Capítulo IV
Capítulo Quatro
And now my bitter hands shake beneath the clouds,
(E agora minhas mãos cortadas se impacientam embaixo das nuvens)
Of what was everything
(O que era tudo?)
- Não vai comer nada Sr. Weasley? - perguntava Set a Rony.
- Não, estou sem fome. Aliás, como posso sentir fome se já morri? - completou, olhando firmemente para o homem que se enchia de macarrão. - Me chame de Rony, okay?
Rony e Set estavam em um lugar cheio de gente que lembrava muito a restaurantes trouxas, a única diferença é que não haviam garçons: era só pedir que a comida se conjurava na mesa.
- Aqui no Limbo nós sentimos fome, sede, dor, tristeza, cócegas... Sei lá, tudo. A única diferença é que você não morre dessas coisas porque, afinal, você já está morto, né? - disse Set enquanto limpava a boca, suja de molho, em um guardanapo.
- Eu ainda estou meio confuso com tudo isto. O que eu queria era ver minha esposa, foi pra isso que eu morri - disse tristonho.
- O que acontece, Rony, é que você precisa passar pelo julgamento e, para isso, você precisa da minha ajuda.
- Como funciona esse tal julgamento?
- Existem os Pescadores de Ilusões, como eu, que mostram o quanto a pessoa foi boa em vida, e tem também os Aparadores de Utopia, que tentam provar seu lado ruim.
- E quem julga isso? - perguntou, curioso.
- Aqui todos somos justos. A partir dos fatos todos saberemos qual será a sentença - Set já acabava de comer e continuou. - Depois disso será julgado se você irá para a Terra da Luz ou para o País das Trevas.
Rony já imaginara o que seriam aqueles lugares, mas Set explicou, mesmo não sendo da vontade do outro.
- Na Terra da Luz tudo é paz. Cada um tem sua tarefa, mas tudo é harmonioso. Já sobre o País das Trevas eu não posso te dizer, pois nunca estive lá. Só sei que deve ser muito ruim - Set disse esta última frase em um tom dramático.
- O que você quis dizer com "cada um tem sua tarefa"?
- Quem passa pelo julgamento e vai para a Terra da Luz recebe uma tarefa de acordo com sua personalidade e suas obras em vida - Set percebeu o olhar perdido de Rony e completou. - Há diversos cargos. Pescadores de Ilusões e os Aparadores de Utopia são cargos de quem já foi para a Terra da Luz. Existem pessoas que se tornam Guardiões de Sonhos, que são os chamados anjos da guarda, pois só cuidam dos vivos. E existem também aqueles que viram Estrelas, mas estes são mais raros, pois é preciso ter feito um grande marco em vida para se tornar uma.
- E quando será o meu julgamento? - disse Rony após concluir que não tinha outra alternativa.
- Daqui a duas quimeras, exatamente!
- Duas o quê? - Rony acabava de se confundir de novo.
- Quimeras. Uma quimera equivale a 1080 horas na Terra - e concluiu. - Isso quer dizer que 24 quimeras, que equivale a um dia, é o mesmo que três anos de vida.
- Como? Há quantas horas estou aqui? - perguntou Rony, já imaginando a resposta.
- Quinze quimeras... Que dá... ver... Eu não era muito bom em matemática quando vivo - disse enquanto rabiscava um papel. - Dá exatamente 617 dias.
- Tudo isso? - e de súbito se lembrou. - Então há quanto tempo minha esposa está aqui?
- Qual o nome dela e como morreu? - disse Set pegando uma pasta que havia deixado em uma cadeira ao seu lado.
- Hermione Granger Weasley - Rony completou com uma melancólica voz. - Ela morreu no parto do nosso filho.
Set passava o dedo de cima a baixo no papel que estava em suas mãos até que parou em uma certa linha.
- Ah, está aqui: Weasley, Hermione Granger. Faz algumas quimeras que ela está aqui - e disse fechando a pasta onde estava olhando antes - mas ela morreu de morte natural então ela está na Zona A do Limbo.
- O que significa isso?
- Nós estamos na Zona B, que é onde os bruxos e bruxas que morreram assassinados ficam, e tem ainda a Zona A, que é para quem morre de causa natural.
Uma frustração tomou conta de Rony. Pensara que reveria Mione assim que morresse e até agora só havia encontrado empecilhos em relação a isso. De súbito se lembrou de algo que, no momento, o intrigou extremamente.
- Você acha que tenho chances de ir para a Terra da Luz, Set? - perguntou, receoso.
- Não vou mentir para você Rony, casos de suicídio são muito complicados. Julgamos casos assim como assassinato, pois a vítima é o culpado, entendeu? - e completou ao ver a feição preocupada de Rony. - Mas você tem o melhor Pescador de Ilusões que algum Chia pode sonhar em ter.
- Isso me deixa tão mais confortável - disse com sarcasmo.
Rony estava começando a se preocupar de verdade. Sabia que Hermione iria para a Terra da Luz, pois ela merecia. Mas e ele? E se ele não fosse para o mesmo lugar que Mione e fosse obrigado a viver o resto da eternidade sem o seu amor? Não haveria pior castigo!
