O que quer que seja isso... nã

O que quer que seja isso... nã



Capítulo III – O que quer que seja isso... não é comestível.(ou “Estamos ferrados e você diz isso na nossa cara.”)

- REMO! – um grito ecoou pela ala de visitas da mansão Hargreaves. O lobisomem, cabelos castanhos a la Tiago Potter, olhos semi-cerrados e caneca de água na mão, apareceu em frente a porta, vestindo uma camisa social branca e folgada o suficiente pra servir de camisola. Estava com tanto sono, mas tanto sono, que nem percebeu um brilhinho vermelho na ponta da narina de Sirius que corria, infantilmente, a seus braços.
- Que que foi, cãodosinferno?
- Regulus Black ressuscitou e veio me assombrar! TOU COM MEDO! – e fechou um dos punhos no tecido, o dedo da outra mão apontando a porta aberta.
- Almofadinhas.
- O que? – e arqueou as sobrancelhas em uma cara de ponto de interrogação canina.
- Você está com a mão na minha bunda.
Por um momento, Remus pode ver claramente a transição de todas as cores do arco-íris na cara de besta de Sirius.
- Não, sério, se você tiver tanto na seca assim, eu deixo você pegar... Só avisa, sim? – bocejou, caminhando até a porta que o cão havia lhe apontado, deixando um moreno atônito no meio do corredor, com o indicador em riste e a boca aberta.
Não se passaram nem três segundos depois que o lobisomem entrara no quarto.
– OMFGHAHAHAAHAH! TIAGO! – Sirius voltou ao seu estado normal e correu para ver o amigo contorcendo-se ajoelhado de tanto rir e um Pontas extremamente irritado, batendo o pé no chão. E não era somente um pé. Um pé calçado com lustrosos sapatos negros, com direito a cadarços bem atados, batia no chão, impaciente, seguido de calças cinza-chumbo de corte elegante, um colete preto ajustado, camisa social branca e gravata também preta e, pasmem, com o nó certo. Mas o mais estranho eram os cabelos. Não que não estivessem quadribolmente bagunçados, mas estavam cobertos por uma incontestavelmente aristocrática cartola inglesa.
- Quié! Qual o problema de vocês? Nunca viram!
O uníssono da lua e estrela foi iminente.
- NÃO! – Remus ainda ria, ajoelhado no carpete macio.
- Deuses, Tiago! Você realmente parece o Regulus! Já posso até ouvir o “Mestiço infernal! Pederasta imundo!” rotineiro da sua boca!
- Não tem graça, Remus! Além do mais não fui eu quem me vesti!
- Foi o fantasma da ópera, então? – Sirius cortou, ajudando o amigo a se levantar.
- Babaca. Aquele talzinho, encontrei quando estava indo ao banheiro, tentando atar a merda da gravata. Tanto insistiu que deixei ele brincar de barbie comigo e olha só o que aconteceu! Estou decente!
- Catástrofe da natureza, Pontas, querido. – riu-se o lobisomem.
- Melhor do que andar por aí seminu! Talvez o meu alter-ego engomadinho tivesse mesmo razão ao te chamar de pederasta!
- Acho que concordo com o Potter. – a voz inconfundível de Cain se fez ouvir, do batente da porta, junto com um risinho. – Já não está na hora de se vestir, Lupin? Antes que o nosso amigo Black tenha outra hemorragia nasal? – o loiro assentiu, vermelho como um tijolo, correndo em direção a seu quarto.
- Hey! Quando foi que você aparatou aqui? – um rosnado.
- Andar em silêncio é uma virtude que com certeza vocês não tem. De qualquer jeito, o único vestido decentemente para o café da manhã aqui é Tiago. – e deu uma olhada em um Sirius que vestia somente a calças jeans.
- Cala a boca aí, Almofadinha, que não foi você quem foi acordado pela versão despenteada do seu irmão morto! – resmungou o moreno, bufando.
Cain suspirou, balançando a cabeça.
- Eu só moro aqui... – Tiago murmurou, dando os ombros.

