Prólogo - Registros



FERIDAS ABERTAS





Harry girou com cuidado o pequeno caderno. Ele tinha a capa negra, meio gasta e fazia um pequeno barulho quando aberto, deixando escapar algumas partículas de terra e dando a incrível sensação de que a qualquer momento iria se desintegrar.

Esta era a única recordação realmente preciosa que chegara às suas mãos. de tudo o que restara na vida de Sirius, este talvez fosse seu bem mais precioso, e durante longos anos ele tivera receio de abrir e ler as páginas amareladas, rabiscadas com uma tinta ordinária e uma pena com a ponta claramente quebrada.

Mas agora, ele não tinha mais motivos para fugir daquilo. Muitas vezes se pegava pensando naquele caderno, desejando conhecer um pouco mais da alma de seu padrinho e, quem sabe, com isso resgatar os bons tempos, rir e chorar com suas lembranças dos amigos, dos Marotos.

E agora não havia escapatória.

Enfim, tinha coragem de abrir uma verdadeira caixa de Pandora naquela tarde quente, com as árvores floridas e os gritos das crianças no jardim, remanescente dos Weasleys, filhos de seus amigos, porque ele mesmo não tivera tato para constituir sua própria família. Sirius fora sua família. Remo, também, e além deles restava apenas Rony, Mione, Gina e seus pais, sem mais espaço para ninguém no seu coração cansado.

Fechando a porta do quarto e olhando pela janela uma pequena garotinha ruiva ser apanhada por Fred e girada no ar, ele decidiu sentar-se na sua confortável cama. Era o momento ideal para despertar os fantasmas do passado. A casa estava cheia de felicidade, ocupada por aqueles seres iluminados que o amavam, e se não fosse por aquelas presenças, ele não seria capaz de tocar naquela ferida que insistia em não cicatrizar.

Passando os dedos pela capa e virando a primeira folha, ele viu a data no alto da página. Não lhe dizia nada, não significava nada. Era apenas mais um dia na vida de seu padrinho, e ele franziu o cenho ao perceber que esta espécie de diário começara a ser escrito numa das fases mais tenebrosas da vida de Sirius. Aquelas eram as lembranças de um homem amargurado a espera da morte por trás das grades de Azkaban, e só de pensar naquela prisão, Harry sentiu um leve arrepio e um temor nas mãos.

Um vez haviam lhe dito que as pessoas só começavam realmente a dar importância ao que tinham depois de passar pelo inferno. E aquele fora o inferno de Sirius, e agora, diante dele, impresso naquelas folhas amareladas, todo o terror e o medo que acometeram o seu padrinho durante os longos anos de sua prisão se abriam diante dos seus olhos, como pétalas de uma rosa, que não era nem branca, nem vermelha, mas negra como os diversos dias daquela era de terror.





Betta Adhara Black

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