LOBOS NA NOITE



CAPÍTULO 14:


LOBOS NA NOITE


Lobisomens totalmente transformados são muito resistentes a feitiços. Isso, Harry aprendera ainda no terceiro ano. Então, a melhor chance de vencer o lobisomem era dele e da espada de Gryffindor, que levava na mão direita. Olhou por sobre o ombro para os outros, dizendo:

- Cuidem dos dementadores. O lobo é meu!

O coro de “Expectro Patronum” explodiu as suas costas, e enquanto corria ao encontro da fera ainda pode vislumbrar a lontra prateada de Hermione e o enorme gato, que só poderia ser o Patrono de MacGonagall, deslizando velozes em direção aos dementadores. O lobisomem percebeu-lhes a chegada, e os momentos gastos em olhar para a praça em busca do que acontecia, lhe custaram a refém. Apesar da péssima sensação provocada pela presença dos dementadores, Harry permaneceu lúcido e capaz. Aparatou, surgindo novamente atrás da bruxa aterrorizada, empurrando-a em direção a Tonks, que viera atrás dele.

- Tire-a daqui!

Os enormes olhos amarelos e furiosos de Fenrir Greyback voltaram-se para ele, e a fera urrou, enraivecida por terem lhe tirado a presa. Com duas grandes passadas, e um movimento largo do forte braço, jogou as garras perigosamente em direção ao pescoço do rapaz. Harry abaixou-se, desviando do ataque, para um segundo depois levantar novamente, girando a espada, acertando o bicho em cheio nas costas e cortando-as de lado a lado. Harry recuou alguns passos enquanto Fenrir gania, ferido. Mas lobisomens não eram facilmente derrotados. O golpe, apesar de ter partido seu couro, arrancando sangue, não o derrubou, e ele atacou novamente. Louco de ira e dor, saltou em direção a Harry, que logo sentiu, muito próximo, a mistura de sangue e suor que era o fedor da criatura. Procurando ganhar tempo, aparatou outra vez, sem perceber que assim deixara Tonks, que voltava para ajudá-lo, frente a frente com o lobisomem.

A fera rosnou, exultante, e Tonks assistiu-o crescer em sua direção. Harry, que ressurgira a alguns metros dali, percebendo o que estava para acontecer, largou a espada, puxando a varinha de dentro das vestes, ao mesmo tempo que Tonks erguia a sua. Os feitiços atingiram a criatura simultaneamente. Ele hesitou pelo espaço de uma respiração, e continuou avançando. O coração de Harry falhou, Fenrir estava perto demais da amiga. Confusa pelo medo, e sem tempo para nada, Tonks ergueu os braços, numa última e inútil tentativa de defesa. Inacreditavelmente, Fenrir parou a alguns passos dela, e farejou o ar, rosnando. Antes que Harry ou Tonks pudessem sequer mover-se, o som de patas velozes antecedeu outro lobisomem, que saltando por sobre a bruxa, aterrizou com uma derrapada em frente a Fenrir. Harry soube, pela expressão de Tonks, que era Lupin.

Remo Lupin encarou o monstro que o transformara no que era. Os dois lobisomens se estudaram durante um tempo, andando de um lado para o outro, os olhos fixos no inimigo, os rosnados baixos, mas ferozes. Fenrir saltou, Lupin também. Logo ambos eram uma confusão de patas, garras e mordidas, sendo impossível dizer qual o ataque era mais furioso. Harry ergueu a varinha em direção aos dois, para tentar, no desespero, mais algum feitiço, mas foi impedido por Tonks, que afastara-se até ele. Apesar do choque, ela disse claramente, sem tirar os olhos cheios de medo e preocupação da luta.

- Não! Você pode acertar Remo!

Nesse momento, uma conhecida voz feminina gritou por socorro. Harry olhou na direção do grito, e mais uma vez nessa noite, a apreensão tomou conta de si. A batalha com os dementadores ia mal para seus amigos. Luna havia sido pega por três deles, não havia sinal de seu patrono, e as mãos, sem varinha, tapavam os ouvidos. Parecia estar em agonia profunda. Ron, que também a ouvira, ordenou a seu reluzente unicórnio que avançasse sobre os captores, forçando-os a deixarem a garota, protegendo-a, enquanto ele mesmo ficava sem defesa. Harry disparou naquela direção, e de outro canto da praça, Hermione veio também. Os poucos patronos, que ainda compunham a defesa, tornavam-se mais e mais translúcidos, o de Neville somente uma sombra prateada agora...Os dementadores eram muitos e os bruxos estavam sendo vencidos. Ron caiu de joelhos, fraco, rodeado por vários deles. O ódio cresceu dentro de Harry, e talvez por isso, nenhum patrono saiu de sua varinha, quando conjurou o feitiço protetor pela primeira vez, a poucos metros do amigo caído.

Um dos dementadores aproximara-se de Ron, segurando quase delicadamente seu rosto, a horrível boca preparando-se para o beijo que lhe tomaria a alma. Evocando sua lembrança mais feliz nos últimos tempos, Harry concentrou-se nela e em afastar os antigos guardas de Azkaban, salvando Ron e os outros, e também em voltar para ajudar Lupin. Tratando de colocar em segundo plano sua raiva, levantou a varinha novamente, e gritou, a plenos pulmões:

EXPECTRO PATRONUM!

