A LEMBRANÇA DE GODRIC
CAPÍTULO 28:
A LEMBRANÇA DE GODRIC
- Potter! Graças a Merlin!... Doutor Pye! Ele acordou!
Madame Pomfrey correu a verificar a temperatura de Harry e a examinar-lhe o curativo, enquanto o Ministro afastava-se um pouco, sendo substituído ao lado do leito pelo agora prestativo Augusto Pye.
- Senhor Potter! Folgo em vê-lo despertar...Nos deu um grande susto, e bastante trabalho também! Está em condições de falar?
Harry concordou com a cabeça, a atenção ainda presa à feição compenetrada do Ministro da Magia.
- Sente tontura? Está difícil respirar? – Continuou o medi bruxo. Limpando a garganta, o rapaz respondeu, enquanto erguia o tronco na tentativa de sentar-se.
- Tenho muita sede...
- Potter! Fique deitado! Não é aconselhável mexer-se tanto! – Madame Pomfrey forçou-o a deitar-se novamente. Depois olhou para o Ministro, causa óbvia da agitação de seu paciente. – Tenho certeza que o Senhor Ministro poderá esperara para conversar com você quando estiver melhor...
- Na realidade, planejo conversar com Harry agora mesmo, se ele pode falar... – Rufus Scrimgeour pontuou sua fala com o ato de acomodar-se na cama ao lado da de Harry, enquanto o medi bruxo e a enfermeira protestavam veementemente. Ergueu a mão para calá-los. – Essa conversa já foi protelada por muito tempo, não concorda Sr. Potter?
Harry o encarou seriamente, e decidiu poupar sua voz. Apenas assentiu.
- Permita-me então ao menos examiná-lo antes de voltar ao Saint Mungus, Ministro...
- Certo, Augusto... Faça o que tem de fazer.
O doutor virou Harry cuidadosamente de lado, e passou um estranho objeto por suas costas, em torno do local machucado, escutando atento à respiração. Pareceu satisfeito depois de algum tempo. Madame Pomfrey desaparecera de vista durante o exame, mas agora voltava com uma bandeja contendo uma jarra, do que Harry rezou para ser suco de abóbora, e uma taça. Colocou na mesa ao lado da cama, enquanto o jovem medi bruxo ajudava Harry a recostar-se de modo a poder beber.
- Este rapaz tem uma incrível capacidade de recuperação... – Pye falava mais para o ministro que para Harry. – Quando cheguei aqui, cheguei a considerar que o perderíamos. Mas ele reagiu de forma espantosamente rápida ao tratamento. Se continuar tomando as poções conforme prescrevi, deverá estar em condições de levantar-se logo, Potter... Embora aventuras envolvendo vôos rasantes sobre lascas de madeira continuarão proibidas por um longo tempo! – Piscou para Harry, que sorriu de canto, ainda silencioso. – Bom, agora devo ir! Há sempre mais e mais pacientes esperando por socorro médico por esses dias. Tenho passado por aqui freqüentemente para acompanhar seu restabelecimento, Harry. Mas não hesite em chamar-me a qualquer hora que necessite!
- Pode ir sossegado, Doutor. Eu me encarrego dos cuidados com ele! – Garantiu Madame Pomfrey. O médico apanhou uma maleta que se achava a seus pés, e cumprimentando com um entusiasmado aperto de mão ao ministro, apenas acenou para Harry e Pomfrey, retirando-se. A enfermeira inspirou o ar profundamente, e voltou-se para Scrimgeour, dizendo em tom decidido.
- Sr, Ministro, eu realmente acho que não seja hora de...
- E eu acho, Madame Pomfrey, que é hora da Senhora nos deixar a sós. Prometo não demorar mais que o necessário. E por favor, impeça que os outros entrem por hora, sim?
- Pois não, Senhor Ministro. – Aparentava resignação e obediência, mas Harry divisou um brilho quase vingativo nos olhos da eficiente enfermeira de Hogwarts, antes que ela caminhasse para a porta com passos duros.
