Uma Praia no Panamá




Uma Praia no Panamá
by Samhaim Girl


O sol se punha no horizonte, transformando o extenso mar à frente deles em uma pintura de tons dourados, laranjas e vermelhos; um punhado de pássaros passou em razante sobre os corais, e a água se mexeu em pequenas ondas. Era tudo mágico e lindo, exótico e novo, vivo, extremamente vivo; eles pareciam uma pontinha de nada perdidos naquele oceano transparente e verde, onde as ondas mexiam a àgua e as algas iluminavam este movimento, onde as flores exalavam cheiros nunca por eles antes experimentados, e o sol lhes queimava lentamente a face, formando um jogo de tons que fazia ambos os cabelos parecerem fogo.
Quando a lua começou a despontar às costas deles e o sol terminou de se esconder atrás das montanhas, ela suspirou e fechou os olhos por um breve instante, procurando se lembrar das razões que a levaram até ali; não conseguia se recordar, e tudo o que passava pela sua mente era que apesar de ter sido tudo corrido e confuso, acabara por se transformar em algo lindo. Lindo como ele.
Ele virou os olhos para ela, e olhos castanhos se encontraram com olhos cinzas; ele deu um sorriso vago e jogou a cabeça para trás, a cascata de cabelos dourados escorregando pelos ombros e flutuando alguns centímetros acima da convidativa água; ela riu ao vê-lo perder um pouco o equilíbrio e lutar para continuar sentado na pedra; do peito nu escorria àgua ainda, mas ele estava cansado de se molhar e queria apenas sentir a rara brisa fresca que banhava a costa do Panamá e fazia tremer os coqueiros; ela se esgueirou para cima dele, tentando segura-lo mais alguns segundos em cima da pedra, mas a luta toda foi em vão; ambos cairam dentro da água, ela rindo, ele mau-humorado, os cabelos se embolando em meio às bolhas de ar e os corpos se encostando e sendo empurrados pelas ondas.
Mal ela levantou a cabeça para tomar ar, sentiu mãos pousando na sua cintura, e o colorido das algas iluminava a àgua onde eles nadavam, dispensando qualquer luz provinda dos céus; ela sorriu para ele, e pensou que aquela era a vida que pedira à Merlim enquanto ele a beijava com carinho; afinal, ele se provara muito mais carinhoso do que ela esperava ele ser , se provara muito mais bom, muito mais atingível e muito mais humano do que ela jamais sonhara que ele era; enquanto ele a puxava de encontro a barreira de corais, sentindo as mãos dele lhe percorrendo torturantemente o corpo, os pensamentos dela se voltaram lentamente para a época em que haviam se conhecido... Naquele tempo não havia mais esperança para ela, para ele, para ninguém... Era tudo sombras e escuridão, lágrimas e soluços, dor... Naquele tempo de horror... Eles se conheceram... Em uma noite onde nada iluminava a escuridão em torno deles... Nada...

Jogaram-na na cela escura, e ao longe conseguia ouvir gritos abafados, lamúrias, gemidos, choros, soluços, os barulhos secos de gente correndo e se esperneando; seu coração ficou cheio de medo, mas ainda era uma Grifinória de escala maior, e ergueu a cabeça corajosamente para encontrar a pequena fresta de luz.
"ME TIREM DAQUI!" disse com a voz reta e alta; quem quer que guardasse a sua cela enfiou a varinha pela fresta e a atingiu com um Crucio; a dor a dilacerou por breves instantes, e ela mordeu os lábios para não gritar; quando o guarda tirou a varinha da fresta - ainda se mantendo quieto - ela suspirou de dor e chorou silenciosamente; sangue escorria de sua boca, tamanha a força com que se mordera para não gritar. Apoiando as mãos nas paredes se deixou sentar vagarosamente no chão frio e sujo, as lágrimas ainda escorredo quentes pelo seu rosto.
