Férias na Toca




Capítulo 16
Férias na Toca


- Tracy! Vamos levantar... – disse Hermione, abrindo as cortinas da cama da amiga e bocejando.

- Não – resmungou Tracy em resposta. – Eu não consigo nem respirar direito, quanto mais levantar.

- Faça um esforço – insistiu Hermione. – Eu sei que você chegou tarde do baile ontem, mas mesmo assim. Lembre-se, o que você e Harry têm a fazer é muito importante.

Tracy colocou o travesseiro sobre a cabeça quando Hermione escancarou a janela. A dor de cabeça forte prevalecia entre o frio que sentia. Pelo que pôde notar já haviam tirado o sistema de aquecimento de Hogwarts, o que significava que havia muita neve pelos jardins.

- Você arrumou sua mala ontem, não é? – indagou Hermione direcionando-se a penteadeira, tentando apressar-se enquanto não conseguia fazer Tracy levantar.

- Arrumei – resmungou Tracy em resposta. – E isso significa que eu posso ficar mais uma hora na cama, não é?

- Pode ser, se você quiser perder o trem de Hogwarts – falou Hermione, dando a indicar que se ela continuasse na cama não iria mais com Harry de moto para A Toca.

- Droga.

Tracy tirou o travesseiro de cima da cabeça e esfregou os olhos. Estes estavam muito inchados e apertados, resultado da uma hora e meia que a garota dormira. Ela levantou com extremo sacrifício, espreguiçando-se.

- Vai ser um milagre se eu não cair desta moto hoje.



- E então, está tudo certo? – perguntou Tracy aos ouvidos de Harry enquanto este arrumava as malas dos dois em cima da cabine em que Ron e Hermione voltariam para casa.

- Sim – respondeu Harry no mesmo sussurro. – Hagrid está ocupado ajudando os alunos com as malas. Antes de o trem partir nós iremos até a cabana dele e pegamos à moto, ficamos de espreita na Floresta Proibida até ver o Expresso passar e, então, o seguimos.

Tracy fez um sinal de concordância com a cabeça, começando a temer o que viria pela frente.

- Vocês já vão? – indagou Ron, chegando perto dos dois.

- Já – falou Harry, encarando Tracy.

- Cuida bem da Hermione, Ron – falou a garota. – E tenta se acertar com ela, pobrezinha, está muito deprimida.

- Se ela quisesse já teria se acertado comigo – falou ele, ficando levemente nervoso.

Tracy respirou fundo e, atendendo aos olhares de Harry, saiu da cabine dando um longo abraço em Hermione, que desejou aos dois boa sorte.

- Não se preocupe – falou Harry. – Eu já pilotei vassouras, carros voadores, hipogrifos, trestálios... uma moto não será problema algum.

- Ah, seu bobo! – falou Hermione, jogando-se sobre Harry e o abraçando, o que deixou o rosto de Ron quase tão roxo quanto seus cabelos eram vermelhos.

Lançando um olhar desaprovador a Hermione, que corou, Tracy seguiu Harry para fora do Expresso. Eles saíram devagar, costeando o trem e, na primeira oportunidade, correram para trás de uma árvore conseguindo voltar para os terrenos de Hogwarts.

- Vem, por aqui! – falou Harry, puxando a garota pela mão.

Com muito cuidado o garoto abriu a porta da cabana de Hagrid e os dois entraram na pequena cozinha. Harry silenciou Canino que estava muito agitado e, como de costume, Tracy recuou. Harry foi em frente e tirou o pano que cobria a moto, pegando a varinha e levando-a até a porta, que a garota segurava aberta. Os dois saíram de lá muito rapidamente, e embrenharam-se na Floresta Proibida.

Caminhando ao lado da moto enfeitiçada por Harry eles chegaram até um local onde se via os trilhos por onde o Expresso de Hogwarts passaria.

- Vamos esperar aqui – falou Harry, desfazendo o feitiço e sentando-se próximo a uma árvore.

- Mas – indagou Tracy. – nós não vamos sequer...hm...testá-la antes, não?

