Único
Harry desistiu. Ele simplesmente desistiu. Ele já enfrentara o Lorde das Trevas, um basilisco, dementadores e numerosos perigos durante os últimos quatro anos em Hogwarts. Mas fazer Ron e Hermione se falarem depois de uma briga era causa perdida. Enquanto os três se sentavam num táxi indo para King’s Cross, prestes a começarem o quinto ano, Harry quase desejou ter que enfrentar outro Rabo-Córneo Húngaro. Quase.
Harry suspirou e se encostou no assento, Edwiges piando levemente em sua gaiola, no colo dele. Ron encarava o táxi em frente, que levava Fred, Jorge e Gina.
Ron não estava muito feliz com a opressiva atmosfera no táxi, mas não era culpa dele, e ele morreria antes de se desculpar com ELA. Ela foi para a Bulgária! Ela passou as férias com aquele grande, maldito e idiota Vítor Krum! Ah, claro, ela ficou uma semana com seus pais e a última semana de férias ela passou na Toca. Mas ainda assim... ela foi para a Bulgária!
Ron ficou envergonhado enquanto lembrava de quando ela chegou na Toca. Ela estava sorrindo enquanto saía da lareira dos Weasley, tirando poeira e pó-de-flu das roupas.
A sra.Weasley e Gina foram recebê-la. Ela se apressou para a mesa da cozinha, onde Harry e Ron estavam sentados. “Harry! Ron!” ela gritou, obviamente se retraindo de comportamentos femininos.
“Oi!” disse Harry, animado. A resposta de Ron foi bem menos alegre.
“Olá. Tendo um bom verão, teve?”
O sorriso de Hermione tremeu. Eles não conversaram muito, porque o resto dos Weasleys foram cumprimentá-la. Mas assim que os três ficaram sozinhos no quarto de Ron...
“Então, você foi para a Bulgária? Como está o Vitinho?”
“O que te importa? Eu fui com meus pais! E não o chame de Vitinho!”
“Nada, absolutamente nada! Mas era de se pensar que você tivesse mais senso com Você-Sabe-Quem por aí, é tudo que estou dizendo.”
“Isso é precisamente porque fomos, Ron! Ele não ia me assustar por causa de tudo o que está acontecendo e me fazer esquecer do que é importante!”
Os olhos de Ron ficaram um pouco mais bondosos com o nervosismo na voz de Hermione, mas no próximo segundo, estavam faiscando como fogo.
“Então Vitinho é o que é importante pra você?”
Sem precisar dizer, o resto da semana não foi relaxante nem agradável. A coisa estranha era que nenhum dos Weasleys, exceto Gina, reparou que havia algo ruim ali. Todos estavam tão preocupados com Voldemort que nenhum exceto Harry prestava atenção ao que estava acontecendo.
She rolls the window down
And she talks over the sound
Of the cars that pass us by
And I don't know why
But she's changed my mind
Would you look at her as she looks at me
She's got me thinking about her constantly
But she don't know how I feel
And as she carries on without a doubt
I wonder if she's figured out
I'm crazy for this girl
Eles chegaram em King’s Cross e na Plataforma 9 ½ num amontoamento de bagagens, corujas e Bichento.A multidão na plataforma parecia quieta esta manhã. Pais diziam aos seus filhos em voz baixa para tomarem cuidado e ficarem a salvo. A sra.Weasley beijou Fred, Jorge e Gina, quem entrou no trem e lançou a Ron, Hermione e Harry um olhar nervoso. Harry tentou dar a ela um sorriso antes de se virar para a sra.Weasley. Harry, Ron e Hermione ouvira m as coisas de mãe da sra.Weasley até que o sr.Weasley os lembrou de entrar no trem. Os olhos da sra.Weasley se encheram de lágrimas preocupadas quando eles entraram. Hermione rapidamente sentou-se na janela, quando acharam uma cabine, e gritou para ela “Não se preocupe, sra.Weasley. Ficaremos bem. Mandaremos uma coruja assim que chegarmos para dizer que tudo está bem.”
