A Visita de Draco Malfoy
A visita de Draco Malfoy
Voldemort sentou-se na poltrona diante da lareira apagada e contemplou as frias paredes de tijolos a sua frente. Estava preocupado. Mais preocupado do que jamais estivera. Seus planos tinham fracassado mais uma vez. Mais uma vez seus fiéis Comensais da Morte haviam deixado Harry Potter vencê-lo. Mais uma vez eles deixaram Dumbledore e sua gentinha o arrasarem. Mais uma vez eles deixaram Harry Potter viver. Isso não era suportável. Sirius Black havia morrido, mas isso não era nada, o Ministério tolo já havia compreendido que ele era inocente de tudo que havia sido acusado. Voldemort se sentia muito mal, não queria nem imaginar qual seria seu futuro se as coisas continuassem assim. Ele ainda podia matar todas as pessoas que quisesse, isso ele sempre pode, mas matar Potter e Dumbledore estava se tornando cada vez mais difícil. Os malditos Comensais da Morte pareciam estar cada vez mais distantes dele, estavam se esquivando aos poucos, pressentiam que algo de ruim iria acontecer, estavam arruinando os planos do Lorde das Trevas.
Voldemort fechou seus olhos em forma de fenda e comprimiu os braços da poltrona com as mãos, como se quisesse estraçalhá-las. A fúria dentro de si alastrava-se e estendia-se por todo seu corpo, cada partícula dele estava odiando seus Comensais, tudo que estava acontecendo era culpa daqueles imprestáveis.
Ao lembrar-se mais uma vez daquele verão que havia perdido a profecia, que não tinha tido a chance de escutá-la e interpretá-la, sentiu-se raivoso e com ganas de matar mais pessoas. Precisava de um novo plano. Todos os Comensais da Morte que ainda raciocinavam estavam presos em Azkaban e Rabicho definitivamente não tinha nenhuma serventia nesse sentido. Bella estava extremamente abalada, também com a perda da profecia, e era incapaz de ter sequer uma idéia boa. Ele levantou-se da poltrona e caminhou rapidamente até a janela empoeirada. Ao observar a maldita paisagem que se via por ela, recordou-se dos detalhes da conversa que tivera com Draco Malfoy, o filho do Lúcio e da Narcisa, no dia anterior.
“A campainha tocara. Voldemort, sem levantar-se, olhou através da janela e identificou algumas mechas de cabelos louros e curtos que esvoaçavam à leve brisa que havia do lado de fora.
- Entre, Malfoy – murmurou ele de sua poltrona.
A porta abriu lentamente e Draco, muito pálido e com uma expressão um tanto horrorizada, entrou na sala suja e empoeirada.
- C-c-com licença, Senhor. Han... Lorde.... han... Milorde... – engasgou-se ele, fechando a porta atrás de si com um leve toque.
- Milorde, Malfoy – falou Voldemort brusca e repentinamente, fazendo Draco levantar seus olhos claros e encarar os vermelhos dele por breves instantes.
- Com licença, Milorde – repetiu Draco sentindo-se um pouco mais confiante e adiantando a mão para seu mestre, com um fraco sorriso no rosto.
Voldemort levantou-se e olhou atentamente para a mão estendida de Draco e depois para o sorriso em seu rosto que aos poucos foi se esvaindo até tornar-se uma expressão um tanto envergonhada. O Lorde das Trevas soltou uma enorme gargalhada e Draco soltou sua mão no ar. Ele não fora ali com a intenção de ser insultado, mas sim para ajudar. Queria ser útil. E agora, mais do que nunca, queria que aquilo ocupasse o menor tempo possível.
- Eu preciso falar com o senhor, Milorde –falou ele ainda corado.
- Você? – respondeu ele olhando para o garoto com nojo – O que uma pessoa como você poderia ter a tratar comigo?
Draco encarou-o com ódio.
- Muito mais do que o senhor imagina! Muito mais… – falou ele.