- Testá-la? Não, isso não será preciso. Na hora nós damos um jeito.

A garota ficou horrorizada. Nunca havia chegado perto de uma moto antes, quanto mais voado com uma. Sem falar que aquela era a maior que já vira, o que aumenta potencialmente o problema. Olhando para o céu, ela respirou profundamente sentando-se ao lado de Harry para esperar. O garoto parecia muito calmo, como se a única coisa diferente que ele faria naquele momento fosse dar um passo à frente. Tracy sentia-se como se fosse morrer.

- Olhe! Ele está vindo! – gritou Harry, afobado.

Tracy resmungou ao lado dele, arrependendo-se de não ter deixado Ron ou Hermione irem com o garoto naquela maluquice. Harry subiu na moto e fez um sinal para que Tracy fizesse o mesmo. Com certo esforço ela conseguiu equilibrar-se em cima da moto, e, com medo, agarrou-se em Harry.

Harry acelerou e Tracy teve absoluta certeza de que estava caindo quando eles começaram a voar. Mas quando abriu os olhos percebeu o quão lindo estava o dia, e como as montanhas ficavam bonitas com aquela grossa camada de neve. Ela colocou a cabeça levemente para frente e sorriu, ao ver que Harry a encarou, também sorrindo, por um breve momento.

Isso provavelmente significa que tudo está bem”, pensou ela. Aquela sensação não poderia ser melhor. O vento batia sobre os braços estirados dela e também sobre as pernas, os cabelos voavam rapidamente para trás, incontroláveis. O frio estava intenso, mas a grossa jaqueta e as várias blusas que ela usava o impediam de entrar em contato com o seu corpo quente.

- O Expresso está logo ali – falou Harry, apontando para baixo.

Tracy olhou para onde ele estava apontando. O Expresso de Hogwarts parecia uma enorme cobra vermelha esgueirando-se rapidamente pela neve, chamava muita atenção por causa do contraste que havia entre eles. Ficou pensando se Ron e Hermione estavam sentindo-se seguros quanto àquilo tudo ou se estavam preocupados.

Harry mudou rapidamente a direção e acabou fazendo os dois se desequilibrarem, mas logo que se ajeitaram começaram a rir. Ambos sentiam-se muito bem, e Tracy, vez ou outra, arriscou deixar as mãos livres e estendê-las no ar para sentir melhor o gosto daquilo tudo.

Algum tempo depois a fome começou a apertar, deixando os dois numa imensa vontade de descer e parar por um momento para poder comer as bolachas que Tracy conseguira gatear da mesa do café da manhã do Salão Principal. Mas acabaram chegando à conclusão de que seria melhor passar fome a perder o Expresso de vista e acabar se perdendo por aqueles caminhos todos.

A noite chegou lentamente, fazendo as vistas de Harry embaçarem e ele ter que pilotar um pouco sem os óculos, enquanto Tracy lançava um feitiço neles para repelir o vapor de água que começava a tomar conta de todo o ar.

- A estação! – gritou Tracy, ao ver o Expresso entrar numa grande construção preta.

- Finalmente, chegamos – disse Harry. – Agora vamos ficar sobrevoando a saída do local e, depois, é só seguirmos o carro que levará os Weasley para casa.

Tracy assentiu. Logo depois viram dois pares de cabeças vermelhas entrando em um carro laranja, com um grande M nas laterais, os quais, eles deduziram, pertenciam ao Ministério da Magia. Seguiram o carro por várias avenidas, tomando todo o cuidado para que não fossem vistos e também torcendo para que a neve não recomeçasse a cair.

Algum tempo depois o carro passou a seguir estradas mais precárias, passando as estradas de chão e chegando a parar na frente de uma grande casa torta, que parecia estar sendo sustentada apenas por magia.

- Agora nós descemos – falou Harry e virou a moto, fazendo com que ela levasse-os rapidamente para baixo.

