Isso Machuca



Capítulo 17 – Isso Machuca

E quando eles acordaram, Harry ainda sentia cansaço. Sua noite, não havia rendido.
Ele foi ao banheiro do quarto com os olhos ardendo e decidiu tomar um banho frio para tentar acordar. Tinha que ir ao ministério, sua vida louca voltando com carga e força total. E ele sabia, nada mais poderia acontecer, nada.
Aquelas semanas o fazia se sentir como um personagem de um filme, ou qualquer coisa parecida. Ele bebeu até ficar bastante alegre, ele dormiu com sua melhor amiga, que por sinal, mora no mesmo apartamento que ele. Ele beijou sua outro amiga, ele tentou explicar e discutiu com a melhor amiga por causa de um beijo que nem teve tanta importância assim... Tudo isso misturado a um emprego fascinante. E ele estava esgotado.

E pra piorar, Harry sentia-se ferido, magoado por Mione. Como ela poderia ter dito que não lhe contava tudo? Ele pensou que a conhecia. Ele achou que sabia todos seus segredos. Ele queria conhecer seus segredos...

O homem chegou ao ministério quinze minutos depois, preferiu não se alimentar em casa. Ele nem acordou a amiga, quando saiu, nem um recado deixou. Ele não foi tão produtivo no trabalho quando desejava, sua cabeça doía.
**

-Boa noite – Harry não respondeu enquanto subia as escadas. – Hey. Boa noite.

Ele se voltou para Hermione. – Noite.

-Você chegou tarde hoje...

-Muito trabalho – lhe deu as costas.

-Você... Está bem?

-Ótimo – continuou seu caminho pelas escadas.

Hermione suspirou. “Não. Ele não está nada bem”.
Ela se levantou indo ao seu encontro.

-O que há com você? – ela perguntou encostada na porta, lhe vendo por uma roupa na cama.

-Não há nada.

-Você vai sair?

-É. Gina me chamou para um jantar – explicou. – Aceitei.

-Ow. Certo... Eu – Hermione lhe olhou sem ação. – Vou descer – disse apontando para trás.

-Beleza.

Hermione deu uma última olhada em Harry antes de fechar a porta atrás de si.
Ela respirou fundo. Ele suspirou fechando os olhos.
Harry, na verdade, só queria feri-la e, de algum modo, ele sabia que desse modo conseguiria. Mas será que ela sentiria dor o suficiente para perceber que ele estava mal? Que ele não queria segredos entre os dois? Faria ela lembrar da promessa que fez? Sem segredos...


Hermione desceu as escadas sentindo-se tonta, sua cabeça passou a doer, aquela frase de Harry fora como um soco na boca do estomago. Talvez tivesse se enganado, ele estava bem, ela que não estava.
Ela se sentou de fronte ao balcão da cozinha, pôs a cabeça sobre os braços cruzados. Aquilo, definitivamente, não era um pesadelo.

“Harry vai sair. Gina o chamou para sair. Ele aceitou”

Ela odiava estar assim. Ela não suportava aquela vontade ingrata de ir até aquele quarto novamente e gritar, bater, ofendê-lo até não ter mais voz e força.
Na sua garganta algo queimava e a mulher sabia que era choro preso... Hermione se forçou a fechar os olhos.

“Você não é nada. Você não é nada” pensava amargamente enquanto finas lágrimas insistiam em se formar no canto de seus olhos. “Você não tem ele. Você... é apenas uma amiga... Amiga”

Era nojento acreditar que poderia, certas vezes, ser tão fraca, vulnerável, mesquinha, como quiser chamar, por causa dele.

“–Se eu tenho essa tal ‘queda’, não sou a única nessa sala, Potter”.

“-Você não sabia disso? Pensei que fosse mais perspicaz, minha garotinha – retrucou ao pé de seu ouvido”.


-Onde está aquele Potter? – indagou ressentida.

Ela poderia, a qualquer instante, sentir queimar seus lábios, sentindo, antes de tudo, os lábios dele... Poderia distinguir seu gosto, seu cheiro, seu amor... entre diversos. Poderia ainda, se perder nele achando ser a si mesma. E era assim que ele retribuía, machucando.
Hermione nunca pediu um amor tão forte quanto o seu, nunca desejou que Harry pagasse todos os seus esforços ou sacrifícios. Ela jamais o prestaria a isso.
Mas ela era humana, e às vezes, esquecia quem era Harry. Esquecia-se propositalmente ou não, que ele era, antes de tudo e somente, seu amigo. Ninguém, no entanto, a culparia, era tanto esforço de sua parte que, ocasionalmente, a discrição de sentimentos cansava, principalmente o coração dela, e, por conseguinte, sua mente...
Prender o choro, fingir alegria, demonstrar curiosidade, quando está completamente enciumada, é doloroso. Mas não ser correspondida em suas pretensões, é quase fatal.