- Vamos, garoto – respondeu Voldemort alterando a voz. – Não fique aí parado, insolente, fazendo insinuações e fale logo a que veio.
- Posso... me sentar? - indagou ele e depois acrescentou, temeroso. - Milorde?
Mais uma gargalhada estrondosa seguiu-se a essa pergunta. Mas Draco sentou-se numa cadeira de espaldar alto, quando Voldemort fez a ele um aceno que a indicava.
- Diga, moleque – falou ele sentando-se novamente na sua confortável poltrona.
- Eu... eu não queria que ninguém ouvisse – falou Draco seguro de si. – Só... Só eu e... e o senhor.
- Quem você pensa que é para decidir algo na minha presença, Malfoy? - respondeu ele enquanto fazia uma cara pensativa. - Mas já que você quer tanto, o que me custa atender a um pedido tão simples?
Draco abaixou os olhos para o tapete a fim de não encarar novamente o rosto branquíssimo, em contraste com os olhos vermelho sangue, de seu mestre.
Voldemort deu uma olhada rápida por toda a sala.
- Fique tranqüilo. Rabicho está na cozinha se empanturrando novamente. Bella está chorando desesperadamente no seu quarto. Dois inúteis.
- É... é verdade, sim. Hm... sim. Eu ouvi, sem querer é claro, – apressou-se Draco em explicar – minha mãe e... e a Sra. Lestrange conversando, esses dias...
- É? –perguntou Voldemort parecendo um pouco mais interessado na conversa do que antes.
- É. Mas foi sem querer.
- Eu sei, já entendi.
Draco segurou um sorriso. Não conseguia ver o sarcasmo nas palavras do Lorde.
- O que você escutou, mais especificadamente, Malfoy? -perguntou-lhe Voldemort.
- Eu estava indo até a… ao meu quarto pegar umas... umas tarefas que os professores haviam mandado fazer, e… e ouvi um trecho da conversa delas...
- Não minta – interrompeu Voldemort calmamente. – Você sabia que Bella estava ali e resolveu ir até a sala de estar escutar o que ela e Narcisa estavam falando. Eu sei, Draco. Não há necessidade de mentir para mim, eu sempre, sempre vou descobrir a verdade.
- Tudo... Tudo bem. Mas...
- O que você escutou, me diga, não tenho o dia todo para ouvi-lo. – retrucou Voldemort fria e secamente.
- Eu... eu ouvi Bella mencionar que… que o Milorde estava preocupado com... com seus Comensais da Morte...
- Eu jamais estive preocupado com aqueles patifes! Eu estou preocupado comigo, isso sim! Enfim, não lhe interessa. Continue.
Draco olhou-o com espanto. Tinha sido interrompido e não estava muito acostumado com isso, pois passava a maior parte do seu tempo com Vicente Crabbe e Gregório Goyle, mas não ligou e continuou a falar como se nada tivesse acontecido, apesar de ter sido ferido, pois ao referir-se aos Comensais da Morte como patifes isso incluía seu pai.
- E... que precisava de um plano novo. Brilhante, um plano brilhante. Uma forma de interagir com Harry Potter e atingi-lo juntamente com Dumbledore.
Ele parou, esperando a reação de seu amo.
- E o que tem a ver com isso? Não venha me dizer que teve uma idéia – falou Voldemort rindo.
- É bem isso. Tive... tive uma idéia – falou Draco corando novamente. – Não sei… não sei se realmente terá alguma serventia, mas... eu achei... achei interessante.
- Também acho. Que não terá serventia, quis dizer – interrompeu Voldemort novamente com a cara fechada, provavelmente achando que aquilo era a maior perda de seu precioso tempo.
- Eu acho que... que a solução para tudo isso seria... seria um... um....
- Fale logo! - bradou Voldemort.
- Um herdeiro.