Tracy desceu rapidamente, e Harry enfeitiçou a moto para que voasse ao lado dele, novamente. Com um gesto o garoto pediu a Tracy que se abaixasse, para não serem vistos pelos Weasley, que, no momento, pegavam as malas dos garotos.

- Vem comigo! – pediu Harry.

- Onde nós estamos indo? – indagou Tracy, enquanto seguia o garoto em silêncio pelo chão úmido.

- Vamos esconder a moto no barracão dos Weasley, até Sexta-feira – respondeu ele. – Aí nós a pegamos novamente e vamos até o Ministério da Magia.

- E após?

- Nós improvisamos.

Tomada por uma nova onda de medo, Tracy abriu a porta do barracão com a varinha, onde Harry deixou a moto. Tomou cuidado para torná-la invisível, o que seria muito útil se alguém resolvesse apenas abrir aquela porta.

Eles entraram na casa da família pelos fundos e, quando os Weasley entraram já estavam postados no meio da sala com sorrisos enormes no rosto.

- Harry! – disse a Sra. Weasley, correndo para perto do garoto e o abraçando. – Como chegou aqui?

- Eu e a Tracy pegamos um táxi – falou ele, apontando para a garota – e chegamos antes de vocês. Queríamos fazer uma surpresa.

- Que bonitinho! – ela murmurou e, depois, voltou-se a Tracy. – E você? É a filha dos Mignonette?

- Sim – respondeu ela, estendendo a mão para apertar a da Sra. Weasley. – É um grande prazer conhecê-la, todos falam muito bem da senhora.

Molly sorriu para os filhos e para Harry e Hermione. Nesse momento o Sr. Weasley e Gina entraram no local.

- Vocês aqui? – indagou Gina. – Que surpresa!

- Era exatamente esse nosso objetivo – falou Tracy sorrindo, mas percebeu que Gina sentiu-se um tanto ofendida pelo tom em que ela proferiu essas palavras.

- Harry! – gritou o Sr. Weasley. – E Srta. Mignonette, creio eu!

- Tracy, por favor – ela pediu, sorrindo.

Depois de muitos cumprimentos, abraços e “Eu estava morrendo de saudades” os garotos foram liberados para subir aos quartos e tomar o banho que mereciam. Tracy tomou o seu com especial cuidado, não queria encostar-se muito nas paredes ou na banheira, tinha certo receio quanto àquelas coisas. Ela lavou e penteou os cabelos, mas quando foi sair novamente para o quarto onde as garotas (ela, Hermione e Gina) ficavam, entreouviu uma conversa.

- Ah – disse Gina, respirando fundo. – Eu ainda gosto dele. Eu ainda gosto mesmo dele e quando fiquei sabendo que ele ia deixar a Tracy para ir comigo ao baile fiquei muito feliz. Mas não aconteceram muitas coisas boas ontem à noite, não.

- Somos duas, então – respondeu Hermione. – Mas me conte. Que é que aconteceu?

- Nada.

- Como nada?

- O Harry não fez nada. Não sorriu, não disse que eu estava bonita, nem ao menos tentou mostrar-se sobressaltado ou espantado com minha imagem ou qualquer coisa assim... – ela revirou os olhos – não me chamou para dançar, não conversou comigo, mal e mal olhou para mim, entre várias outras coisas que me deixaram muito deprimida. E você e o Ron?

- Estava tudo absolutamente bem até que nós começamos a discordar um do outro – Hermione disse, preferindo omitir o detalhe de que os dois haviam brigado por causa dela. – Aí já sabe, não é? Foi tudo por água abaixo.

As duas deitaram sobre as respectivas camas e respiraram fundo.

- Será que essa garota não vai sair do banheiro nunca? – indagou Gina.

- A Tracy é demorada assim mesmo – respondeu Hermione, rindo.

- Não gosto dela – comentou Gina. – Tem algo estranho no olhar dela. Parece estar sempre ironizando o que dizemos ou o que fazemos. Não gosto mesmo dela.

- Ah, Gina – repreendeu-a Hermione. – Ela é nova em Hogwarts. Precisava entrar em uma turma, fazer amizade com alguém, não é?