Quando a campainha tocou, Hermione deu graças aos céus por ser tirada de sua reflexão. Ela andou até a sala, mas não precisou abrir a porta: Harry já estava aos pés da escada... Os cabelos molhados, com um terno azul escuro, sem seus óculos.

-Meu Deus você está lindo! – Marcy cumprimentou olhando-o de cima a baixo. – Vai sair novamente com a Mione? Ah! Deus! – ela sorriu maliciosamente. – Por favor, não fazem besteiras heim?

-Não vou sair com a Hermione, Marcy – disse corando levemente. – E já estou atrasado se quer saber. A Hermione está... – ele franziu a testa.

-Estou aqui – ela falou calmamente. Harry olhou para trás um tanto rápido demais. – Mais alguns livros? – perguntou olhando Marcy com um sorriso. – Quer dizer que já terminou aqueles? – indagou erguendo as sobrancelhas.

-Sabe! Eu não gosto quando lêem minha mente... – Marcy murmurou lhe olhando de lado. Hermione riu gostosamente.

-Eu não o fiz. Seus braços, cheios dos nossos livros, dizem bastante.

-Bom. Estou indo, divirtam-se.

-Você também – Hermione ainda pôde falar. Seu sorriso esmorecendo com o bater da porta.

-Me diz, aonde ele vai, vestido assim?

-Jantar com Gina.

-Não brinca... – murmurou com a boca aberta, depositando os livros no sofá mais próximo e dirigindo-se à amiga.

-Verdade – disse monotonamente. – eles combinaram de sair.

-Ah... – Marcy a abraçou, deixando a morena totalmente confusa. – É uma besteira, nem liga ta?

Franzindo a testa Hermione se afastou. – Por que ligaria?

-Ora, mulher! Quem pensa que engana?

-Não sei onde quer chegar, Marcy – Hermione murmurou nervosamente.

A moça sorriu complacente. – E meus livros?
**

-Então quer dizer que Harry salvou o mundo? – Marcy indagou sorrindo descrente.

-Não crê?

-Oras, Mione. Sejamos francas... Harry é quase dois anos mais novo que eu. E você me diz que ele salvou o mundo.

-Ele derrotou Voldemort. Que poderia fazer muito mal aos trouxas.

-Mas o mundo? Ta bom.

Hermione suspirou. –Você não vai entender.

-Estou com fome – a mulher trouxa disse, fazendo Hermione sorrir.

-Você me lembro o Rony... Bom, e o que você quer?

-Lasanha.

-Eu não vou para cozinha agora, Marcy! – falou como se sentisse ofendida com a suposta proposta de se aventurar na cozinha. – Pode esquecer.

-Ah. Então... Pizza. Eu quero comer massa hoje.

-Bom, ali está o telefone.

Marcy deixou escapar um muxoxo. – Para um bruxa, você está me saindo uma bela “trouxa”.

**
Ele jogou a chave na mesa de centro e subiu as escadas tentando não fazer barulho, esquecendo-se propositalmente de não tropeçar no vaso de plantas que se encontrava no fim dela.
Hermione saiu da cama de um salto, saiu de seu quarto com a varinha erguida e seu robe bem preso ao corpo.

-Ah. É você – ela suspirou abaixando a varinha.

-Desculpe se te assustei.

-Tudo bem... – retrucou abanando as mãos. – deveria ter tirado há tempo esse vaso daqui. Reparo – sibilou apontando para a rachadura deste. – E então bom jantar? – perguntou fingindo aquele seu modo, quase indiferente quase interessada.

-Excelente, muito divertido – ele riu sem vontade. – E você? Com Marcy.

-Você deve saber. Ela quase me enlouqueceu com perguntas sobre sua saída.

-E o que você disse?

Ela o encarou surpresa. – O que acha? – ele ponderou. - A verdade, claro – disse a mulher revirando os olhos.

-Já se alimentou?

-Nós pedimos pizza! De milho, uma delicia... Se você quiser, ainda tem um pedaço na- O que? – Harry ergueu a sobrancelha.

-Hermione, você odeia milho.

-Não odeio, não.

-Você, com certeza, odeia milho – disse como se fosse óbvio.

-Mas se eu estou dizendo!

-E se eu estou dizendo – ela revirou os olhos. – Você odeia milho.

-Não vou discutir com você sobre os meus gostos.

-Não vou discutir com você sobre quem sabe mais de você.

Hermione fez um som de incredulidade. – Você é tão arrogante.

-Minto? – ela o encarou. – Não minto – disse dando de ombros.

Hermione não tinha argumentos para discutir com ele. Ela nem queria, pra falar a verdade. – Às vezes, eu realmente te odeio, Harry – disse subindo as escadas. Ele a seguiu sorrindo, esquecendo-se momentaneamente e quem sabe, propositalmente, a magoa que sentia.

-Mas que você odeia, odeia... – ela virou o rosto para encará-lo.
***
(continua)
***

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