- Muito bem, Senhor Potter... Finalmente nos encontramos! Cheguei a pensar que estava fugindo do ministério...
Harry acomodou-se melhor, fazendo careta para a dor que o movimento causou entre suas costelas. Procurou à sua volta pela varinha, que divisou acomodada sobre suas roupas em uma cadeira próxima. Depois de tomar vários goles do delicioso suco que a enfermeira lhe trouxera, limpou a garganta mais uma vez, antes de finalmente perguntar com voz rouca ao ministro, que mostrava claros sinais de impaciência.
- Meus amigos? Estão todos bem?
Scrimgeour resmungou, assentindo.
- Agora quem faz as perguntas sou eu Potter... Para poupá-lo de longas conversas, é claro!
- O que quer de mim, Senhor Ministro? Não estou em condições de participar de campanhas pró-ministério da magia, como bem pode perceber.
Scrimgeour torceu a boca desgostosamente, mas deixou passar a alfinetada.
- Ora, garoto... O que quer que tenha acontecido há três noites atrás resultou na morte do irmão de Alvo Dumbledore, bem como na de Lucius Malfoy, ambas de forma... Inusitada! E em meio a tudo isso temos um lobisomem, um ex auror, dois estudantes e o famoso Harry Potter, que saiu da história quase morto, diga-se de passagem. Achou mesmo que o ministério não viria averiguar?
Harry descartou boa parte do discurso, atendo-se à ausência de um nome.
- E quanto a Snape?
- Ah, Snape... Outra discrepância! Seus amigos dizem que estava lá e que foi morto por Pedro Pettigrew. No entanto, não há sinal de nenhum deles...
- Como assim? Eu o vi ser atingido por Rabicho!
- É o que todos me contam! Mas não há corpo algum. Não quer me dizer o que realmente aconteceu, Senhor Potter? Não acha que está na hora de relatar a verdade sobre a morte de Aberforth? E a de Lucius também?
Antes que Harry pudesse responder à insinuação velada, as portas da enfermaria abriram-se de súbito, e Minerva MacGonagall marchou imponente e assustadora pelo corredor, seguida de perto por Hagrid e Lupin. Olho Tonto vinha mais atrás, atrasado pelo uso de uma muleta no lugar da perna destruída. Parecia mais que nunca um pirata dos filmes trouxas, tendo agora um tapa olho negro escondendo a órbita vazia do olho mágico. Fechando o cortejo vinha Madame Pomfrey, sorrindo satisfeita. Harry a congratulou com o olhar pela presença de espírito que a fizera buscar MacGonagall.
- Rufus, francamente! O que acha que está fazendo? O rapaz está convalescendo homem! Convalescendo! - A diretora de Hogwarts estacou entre o indignado ministro e Harry Potter, as mãos na cintura, as narinas tremendo pela fúria, com um olhar que seria capaz de transformar um explosivim em um pequeno siri de praia. Harry preparou-se para apreciar o embate. Hagrid aproximou-se e lhe bagunçou os cabelos, perguntando em tom baixo:
- Como você está, companheiro?
Harry fez sinal de positivo para ele, sorrindo largamente pela primeira vez desde que acordara. Lupin e Moody ainda apoiavam MacGonagall, os três cercando Rufus.
- Devo lhe lembrar, Diretora, que eu sou...
- O Ministro da Magia. Todos aqui sabemos disso, Rufus. O que não sabemos é o que o faz deixar suas obrigações em Hogsmead para vir importunar um jovem que se recupera de um grave ferimento.
- Potter tem explicações a dar!
- E ele as dará! Poderá até ensinar a seus aurores como se captura comensais, se ele quiser! Mas não agora! Deixe-o recuperar-se!
- E desaparecer, como costuma fazer?
- Pelas asas de Pégaso, Rufus! Olhe para ele! Aonde acha que vai, nesse estado? – Moody manifestou-se, enquanto Lupin levantava as sobrancelhas ironicamente, concordando.