Depois de uma boa meia hora esperando, Cain pode ver os três descerem as escadas.
- Nós vamos tomar o café na casa de uma tia minha. Ela pode explicar melhor as coisas e tentar dar uma solução neste problema. – foi a única coisa que disse, antes de entrarem na elegante carruagem.
Foram recebidos cerimoniosamente na sala de jantar da tia do conde, Estella Hargreaves. Era um cômodo espaçoso, de carpete neutro, móveis antigos e escuros e prataria finamente trabalhada. As cortinas pesadas estavam fechadas, sendo necessárias as lamparinas acesas. Estella era uma bela mulher de meia-idade, cabelos longos e cacheados, negros e olhos azuis afáveis. Estava esperando-os para o café junto com suas sobrinhas, Mira e Adhara Black. As meninas tinham em torno de nove anos, cabelos também negros, mas muito lisos. Os olhos de Adhara eram azuis muito escuros, enquanto os de Mira eram quase dourados. Sirius e Remus tiveram um calafrio quando viram as garotas se levantarem para cumprimentá-los.
- Estes são Sirius Black, Remo Lupin e Tiago Potter. – a voz de Estella era baixa e suave, indicando os rapazes com um gesto. – Adhara e Mira Black.
- Prazer. – quase um uníssono, os três um pouco sem graça pela intensidade que as duas olhavam para Remo e Sirius.
- Remmy, eu já não te vi em algum lugar? – os olhos azul-noite fitavam o lupino com curiosidade, enquanto ela se agarrava mais ao braço da irmã, ligeiramente mais alta.
- Ada, você e sua mania de por apelidos nas pessoas! – ralhou Mira, olhando da irmã para o rapaz. – Senhor Lupin, espero que desculpe a minha irmã... – e olhou de novo para a menorzinha.
- Senhor? – riu Sirius, fitando o loiro. – Oras, já estava na hora de alguém te chamar assim, né, Remo? Com todos estes cabelos brancos...
- Não fui eu quem fez mechas loiras no quarto ano de Hogwarts, Sirius, e muito menos quem ficou com a cabeça praticamente amarela por uma semana antes de correr pra enfermaria gritando que havia virado um Malfoy. – um sorriso de triunfo nos lábios do lupino.
- Ora seu...
- Admita, Siri, você ficou uma gracinha com aquela cabeleira e aqueles saltos! Podia até ter feito um show, como drag-queen! – adicionou Tiago.
- T-i-a-g-o P-o-t-t-e-r... – um rosnado do animago foi o suficiente para tia Estella resolver amenizar a situação.
- Calma, meninas, rapazes, vamos comer? Acho que os senhores estão com fome, não? – sorriu gentilmente a senhora. – Desculpem a demora, Cain me avisou ontem à noite, ficarei muito feliz se for de alguma ajuda!
Os três se entreolharam. Como ele fez isso!