Tudo silenciou-se. Voldemort levantou-se e parou diante da mesma janela que estava agora, recordando da conversa. Ficou mais branco, parecia pálido e um sorriso estava começando a nascer em seus lábios finos. Mas parou abruptamente e voltou-se para o garoto que parecia ainda mais pálido que o mestre.
- Mas de que forma isso poderia ajudar?
- É assim - explicou Draco. - Eu estava sem nada para fazer num dia das férias e resolvi dar uma folheada nos livros que existem lá em casa, uns bem antigos. Milorde sabe muito bem que elas acabam daqui a quarenta dias. Interessei-me, a princípio, por uma Poção que... que faz nascer uma pessoa, entende. Assim, fora dos métodos convencionais.
Voldemort fez uma cara feia, ao qual Draco riu-se para si mesmo imaginando se seu mestre já havia passado pelos métodos convencionais.
- É uma poção realmente complicada, complicadíssima diria eu. –continuou Draco ao perceber que Voldemort estava mostrando real interesse na sua explicação. – Mas seria a solução. A pessoa nascida dessa poção, nasce perfeita. Já nasce sendo um animago, metamorfomago, sabendo Legilimência, Oclumência... tudo! É impressionante. Mas isso só ocorre se a poção estiver correta, é óbvio.
Voldemort sorriu.
- Sei... – murmurou.
- E... um dos ingredientes é o sangue da pessoa que será o pai e da que será a mãe. Imagine, Milorde, um herdeiro seu, tendo seu sangue, um herdeiro do famoso e brilhante Slytherin, com sua inteligência, possuindo todos os poderes conhecidos e desconhecidos do mundo da magia! Um ser humano perfeito, sem dúvida nenhuma. E tudo ao alcance do senhor, Milorde, do senhor!
Voldemort pareceu considerar a explicação que o garoto lhe dera.
- Já tinha ouvido falar sobre essa poção – comentou ele. – É extremamente antiga, não é citada em mais nenhum livro ou qualquer fonte de informação. Nunca consegui saber de seus ingredientes, nem nada. Mas, não consigo ver como isso poderia ajudar-me a matar Potter e Dumbledore. É isso que eu quero nesse instante, é disso que necessito...
- A pessoa... a pessoa nascerá, surgirá com a idade correspondente à quantidade de chifres de Unicórnio usada na poção. Se você usar dezesseis chifres de Unicórnio, a pessoa nascerá com dezesseis anos. E com dezesseis anos, o seu herdeiro pode entrar em Hogwarts, no sexto ano, no ano em que Harry Potter está! Quem sabe até entrar para a Grifinória e se tornar amigo íntimo do Potter, seguindo suas instruções.
Voldemort sorriu de orelha a orelha.
- Como, se nunca ninguém conseguiu obter os resultados devidos da poção, sabemos que ela é verídica?
- Os estudos que fizeram na época em que ela foi criada comprovam que sim. Todos os estudos. Só o que falta é que alguém consiga realizá-la, somente isso é o que falta.
- Onde está a magnífica receita dela? –perguntou o Lorde muito interessado.
- Aqui, como eu já disse, no livro antigo que encontrei lá em casa.
Draco abriu a mochila e retirou dele um livro extremamente grosso e com cara de sujo e velho, intitulado “Novo conceito em Poções”. Tirou um pedaço de papel que havia no meio dele e abriu-o na página que esse papel estava marcando. Estendeu o livro a Voldemort.
Quando o Lorde das Trevas pegou o livro, Draco não pode deixar de notar como suas mãos eram brancas e seus dedos longos e finos. Suas unhas eram compridas e de aparência suja e encardida.
Voldemort leu em voz alta.
- Poção do Surgimento.
“Seu intento é criar um ser humano perfeito. Se feita corretamente, os estudos comprovam que a pessoa surge sabendo tudo sobre magia, desde pequenos e simples feitiços até os mais complexos, que exigem mais habilidade e prática. Surge tendo todos os poderes conhecidos e desconhecidos da sociedade mágica de hoje em dia. Sua fórmula é fantástica e seu resultado mais ainda! Segue-se abaixo a lista do ingredientes e o modo de preparo.
