Como Em Um Espelho



Uma pequena fic para a Nani, que faz parte do meu suborno... XD Com todo o meu carinho e coração para você, Nani, que é a maior romancista romântica que eu conheço hoje em dia....



"Ás vezes, nossos planos não dão certo, e o mundo parece consumir-se em chamas; mas a vida, como a fênix, pode renascer das cinzas"





Capítulo Primeiro: Como em um espelho.





O fogo da lareira era quente, e parecia lhe queimar a pele; mas o coração estava frio, gelado, sozinho, triste... Era assim, toda noite, toda tarde, toda manhã, o dia inteiro, todos os dias; viver ali era um suplício, uma dor sem fim. Era terrível. Machucava-lhe mais do que qualquer coisa que pudesse ter sofrido antes... Longe dos amigos, longe da escola, longe da vida... Agora não era mais nada.

Era apenas Harry.

Como um dia dissera ser, para Hagrid.

Era apenas Harry.

Sem fama, sem prestígio, sem amigos, vivia na solidão. Desde quando? Desde sempre? Parecia que sim. Mas fazia apenas seis anos que levava essa vida solitária. Apenas? Oh, me desculpem, seis anos é muito tempo. Mais do que ele suportava agüentar.
Sua vida era vazia; trabalhava? Não. Ria? Não. Não fazia nada... Passava o dia trancado naquele maldito apartamento, naquela maldita cidade... Afinal, porque quisera mesmo ir para lá? Nova Iorque era um inferno!

Levantou-se de súbito, e o farfalhar do tecido de seu paletó sobrepujou durante alguns segundos o estalar da madeira que se consumava em fogo, enquanto ele ia buscar mais uma dose de conhaque.

Vivia ali porque tinha medo.

Era essa a conclusão á que chegara fazia algum tempo.

Havia se conformado em sentir medo, então vivia acuado como se fosse algo normal; mas seu coração pedia por algo mais... Algo como liberdade, algo como felicidade... Algo como companhia. Quer dizer, não que Trynith, sua costumeira 'acompanhante', fosse ruim; apenas não era o tipo de companhia que ele buscava. Dava-lhe prazer, fingia ser sua amiga, sua ouvinte, sua amante... Mas ele sempre acabava se lembrando de que a pagava para isso... Seu coração buscava por uma amizade gratuita, que ele havia apenas encontrado em Rony e Hermione, quando em Hogwarts; mas agora estavam ambos mortos, e não havia mais nada o que fazer.

Havia perdido contato com todos os Wesleys, depois da morte de Rony; não tinha coragem de os encarar nos olhos depois daquilo tudo; talvez fosse um tormento tão grande quando estar ali, sozinho.

Sentou-se novamente na cadeira, e buscou com as mãos o controle remoto da televisão; a ligou e silenciosamente assistiu ao documentário sobre os pingüins.

Suspirou.

Começou a chorar.

Se até os pingüins viviam em grupos, porquê ele, Harry Potter, não conseguia viver?

Porque era um fracasso como pessoa.

Fechou os olhos.

Em cinco minutos dormia, sem desligar a TV.







"Senhor Potter? Senhor Potter?" alguém o balançava fortemente pelo ombro "Harry!"

"Han?" ele abriu os olhos, piscou repetidas vezes "Trynith? O que faz aqui á essas horas da manhã?" seus olhos pousaram no semblante sereno e suave da morena á sua frente.

"Você me pediu pra te chamar para fazer compras, se lembra?"

"Compras? Para você?" ele piscou os olhos mais algumas vezes, mas ela sorriu para ele, o ajudando a se livrar da camisa amassada.

"Não. Para a sua casa. Você não tem comida, se esqueceu? Só tem essa porcaria de conhaque" apontou para a garrafa pela metade na cômoda ao lado, enquanto o puxava para ficar de pé "Vamos, você tem de se trocar rápido; as melhores promoções estão logo de manhã"

"Como?" ele parecia ainda meio tonto enquanto ela o empurrava para o quarto, abrindo o fecho das calças "Supermercado?"

"Acho que você bebeu demais ontem, Harry" ela disse, levantando uma sobrancelha de modo risonho "E chorou" o encarou no fundo dos olhos e lhe beijou os lábios com suavidade; foi até o armário "Existe algo que você queira me contar?"

"Não, Trynith. Nada" ele suspirou e terminou de arrancar as calças, pegando a muda de roupa que ela lhe estendia.

"Que bom" ela sorriu e se jogou na cama; o vestido branco quase não escondia a pele acetinada e clara, mas ela nunca parecera se ligar com as roupas; e ainda assim, se vestia lindamente, de modo a contornar cada pequena curva de seu corpo. O encarou enquanto ele puxava as calças até a cintura e fechava a fivela do cinto. Levantou-se para ajudá-lo com a blusa.