- Como eu ia dizendo, senhores, lógico que posso ajudar um primo tão distante e que precisa com tanta urgência. – a voz de Estella se fez ouvir acima os estalidos de prata, cristal e. as vezes, coisas sendo derrubadas, feito conseguido em uma típica guerrinha entre Tiago e Adhara. -Estou consciente da situação e não poderia lamentar mais. A sala de alquimia e o estoque estão completamente a seus serviços, Senhor Black. – completou com um sorriso. Merry, que estava conversando com Mira sobre literatura mal notou um brilho estranho nos olhos da tia quando esta pousou os olhos sobre os seus.
- Obrigado, Estella. Tenho certeza de que Sirius não a incomodará em nada enquanto estiver aqui. – Cain correspondeu ao sorriso da tia.
- Bem, eu gostaria realmente de saber o que precisam, para que não fiquem procurando no... Adhara! – Estella olhou para a sobrinha cuja gola de renda do vestido estava empapada de creme.
- Foi o Tity, tia! - e apontou a colher suja de café para Tiago, surpreendido com o pote de creme na mão e um olhar pseudo-assassino para a menina.
- Não! Quero dizer, foi, mas...Veja o que ela fez! – e mostrou a camisa branca empapada de café.
Cain deu um tapa na testa, quase sincronizado com Remo.
- Está tudo bem, Senhor Potter, tudo bem! Carlotta! – e uma empregada entrou na sala, resmungando algo muito baixo. – Pode ajudar Adhara a se limpar? E emprestar algo ao Senhor Potter também?
- Tiago quando você vai ser mais maduro, hen! – inquiriu baixinho o lupino, enquanto a empregada levava a menina à porta.
- Ela é o demônio, Remo! Tem a mira melhor que o Sirius para guerra de comida!
- Todos sabemos que isto é virtualmente impossível, Pontas, agora quer se endireitar e se levantar pra trocar esta coisa! Ou eu vou ter que acertar mais um pouco de café para você perceber o olhar assassino da empregada te esperando?
E lá se foi Pontas murmurando, baixinho, a marcha fúnebre.
- Engula isso, Merry! – Sirius abaixou a colher assim que todos os olhares adultos o fuzilaram. – Mas sim, - engoliu em seco – Estella... Temos uma lista do que precisamos. Remmy?
- Gelo perene, ouro do tesouro de um dragão, vira-tempo, óleo de salamandra, essência de... bem, aqui está a lista completa. – e entregou um papel coberto por uma caligrafia caprichosa numerando os “ingredientes” do espaçador.
Enquanto Estella passava os olhos pela lista, Sirius, Merry e Adhara discutiam.
- Mas é claro que não!
- Sim, é de comer, acredite ou não!
- Eu não vou por isso na boca! – e com um barulho, o cão empurrou a porcelana para frente.
- Relaxa, é gostoso!
- Eu nããããão vou por uma coisa preta e fálica na boca sabendo que ela é feita de... de...
- Sangue?
- Algum problema com o black pudding, Sirius? – Estella, levantando os olhos do papel, sorriu amigavelmente.
- Não, senhora Estella, é que... – foi interrompido por uma cotovelada discreta de Remo (“Filho de satã!”) –...deve estar maravilhoso! – completou com um sorriso amarelo, vendo o prato ser empurrado de volta a seu lugar original por Merry.
- Senhor Lupin, sinto lhe informar que de todas as coisas que listou, a única que não temos nem aqui, nem na Mansão Black, é o vira-tempo.
- Mas, mas, mas... eu sei que vocês tem, foi um presente do... – e Sirius foi interrompido por um chute especialmente forte em sua canela, desferido por Remo, que sorriu automaticamente.
(“cãodosinfernos”)– Senhora Hargreaves, não tem nenhum jeito, nenhuma possibilidade de arranjarmos este vira-tempo? É essencial para a nossa... A nossa... (“máquina do espaço-tempo não autorizada pelo ministério?”) (“engenhoca?”) (“budega?”) (“Cacete, pare de sussurrar!”) a nossa sobrevivência, isso!
- Um vira-tempo? Acho difícil, Senhor Lupin, mas só se... Mira, querida, qual era o nome daquele medibruxo bonzinho, bonzinho que nos atendeu um dia e não parou de falar do Cain?
- Doutor Allens? – Mira estava cutucando o maldito black pudding há alguns minutos. A menção do nome fez Cain estreitar os olhos. Ele o conhecia de algum lugar.
(“Aliens?”) (“OUCH, Remo!”).
- Sim sim, Doutor Allens! Eu posso te dar o endereço, ele é um ótimo medibruxo e pessoa! Acho que ele tem um vira-tempo, ele coleciona um monte de artefatos bruxos... – e sorriu gentilmente. Nesta hora Tiago voltou junto com Adhara, os dois se fuzilando com o olhar. – Ah, ótimo que chegou, Senhor Potter, estamos quase acabando de tomar o café-da-manhã e pensei se não podíamos ir lá para fora, conversar e deixar as crianças jogarem algo?