1. Dez gotas de sangue do homem que será o pai do novo ser;
2. Dez gotas de sangue da mulher que será a mãe do novo ser;
3. Maior quantidade possível de penas de Fênix e cordas de coração de Dragão;
4. Dez gotas de saliva de dementador;
5. Meio litro de sangue de Unicórnio;
6. Setenta e oito pêlos de cauda de Centauros negros;
7. Hemeróbios;
8. Três bezoars;
9. Duzentas gramas de pele de Basilisco picada;
10. Quantidade de chifres de Unicórnio correspondente a idade que você quer que a pessoa surja. (Exemplo: Se eu quiser que a pessoa surja com vinte anos, terei de acrescentar a poção vinte chifres de Unicórnio);
11. Sete fios de cabelo de Veela;
12. Quatorze unhas de Grindylows;
13. Um fígado de Elfo doméstico e fios de barba de Duende;
14. Dezoito...”
- Ah! Esta lista é enorme! –falou Voldemort virando mais duas páginas do livro, rapidamente – E abrange sete páginas! Que absurdo! Não vou mais ler isso...
- E então, Milorde, o que achou da minha idéia? – indagou Draco ao perceber que seu amo não estava mais afim de continuar lendo sobre a poção.
- Boa – Draco sorriu. – Mas nada confiável - Draco fechou a cara novamente. – Não sei... estou em dúvida.
- Se o senhor quiser, Milorde, posso emprestá-lo meu livro. Quando tiver uma resposta, é só dizer.
- Ficar com o livro? – Voldemort baixou os olhos para o exemplar em suas mãos. - É... vou ficar com ele e... e pensar.
Draco deu um pequeno sorriso que indicava que estava extremamente feliz consigo mesmo. Ele despediu-se de Voldemort, com a promessa de receber uma coruja dele no máximo em sete dias.”
Voldemort respirou profundamente e dirigiu-se até a lareira apagada. Sobre ela estava o livro de Draco, aberto na página correspondente a Poção do Surgimento. Voldemort observou-o atentamente. Achava que quanto mais pensasse, mas seguro ficaria de uma decisão. Mas aconteceu o contrário, quanto mais pensava, mais em dúvida ficava. Ele não queria perder um segundo de tempo com algo que tinha grandes probabilidades de não funcionar.
- Milorde... – falou uma mulher com longos cabelos escuros encaracolados.
Voldemort ergueu os olhos para ela e afastou o livro de si e de seus pensamentos para dar-lhe atenção.
- Que foi, Bella? -perguntou-lhe.
- Eu... eu gostaria de saber se o Senhor já pensou numa solução para seu problema –falou ela, com uma expressão triste. – Como já lhe disse, Narcisa e eu não conseguimos pensar em nada que pudesse originar bons resultados.
- Tenho uma idéia, Bella.
- Tem? – o rosto da mulher irradiou-se e repentinamente deixou de parecer o de um cadáver.
- É – respondeu o Lorde, muito mal-humorado.
- Mas que ótima notícia, Milorde! Conte-me, vamos...
- Não sei se devo lhe contar, Belatriz. Não sei se irei fazer isso, estou em dúvida... –respondeu Voldemort escondendo o livro de Malfoy com o corpo.
- Sei que minha opinião poderia não ser de grande utilidade, mas ficarei extremamente feliz em dá-la.
Voldemort abriu a boca para gritar alguma coisa em resposta, mas nesse momento o barulho de algo se partindo ecoou na cozinha.
- Rabicho! – berrou o Lorde que sentia que não iria mais suportar aquele servo idiota e tudo que ele fazia.
Bella fez uma cara horrorizada. Alguns segundos depois um homenzinho, muito gordo e baixo colocou a cabeça para dentro da sala.
- D-diga, Milorde – tremeu ele, assustado.
