DE VOLTA
CAPÍTULO 12:
DE VOLTA.
- Gina? Gina, acorde!
Harry sacudiu de leve a garota, que resmungou, aconchegando-se mais a ele. Amaldiçoando o destino que a afastaria de si, ele chamou novamente:
- Gina, vocês precisam ir! Não temos muito tempo!
A urgência na voz de Harry despertou-a completamente, e Gina sentou-se, apreensiva.
- O que está acontecendo?
- Tom Riddle está a caminho. Ele e Rabicho. – Disse Harry, enquanto levantava-se e a ajudava a fazer o mesmo. – Você e Bull devem partir sem demora.
- Como sabe?
- Confie em mim, eu sei. Venha, vamos descer...
Ron, Mione e Bull encontravam-se sentados à mesa, tomando café. Ron, ao vê-los, brincou.
- Boa tarde pra vocês! Já íamos subir para acordá... – Calou-se ao ver a expressão compenetrada de Harry e o olhar assustado da irmã.
- Gina, por que não come alguma coisa, enquanto eu apresento Bull a Bicuço... – Harry sugeriu, chamando o amigo com um gesto de mão.- Ron e Mione, temos que arrumar tudo. Partiremos logo. - Os amigos não o questionaram.
Bicuço encontrava-se majestosamente deitado à beira do rio, apreciando os fracos raios de Sol. Harry o cumprimentou, alertando a Bull que observasse como o fazia. O homem aproximou-se e fez a reverência, encarando o bicho sem piscar, porém ressabiado. Bicuço demorou alguns segundos a mais do que com Harry, mas dobrou os joelhos, retribuindo quase cordialmente. Bull, sempre orientado pelos amigos, conseguiu até acariciar o animal, coçando a área entre seus olhos alaranjados. Bicuço grasnou, satisfeito.
- Acho que não terá problemas em montá-lo. Bicuço o levará até a Sede da Ordem da Fênix, que funciona na casa que Sirius me deixou. Gina irá com você e o orientará na chegada. Os que estão lá são como minha família, e o receberão muito bem. Contei, na mensagem que mandei com Edwiges, que sem você, Bellatrix nos teria pego, então desconfio que terá honras de herói...Ao menos com a Sra. Weasley, mãe de Ron. – Brincou.
- Vocês vão se cuidar, certo? – Bull não parecia querer deixá-los.
- Nós vamos ficar bem. Iremos para Hogwarts e, enquanto estivermos lá, estaremos seguros.
- E depois?
- Depois eu não sei, Bull. Mas farei o possível para continuarmos inteiros...
O grande amigo de seu pai, e agora seu também, pousou a mão em seu ombro, emocionado. Harry sorriu para ele.
- Obrigado novamente, por toda a sua ajuda.
- Me agradeça tomando cuidado, Harry. E cuidando daqueles dois ...
Quando todo o acampamento estava guardado, as mochilas feitas e o jipe de Bull cuidadosamente escondido entre folhagens, Ron e Mione vieram despedir-se do novo amigo e Harry voltou-se para Gina, que o encarava, triste.
- Voe alto, não pare se não for absolutamente necessário e mantenha-se próxima a Bicuço. Ele saberá encontrar o caminho de volta, e a protegerá se algo acontecer.
A moça consentiu, ainda encarando-o . Harry ajeitou as mechas ruivas que haviam se soltado do gorro, enquanto tentava lembrar-se da nobre razão que tinha, em algum lugar da mente, para não beijá-la. O animal em seu peito sapateou, injuriado. Os olhos castanhos brilharam, marejados, para ele.
- Para o inferno que não! – Rugiu, e então a beijou.
Depois de alguns momentos, que poderiam ter sido várias noites perfumadas de verão, Gina encostou a testa em seu peito, as mãos agarradas em suas vestes, e disse baixinho:
- Sobreviva! Faça o que tem que fazer, e sobreviva!
Então soltou-se dele e caminhou em direção ao irmão e amigos. Harry aproximou-se do hipógrifo e acariciou suas penas, pedindo:
- Leve-os em segurança para a casa de Sirius, ok? Mantenha-os protegidos... - Os olhos alaranjados piscaram, concordando.
Depois que todas as despedidas foram feitas, e que Bull, carregando seu rifle e sua mochila às costas, já havia montado em Bicuço, Harry passou a capa pelos ombros de Gina, entregando-lhe a Firebolt. Antes de subir na vassoura, e alçar vôo, ela puxou-o pelo colarinho, beijando-o mais uma vez. E então subiu, veloz, com Bicuço em seu encalço. Bull parecia estar se divertindo com a nova experiência de voar em hipógrifos.
Quando a silhueta deles tornou-se apenas uma pequena marca no céu claro, Harry desviou os olhos, voltando a atenção para os amigos. Hermione levou as mãos à cintura, olhando-o inquisidoramente.
- Agora que eles se foram, pode ir falando, Harry! O que foi que houve? Por que essa cara diferente?
- Eu entrei na mente de Riddle, outra vez. Presenciei parte de uma conversa dele com Snape, pouco antes de eu e Gina descermos.
Ron arregalou os olhos e Hermione, estranhamente, parecia satisfeita quando perguntou:
- E?...
- Seboso descobriu que estou envolvido na prisão de Bellatrix, e contou a Riddle. Mas eles não sabem sobre vocês, e ainda não descobriram que pegamos a taça, ou que sabemos o que ela é. Porém, é questão de tempo. Riddle vai sair da toca hoje a noite, para vir até aqui, verificar seu Horcrux...
- Ainda bem que não estaremos por perto. – Disse Ron.