"Obrigada" ele murmurou quando ela fechou o último botão para ele, e andou até a porta, pegando as chaves do carro e a carteira no criado-mudo "Vamos?"

"Claro"







Havia aquele burburinho. Todas aquelas vozes. Toda aquela gente.

Era uma bela manhã de sábado, e Harry estava em um supermercado, assustado com a quantidade de gente que freqüentava aquele lugar. Seus olhos corriam das crianças que brincavam entre os longos corredores, ás mães, preocupadas com seus filhos e com as listas de compras; buscavam os pais na fila do caixa e as senhoras que olhavam a quantidade de carboidratos que havia em salsichas em conserva.

Pegou na mão de Trynith, buscando conforto; ela lhe deu um pequeno sorriso e continuou segurando firmemente a pequena cesta onde pretendia colocar as coisas.

As cabecinhas coloridas - pretas, castanhas, loiras, brancas, vermelhas, azuis e roxas - passavam pelo corredor em que haviam entrado, e ele olhava para os cereais matinais buscando qual seria melhor para consumir, quando, sem querer, seus olhos se voltaram novamente para a multidão e encontraram um casal brigando; seu coração se apertou - sempre achava cenas assim deprimentes.

A mulher era irremediavelmente bonita; alta, magra, com uma farta cabeleira ruiva e brilhantes olhos castanhos; seus lábios pareciam conter um sorriso mesmo enquanto brigava ali, com aquele homem. O homem era tão comum que assustou a Harry que uma garota tão extraordinária conseguisse passar sequer um momento com ele; tinha cabelos e olhos castanhos, magrelo, lá pelos seus um metro e setenta - tão comum que dava dor de cabeça em Harry... Mas talvez fosse apenas a ressaca.

Virou-se para Trynith, e ela também observava a cena.

"Ta vendo, Harry, você não tem o que reclamar da gente! A gente nunca vai acabar nisso..." ela disse em um tom divertido, quando a mulher meteu um tapa na cara do homem e saiu andando, esbarrando em todo mundo; Harry a seguiu com os olhos, e sua acompanhante voltou a observar os cereais com atenção "Esse está bom?" perguntou, balançando uma caixa na frente dos olhos de Harry; sem nem olhar ele concordou.







"Mais tarde eu volto" ela murmurou enquanto terminava de calçar os sapatos "E veja se não esquece de almoçar" terminou, saindo do quarto.

Harry permanecia deitado na cama, o lençol lhe cobrindo as pernas, um sorriso triste perspassando os lábios. Abriu os olhos e encarou tudo á sua volta; a cama desarrumada, as roupas espalhadas pelo chão, a janela aberta. Fechou os olhos novamente.

Era tudo tão sozinho, tudo tão deprimente, que ele sentia vontade de vomitar; levantou-se correndo, tomou uma ducha, olhou no relógio; eram uma da tarde. Vestiu uma roupa e saiu para a rua.

Os carros faziam alarde, buzinando e correndo, e as multidões de moviam como uma massa uniforme; ali ele era apenas mais um, mais uma pessoa, com sua vida alheia á tudo á sua volta. Que se danasse o fato de ele ter deixado seus dois melhores amigos - únicos, aliás - morrerem; que se danasse o fato de ele ter derrotado Voldemort há seis anos; que se danasse que desde aquele dia ele havia sentido tanto medo de viver no mundo mágico que se excluíra dele e começara uma nova vida; que se danasse que ele fosse O Harry Potter. Ali ele era Harry. Apenas Harry.

Com as mãos enfiadas nos bolsos, caminhou calmamente pelas ruas, entrando em pequenas lojas e bisbilhotando as coisas á venda; até que seu estômago roncou, lá pelas duas e meia da tarde, e ele resolveu entrar em um café próximo.

E lá estava ela.

Com os cabelos vermelhos caindo em cascata sobre os ombros, um vestido preto moldando o corpo esbelto, lá estava ela; e finalmente - talvez pela primeira vez na vida - ele viu ela sorrir.

Seu ímpeto era o mais absurdo; andar até ela e dividir a mesa, o almoço, a vida. E, por mais incrível que parecesse - até mesmo para ele - ele foi até ela e lhe sorriu. Ela levantou os olhos, e eles brilharam; o sorriso se expandiu e ele pode ouvir a voz dela:

"Harry?!" a voz dela tinha a felicidade de quem recebe uma agradável surpresa, e seus olhos tinham reconhecimento... Afinal, ele a conhecia?

"Han?"

"Harry, sou eu, Gina!"