O Ministro passou as mãos pela juba amarelada, respirando fundo. Por um instante toda sua postura confiante sumiu, e ele pareceu envelhecido e cansado. Voltou-se para Harry, dizendo com tom bem mais calmo.
- Eu preciso mesmo falar com você, rapaz... Tenho que tomar providências quanto ao sepultamento de Aberforth e outras formalidades, mas, se você concordar, gostaria de lhe fazer algumas perguntas, mais tarde.
- Sem problemas... Também preciso falar com o senhor. – O Ministro assentiu com a cabeça, parecendo grato.
MacGonagall também diminuiu a ofensiva. A expressão quando falou novamente era a mesma que usava com os alunos para explicar a importância dos NOM’S e NIEM’S.
- Eu penso, e não sou a única, que seja a hora de você discernir quem são os bruxos que lhe ajudam e quem são os que lhe atrapalham, Rufus. Pense bem antes de acreditar no que funcionários e bruxos como Dolores Umbridge lhe rumorejam aos ouvidos, e comece a julgar Potter pelo que ele é e faz! E faz inclusive por você e seu ministério!
Resmungando incompreensivelmente, Rufus Scrimgeour deixou a enfermaria, acompanhado pelos olhares dos presentes. Mal ele sumira pelas portas, Harry foi cercado pela satisfação dos amigos, que expressaram em muitas perguntas a alegria em vê-lo bem. A dor nas costas incomodava, e ele teve de lutar contra a sonolência. Havia muito a ser conversado, mas antes de qualquer coisa...
- Onde estão Gina, Ron e Mione?
Os quatros sorriram, compreensivos. Foi Lupin que respondeu, levemente divertido.
- Gina está na biblioteca, que foi onde se escondeu todas as vezes que a tiramos à força do seu lado, para que fosse dormir e se alimentar. Ron e Hermione estão com Bull, que chegou ontem com Sprout, na torre da Grifinória. Estes três também deram algum trabalho para serem tirados daqui. Ron ameaçou nos azarar, e Hermione o apoiou!
Harry sorriu, imaginando a cena.
- Eu vou chamá-los! Estão loucos para falarem com você... – Lupin se afastou, cruzando no caminho com Tonks, que vinha chegando. Ela cochichou-lhe alguma coisa ao ouvido, que fez Lupin franzir as sobrancelhas, e apressar os passos.Os cabelos de Tonks estavam negros, e o rosto só desfez a carranca preocupada quando avistou que o amigo estava acordado!
- Ora, vivas! É bom ver esses belos olhos verdes abertos, garoto! – Piscou para ele enquanto perguntava. – Escapou desta? Podemos contar com você pelos próximos dias?
- Talvez um dia ou dois... Até eu me meter em outra encrenca... – Harry devolveu a brincadeira. Tonks sorriu para ele, mas rapidamente voltou-se para MacGonagall e Moody.
- Preciso falar com vocês, agora.
Os dois bruxos mais velhos trocaram olhares, e seguiram em direção à porta, seguidos de perto pela preocupadíssima Nymphadora. Harry chegou a erguer-se para exigir informações do que acontecia, quando foi firmemente empurrado de volta para os travesseiros por Madame Pomfrey.
- Nada disso, rapazinho. Você vai ficar quieto aí e tomar essas poções. Mais tarde, se estiver em condições, poderá se meter nas confusões que tanto aprecia...
- Eu não aprecio confusões...
- Elas é que não o deixam em paz. – A voz de Ron soou divertida e alta pela enfermaria. Harry observou os amigos aproximarem-se, extremamente satisfeito por vê-los bem. Ron aproximou-se primeiro, Hermione acercou-se pelo outro lado. – Como você está? – Perguntou o amigo, mais sério.
- Estou bem... acho.
- Ah, Harry! – Os lábios de Hermione tremeram, e os olhos escuros brilhavam com as lágrimas. – Aquele feitiço era para mim... Obrig...