- Depois que descobrir que sumimos com a taça, não demora até ele tomar conhecimento que o anel e o medalhão também desapareceram, e aí nos caçará sem tréguas. Temos que ser rápidos, vamos perder em breve a vantagem da surpresa...
- Vamos a Hogwarts imediatamente então. O primeiro passo ainda é destruir aquela taça escondida em suas coisas, depois nos concentraremos nos outros. – Hermione já se movimentava em direção às mochilas, quando voltou-se novamente para Harry.- Foi só isso?
- Não. Essa “visita” foi diferente... – O semblante de Harry estava carregado, o olhar extraordinariamente frio. – Tive acesso a outros departamentos da mente de Riddle, dessa vez.
Ron assobiou baixinho, estudando as feições do amigo.
- E o que você viu que o deixou assim?
- Não vi, assimilei. – Diante dos olhares ainda mais interrogativos e largamente alarmados, Harry pediu:
- Mione, tente aparatar. Para qualquer lugar que queira, só tente, e a sério.
Hermione fechou os olhos. Harry ergueu a varinha para ela, sem dizer nada.
- Não consigo! Não consigo aparatar há dois metros daqui! Como é que fez isso?
- E isso não é tudo. Eu sei fazer coisas agora que ontem a noite de maneira nenhuma era capaz. De repente, sei como conjurar o feitiço do fiel do segredo, por exemplo, ou como praticar Legilimência...
- Espere aí! Você está nos dizendo que copiou da mente de Voldemort tudo que ele sabe?
- Não Ron, só algumas coisas. Eu não sei como ou porque isso aconteceu, mas acho que assimilei, como eu disse, alguns de seus conhecimentos, algumas de suas memórias...- Nesse ponto seu olhar escureceu, turbulento. – E talvez algumas de suas habilidades em magia negra. – Os queixos dos amigos caíram simultâneamente. Harry girou o pescoço para os lados, como quem tenta livrar-se de maus pensamentos– A mente de Riddle é um lugar nada agradável. Não existe ali qualquer traço de normalidade...
- Mesmo indo tão a fundo na cabeça dele, Voldemort não o pressentiu? - Estranhou Ron.
- Se ele percebeu, não teve qualquer reação, e eu não acho que isso seja possível. Ele com certeza retribuiria, de alguma forma, minha gentil visita.
- E sobre os Horcruxes, viu alguma coisa? – A esperança reluzia no olhar da amiga, substituindo o sobressalto.
- Eu achei ter encontrado algo, no conjunto de memórias torpes de Riddle, que indicasse o local onde estaria o Horcrux que falta. Mas não pode ser... Nem ele seria tão ousado, ou se exporia tanto.
- Diga logo de uma vez! – Exigiu Ron.- Que lugar é esse?
- Hogwarts.
- Tem razão Harry, não é possível. – Hermione sentenciou, desolada, e obteve a concordância enfática de Rony.
- Ele não teria como esconder um de seus pedaços de alma bem embaixo do nariz de Dumbledore, por mais esperto que seja. Seria descoberto...
- Eu disse que não era provável. Infelizmente, fora isso, não percebi mais nada a esse respeito...A não ser o temor de Riddle de que alguém descubra esse seu segredo.
- Por que de repente você só o chama de Riddle? – Rony quis saber.
- Porque ele detesta quando o chamam assim. – Seu sorriso era algo além de irônico, enquanto respondia, e Hermione o olhou firme por alguns segundos, analisando-o . Depois apressou-os.
- Temos de ir! Quanto mais longe estivermos a hora em que Voldemort chegar aqui, melhor! Não é bom aparatarmos no mesmo lugar, em Hogsmead, chamaria demais a atenção. Eu vou para a Dedos de Mel, e vocês...?
- Zonko’s! – Decidiu Ron, sem surpreender ninguém.
- Casa do Gritos. – Disse Harry, sucinto.
- O.k., então. Nos encontramos nos portões de Hogwarts. Tenham cuidado! – E com essas palavras, girou sobre os pés, desaparecendo.
Ron olhou para o amigo, receoso.
- Você está bem, cara?
Harry procurou sorrir para tranqüilizá-lo.
- Estou. Não foi uma experiência agradável, mas acho que será útil...
Ron assentiu e com um aceno da mão, aparatou também. Assim que o amigo sumiu, o sorriso de Harry apagou-se. Olhou em torno, buscando nas memórias agradáveis e recentes daquele lugar, amenizar o gosto amargo que ficara da invasão à mente de Lord Voldemort. Todo o ódio e a crueldade do outro deixaram resquícios em si próprio, e por minutos angustiantes, sentira na carne o que era ser Tom Riddle. Forçando-se a escapar da má sensação, aparatou para o quarto onde conhecera o padrinho, quatro anos antes.
A casa dos gritos não mudara muito, parecia apenas ainda mais arruinada. Permitindo-se um só momento para lembrar do encontro entre os Marotos ocorrido ali, Harry esgueirou-se para fora, lamentando que a passagem secreta estivesse bloqueada. Tomou o rumo da escola e a visão do castelo foi um bálsamo muito bem vindo. Sorriu, aliviado e satisfeito. Estava em Hogwarts! Ron e Mione já o aguardavam, e juntos, subiram a pé o caminho até as enormes portas de entrada, olhando saudosos para a conhecida paisagem. Se havia feitiços de proteção além dos normais, não pareceram considerar os três estudantes da Grifinória uma ameaça. Harry bateu a enorme aldrava, cujo ruído ecoou dentro do castelo, e eles aguardaram, ansiosos. Lentamente, a pesada porta moveu-se, e o rosto que apareceu na abertura causou um novo e largo sorriso em Harry.
N/A: Para quem eu prometi lutas: no próximo capítulo, juro!
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