:.: As férias de Natal haviam chegado e todos, incluindo Hermione e Harry, foram passá-las n'A Toca. A Sra. Weasley era só felicidade quando foi buscar os garotos na estação de King's Cross, era difícil passar o Natal com seus queridos "monstrinhos".
- Aqui crianças! - acenava ela no meio da multidão de familiares. - Aqui! Venham!
Todos foram de encontro à mulher, que os recebeu com um enorme e sufocante abraço. Eles ainda passaram um bom tempo na estação contando as novidades e ouvindo o quanto haviam crescido ou pareciam cansados. Resolveram, então, finalmente ir até A Toca.
A casa estava exatamente como cada um se lembrava. Era um dos lugares preferidos de Mione que, de vez em quando, passava as férias ali. Harry também estava muito feliz por ter sido chamado para passar o Natal n'A Toca. Embora soubesse que os Weasley gostavam muito dele sempre se sentia lisonjeado com os convites.
Ao chegarem foram recebidos pelos gêmeos, Fred e Jorge, que agora trabalhavam numa loja em Hogsmeade. Não perderam o sonho de abrir sua loja para vender as "gemialidades", mas no momento o que faltava era verba. O Sr. Weasley e Percy também receberam alegremente os estudantes e, logo depois, Gui e Carlinhos, que também tiraram férias no Natal.
Todos estavam muitos felizes e cheios de novidades para contar. De vez em quando inventavam de jogar quadribol. Todos, menos Percy e a Sra. Weasley, jogavam. Hermione, Gina e o Sr. Weasley sempre atrapalhavam mais do que ajudavam, mas todos se divertiam bastante.
Na véspera de Natal Hermione e Gina estavam ajudando a Sra. Weasley a preparar as últimas coisas para a ceia. A pequena cozinha era cenário de muitas risadas, pois as três riam sem parar das confusões e embaraços que ocorriam em Hogwarts. Em um certo momento, Gina foi até o quarto para pegar umas fotos "hilárias". A Sra. Weasley aproveitou este instante para conversar com Hermione a sós.
- Posso lhe fazer uma pergunta, querida? - Molly perguntou docemente.
- Claro! - respondeu, mesmo já imaginado que o assunto da pergunta seria Rony.
- Você e o meu filho estão mesmo namorando?
- É, bem... Estamos - respondeu, encabulada. - Mas como a senhora sabe?
- Gina me contou. Rony é muito fechado nesses assuntos então Gina é minha informante.
- Eu imaginei - a garota disse com os olhos ao chão.
- Quero que saiba, querida, que fico muito feliz de saber que meu filho está namorando alguém como você. No fundo eu sempre soube que vocês acabariam percebendo que se gostam.
- Fico feliz da senhora não se importar do Rony namorar alguém como eu... Sabe, Filha de Trouxas. - disse com uma voz tristonha.
- Imagina! Você, pelo que todos dizem, é uma grande bruxa. Tenho certeza que quando se formar será muito mais poderosa que muitas sangue-puro por aí - e completou, afagando os cabelos de Hermione. - Rony gosta demais de você e eu também. Isso já basta para mim, querida.
Hermione sorriu e abraçou fortemente sua adorável sogra. :.:
O Limbo mais parecia uma pequena e séria cidade. Havia casas e prédios dispostos um do lado do outro e nas ruas transitavam pessoas que, quase sempre, se vestiam de branco. Rony acompanhara Set até um sobrado antigo. Não sabia o porquê de ele estar ali, mas aprendera que não adiantava perguntar. Ao subirem as escadas, Set retirou do bolso uma pequena chave. Com ela abriu a porta que marcava o número 8.
- Aqui é o lugar onde você vai ficar enquanto estiver correndo seu julgamento - disse Set.
O quarto era simples, mas aconchegante. Havia uma cama de solteiro ao centro, uma grande janela com cortinas claras, um grande guarda-roupa de mogno e um criado mudo com um pequeno abajur nele.
- Você ainda tem tempo até a quimera do julgamento - Rony fez uma certa expressão confusa ao ouvir o que Set disse, pois ainda não se acostumara com a idéia de que quimera era hora. - Até lá você pode pegar uma das roupas neste guarda-roupa e se trocar. Enquanto isso, eu resolverei uns outros assuntos.
- Você vem me buscar para o julgamento? - Venho. Daqui a pouco eu estou de volta, okay? - perguntou Set com um angelical sorriso.
- Claro! - resolveu, então, perguntar. - Set, como foi que meus parentes e meu amigo Harry encararam minha morte? - precisava perguntar, pois estava curioso e preocupado demais com o que estariam pensando.
- Por que você mesmo não vê o que está acontecendo? - disse com um sorriso maroto.
- Como faço isso?
- Concentre-se no que quer. Aqui podemos ver quem está vivo se quisermos - e disse, saindo. - Te pego daqui a pouco Rony.
"Concentre-se no que quer", pensou Rony.
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