- Não se atreva a me agradecer! Já salvou nossa pele muitas vezes, e o fará novamente.– Ron concordou, enfático.- Além do mais, se não tivesse entregue as varinhas de Lupin e Ron, nós não estaríamos aqui...
- Aqui, Sr. Potter, suas poções. – Madame Pomfrey afastou Ron para o lado, e começou a passar a Harry quatro diferentes frascos. Ele bebia as derradeiras gotas do último, quando o perfume de flores da voz que ouvira na inconsciência antecipou a chegada silenciosa de Gina Weasley. Ela caminhava quase hesitante, e estacou quando Harry olhou para ela.
- Gina!
Havia alívio e alegria na voz rouca, e foi a gota d’água para a garota. Abrindo caminho entre o irmão e a enfermeira, atirou-se para um abraço apertado em Harry Potter.
O rapaz sentiu os pulmões feridos reclamarem do peso extra sobre eles, mas qualquer dor foi rapidamente abafada pela alegria da criatura em seu peito, que se embalou, feliz. A visão de Harry foi temporariamente impedida por reluzentes cabelos vermelhos, que se espalharam por todo o lado, enquanto sua dona ocupava-se em beijá-lo. Madame Pomfrey dirigiu-se a sua sala, suspirando romanticamente, enquanto Hermione arrastava Ron para fora.
- Venha comigo, Ronald! Deixe os dois um pouco...
- Mas nós precisamos conversar!... Isso é hora para beijos?...
Hermione olhou por sobre o ombro para ele, ainda puxando-o, e sorriu discretamente.
- Tem razão! Nós precisamos conversar... E sim, isso é hora para beijos.
Ron a ultrapassou e ele mesmo guiou-os para fora da enfermaria.
Harry afastou o rosto de Gina apenas o suficiente para estudar-lhe as feições. Passou os dedos pelas sombras escuras sob os belos olhos. A garota havia emagrecido, e era visível sua fadiga.
- Gina... O que anda fazendo? Lupin disse que não dorme ou se alimenta direito...
Ela não respondeu imediatamente. Harry pode observar a sombra de dor e tristeza passar pelos olhos castanhos. Na mesma urgência contida em que ela dias antes o havia ordenado sobreviver, enunciou outra ordem.
- Trate de se cuidar melhor, Potter! Não está autorizado a nos deixar.
- Você sabe, eu escutei essa sua voz perfumada ralhando comigo enquanto estava inconsciente...
Gina acomodou-se ao lado dele, esquecida de qualquer convenção, e observou-o, a cabeça apoiada no braço dobrado.
-Não admira... Era eu falando com você, tentando acalmá-lo para que parasse de se agitar. Você gritou comigo... – Sorriu largamente diante do olhar assombrado de Harry. – Quando eu disse para que sobrevivesse, você usou um tom bem firme para afirmar “Estou tentando...”.
- E conseguiu me acalmar?
- Ah, sim... Bastou beijá-lo e dormiu como um cordeirinho...
Harry enrugou a testa, na encenação de contrariedade mais canastrona que o mundo mágico já vira.
- Estou me sentindo meio nervoso... Acho que a poção para relaxar de Madame Pomfrey não conseguirá surtir efeito...
Gina riu antes de beijá-lo novamente, mas afastou-se depressa demais para o gosto do garoto. Ela sim parecia realmente contrafeita.
- Harry, sobre o que me pediu... Tenho que confessar que ainda não encontrei nada... Eu queria ter uma boa notícia quando você acordasse, mas...
- Nós continuaremos procurando, Gina. Não se preocupe...
- Bem, isso é realmente um pedido difícil de realizar! Com você se atirando de peito na frente de feitiços mortais por aí... E a próxima vez que decidir acabar com seus pulmões, experimente fumar aqueles charutos do Moody... Doerá menos!
A gargalhada de Harry sobressaltou Madame Pomfrey, que cochilava com a cabeça apoiada sobre sua mesa. Ela ordenou silêncio aos jovens, antes de virar para o outro lado e continuar a soneca. Harry voltou aos assuntos sérios.