- Só acho estranho ela ter tanta certeza de as melhores pessoas para serem amigos dela na escola são Harry, Ron e você.

- Foi uma coincidência ela ter nos encontrado primeiro no Expresso de Hogwarts – justificou Hermione.

- Não sei... mas duvido muito que ela seja uma boa pessoa.

Tracy não acreditava no que estava ouvindo, a jovem Weasley não gostava dela. Ela não podia deixar isso acontecer, precisava mais do que nunca da amizade e colaboração de todos que rodeavam Harry, Ron e Hermione. Metade do plano já tinha sido realizado, com sucesso. Agora só faltava eles definirem o que fariam com a outra metade, e quando o concluiriam. Cada vez mais Tracy torcia para que isso se resolvesse logo. Então, ela resolveu mostrar que estava ali.

- Muito bom esse banheiro, Gina – disse a garota, entrando no quarto. – Que foi? Por que essas caras?

- Nada, não – respondeu Gina. – Só estávamos esperando a nossa vez de entrarmos.

Tracy sorriu falsamente, preferindo não criar rinhas entre as garotas naquele momento.

- Meninas, vamos descer para o jantar! – disse a Sra. Weasley batendo na porta do quarto das garotas. – Fred, Jorge e Percy já chegaram e estão loucos para lhe conhecer, Tracy!

- Já vamos descer, mamãe! – respondeu Gina.

- Tudo bem, mas vamos rápido com isto.

Elas desceram as escadas, encontrando-se com Harry e Ron no caminho. Logo ao deparar-se com a cozinha, Tracy pôde ver várias pessoas, a maioria extremamente ruivas, sentadas ao longo da mesa e levantando-se rapidamente para cumprimentar a todos.

- Tracy, esses são Fred e Jorge – disse a Sra. Weasley apontando para dois garotos altos e idênticos, que tinham um sorriso maroto no rosto e acenaram – aquele lá é Carlinhos, ele mora na Romênia, mas chegou a pouco para passar suas férias de Natal conosco – um homem muito gentil e sorridente apertou a mão da garota – e Gui com sua namorada Fleur – um casal extremamente bonito sorriu para Tracy.

- É um grande prazer conhecer a todos – ela disse.

Fred cochichou algo com Jorge e eles sentaram-se, em meio a risinhos.

- Sentem-se, garotos – disse a Sra. Weasley.

O jantar estava magnífico, como tudo que a Sra. Weasley fazia, Tracy veio logo a perceber. Ela sentia-se estranha ali, no meio daquela família tão grande e unida, tão feliz e compreensiva. A vida da garota sempre fora só, enfiada no grande casarão dos Mignonette e, agora, como Evans Riddle, as coisas só haviam piorado. Fred e Jorge faziam piadas o tempo inteiro e a garota conseguiu dar-se muito bem com Fleur, por ela também ser francesa e ter estudado em Beauxbatons.

A noite muito logo chegou, e todos foram deitar-se. Antes de fechar todas as portas e apagar as luzes, a Sra. Weasley passou pelo quarto das garotas.

- Já avisei o Harry e Ron sobre isso – ela começou dizendo – e agora vim avisar vocês. Apareceu um convite inesperado para um jantar na casa de uns amigos nossos, que moram muito longe daqui. Eu, Arthur, Fred, Jorge, Gui, Carlinhos e você, Gina, vamos. Ron ficará aqui para fazer companhia aos amigos – ela disse isso para Tracy e Hermione. –Fleur também irá junto.

- Por que eu não posso ficar também? – perguntou Gina.

- Porque toda a família foi convidada. E todos nós vamos – respondeu a mãe.

Gina suspirou. Hermione e Tracy entreolharam-se e assentiram a Sra. Weasley, sorridentes.



Ron, Harry, Hermione e Tracy estavam sentados no confortável sofá na sala dos Weasley, enrolados em um só cobertor de lã, muito próximos à lareira que emitia um calor muito gostoso. Pelas janelas dava para observar que cada vez menos flocos de neve caíam, porém, o frio permanecia nos grandes campos que circundavam a casa.