- O que foi que você fez dessa vez, seu palerma? – gritou Voldemort.
- Eu... eu... s-só quebrei um prato, só isso...
- Só quebrei um prato? – bradou Voldemort, extremamente nervoso. – Você só quebrou mais um prato! O que estava fazendo? Comendo novamente, sem dúvida! Que mais você sabe fazer, não é? Imprestável, suma de minha frente!
- M-mas Milorde, eu...
- Cale a boca! Rabicho – falou ele apontando o enorme dedo para seu desastrado servo. – Você sabe a situação em que me encontro. Que nós nos encontramos, ou será que seu cérebro ainda não assimilou isso?
- S-sei, Milorde, mas...
- Então! Ainda vem me perturbar com suas idiotices! Eu quero você longe de mim e de meus assuntos, imprestável!
Ele bateu com força na mesa que estava no meio da sala.
- Por que não manda Rabicho ir fazer algo, Milorde, para ele poder mostrar que sabe fazer algo que preste? – sugeriu Belatriz, do seu canto, piscando um olho para o mestre.
- Boa idéia, Bella... - balbuciou Rabicho a um canto da sala, encolhido.
Voldemort olhou de um para o outro. Olhou para o livro em cima da lareira e seu cérebro iluminou-se com a melhor das idéias para livrar-se de Pedro Pettigrew de vez.
Ele pegou sua varinha e apontou para o livro, murmurou um feitiço e outras folhas, iguais a que se referiam a Poção do Surgimento, apareceram.
- Pegue essas folhas e as leia – falou Voldemort, altivo.
Rabicho, tomando cuidado para manter-se o mais longe possível de seu amo, pegou as folhas e leu-as, demorando um século ao fazê-lo.
- J-já l-li, Milorde. – falou ele, parecendo temeroso.
-Viu os ingredientes dessa poção? –perguntou Voldemort, como se fosse a pessoa mais calma e compreensiva desse mundo.
-Vi – falou Rabicho, ficando um pouco mais calmo.
- Então, sabe o que eu quero? – indagou Voldemort ainda mais calmo. Depois de ver que o servo lhe fazia um sinal negativo com a cabeça, continuou - Eu quero que vá atrás deles, Rabicho. Eu quero que os traga para mim, do jeitinho que se pede aí. Menos o sangue das pessoas que serão o pai e a mãe do novo ser. Ah, e me traga dezesseis chifres de Unicórnio, está bem?
Rabicho olhou novamente para o papel. Parecia não ter assimilado totalmente tudo o que lera nas folhas. Enquanto as relia ficava cada vez com uma expressão mais assustada. Terminou de ler e olhou para o Lorde, aborrecido.
- Mas, Milorde.Como e onde eu irei arranjar todas essas coisas? - perguntou ele.
- Corra atrás, Rabicho. Não me disse um dia que era o mais prestativo de todos os meus servos? Então, pense em tudo em o que eu já fiz para você, Rabicho – falou Voldemort sarcasticamente, coisa que o servo não percebeu – Custa buscar esses poucos ingredientes para seu mestre, para acabar com Harry Potter de uma vez? Não custa nada, não é?
Rabicho parecia feliz com os elogios do seu amo, mas mesmo assim estava completamente desconfiado e assustado.
- Milorde.
- Sim?
- Onde eu vou arranjar dez gotas de saliva de dementador? Ou melhor, como eu vou arranjar dez gotas de saliva de dementador sem que eu fique sem minha alma, Milorde? Explique-me isso, por favor – falou ele, tremendo de medo cada vez mais.
- Não sei, Rabicho. Não faço idéia. - falou Voldemort perdendo a calma novamente, não esperava que Rabicho se tocasse da coisa em tão pouco tempo. – Faça do jeito que quiser, mas faça rápido.