- Ron e Mione lhe contaram tudo?
- Sim, com a ajuda de Tonks. Você sabia que foi Lupin que deu cabo do Malfoy?
- O ministro me contou que Lucius estava morto, mas não como foi que aconteceu...
Gina resumiu a história, com a cabeça descansando sobre o ombro de Harry. Depois falou sobre o tumulto na vila em virtude das duas mortes, da chegada dos aurores e posteriormente do ministro, e finalmente dos dois dias e três noites em que Harry estivera inconsciente, e da luta para restabelecê-lo comandada por Pomfrey e Pye.
- O doutor se mostrou realmente eficiente... Até Tonks perdoou a empáfia de Augusto, depois do que ele fez por você... Harry? Harry?...
Levantou o rosto para constatar que o rapaz havia adormecido e agora ressonava tranqüilamente. Como sua mão ainda prendesse a dela com firmeza, resolveu continuar ali, sem se mexer, apenas para não acordá-lo, é claro...
Foi despertada mais tarde por Madame Pomfrey, que ordenou que fosse almoçar, e a deixasse trocar os curativos de Harry, que ainda dormia. Encaminhou-se sonolenta e sorridente para a Torre da Grifinória, aonde depois de murmurar a senha para a entediada mulher gorda, entrou em silêncio. Os dois jovens que estavam sentados juntinhos no sofá em frente à lareira, saltaram para lados opostos, sobressaltados por sua chegada.
- Hei, não se incomodem por mim... Estou apenas de passagem para os dormitórios...
Hermione ajeitou os cabelos rebeldes, muito corada.
- Estávamos só conversando...Tantas coisas estão... Acontecendo...
Ron avermelhou também, mas usou o ataque como defesa.
- É! Não éramos nós que estávamos dormindo abraçadinhos no meio de uma guerra!
- Pois se não estavam, deveriam! Torna tudo um pouco mais fácil...
Hermione perguntou, fazendo sinal para que Gina se sentasse.
- Como ele está?
- Bem melhor. Madame Pomfrey está trocando os curativos, e na vinda para cá cruzei com MacGonagall e o ministro. Estavam indo para a enfermaria... Não acho que nos deixarão entrar lá agora.
Ron se agitou.
- Não acho uma boa idéia deixarmos Harry sozinho com o ministro...
- Macgonagall está lá.
- MacGonagall não tem todas as informações sobre o que aconteceu, Gi. Eu vou para lá! Mione?
Hermione ia se levantar, quando a mão de Gina pousou em seu braço.
- Ron, preciso da ajuda de Hermione para algo, você se importa?...
Ron estranhou, mas não fez caso. Acenou para as duas e se foi ao encontro do amigo. Hermione encarou a amiga, aguardando.
- Antes de virmos para cá, Harry me pediu que procurasse por algo nos livros de Hogwarts e... Bem, ainda não obtive sucesso algum. Como a biblioteca é seu domínio, Mione, achei que nós duas juntas...
- Claro que a ajudarei, Gina. Mas, o que Harry lhe pediu exatamente?
Gina respirou fundo e começou a explicar. Ao final do relato, Hermione piscou várias vezes, assombrada. Depois, levando a amiga pela mão, disparou para fora do buraco do retrato, em direção à biblioteca.
==*==
Harry estava estranhando a ausência dos amigos. Acordara já há um bom tempo e apenas Madame Pomfrey o cercava. Macgonagall, Lupin e Moody também não haviam aparecido para explicar a agitação da manhã. Estava tentando tirar as pernas para fora da cama, no intuito de levantar-se, quando a Diretora e Rufus Scrimgeour adentraram a enfermaria, os semblantes carregados de preocupação.
- Como se sente, Potter?
- Melhor, professora.
- Ótimo! Bem, Sr. Ministro quer começar?...
Scrimgeour coçou a juba e sentou-se, olhando de forma penetrante para Harry.