“Vão mesmo, querida? Vão mesmo?” disse a sra.Weasley, com as mãos no peito. Hermione respondeu algo, mas a voz foi abafada pelo som o Expresso de Hogwarts se movendo. Hermione suspirou e botou a cabeça pra dentro da janela. Assim que ela se sentou, Ron a estava encarando com uma expressão indefinível. Ela o encarou nos olhos pela primeira vez desde que chegara na Toca, mas ele ficou vermelho e desviou o olhar rapidamente. Essa não era a primeira vez que ela o pegava a encarando quando ela não estava olhando. Ela olhou para Harry, que estava encarando pensativamente a janela. Pobre Harry, ela pensou. Ela sabia que não devia ter sido uma semana fácil para ele. Ela seguiu seu olhar e viu as cidades trouxas passando rápido. Hermione suspirou novamente e desviou seu olhar da janela, para descobrir Ron a encarando novamente boquiaberto, com uma expressão fechada.
“O quê foi?” ela gesticulou para ele, impacientemente.
Ron rapidamente sacudiu sua cabeça e fingiu cuidar de Píchi, esperando que nenhum deles percebesse o vermelho que começara a aparecer no nariz e se espalhava por toda a sua face, até suas orelhas. Pelo canto do olho, ele viu Hermione puxar sua cópia de ‘Hogwarts, Uma História’ e mergulhar na leitura. Ron sorriu sem querer, pela confortável familiaridade de vê-la com o nariz enfiado em um livro, especialmente aquele. Ele se sacudiu mentalmente, se virou para Harry e começou a conversar sobre Quadribol. Mas o tempo todo sua mente insistia em se lembrar daquela noite...
She was the one to hold me
The night the sky fell down
And what was I thinking when
The world didn't end
Why didn't I know what I know now
Would you look at her as she looks at me
She's got me thinking about her constantly
But she don't know how I feel
And as she carries on without a doubt
I wonder if she's figured out
I'm crazy for this girl
A noite em que ELE retornara. A angustiante agonia de esperar Harry completar a terceira tarefa do Torneio Tribruxo. O momento em que os dois corpos caíram no chão. Ron teve certeza de que havia perdido um dos seus melhores amigos. Então a corrida para baixo para ver se Harry ainda estava vivo. Quando Dumbledore disse a eles que Harry não estava lá, mas ainda estava vivo, Ron e Hermione agarraram a mão um do outro, em alívio. Mais tarde, depois de todas as revelações daquela noite, quando eles voltaram da enfermaria até a Torre da Grifinória, ele perdeu a cabeça.
“Hermione, ELE está de volta! Ele realmente está de volta! O que vamos fazer? Você não sabe como era antes, mas Carlinhos e Gui me contaram, era terrível. Acha que vamos morrer?”
Ele sabia que o medo estava estampado em toda a sua face e ele se sentiu envergonhado por perder a compostura na frente dela. Ela parou na frente dele, olhou direto nos olhos dele e falou “Iremos lutar, e vamos passar por tudo isso. TODOS nós.”
Num momento de compreensão silenciosa eles caíram um nos braços do outro em um forte abraço. Por sorte, os corredores estavam vazios no momento. Hermione o abraçou forte, até que os dois pararam de tremer e seguiram o caminho para a Torre da Grifinória sem dizer nada. Não havia necessidade.
E então ela vai para a Bulgária! O pensamento trouxe Ron ao presente com um forte baque. Claro, eles se corresponderam o verão todos. Eles se contaram o que estava acontecendo. O Ministério poderia tentar encobrir atividades das Trevas, mas a Marca Negra que ficou no céu o verão inteiro era outra história. Mas nenhum deles mencionou aquele abraço. O sentimento mútuo (pelo menos ele achava que era) de que juntos eles poderiam combater o Lorde das Trevas, combater qualquer coisa. Ron a olhou novamente. Por sorte, ela ainda estava imersa no livro. Ele viu como ela se concentrava. Engraçado, pensou Ron. Ela não era bonita de um jeito como Cho, Fleur ou Lilá. Mas ele definitivamente podia ver o que a atraiu em Krum. Ela radiava calor, compreensão e infinita inteligência. Ron inclinou a cabeça para o lado para assisti-la enrolar um cacho no dedo. Isso era doido. Ela era apenas Hermione, afinal. O que importava para Ron se ela tinha ido para a Bulgária? Por que ele implicava tanto com ela, afinal? A conhecer desde que ela tinha onze anos e saber como ela se comportava não fazia uma relação. Assim que ele pensou nisso a antiga raiva voltou. Por que pensar nela com Krum o deixava tão furioso? Porque, pensou Ron, porque ela devia saber. Ele soube. Ele soube no momento em que se abraçaram que era assim que devia ser. Para sempre. Ela não sentiu também? Como ela podia ser tão estúpida? Ela era Hermione! Hunf! A bruxa mais esperta do ano, a mais inteligente...