"Gina?" correu os olhos mais uma vez por ela e se perguntou se aquela era a mesma Gina magrela e feiosa que ele deixara para trás quando viera para aquela vida nova.

"É, Gina, Virgínia Wesley!" ela sorriu para ele mais ainda, parecendo achar uma tremenda graça no fato dele não se lembrar dela "Em pessoa!"

"Gina..." é, agora que ele olhava mais de perto, eram os mesmos olhos; os mesmos olhos quentes e carinhosos, alegres e espontâneos da Gina que ele deixara para trás "Nossa, como você mudou"

"Ora, deixe de bobagens! Sente-se aqui comigo! Eu imagino que você já deve ter almoçado, mas, bem, me acompanha ainda assim?"

"Ah, eu ainda não almocei; vim aqui com esse intuito" deu um de seus melhores sorrisos - o que naquela época não era grande coisa - e ela o encarou.

"Ta tudo bem com você? Como vai a vida?" os olhos estavam exprimidos, e ela parecia querer ler a alma dele. Parecia estar tendo êxito "Tem visto o pessoal?"

"Não, ando muito ocupado" ocupado? Que tipo de absurdo ele andava dizendo? Não fazia nada a não ser ir ás festas que Trynith às vezes o empurrava! Levava a vida mais vagabunda que jamais levara antes... Era realmente um tremendo de um mentiroso.

"Ah, oh, certo... E anda ocupado com alguém?"

"Bem, er... Não, não exatamente" não tinha nada concreto com Trynith, mas, venhamos e convenhamos, tinha alguma coisa; algo pago, mas ainda assim algo.

"Aha! E qual o nome da felizarda?"

"Er... Trynith"

"Que lindo nome! Ela deve ser bonita, também!" Gina lhe sorriu um sorriso profundo, e Harry sentiu necessidade de perguntar algo para ela.

"Hum... Ela é realmente muito bonita... Mas... E você?"

"Eu? Eu o quê?"

"E você, está com alguém?"

"Bem, na verdade... Eu estava, até hoje de manhã... Mas o cara era um viado"

"Viado? Do tipo gay?"

"Não, não, me desculpa... Só maneira de dizer..." deu um sorriso sapeca; parecia não ter ressentimentos sobre o que acontecera aquela manhã mesmo "Ele era um bastardo. Apenas isso. Me traiu, o cafajeste..." rolou os olhos nas órbitas; Harry ia dizer alguma coisa sobre ter visto a briga deles aquela manhã, mas foi interrompido pela chegada do almoço dela. Gina agradeceu a garçonete e virou-se para Harry "Aceita?"

"Eu... Hum... Acho que é melhor pedir algo para mim, mesmo" e então fez o pedido para uma mulher próxima, vestida com uniforme. Enquanto almoçavam, conversavam sobre banalidades, sobre o tempo, sobre o trânsito, sobre tudo menos o que era crucial: porquê estavam ali. Mas então, depois de um momento de silêncio, Gina resolveu despontar a pergunta.

"E então, Harry, por que você veio parar aqui?"

"Eu estava com fome" ele respondeu em um murmúrio, desviando os olhos.

"Ah, qual é, você me entendeu..." ela admitiu um tom debochado na voz e sorriu para ele "Por que você veio para cá? Quando você veio para cá? Para os Estados Unidos?"

"Talvez eu estivesse buscando liberdade" ele murmurou fechando os olhos e baixando o rosto.

"Talvez... Eu vim para cá sob protestos" ela disse, sorrindo para ele "Mamãe me mandou para cá quando eu tinha dezesseis... Lembra-se?" soltou uma bufada suave e alegre e balançou a cabeça "Mas essa terra me cativou... É tão cheia de... Tão cheia de..."

"Solidão?" ele perguntou; ela o olhou no fundo dos olhos, e encontrou dor, muita dor; não era uma brincadeira, como ela pensara de início; era um desabafo.

"Eu diria esperança"

"Oh, sim, tinha esperança no princípio" ele sorriu e olhou para o relógio "Olhe a hora... Estou atrasado, Gina. Deixe-me ir... Aqui está o dinheiro do almoço. Nos vemos por aí" ele sorriu, levantou-se, jogou uma nota de vinte dólares na mesa e saiu correndo do café.
Gina continuou ali, parada, piscando os olhos e perguntando o que havia acontecido com aquele Harry Potter que ela tanto amara.







NA: Olha, mas que bonitinho! Isso daqui é verdadeiramente um favor... Eu já deixei de ser H/G faz algum tempo, pessoal... Mas eu realmente adoro a Nani, e ela merece essa fic. Então, beijos especiais para ela! XD E alguém conseguiu entender o título do capítulo...? ^^ Se alguém souber... XD Basta comentar! ENTÃO COMENTEEEEM!

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