- Lhe devo desculpas, rapaz. A situação agravou-se, e ao contrário de resolvê-la, tentei camuflá-la... E tentei usar você para isso. Quando assumi como Ministro, e pedi para conversar com você, Dumbledore me aconselhou a dar-lhe apoio, ao invés de explorá-lo, e eu desfiz de seu sábio conselho...
Harry apenas aguardou.
- Eu não entendo o porque, ou como... Mas sei que você éo Escolhido. Por sua própria opção, ou por meandros do destino, você tem feito um extraordinário serviço combatendo bruxos das trevas, e embora eu ficasse mais tranqüilo se trabalhasse comigo, e não a minha revelia, prometo não atrapalhá-lo mais.- Esfregou a nuca e levantou-se, dando alguns passos. Depois olhou novamente para Harry. – Eu gostaria que pudesse confiar em mim, Potter. Nós dois temos o mesmo objetivo, e juntos, talvez, o alcançássemos com um pouco mais de facilidade.
- Eu não posso confiar no ministério, enquanto pessoas intransigentes e preconceituosas como Umbridge e Fudge trabalharem lá... Eles perseguem a mim e a meus amigos, e não é de hoje. Há alguns dias mesmo, o senhor e Dolores usavam até de ameaças contra eles, para tentarem me pegar...
- Peço desculpas, mais uma vez. Sei que apesar de meu objetivo principal ser protegê-lo, isso não justifica os meios que utilizei... Fudge está controlado, ele também se arrepende por não ter lhe dado crédito desde o começo. Quanto a Dolores... Trabalhe comigo, e ela está fora.
- O ministério vai tentar controlar nossos passos? Tomar satisfações?
- Não. Só não posso deixá-lo fazer algo que coloque a vida de outrem em risco...
- E se os outros quiserem se arriscar?
Ron havia chegado, e olhava para Rufus com desconfiança.
- Se forem maiores de idade, e o fizerem com consciência, não poderei objetar.
Aproximou-se da cama de Harry e estendeu a mão.
- Temos um acordo Potter? Me deixará ajudá-lo e continuará me ajudando?
Harry pensou por um momento, e seu olhar seguiu para Minerva MacGonagall, que fez um sinal quase imperceptível de concordância. Harry apertou a mão que lhe era estendida, e o Ministro sorriu brevemente.
- Excelente!
- Costumamos agir sozinhos, ministro. Não pense em colocar aurores atrás de mim.
- Não farei isso... Mesmo porque não adiantaria, não é? Mas quando precisar de algo...
- Na verdade, há três coisas que quero lhe pedir.
- Pode dizer...
- Olho Tonto precisa de uma perna e um olho mágico novos.
- Pode ser conseguido. A segunda coisa?
- Minha presença aqui terá que permanecer discreta. A última coisa que precisamos é alguém como Rita Sketeer atrás de mim, tentando uma entrevista.
- Feito. Vou restringir essa informação a mim mesmo, e aos aurores que participam da Ordem da Fênix. O que mais?
Harry remexeu-se na cama, as dores voltando, e a cicatriz ferroando sua testa. Madame Pomfrey, alertada e obedecendo ao olhar de comando de MacGonagall, afastou-se atrás de alguma poção. Ron ajudou o amigo a trocar de posição, preocupado com sua palidez extrema.
- Os alunos... – Continuou Harry, enquanto sentia sua cicatriz latejar intensamente outra vez. -... Tirem os alunos daqui. Mande-os para casa, lá é o lugar mais seguro para eles agora.
- O que há, Potter?
- Hogwarts não é segura, professora. Não mais.
Um prolongado silêncio seguiu-se a essas palavras. Rufus foi o primeiro a mover-se, olhando para o pesado relógio de bolso.
- Tenho que voltar ao ministério... Diretora, vamos avisar aos alunos? Assim podemos providenciar logo o retorno para seus lares. Talvez uma viagem extra do expresso...
- Sim, claro... – A diretora, observando Harry que massageava a própria testa, murmurou para Ron.- Cuide para que ele permaneça razoavelmente em repouso, Weasley. E para que beba a poção analgésica que Papoula trará.