Os pensamentos de Ron foram interrompidos por Hermione enquanto ela olhava para ele por cima do livro e o pegara olhando para ela novamente.
“Ron! Pára de me encarar! O que você acha que---”
Eles evitaram uma briga pelo fato de que Gina entrara na cabine e chamou Harry.
“Harry,” ela começou. “Fred e Jorge me pediram pra vir aqui e dizer a você que eles precisam dar uma palavrinha com você. Você tem um minuto?”
“Er… claro.” Harry se levantou, parecendo incerto quanto a Ron e Hermione, e seguiu Gina até a porta que separavam os carros do trem. Uma vez que eles haviam fechado a porta atrás de si, Gina disse. “Hum... Harry, Fred e Jorge não queria realmente falar com você.”
“Não?”
“Na verdade não. Eu só achei que Ron e Hermione precisavam ficar um pouco sozinhos. Desculpe.”
Harry a olhou admirado. Foi esperto da parte dela, pensou Harry. “Você está absolutamente certa, Gina. Veja, não é a bruxa com o carrinho de comida?”
Gina assentiu, incerta.
“Que tal irmos ao encontro dela e comermos alguns Sapos de Chocolate enquanto aqueles dois não se acertam?”
Gina assentiu. “Eu nunca recuso chocolate, vá em frente.”
Enquanto isso…
Quando Hermione pegou Ron a encarando pela terceira vez, ele mentalmente se amaldiçoou e se virou para encarar a janela. Como ela podia não saber? Seus pensamentos trouxeram uma expressão miserável para sua face.
Como ela podia não saber? Ele se perguntou novamente. Ela era Hermione, a suprema sabe-tudo. Talvez aquele abraço não significara nada, afinal. Talvez ela tenha abraçado Harry do mesmo jeito. Talvez ela tenha abraçado Krum do mesmo jeito quando o visitou na Bulgária. O pensamento fez Ron fechar as mãos, com raiva. Ron lembrou que ela beijara Harry na bochecha em King’s Cross, no final do ano. Ron achou que de alguma maneira o beijo que ela dera em Harry fora diferente do dele. Claro, ela beijara os dois na bochecha, mas certamente o beijo de Harry não aqueceu sua bochecha como o pôr-do-sol, certo? E certamente Harry não percebeu como ela tinha um perfume que misturava doce e cítrico. Ele estava sendo idiota? Ron a olhou furtivamente. Ela estava com o nariz no livro novamente, mas não estava lendo. Seus olhos não se mexiam, e ela não parecia concentrada. Repentinamente ocorreu a ele: talvez ela não soubesse o que ele sabia? Talvez Hermione estava tão confusa, assustada e eufórica quanto ele. A idéia de Hermione confusa trouxe uma expressão confusa ao seu rosto. Hermione ergueu seus olhos e o pegou encarando-a pela quarta vez. Sua boca se abriu de indignação, mas antes que ela o xingasse, Ron respirou profunda e resignadamente e a cortou.
And right now
Face to face all my fears
Pushed aside and right now
I'm ready to spend
The rest of my life with you
Would you look at her as she looks at me
She's got me thinking about her constantly
But she don't know how I feel
And as she carries on without a doubt
I wonder if she's figured out
I'm crazy for this girl
Quando Harry abriu a porta mais tarde foi para encontrar Ron e Hermione dividindo o assento. Eles estavam rindo e falando, um com o outro. Ele se virou para Gina, que estava atrás dele, com um monte de doces. Gina sorriu ao ver Harry levantar a sobrancelha. Eles entraram. Os quatro passaram o resto da viagem dividindo Sapos de Chocolate e Feijõezinhos de Todos os Sabores e conversando sobre nada demais. Pra não mencionar que Ron e Hermione estavam de mãos dadas o caminho inteiro.
Quando o trem chegou a Hogsmeade e eles se prepararam para desembarcar, Harry segurou Ron e deixou as garotas irem primeiro.
“Então, hã, você vai me contar alguma coisa?”
Ron encolhe os ombros inconfortavelmente, seu rosto praticamente da cor do Expresso de Hogwarts. Depois e um segundo ele olhou para Harry com uma expressão inacreditável no rosto e disse “Sabe do que mais, Harry? Acho que eu sou doido por aquela garota.”
“Sério? Eu nem tinha percebido.” Disse Harry, tão quietamente que Ron mal entendeu. Mas não faz diferença, porque ele escolheu ignorá-lo de qualquer maneira.
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