- Ron, querido, nós já vamos. – disse a Sra. Weasley, entrando no cômodo acompanhada por seu marido, os gêmeos e Gina.

Ron assentiu com a cabeça, enquanto todos prestavam atenção nela.

- Vocês já sabem onde está o jantar, é só esquentá-lo quando sentirem fome. – continuou a senhora.

- Como eu queria já ter dezessete anos. – resmungou Ron, pensando na meia hora que teria que ficar mexendo nas panelas esperando o jantar esquentar.

- Oh, mas que preguiçoso, Ron! Não foi isso que eu lhe ensinei. E, além do mais, você vai fazer dezessetes anos em março, então, não vai demorar tanto assim.

Ron revirou os olhos quando a Sra. Weasley deu-lhe um beijo na bochecha, mas não tentou se esquivar.

- Está bem, mamãe.

Molly beijou e abraçou a todos na sala e pegou a sua bolsa nova de couro de dragão, o presente de Fred e Jorge de Natal, e chamou o restante da família para perto dela.

- Se comportem, viu? E se a neve engrossar não saiam de casa. – começou ela com as recomendações. – E cuidado com o fogo na hora de esquentar o jantar, vocês ainda não podem usar magia fora da escola, então isso resultaria num desastre. Arthur, você primeiro.

O Sr. Weasley se dirigiu até a lareira e jogou uma quantia razoável de Pó de Flu no fogo que crepitava lá dentro, e dizendo um “Tchau, meninos” desapareceu. Fred e Jorge o seguiram, e depois Gina. A Sra. Weasley desapareceu também por entre as chamas com uma expressão assustadora, tentando botar medo no filho para que ele não cometesse nenhuma atrocidade, nem deixasse seus amigos cometerem.

Alguns minutos depois, Ron murmurou, enquanto tentava se ajeitar em baixo da pequena coberta em que todos estavam:

- Ai, que tédio. O que nós vamos fazer até a hora de ir dormir?

- A gente poderia jogar xadrez de bruxo, se não tivéssemos feito isso ontem, o dia inteiro. - respondeu Harry.

- É, poderíamos. Mas quem iria buscar o tabuleiro? Ele está lá no meu quarto, e eu não me encorajo a colocar nem a pontinha da minha unha para fora deste cobertor. – completou Ron.

Tracy e Hermione concordaram.

- Se ao menos eu tivesse sono. – resmungou Harry.

Todos ficaram em silêncio. Os flocos de neve já não caíam mais lá fora, e o Sol estava aparecendo devagar por detrás das nuvens. Os raios eram muito superficiais, e os observando, Tracy teve uma idéia.

- Nós poderíamos esquiar! – sugeriu ela, e os outros ficaram em silêncio. – O que é que vocês acham da idéia?

- Oh, é maravilhosa! – disse Hermione, abrindo um sorriso. – Há tanto tempo não faço isso! A idéia até me anima a sair daqui, debaixo dos cobertores.

Tracy sorriu, feliz, e voltou-se para observar Ron e Harry.

- E vocês? Concordam? – pediu ela.

- Eu poderia até concordar se soubesse o que significa isso. – disse Ron, se enrolando mais nas cobertas e deixando os grandes pés cheios de meias para fora.

- Ah, me esqueci que vocês não sabiam o que era isso... é um esporte de trouxas. – desculpou-se Tracy. – Mas consiste no seguinte: você apenas tem que descer uma colina, estando firmado ao chão por duas tábuas, uma para cada pé, e desviando dos obstáculos com uma espécie de espeto. É muito divertido, pratiquei com a minha família há dois verões.

Harry e Ron se entreolharam, duvidando se aquilo era realmente seguro.

- E onde vamos arranjar esses equipamentos, Tracy? A cidade trouxa mais próxima fica a milhares de quilômetros – afirmou Harry.

- O Sr. Weasley não é aficionado por trouxas? Então, ele pode muito bem ter alguns pares do equipamento – respondeu Hermione.

