente nas metáforas que você tanto detesta.
-Por que ele não disse claramente?
-Porque se fizesse isso o livro não seria publicado. Existe uma coisa muito útil chamada censura.
-Então ele está contra o Ministério.
-Eu lhe disse que precisava entender algo antes, e você já entendeu, ou quase. Agora releia o livro, entenda as metáforas.
-Ele está contra o Ministério?! –perguntou Taylor estupefato.
-Releia o livro, Sr. Looker. Entender o livro será melhor que ouvir um resumo do que eu penso sobre ele.
Taylor concordou com a cabeça, visivelmente ansioso. Ele já saia da sala quando Sally o chamou.
-Não comente sobre nossa conversa com ninguém, Sr. Bowl. Nem todas as pessoas estão dispostas a descobrir o que o livro quer falar. Há pessoas que preferem ficar do jeito que estão.
-Como quiser, professora –disse ele sério.
N/A: Como prometido três caps postados! Não se esqueçam da resenha! Bjussss, Asuka
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