- Pode deixar.
- Diretora, o que Tonks queria hoje pela manhã?...
MacGonagall lançou a Harry um de seu olhares “você está prestes a receber uma detenção”, e respondeu secamente, antes de continuar seu caminho.
- Não se preocupe com isso. Trate de curar-se primeiro. Temos aurores, Lupin, Tonks e Hagrid, ajudando a cuidar de tudo.
Harry observou-os sair, e só depois de ter certeza que ele e Ron não poderiam ser ouvidos, foi que comentou.
- Que mudança na atitude em Scrimgeour... Como será que MacGonagall o convenceu?...
- Talvez ela seja mais implacável com ministros que o próprio Dumbledore...
- E por que está escondendo o que acontece da gente?
- Talvez ela seja mais implacável conosco do que o próprio Voldemort...
Harry sorriu, mesmo com o incômodo das pontadas em sua cabeça. Ron percebeu.
- É ele, não é? – Harry assentiu. – Eu, Mione, Gina e Tonks, ainda na noite em que você se feriu, chegamos à conclusão de que ele atacaria Hogwarts, movido pela fúria e pela oportunidade de pegá-lo debilitado, Harry.
- Eu não sei dizer exatamente quando ou como, mas ele planeja nos visitar, isso com certeza...
- Será que o meu amigo dorminhoco está disposto a me receber agora?
A retumbante voz de barítono chegou antes de seu dono, que personificou-se na figura de Bull. E não vinha sozinho. Em seu colo vinha Bichento, que os olhou de cima, cheio de atitude, e em seu ombro, Edwiges, que logo voou para o travesseiro de Harry.
- Olá garota! – Edwiges piou baixinho, feliz com o agrado que recebia de seu dono. Bull largou Bichento sobre a cama, e o gato se enrolou sobre os pés de Harry. O amigo então cumprimentou-o com um forte e sacolejante aperto de mão.
- É bom vê-lo inteiro, garoto!
- Achei que não viria falar comigo... – Disse Harry, brincalhão. – Tem estado muito ocupado? Conhecendo as estufas, talvez?
Bull corou um pouco, mas não se abalou.
- Mas eu estive aqui sim... Só que você e sua pequena ruiva dormiam tão bem, acomodados aí em sua cama, que achei melhor não acordá-los...
Ron parou de rir abruptamente.
- Como é que é???
- Muito obrigado Bull! Agora ele separa minha cabeça do pescoço e termina o serviço para o Cara de Cobra...
Os três riam quando Harry levou a mão com urgência a testa, mais uma vez, reclamando baixo. Bull aquietou-se e o estudou por um momento, para depois pedir.
- O que eu posso fazer para ajudá-lo, Harry?
Respirando fundo, na tentativa de conter o mal estar, o rapaz foi sucinto ao responder.
- Mantenha seu rifle preparado. Precisaremos dele.
==*==
Hermione despejou mais uma pilha de livros sobre a mesa, sobressaltando Gina, que estivera absorta na leitura de um antigo manual de magias curativas, manuscrito pela própria Rowena Ravenclaw.
- Encontrou algo interessante aí?
- Encontrei muitas coisas interessantes, Mione, mas nada que possamos aproveitar...
- Bom, você tem que concordar comigo... Harry pediu que você desse um tiro no escuro, e acertasse no alvo mesmo assim!
- Ele sabe disso! Entretanto, tem tanta certeza de que está por aqui... Ah, Merlin! Como eu gostaria que o encontrássemos logo! Se não acontecer, Harry não aceitará ficar naquela cama, e acabará por continuar a procura ele mesmo, restabelecido ou não.
- Cabeça dura do jeito que é, não duvido! Vamos voltar à leitura, quem sabe no próximo livro...