- Muito bem lembrado, Hermione – disse Tracy, iluminando-se. – Podemos dar uma checada no seu barracão de ferramentas, Ron? Seu pai não se importaria, não é?

- Não, imagina. Ele ficaria feliz em descobrir que alguns objetos trouxas têm alguma utilidade prática – respondeu Ron, com um leve sorriso no rosto, mas ainda preocupado com a história.

- Então eu vou lá olhar. Alguém quer ir lá comigo? – perguntou Tracy.

Todos ficaram em silêncio, fingindo observar o fogo crepitar na lareira.

- Eu prefiro ficar aqui, debaixo da coberta, o maior tempo possível. – disse Ron, sinceramente.

- Desculpa, mas eu também. – falou Harry.

Com a última esperança, ela olhou para Hermione. Esta meneou a cabeça.

- Tudo bem, eu vou sozinha. – falou Tracy, conformada.

Um pouco desgostosa e um tanto relutante, ela se desvencilhou da coberta e calçou a pantufa.

- Muito frio aí em cima, Tracy? – perguntou Harry, rindo.

- Muito. Mas nada que nos impeça de nos divertirmos. – respondeu ela, séria, se dirigindo para a porta que ligava a sala a cozinha. – É por ali, não é?

Ron assentiu com a cabeça e Tracy foi desviando de alguns objetos até chegar ao barracão de ferramentas do Sr. Weasley.

Ela pôs a mão na maçaneta e a girou, deixando a mostra uma sala que tinha o chão feito com madeira usada, que já estava descascando, e era visivelmente inclinada para a direita. O lugar era fantástico. Ela conhecia um pouco dos objetos trouxas, afinal vivia praticamente como uma. Num dos cantos, o mais distante da garota, estava uma televisão de aparência antiga, provavelmente em preto e branco, e sua tomada estava ligada a uma batedeira. Um velho mouse e uma caixinha de som se encontravam perto da televisão e mais adiante havia uma prateleira única repleta de tomadas. Havia de todos os tipos: grandes, pequenas, redondas, quadradas, com e sem fio, de objetos simples, para objetos complexos e enormes, entre várias outras. Havia um grande emaranhado de fios dentro de uma caixa no alto, e neles escrito “Fios Eclétricos”. Tracy deu uma risadinha nasal ao ver aquilo.

Ela deu uma volta pela sala, observando as curiosas prateleiras mais de perto, e os objetos também. Logo encontrou o que queria. Num latão havia escrito “Artigos esportivos”, quando o viu foi direto até ele. Precisava ser rápida, afinal já eram quase cinco horas e logo o tempo fecharia novamente e mais uma noite na casa dos Weasley seria iniciada. Dentro do latão havia uma rede de Vôlei, uma cesta de Basquete, alguns pilares e bem no fundo um conjunto do equipamento necessário para a realização do esqui.

“Ah, mas um só equipamento é meio difícil... precisava ter, no mínimo, mais um.” , pensou ela enquanto revirava novamente o latão a procura de mais um par. Achou só mais um equipamento, mas não o par do mesmo, sendo que havia três pranchas para os pés. Voltou, assim, levemente desolada para a sala, mas feliz por ter achado uma maneira de se divertir naquelas férias de inverno chatas na casa dos Weasley.

- Achei! – exclamou ela ao entrar na sala.

- Que bom. – respondeu Hermione, se desvencilhando da coberta e indo ao encontro de Tracy. – Vamos Ron, Harry!

Ron e Harry se entreolharam, com expressões de tristeza.

- A gente tem mesmo que fazer isso? – indagou Ron.

- Sim, vocês têm – disse Hermione. – É divertido, tenho certeza de que vocês vão adorar! E se arrepender muito se não irem conosco.

Os garotos se entreolharam mais uma vez e Harry disse:

- Tudo bem, nós vamos.

Ron soltou um muxoxo enquanto observava Harry levantar-se e vestir uma grande jaqueta e um cachecol. Ele não queria levantar de jeito nenhum, mas também não queria ficar sozinha dentro da sua própria casa enquanto seus amigos se divertiam.