Bella, que até agora ficara quieta no seu canto, começara a dar risadinhas desdenhosas quando ouviu que um dos ingredientes da poção que Rabicho teria de buscar era saliva de dementador. Se o restante dos ingredientes fossem tão difíceis de se arranjar como esse... Ela não queria nem pensar. Mas perder Rabicho já era um passo a frente, uma vantagem. Ele mais atrapalhava do que ajudava.
- M-milorde, eu não sei se vou conseguir pegar tudo isso sozinho – falou Rabicho de repente, provavelmente esperando a compaixão de seu amo.
Bella não conseguiu conter uma gargalhada. A expressão de pavor que se encontrava no rosto de Rabicho era de dar pena nas pessoas que não sabiam da sua história de vida. Mas os que a conheciam bem sabiam que aquilo era o que ele mais merecia. Ter medo, muito medo e preocupação. Mas ele realmente só iria ficar preocupado se algum dia falassem para ele que tinham se esgotado os alimentos do mundo.
Quando Bella finalmente conseguiu parar de rir, Rabicho continuou a falar, sempre tremendo.
- Por que não deixa Belatriz me acompanhar? – falou ele, seguro. – Ela seria muito útil.
- Ora, seu! Cale essa boca seu imprestável! – bradou Bella, enquanto fazia gestos obscenos para Rabicho.
- Não se sente capaz, Bella? – perguntou novamente Rabicho, agora parecendo ameaçador.
- Sou muito mais capaz do que você, seu rato imundo! Nojento! Repugnante! – gritava Bella, enquanto Voldemort observava a cena, desapontado.
- Parem, intragáveis! Parem! –ordenou Voldemort.
Não fora ouvido, Bella e Rabicho ainda continuavam a se xingar, cada vez com mais raiva e mais nervosos. Voldemort não agüentava mais, toda a preocupação que ele estava passando e como se não bastasse, dois dos poucos servos livres que lhe restaram estavam quase se matando, pois logo começaram a lançar feitiços um no outro, como acompanhamento de primeira para as ofensas.
- Fuja desse se puder, seu rato nojento! - gritava Bella, enquanto lançava feitiços e mais feitiços para cima de Rabicho. Esse só escapava por que a cada vez que era desarmado por Bella, ao correr atrás de sua varinha, tropeçava. – Merlim, como é idiota!
- Encarcerous! – Voldemort lançara o feitiço. Cordas saíram de sua varinha e prenderam Bella e Rabicho, um em cada extremo da sala. Depois, com o feitiço silenciador, calou a boca dos dois. – Escutem aqui. Rabicho, você é quem vai atrás dos ingredientes da poção, e não Bella. Eu preciso dela aqui, se é que você me entende.
Bella soltou uma gargalhada silenciosa e Rabicho fechou a cara.
- Você Bella, - continuou Voldemort -se vai ficar aqui e não quiser sair com o Rabicho, se comporte. Eu não irei mais tolerar as criancices de vocês.
Falando isso lançou mais um feitiço, e sem dizer nenhuma palavra observou Rabicho pegar sua varinha e sua capa e sair de casa em busca dos ingredientes da poção, ou da sua morte, pelo menos era isso que Voldemort estava pensando quando deu a ele essa tarefa. Viu Bella sair silenciosamente da sala e voltar para o seu quarto, aterrorizada.
Furioso, ele ficou na sua poltrona mais uma vez, pensando.
Uma semana já havia se passado. Dois dias após a partida de Rabicho Voldemort resolvera responder a Draco, dizendo que não iria utilizar a Poção do Surgimento, tudo estava muito confuso, aquela história parecia só isso, uma história. A coisa era perfeita demais, a pessoa surgia perfeita demais, sabendo tudo. Isso é impossível. Se Voldemort, que se considerava o maior e melhor bruxo do mundo, levara tanto tempo para se tornar um ser quase perfeito em Magia, como uma simples poção conseguiria tudo isso em tão pouco tempo? Sem contar que a pessoa teria de nascer antes.