- Mas então, você é bruxo, mas não sabe realizar feitiços?
- É, alguma coisa deste gênero, Remo. Prefiro não entrar em detalhes...
O lobisomem e Cain estavam andando pelos jardins da mansão, enquanto Sirius, Tiago, Mira e Adhara jogavam um tipo de quadribol simplificado e Merry conversava animadamente com Stella. Sim, deixar as crianças brincando, suspirou Remo, enquanto os adultos conversam coisas sérias. Algo o dizia que Stella tinha um discernimento muito maior do que pensava. Olhou para Tiago rolando no chão com Adhara pela goles. É, agora tinha certeza.
- Não sei como Sirius foi capaz de mencionar qualquer coisa sobre o vira-tempo que nós usamos! Aquela massa disforme de neurônios que ele chama de cérebro não se lembrou que: a) Se o vira-tempo foi dado por qualquer pessoa à família Black depois deste tempo, ele não poderia existir aqui. B) Mesmo se existisse, se nós o usarmos agora, não vai ter como a gente ter parado aqui!
- Verdade. Vocês não teriam construído aquela máquina...
- Aquele cão desgraçado iria nos prender no espaço-tempo pra sempre!
- Você parece tão inteligente, Remo, como anda com este tipo de pessoa? Ok, o Potter é até decente, mas o Black...
- Ossos do ofício... – suspirou o loiro, arqueando as sobrancelhas. – Literalmente.
- Como assim?
- Esquece. Por falar nisso, Cain, quando será a próxima lua cheia?
- Acho que daqui a uns dois dias, por que?
Remo sentiu um calafrio. Não só pela menção da lua, mas por ter a sensação de alguém estar os vigiando. Virou o rosto rápido e, como não viu nada, voltou a fitar Cain, que esta com a maior cara de ponto de interrogação.
- Nada não. Eu estava pensando, Cain, você já leu Edgar Allan Poe?

- Eu disse que achava que iríamos ganhar, não que tinha certeza!
- Francamente, Sirius, Tiago, vocês perderam para duas crianças. Duas crianças.
- A questão não é essa! Eu juro, Remo, juro que tem alguma coisa naquelas duas que, sei lì eu não ‘tava conseguindo competir com elas! – bufou o cão, enquanto eles seguiam para a sala da mansão.
(Whatever).
- Bem, rapazes... – Cain se sentou, tendo sua cartola e capa guardados por Riff. – Vocês tem que visitar o Dr. Allen o quanto antes, mas ainda tem que construir o... a...
- Espaçador. – concluiu Tiago, resmungando. Eles tinham dado um nome a coisa. Não era só uma budega qualquer. Hnf.
- Sim, o espaçador. Então, eu sugiro que Remo e Tiago fiquem para o construir enquanto Sirius vai ao escritório do doutor, o que acham?
- Ahhhh, sim, como se não bastasse ainda quer me por em perigo! – Sirius levantou, rosnando para Cain.
- Sirius!
- Remo! Ele quer me deixar sozinho nas ruas de uma cidade que eu mal conheço para, eventualmente, ser atropelado por uma carruagem desgovernada ou quem sabe um bêbado me desafiar ‘prum duelo e, pela minha honra, eu morrer dramaticamente!
-...
- Ta, espertinho, e o que você sugere! – Sirius ainda estava de pé, as mãos no quadril, rosnando ameaçadoramente para o conde e apontando o indicador para o lobisomem.
- Eu sugiro que você e Tiago saiam para ver o doutor! Vocês precisam de ar fresco ou um bom expeliarmmus na testa para pararem com esta mania de perseguição! Eu posso montar o espaçador sozinho, com a ajuda de Cain!
- O quê! Você está me trocando por um almofadinha! – rugiu Sirius.
- Não, cacete, só estou sendo racional!
- Sirius, ele tem razão. – um tímido Tiago levantou a voz. – De qualquer jeito, Aluado deve ter gravado todos os passos de construção e nós precisamos mesmo sair. Nem que seja só para ter menos tempo na companhia dele. – e apontou o dedo pra Cain, que já estava abobalhado, no canto.
- Apoiado, companheiro Pontas! Vamos logo então! – e os dois marcharam solenemente até a porta, cabeças erguidas e orgulhos mais ainda.
Quando já estavam quase saindo, Remo suspirou e se levantou, dando um pedaço de papel para Sirius.
- O que é isso, companheiro? – Sirius, com seu sotaque mais canastrão, arqueou uma sobrancelha.
- Não aceitamos presentes de traidores! – resmungou Tiago.
- É, ok. Eu só pensei que vocês iriam gostar de saber o endereço...
- ...
- ...
- Cuidado com as carruagens, elas podem comer vocês no caminho! – acenou Remo escorado na porta, rindo.


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