- Vocês venceram – resmungou ele, enquanto as garotas riam ao o verem levantar-se e vestir mais roupas, para tentar vencer o frio que estava lá fora.

Um tanto temerosos eles saíram da grande e aconchegante casa dos Weasley. A neve praticamente não caía mais e os campos estavam sendo tomados, lentamente, por fracos raios solares. Eles subiram uma das colinas que haviam ali perto, Ron ora ou outra olhando para trás, na esperança de que não chegasse a sua vez. Por fim, em cima da colina, Tracy ajeitou os três esquis no chão e posicionou-se em cima de dois deles.

- Vem comigo, Mione? – chamou Tracy.

- Com certeza! – a garota respondeu.

Hermione aproximou-se da amiga e colocou o esquerdo sobre o único esqui que restava. Deixou uma das pernas livres e agarrou-se com o braço direito em Tracy. Esta passou seu braço pelos ombros da amiga.

- Querem uma empurradinha? – indagou Ron, rindo.

- Não, obrigada – respondeu Hermione.

Tracy deu uma leve impulsionada com o corpo para frente e, com um grito de desespero, as duas amigas foram lançadas para frente. Podiam ouvir Ron e Harry rindo das duas. Aquilo descia numa velocidade incrível, fazendo com que parecesse ir cair a qualquer momento. E foi o que aconteceu, Hermione e Tracy desceram rolando o restante da colina. Quando finalmente pararam, estavam às gargalhadas.

Nada fez com que desistissem. Subiram mais várias vezes, caindo quase sempre no mesmo lugar e rindo muito. Fazia tempos que não se divertiam tanto. Cansadas, passaram a vez a Harry e Ron que, temerosos, pediram ajuda para posicionarem corretamente sobre os esquis.

- Duda sempre voltava das férias de inverno gritando aos quatro ventos o quanto era bom esquiar – resmungou Harry. – Agora eu vou poder concordar com ele, se voltar a repetir.

- Mas você nem esquiou ainda! – lembrou-o Hermione.

- Mesmo assim – falou Harry. – Nem que seja ruim, vou poder dizer que também já esquiei.

Todos riram.

- Agora não enrola mais, e desça! – disse Tracy, empurrando Harry e Ron colina a baixo.

Os dois gritaram mais que as garotas, fazendo-as rirem muito. Eram berros de pára ecoando por todos os lados. Mas, por incrível que pareça, eles não caíram sequer uma vez. E assim eles foram se alternando, Ron e Tracy, Harry e Hermione, Tracy e Harry, Ron e Hermione... os tombos foram muitos. Mas os risos superaram essas estatísticas.

Foi escurecendo lentamente, e a neve voltou a cair em pequeníssimos flocos. Novamente chegou a vez de Ron e Hermione. Como nas vezes anteriores, quem ficou com os dois pés sobre o esqui foi Ron e Hermione apenas apoiou-se nele. Voltaram a descer a colina, mas logo no início foram se desequilibrando e acabaram por rolar um bom pedaço e cair ao chão, Hermione sobre Ron.

- Posição suspeita – sussurrou Harry, rindo.

- Muito suspeita – concordou Tracy.

No mesmo momento, os rostos de Ron e Hermione pareceram aproximar-se, ao longe, e os dois iniciaram um beijo longo e calmo. Tracy e Harry apenas escancararam as bocas, não conseguindo tirar os olhos da cena. Logo, eles separaram-se e parecia estar tudo certo, até que Ron muito brutalmente tirou Hermione de cima de si e ficou em pé.

- Que é que você quer com isso? – indagou, gritando.

Hermione ficou perplexa, bem como os dois amigos que estavam sobre a colina, não conseguindo sequer se mexer.

- Ron, eu não estou entendendo – falou Hermione.

- Eu quero saber por que você me beijou! – ele berrou novamente. – Eu não pedi para você fazer isso, eu não queria!

- Não fui eu que lhe beijei, foi...