Horas. Se passaram horas, e ela sabia disso porque a luz foi se escasseando na fresta até sumir. Haviam se passado horas com ela presa naquela cela, ouvindo as lamúrias e gritos das companheiras de corredor - quem sabe até companheiras de andar - ecoando por toda parte e a impedindo de dormir; o cheiro pútrido e azedo de sujeira parecia exalar retóricamente das paredes, não importava o quanto ela respirasse pela boca. Havia algum tempo parara de chorar; ela, ao contrário da maioria das prisioneiras da Mansão Malfoy - um dos mais conceituados centros carcereiros de Lord Voldemort nos últimos anos, desde que ele matara Harry Potter e tomara lentamente o controle do mundo mágico - tinha uma coisa chamada dignidade; havia sobrevivido até aquele momento com dignidade, sem se arrastar atrás de nenhum Comensal da Morte, e muito menos sem se bandear de lado; não faria essa espécie de coisa agora, apenas porque estava eternamente condenada a ser escrava ou o que fosse daqueles seres horríveis que seguiam o 'bom e glorioso Lord Voldemor'.
Enquanto pensava nos anos de terror que teria à frente - porque era saudável o bastante para sobreviver por anos, sabia bem disso - a porta se abriu, e ela gelou; sabia que mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer, mas tinha esperanças de que fosse mais tarde; a visão ficou embaçada pelas lágrimas, mas ela ergueu o queixo e o encarou; ao menos era bonito, com os cabelos loiros escorregando até os ombros, lisos e brilhantes, limpos e cheirosos; os olhos apareciam como dois brilhantes no escuro - tinham algo de terrivelmente belo e forte estampado neles. Enquanto o Comensal andou na sua direção, os passos lentos e arrastados, soltando um muxoxo desdenhoso, ela se encolheu contra a parede.
"Levante-se, Weasley" ele a encarou profundamente nos olhos, e foi quase que mecânicamente - movida provavelmente à terror - que ela se levantou tremendo e se encontrou ao menos dois palmos mais baixa que ele.
"Como sabe meu nome?"
"Todos sabem o seu nome" ela ouviu, em meio aos gritos abafados que vinham da cela ao lado, ele rir desdenhosamente; seu corpo se encheu de fúria, mas ela se conteu dignamente, erguendo o queixo e o encarando de volta.
"O que você quer?"
"O que todos querem de você, Weasley... Um pedaço" ela se encolheu perante aquelas palavras, mas então se lembrou do estandarte Grifinório e do sorriso brando de Harry e balançou a juba de cabelos vermelhos o encarando de novo, toda pose; levantou um braço, estendendo à ele.
"Pode cortar, sinta-se à vontade"
"Não quero seu braço"
"Leve a mão, então"
"Não quero a mão, muito menos"
"Leve a perna"
"Não"
"Me mate de vez e leve meu corpo para seu adorado chefinho"
"Meu chefinho não está interessado em você... Eu estou" ele sorriu, e ela pode sentir o sorriso dele lhe ameaçando na escuridão; prendendo a respiração, deu um curto passo para trás, indo de encontro à parede.
Enquanto corria os olhos de maneira rápida pelo ambiente parcamente iluminado pela fraca luz do corredor, ela se deu conta de alguém parado à porta.
"Pai, o Lord te chama"
"Já vou, Draco; deixe eu me divertir um pouco antes..."
"Agora"
"Está bem, está bem..." o homem à frente dela a encarou e abriu um sorriso desdenhoso "Cuido de você mais tarde, Weasley" saiu pela porta, deixnado o filho para trás, recortado contra a fraca luz do corredor, observando-a escorregar pela parede até o chão, se sentando e chorando silenciosamente de terror.
"Ele é um idiota mesmo, não ligue"
"Han?" foi insitintivo para ela levantar o rosto para encara-lo, assustada; um Comensal dizendo para uma prisioneira que o pai era um idiota? E com aquele tom amigável que ele estava usando?
Tremeu ligeiramente quando ele entrou na cela, mas ele simplesmente olhou á sua volta - seus olhos deviam estar muito mais acostumados com a escuridão do que os dela, pelo visto - e soltou um muxoxo de reprovação.