Hermione desapareceu por trás do grosso volume que tratava de história da magia, espirrando por causa da poeira. Gina guardou o manuscrito de Ravenclaw com cuidado em seu estojo de couro, devolvendo-o a sua estante. Depois sentou-se novamente, olhando desanimada para a pirâmide cada vez maior e mais torta que Hermione formava com os livros sobre a mesa. Cansada demais até mesmo para ler os títulos, pegou o que mais lhe chamou atenção pela cor. A capa era de um tom vermelho escuro, quase da cor de vinho, e as letras bordadas em brilhantes fios dourados: “HOGWARTS, UMA HISTÓRIA”.
Quase devolveu o livro para a pirâmide, afinal, para que ler o livro, se tinha Hermione bem a sua frente? Ela provavelmente era, se não a única, pelo menos a aluna que mais lera aquela obra em toda a história de Hogwarts... Mas a curiosidade movimentou-lhe os pensamentos, e ela decidiu dar uma olhada. Passou as páginas lentamente, observando encantada as bonitas gravuras que retratavam a época da inauguração da escola. Depois vieram as considerações sobre os quatro fundadores. O talento e o orgulho exarcebado de Slytherin, o bom coração de Helga Huffle Puffle, a sabedoria perspicaz de Ravenclaw e finalmente, a coragem desmedida de Godric Gryffindor. Não só por ser o fundador da casa a que pertencia, mas também por lembrar-lhe muito o próprio Harry com seu heroísmo nato, Gina sentia profunda simpatia por este fundador em especial. E foi isso que a fez passar os olhos pelas linhas com mais atenção.
A história era impressionante! Haviam relatos de bruxos e trouxas, contando de batalhas aonde teriam sido salvos pelo valente Godric e sua espada. Gloriosas vitórias eram esmiuçadas com detalhes, revelando o grande estrategista que ele fora. Fora isso, havia ainda inúmeros feitiços que ele criara, e transcrições de algumas de suas aulas. Ficou conhecido também pelo coração generoso, ao qual só se equiparava o da bondosa Helga, sua companheira em jornadas de auxílio a comunidades pobres próximas e distantes. Cada vez mais admirada com o bruxo, Gina continuou a leitura, até que uma frase saltou-lhe aos olhos, e a surpresa disparou seu coração. Poderia ser?... As peças daquele grande quebra cabeças começaram a se encaixar, dando-lhe a certeza de que a possibilidade era real. Retomando os movimentos do corpo, saltou para junto de Hermione, arrancando-lhe o livro que lia das mãos, e colocando o seu no lugar.
- Gina?! O que?!
Sem falar nada, indicou para a amiga o parágrafo a ser lido, e aguardou sua reação. Hermione leu rapidamente, e entendeu logo a razão da ansiedade da ruiva.
- Por Merlin... Todo esse tempo... Embaixo de nossos narizes... Mas, então... Voldemort não veio atrás da espada, veio buscar... Será possível?...- Balançou a cabeça, incrédula.- É muita loucura!
- Venha! – Comandou Gina. – Vamos ver o que Harry acha!
Encontraram Harry conversando com Ron e Bull, agora já sentado na cama.
- Aí estão vocês! Ia perguntar agora mesmo onde...
Gina interrompeu-o, colocando o livro aberto entre seus braços. E como fizera com Hermione, apontou a linha benfazeja. Surpreso com tanto ímpeto e com o olhar francamente ansioso de Mione, Harry leu.
“As maiores lembranças existentes deste honrado e poderoso bruxo estão na escola que ele ajudou a fundar. Guardadas pelas altas paredes do castelo, estão duas relíquias insubstituíveis, e às quais não se pode mensurar valor. A espada, cravejada de rubis pelo próprio Gryffindor, possuidora de grande poder mágico e destinada a servir apenas aos nobres e valentes de coração, e seu...”
- Seu chapéu... – Harry murmurou, chocado, aliviado, surpreso e indignado consigo mesmo por não ter pensado nisso antes. – Seu chapéu! – Anunciou mais alto para os amigos.- O chapéu de Godric Gryffindor! Riddle não veio até o castelo pedir o emprego de professor para roubar a espada, ele veio atrás do Chapéu Seletor!
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