Durante essa semana, pegou-se muitas vezes pensando em vários planos e o modo de executá-los quando seu fiel herdeiro estivesse em Hogwarts. Eram planos ótimos, que tinham grande probabilidade de dar certo e iriam dar certo se seu filho fosse tão inteligente e esperto como ele. Bolou cada cena com muito cuidado e viu-se sorrindo feliz, como poucas vezes estivera de verdade, ao imaginar um belo homem todo vestido de preto, igual a ele. Um homem tão parecido com ele, como se fosse ele mesmo. E imaginava cenas onde via seu filho matando Potter ou Dumbledore e soltava gargalhadas de extrema felicidade. Estava apaixonado pela idéia de ter um filho, queria que ele nascesse, queria vê-lo brilhar, crescer, subir na vida, ser tão poderoso quanto ele! Perdia-se nesses devaneios durante horas a fio, nas quais nada mudava seu pensamento que não fosse seu filho. Realmente, Voldemort estava irreconhecível.
Mas os dias foram passando e o Lorde aos poucos voltando à realidade. Começou a perceber que aquele plano não era brilhante, que poderia haver várias falhas. Aliás, percebeu que nem mesmo a poção daria certo. Nem que tentasse faze-la.
Então, escreveu a Draco, falando apenas que não iria utilizar a Poção, sem mais explicações. Ele poderia muito bem ter aparatado até a casa dos Malfoy, mas realmente não estava com vontade. Queria apenas dizer que não ia usar a poção e apagar isso da sua mente. A “Poção do Surgimento” só ficaria na sua cabeça como uma magnífica lembrança da sua maravilhosa idéia para mandar Rabicho para o inferno.
Uma coruja voava em sua direção, ao longe. Estavam mais ou menos na metade do dia vinte e sete de julho. Voldemort recordava-se desse maldito dia, à noite, há quinze anos atrás. O dia em que perdera totalmente seus poderes e tornara-se um ser quase sem vida. Mas lembrou-se também que fora vitorioso. Teve o prazer de renascer, de matar as esperanças que alguns idiotas tinham de que ele realmente havia morrido ou sumido para sempre. Teve o prazer de invadir o Ministério e liquidar alguns de seus componentes, o tornando mais frágil. E ainda venceria Dumbledore e Potter. Só o que faltava era um bom plano. Quando tivesse esse bom plano em mãos, tudo se resolveria. Ele voltaria a ser o mais temido de todos os bruxos.
O problema era o bom plano. Isso cada vez o incomodava mais, era só isso que passava em sua cabeça, mas ele não tinha idéias, não conseguia ter idéias. As idéias, às vezes, tinha. Só que não havia ninguém para executá-las.
- Milorde, já terminei de ler o Profeta – disse Bella entrando na sala com os olhos inchados.
Voldemort não falou nada, mas fez um sinal para que ela prosseguisse e continuasse a falar.
- Quer dar uma olhada? – perguntou ela.
- Não – respondeu Voldemort seco.
Os dois ficaram silenciosos. Depois de algum tempo, Voldemort continuou.
- Alguma coisa que preste nesse jornalzinho de quinta categoria? – perguntou ele, como se sublinhasse a palavra quinta.
_Não. Nada a nosso favor, Milorde – ela fungou e jogou o jornal em cima do sofá. - Só umas coisas idiotas, prevenções que o Ministério está tomando para prevenir e cuidar do mundo bruxo de nossas ações, do que nós podemos estar planejando, etc. Só essas baboseiras.
- Era de se esperar. Ele sequer noticiou o meu retorno quando isso aconteceu – respondeu ele. – Mas isso foi bom. Não deixou a sociedade bruxa em alerta. Ele até que colaborou comigo– falou Voldemort extremamente pensativo.
- Pois é. – respondeu Bella. – Mas mesmo assim, Milorde. Temos que tomar cuidado. Os bruxos comuns não são totalmente idiotas. Eles conseguem perceber algo de vez em quando.
Voldemort ergueu lentamente os olhos para ela.