"Este lugar é horrível... Ainda bem que não tenho de descer aqui sempre... Que não sou tão porco como Lucius" suspirando, o jovem virou os olhos para ela, como que a percebendo como parte da decoração do lugar "Não vai falar nada?"
"Você deve ser tão porco quanto o seu pai"
"Obrigado... Bela idéia tenho passado aos outros" outro muxoxo, suspirou; ela viu ele levantar a varinha e se encolheu contra a parede, pronta para mais um Cruciatus - afinal, devia ter se mantido quieta mesmo; mas, ao invés de sentir seu corpo ser rasgado com facas cegas, ela simplismente viu seus olhos arderem sob um facho de luz "Você não combina com esse lugar, realmente" ele rolou os olhos, e ela pode enchergar melhor as feições do Comensal. Era loiro como o pai, e os olhos eram menos duros mas mais faiscantes; ele a encarava diretamente nos olhos, mas havia uma condição de quase igualdade da parte dele com ela; os lábios eram finos e estavam entreabertos, e ela soube que era para respirar sem ter de sentir aquele cheiro fétido da cela; o corpo era alto e esguio, com ombros largos e pernas longas; os cabelos estavam compridos e presos atrás da nuca, ela percebeu quando ele virou o rosto para observar melhor as paredes da cela "Como consegue viver aqui?"
"Er..." não estava preparada para um Comensal tagarela, decididamente; não sabia como responder à perguntas idiotas como aquela, e se viu preparada para outra maldição Crucio pela intolerância com que respondeu "Acho que o fato de que Lord Voldemort deve ser mais fedido do que essa cela me consola; assim eu sei que tudo ainda pode ficar pior"
"Ah, ele fede, mas não tanto... Acho que verdadeiramente essa cela só pode ficar pior com a presença de Lucius" ele suspirou e voltou os olhos para ela; ela sentiu que ele estava prestes a falar qualquer coisa importante para ele, pelo brilho que havia naquele olhar "Lucius é nojento, de verdade... É casado, veja só, e vem aqui toda santa noite, rotineiramente, para traçar uma das prisioneiras... Um completo idiota, se quer saber a minha opinião... Minha mãe está ficando doente de saudades dele... Bastou Voldemort tomar o poder que ele se sentiu o todo todo... Espero que qualquer dia desses ele seja pego pela Resistência e torturado até a morte para obterem informações sobre nós..."
"A Resistência não faz coisas desse tipo, sinto informar; de certa maneira somos um tanto quanto mais integros e corretos do que vocês"
"E é por isso que perderam a batalha... Bem, não vou te dizer que Potter não merecia umas liçõezinhas sobre como apanhar até a morte, mas... De qualquer modo... O que eu estou fazendo aqui mesmo?"
"Parece que está tendo ataques de alucinação, e portanto acabou conversando com uma das mais desprezíveis prisioneiras de seu belo e doce Lordezinho"
"Não fale de Voldemort dessa maneira; eles podem te matar"
"Eu agradeceria"
"Você vai gostar de viver... Nunca se sabe o dia de amanhã"
"O meu provavelmente está povoado pelo sêmen do seu paizinho"
"Mande Lucius à merda em meu nome enquanto ele te comer amanhã, está certo? Boa noite, sonhe com os anjos" ele deu um sorriso torto para ela e apagou a luz que iluminava o aposento; a cabeça dela latejou durante alguns segundos, e quando se deu conta novamente do que acontecia à sua volta, a porta havia sido trancada e o rapaz loiro havia desaparecido.
Sem mais, ela apoiou a cabeça sobre os braços e dormiu.
Não foi a fresta de sol que a acordou no dia seguinte, nem a troca de "guardas", muito menos os gritos das mulheres que já recomeçavam a ecoar pelas paredes frias e pútridas; não, de verdade, o que a acordou aquele dia, foi a porta da sua cela se abrindo para revelar um jovem loiro e esguio vestido de preto a encarando dali; o guarda no corredor sorriu aprovadoramente para o loiro, lhe dando um tapinha nas costas e o empurrando para dentro; atrás do rapaz, a porta se fechou com um clique, e ela ficou ali, meio sonolenta, encarando-o nos olhos.