- Não me venha dizer que fui eu! – ele interrompeu, e começou a correr em direção a casa dos Weasley.

- Ron, pelo amor de Deus, que reação é essa?

- Me deixa em paz, não venha mais atrás de mim!

Dizendo isso ele entrou na sua casa e fechou-se lá dentro. Hermione foi lentamente atrás dele, e dava para ver lágrimas descendo vagarosamente pelo seu rosto.

Tracy e Harry trocaram um olhar indagador.

- Você vai, a amiga é sua – disse Tracy.

- Você é uma garota, entende melhor dessas coisas – argumentou Harry.

- Vá atrás do Ron, então – murmurou Tracy, começando a tremer. – Isso não podia ter acontecido, não podia.

Ela desceu a colina rapidamente, observando Hermione encostar-se na parede por onde Ron havia entrado e se trancado.

- Hermione...

- Me abraça – pediu a amiga, jogando-se sobre Tracy.

Harry abriu a porta e depois a fechou novamente, lançando um olhar consolador às duas.

- Eu não entendo por que Ron fez aquilo – murmurou Tracy. – Mas não ligue para ele.

- Não tem como não ligar... o que eu mais queria aconteceu e – ela não conseguiu concluir a frase, pois começou a soluçar por entre os braços de Tracy.

- Calma – pediu Tracy. – Se acalme, Harry foi conversar com ele, logo nós saberemos o que aconteceu.

Hermione soltou-se rapidamente do abraço.

- Não quero saber o que aconteceu – ela parou de chorar. – Eu só quero ficar longe dele. Bem longe dele.

- Ah, Mione. Vocês vão se acertar.

Hermione voltou a chorar.

- Eu preferia odiá-lo, ao invés de amá-lo...

Tracy teve que concordar, esse era um de seus princípios. Não se sofre, quando se odeia. Ela ficou em silêncio, mas conseguiu demonstrar de todos os outros jeitos possíveis a sua aprovação.


N/A.: Oi! Estou quebrada. Absolutamente tudo está doendo. Dos pés à cabeça. Estou toda torta na cadeira por que minhas costas doem. E doem muito. Eu e minha turma fomos para o Beto Carrero ontem e... bem, imaginem vocês não dormir nada à noite, caminhar o dia inteiro, e dormir em ônibus as seis horas seguintes, que era a duração da viagem, não ver ninguém te acordando para jantar e depois caminhar quinze minutos até chegar em casa. Sem mais delongas, estou sem vontade para nada e minha cabeça está prestes a estourar. Por isso, o post será rápido.

Provavelmente vocês vão achar algumas coisas estranhas na página da fic, mas é que a Floreios e Borrões a excluiu e eu tive que formular tudo novamente, e tem coisas que ainda nem terminei. Quanto ao capítulo, ele não ficou dos melhores, e meio clichê também. Mas foi uma idéia que eu tive há muito tempo, e ela será útil para mais uns capítulos. Espero que tenham gostado realmente dele e que tenham curtido alguns momentos.

O próximo capítulo irá se chamar A Terra das Sombras e tratará daquela parte em que os garotos irão até o Ministério tentar tirar o Sirius do véu. Estou desesperada, pois não estou conseguindo escrevê-lo, mas tenho certeza que estará pronto no dia certo. Ele ficará bom, tive algumas idéias boas que compensarão, creio eu, as piores partes.

Quero agradecer muito a todos que comentaram e votaram, estou extremamente feliz com o apoio de vocês! Vocês que também são escritores sabem o quando essa colaboração é importante. Hoje não irei responder os comentários, já disse o porquê, então fica esse agradecimento de forma generalizada.

Aviso: A partir de agora os capítulos serão postados a cada vinte dias, e não mais a cada trinta. Vocês estão comentando muito, e essa foi uma forma de retribuição que eu encontrei.

E agora, um pedido que nunca faço: comentem bastante! E não esqueçam de votar também! Próximo capítulo no dia vinte, então. Beijos e até logo!

Manu Riddle

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