- Você fala isso com tanta clareza. – disse ele. – Claro, é óbvio que fala assim porque já pertenceu a essa classe um dia.
- Fico muito contente de não pertencer mais, Milorde. Tudo graças a você – respondeu ela. - Graças a você não pertenço mais àquela raça de traidores do próprio sangue e mestiços imundos. Sou muito mais feliz agora.
- Certamente está grata ao seu amo? – perguntou Voldemort desdenhoso.
- Muito grata, Milorde. Muito grata. – respondeu Bella, certificando-se de que convencera seu amo de total fidelidade e gratidão. – Devo tudo à você, meu amo. Não sei sequer onde estaria agora se não fosse sua generosidade. Não faço a mínima idéia. Serei grata eternamente.
- Tudo bem Bella, eu já entendi. E não preciso de compaixão! É, compaixão sim!
Bella fez uma cara de espanto.
- Sei muito bem que você está com compaixão de mim, eu sei – falou Voldemort. – Não se faça de desentendida, Bella. Eu sei que você não é tão idiota como o Rabicho e está entendendo a situação em que nós nos encontramos.
- Não é por isso que eu vou sentir compaixão por você, Milorde. Você é o maior bruxo do mundo, na minha opinião.
- Não minta pra mim, Bella, não minta – Voldemort ameaçou-a com a varinha.
- Não estou mentindo M-milorde! – Bella já estava ficando preocupada e tinha a mão dentro da capa.
_ Eu sei que você estava. Você sabe muito bem porque eu despachei o Rabicho – berrou Voldemort. – Sabe, sim! E além de não colaborar vem dizer que sente pena de mim! Estupore!
Não deu tempo sequer de Bella respirar. Voldemort e ela estavam muito perto um do outro e o feitiço atingiu o peito de Bella em milésimos de segundo.
Ela deslizou lentamente pela parede e caiu no chão com um baque. Seu rosto ficou praticamente todo encoberto pelos seus longos cabelos negros.
Voldemort aproximou-se de seu corpo e a observou bem, como se nunca tivesse feito isso. Seus olhos agora estavam semicerrados e levemente molhados. Lembrou-se que Rabicho, por não ter cérebro, jamais iria sentir pena dele. Um sentimento tão desnecessário e repugnante.
Mas era isso que estava acontecendo.
O Lorde das Trevas levantou-se lentamente e já ia pondo a varinha dentro da capa novamente quando a porta da sala que dava para a rua se abriu de chofre. Esse movimento tão brusco fez com que Voldemort erguesse sua varinha novamente.
Mas não era ninguém importante ou perigoso, como pensava Voldemort a princípio. Era Rabicho. Um Rabicho extremamente sujo, com vestes rasgadas em vários graus. Vinha cambaleando sobre o peso de diversas sacolas.
- O que é isso, Rabicho? – perguntou Voldemort com os olhos arregalados de surpresa.
- Consegui, Milorde - falou Rabicho, parecendo acabado, mas com um sorriso enorme no rosto.
- Oras, conseguiu o que Rabicho? Explique-se! – falou o Lorde.
- Os ingredientes da poção, meu amo – disse ele, feliz – estão todos aqui.
Voldemort ficou pasmo. Isso era bom, mas definitivamente não estava nos seus planos.
N/A.: Oi! E então, o que acharam do primeiro capítulo? É minha primeira fic e eu adoraria receber a opinião de vocês sobre como ela está ficando. Aceito tudo, desde elogios às mais claras críticas. Mas, por favor, faça críticas construtivas. Reclamar por reclamar é fácil. Tenho uma Beta Reader, Maluada Black, mas mesmo assim se acharem algum erro na fic gostaria de ser comunicada imediatamente. Tanto em ortografia quando no enredo e em relação à série verdadeira de Harry Potter.
Desde já agradeço a colaboração de todos. Se você chegou até aqui, comente. Vai me deixar muito feliz saber de sua opinião! Obrigada e até logo!
Manu Riddle
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