De sua varinha saíram não um, mas dois patronos. Boquiaberto, Harry viu o enorme cervo avançar para o dementador que ameaçava Ron, enquanto a bela ave prateada, sua companheira, afugentava os outros que pairavam no ar. Sem tempo para admirar seu duplo patrono, ou entendê-lo, viu Hermione ajoelhar-se e abraçar Ron, sustentando-o, enquanto sua lontra prateada saltitava ao redor. No mesmo instante, Olho Tonto e Quim Shackebolt aparatavam na praça, prontos para a ação. Julgando que agora a batalha mudara de rumo, voou para onde o duelo entre lobisomens acontecia, recolhendo a espada no caminho, parando de chofre ao lado de Tonks. Ela chorava baixinho, no mesmo lugar onde Harry a deixara, a varinha erguida, mas sem utilidade. O rapaz analisou a batalha lupina que se desenrolava.

Os dois adversários estavam arfantes, ambos estavam sangrando, mas Fenrir estava levando a melhor. Derrubou Lupin de costas no chão, e suas enormes patas seguraram-no imóvel, enquanto uivava, em triunfo. O lobisomem estava tão satisfeito com a vitória eminente, que não percebeu que Harry aproximava-se, sorrateiro, às suas costas, até que sentiu a lâmina fria sendo cravada em seu torço, atravessando seus pulmões. Fenrir liberou Lupin, quando caiu para o lado, olhando surpreso para a ponta da espada que saia de seu peito. Aproveitando-se da vantagem, Lupin colocou-se sobre as patas em um salto, e sem hesitação, atirou-se em direção à garganta do outro, arrancando-lhe um bom pedaço da jugular em uma única mordida.

Ainda com a espada atravessando o corpo, e com o sangue escorrendo aos jorros, Fenrir debateu-se no chão algumas vezes, ganindo baixo. Os movimentos logo resumiram-se a espasmos, e então ele imobilizou-se. Lupin cambaleou nas patas, sofrendo também. Tonks tentou aproximar-se, mas o lobisomem rugiu, e afastou-se correndo, sumindo na escuridão. Harry aproximou-se com cuidado do lobisomem caído, querendo garantir que ele estava mesmo morto. Os traços caninos modificavam-se lentamente para feições humanas. Logo os pelos, garras e presas haviam sumido, dando lugar ao cabelo e bigode emaranhados, e às unhas sujas e amareladas de Fenrir Greyback. Quando finalmente os olhos amarelos voltaram ao tom castanho, as pupilas brilharam por um instante em direção ao rapaz, e então tornaram-se opacas. Estava morto.

Harry retirou, com um forte puxão, a espada do corpo imóvel. Limpou o sangue nas vestes do próprio Fenrir, antes de voltar-se para a praça. Não havia sinal dos dementadores e Olho Tonto e Quim aproximavam-se dele, seguidos de MacGonagall. Sprout e Flitwick cercavam Luna e Ron, que pareciam bem, mas ainda necessitavam de cuidados. Hermione e Neville assistiam de perto o atendimento aos amigos. Os aurores tentavam acalmar os aldeões, que beiravam a histeria. Moody, quando chegou próximo o suficiente, olhou longamente para Fenrir, registrando a espada e o sangue derramado pela mordida, e dele para Harry.

- A mordida no pescoço...?

- Lupin.

O chefe da Ordem sorriu.

- Bom para ele. – Diante da pergunta não formulada de Harry, ele esclareceu.- Matar quem o transformou é a única maneira de deixar de ser um lobisomem.

- E os outros que Fenrir mordeu?

- Logo descobriremos. Quim, pegue Smith e vá atrás dele, deve estar muito machucado, e não acredito que consiga voltar sozinho.

Kingsley Shackebolt assentiu, e chamando um dos aurores, partiu na direção em que Lupin havia desaparecido.

- E agora, Harry, algumas perguntas...

- Desculpe Olho Tonto, mas primeiro ele vai com os outros para a Ala Hospitalar. Mais tarde conversaremos sobre o que houve.

- Minerva,...

- Ele ainda é meu aluno, apesar de tudo, e agora irá até Madame Pomfrey.

Nem Alastor Olho Tonto Moody contesta Minerva MacGonagall, e Harry seguiu agradecido com os outros em direção ao castelo. Não queria responder perguntas agora. Essencialmente porque não tinha as respostas...Ou não ousava ter.

Madame Pomfrey forneceu a Luna e a Ron um suprimento de chocolate suficiente para atochá-los de doce por uma semana, e os fez comer tudo em meia hora. Harry, Hermione e Neville também receberam sua parte, menor contudo. Enquanto Ron e Luna eram forçados a deitarem-se um pouco pela nervosa enfermeira, os demais entraram no assunto do que acontecera em Hogsmead.

- Como foi que você conseguiu aquele Patrono?

Harry ergueu os ombros, tão admirado quanto o amigo.

- Não tenho idéia, Neville. Não fiz nada de diferente...

Hermione vestiu a expressão “li na biblioteca”, antes de dizer:

- Duplos Patronos são raros. Têm-se notícias de alguns poucos, apenas. – Harry ergueu as sobrancelhas para ela. - Quando você começou a nos ensinar o Expectro Patronum, nos tempos da Armada, fui pesquisar mais sobre o assunto.

Harry admirou-se, mais uma vez, do empenho com que a amiga buscava aprender. Hermione ficou alguns segundos quieta, e então disparou:

- Você também reconheceu o que era seu segundo patrono, Harry?

Ele assentiu, enquanto a emoção da descoberta voltava a seu peito.

- Uma Fênix.

E novamente sentiu a dor. Não tão forte, mais rápida, mas não menos preocupante. Apesar da perda de seu Horcrux e da derrota de seus lacaios em Hogsmead, Tom Riddle estava planejando algo. E sejam quais fossem seus planos, eles o deixaram muito satisfeito...





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