"O que você quer? Me desejar um bom estupro mais tarde ou pretende realizar o trabalho do seu pai agora?"
"Nem um nem outro" ele a encarou resignado, e ela viu ele se abaixar, ficando de joelhos à sua frente, e sorrir sinistramente "Quero te pedir um favor"
Ela piscou algumas vezes, duvidando de que aquilo tudo não fosse apenas mais um sonho estranho criado pelo medo.
"Na verdade, nem um pedido... Está mais para um convite"
"Eu não quero ser Comensal, muito obrigada... Prefiro ser estuprada diariamente por Voldemort em pessoa"
"Não, não é isso... Weasley, você era caçada em seis continentes pelos Comensais por ser uma das melhores agentes da Resistência... Você acha que eu tentaria te convencer a mudar de lado quando era tão empenhada contra a gente?"
"Nunca sei o que se passa na cabeça de vocês, malucos" e então ela soube que brincara com fogo, porque os olhos do loiro arderam por uns instantes.
"Poucos de nós somos malucos, Weasley, e cada um é ao seu jeito... Eu sou maluco, por exemplo"
"Logo se nota"
"Quieta! Bem, eu sou maluco, por exemplo... Maluco por estar aqui, prestes a te fazer essa proposta, e..."
"Você vai me matar para elevar seu status? Eu ficaria grata por te ajudar, esteja certo disso" ela o encarou, completamente desperta e cheia de sarcasmo; ele rolou os olhos.
"Que merda, não é isso, Weasley! Eu me proponho a te tirar daqui, e..."
"Realmente, você é maluco"
"Eu venho aqui tentar te ajudar e você continua agindo desse jeito? Quer saber, você que se foda, Weasley, eu acho outra mulher melhor na usina crematória, e..."
"Tá, tá, fala logo qual a minha parte"
"Você tem de se casar comigo"

Os dois se deitaram de encontro aos corais, cansados; sorriram um para o outro, e se beijaram devagar; as ondas subiam e desciam pelos corpos deles, como se fossem mornas cobertas, e a luz iluminava os dois rostos que se encaravam.
"Acho que te tirar de lá foi a melhor coisa que já fiz na minha vida..."
"Eu tenho certeza..." ficaram se encarando em silêncio, absorvendo aquele minuto de paixão e magia.
Apesar de que no horizonte havia escuridão, tudo em volta deles era luz naquele momento.



N/A: O que foi isso, o que foi isso? Eu chamo isso de INSTINTO SONSERINO SUPERAGUÇADO. Sim, isso mesmo. Sonserino. Não acharam legal finalmente Voldie vencer? Eu adorei! Não acharam legal o Draco ser o pateta e a Gina a estúpida? Ruleiow geral na minha cabeça... Sim, isso mesmo, eu sei que o nome da fic deveria ser, na verdade “Cambiamenti”, para combinar com toda a idéia de troca que eu fiz na fic... Mas sei lá... ^-^ Eu acho Momenti uma coisa mais D/G, sempre achei. Essa fic é curtinha mesmo, e não vai ter continuação. No momento em que ela for postada nesse site, eu vou estar curtindo meus pés gangrenados em Curitiba. Quando eu voltar, eu espero que tenham tantos comentários sobre a fic que tenham até mesmo de fechar o link para não sobrecarregar o site, entendido? ÓTIMO. Bem, fora isso queria agradecer ao Chapolin Colorado por ter me ajudado nos momentos difíceis, à Milinha pelo apoio e à Maira pela paciência de betar essa coisixa... Mas fora isso... Só uma última coisa... (e isso é coisa urgente do meu ser): SPIDER MAN, SPIDER MAN, WHERE ARE YOU, SPIDER MAN... SPIDER MAN, SPIDER MAN, WE WANT YOU SPIDER MAN... OHHH YEAH! FUCK US SPIDER MAN! (momento Ju-assistiu-spider-man-demais já passou)

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