Único



Dentro da Ala Hospitalar

Por Abigail

Tradução de Mione Granger Weasley



"Pobres crianças, olhe só para elas. Nunca vi coisas assim na minha ala hospitalar antes, e isso é alguma coisa." Ron foi tirado de seus sonhos pela voz de Madame Pomfrey, mas se descobriu com medo de abrir os olhos. Aonde ele estava, não sabia. Ele não se lembrava do motivo dele estar deitado em uma cama fria; ele não tinha idéia do que tinha acontecido com ele. "Bem, eles têm sorte de não estarem mortos. É uma sorte muito grande, terem saído de lá vivos." Uma segunda voz falou e um flash de luz iluminou a cabeça vazia de Ron.

Uma maldição o havia atingido, sim, ele lembrava. Direto em seu coração. E ele se sentiu bêbado, não conseguia falar corretamente, ele nem conseguia caminhar direito. E ele ria enquanto se apoiava em alguém, e via planetas à sua volta. Ele lembrou de cabelos loiros e mal-cuidados passando em frente a ele. Os cabelos de Luna, enquanto ela o puxava para fora da sala. Tinha havido uma explosão... um grito de dor... e... Ron tentou forçar sua memória, mas seus olhos se fecharam dolorosamente. Vamos, vamos!, ele pensou desesperadamente, deitado na cama fria. Tinha um tanque, e brilhava. E lá tinha um cérebro. E estava se agarrando nele. Ron podia sentir os tentáculos pegajosos. Ele mal podia respirar.

“Saiam!” ele gritou.

“Sr. Weasley?” uma voz macia o chamou, e ele abriu os olhos. Madame Pomfrey estava olhando para ele, e ele corou. Ele estivera lutando contra um cérebro invisível, pela terceira vez em uma hora. “Sonhos ruins novamente? Essa poção não funciona com você, funciona?” ela disse, colocando mais do familiar líquido azul no copo de Ron, e colocando-o na mesa ao lado. Ron a encarou. Ele não conseguia admitir que não estivera sonhando com os cérebros, mas sim lembrando deles. A Poção Para Dormir Sem Sonhar funcionou muito bem, considerando o fato de que ele já tinha tomado-a umas três vezes, agora.

“Você está bem, Weasley?” perguntou a familiar voz da Profa.McGonagall, de detrás da Madame Pomfrey. Ron assentiu, mas parou rapidamente. Fazia sua cabeça doer.

A Profa.McGonagall sorriu para ele rapidamente e então suspirou. “Bem, então vou dizer a Dumbledore que você está acordado.” Ela disse, sua face sem emoção. “Ele quer conversar com você.”

Ron a encarou de sua cama enquanto ela saía da ala hospitalar, antes que ele pudesse fazer força para dizer algo mais. Ele não sabia o que Dumbledore queria falar com ele, mas esperava que fosse sobre Harry. Ele sabia que Harry estava bem - Madame Pomfrey tinha respondido a ele quando Ron acordou da primeira vez, gritando “Aonde está Harry?”, chorando e suando como louco. Ele estava agradecido que todos os outros estavam dormindo quando isto aconteceu. Mas, pelo que ele lembrava, algo fez Harry gritar o nome de Sirius algumas vezes, e perseguir Bellatrix Lestrange. Sim, ele lembrava disso, por mais bêbado que pudesse ter estado. Ele só esperava que nada de sério tivesse acontecido a Sirius, porque Harry certamente não precisava disso. Ele sorriu. Algo sério com Sirius. Ele fez uma anotação mental para contar a piada da próxima vez que tivesse chance. E o mais engraçado era que não havia nada de sério em Sirius. Ron gostava daquilo. Era como um pouco de ar fresco, quando você tem Molly Weasley como sua mãe.

Madame Pomfrey se aproximou de sua cama novamente, carregando algo entitulado de Ungüento do Olvido do Dr.Ubbly, e colocou o pote na mesa-de-cabeceira, ao lado da poção para dormir sem sonhar.

“Ok, agora sente-se, Sr.Weasley,” ela disse, segurando seu braço e ajudando-o a se erguer. “Isso é muito importante para sua recuperação.”

“O que é?” perguntou Ron, encarando a substância meia-líquida, meia-sólida no pote.

“É para as marcas, as feias marcas do cérebro que você tem nos seus braços”, ela respondeu, enfiando o dedo no pote e pegando a pomada cinza. “As cicatrizes sairão com o tempo, mas são os pensamentos que podem realmente fazer mal a você.”

“Os pensamentos?” perguntou Ron, franzindo o nariz pelo cheiro vindo de dentro do pote, enquanto ela passava a substância em seus braços.

“Os pensamentos,” falou Madame Pomfrey, enquanto caminhava de volta para sua sala, levando o pote com ela. Ron encolheu os ombros. ‘Bem, ela sabe o que está fazendo, afinal’, ele pensou, enquanto percebia que imediatamente se sentia menos cansado e menos aéreo.

Ele se virou para olhar para Hermione, que estava na cama à sua esquerda. Seus olhos permaneceram nela por alguns momentos, e então ele suspirou. Da primeira vez que tinha acordado, ele tinha se virado para olhar e acreditou que ela estava morta. Seu corpo mole parecia sem vida, e seu peito não estava se mexendo como o de Neville - bem, Neville estivera roncando, na verdade, e ainda estava. Ron nem queria lembrar de como foi achar, por um breve momento, que ela tinha ido embora para sempre. O mero pensamento fez Ron tremer.

“Ela ainda não acordou, acordou?” ele perguntou com voz fraca, inconscientemente coçando as cicatrizes em seus braços.

Madame Pomfrey fez um som que Ron tomou como um não, mas assim que ela o fez, ele ouviu um gritinho e se virou para olhar. Ele ficou impressionado ao ver Umbridge, sentada em sua cama, olhando em volta com uma expressão alucinada em sua face. Ele não tinha a visto antes. Ficou pensando no motivo dela estar ali. Seu cabelo estava todo bagunçado, e a expressão em seu rosto a fazia parecer bem maluca. Mais maluca do que o normal. Madame Pomfrey, parecendo ter pena, a colocou para dormir novamente, e então sacudiu sua cabeça desaprovadamente. Ron lançou um olhar inquiridor a ela.

“Pobre mulher,” ela disse severamente, enquanto se movia para checar Hermione. “Fico me perguntando o que aqueles centauros fizeram com ela.”

Claro - os centauros!

“Quem a encontrou?” perguntou Ron rápido, tentando esconder o quanto achava a situação maravilhosa.

“Dumbledore,” respondeu Madame Pomfrey, sem olhar para ele, enquanto tomava o pulso de Hermione. “É cruel deixar alguém sozinho em uma floresta cheia de centauros. Eles não são como humanos, sabe,” acrescentou ela, mas ela não parecia chateada. Na verdade, Ron notou um pequeno sorriso no rosto dela.

“Não são mesmo,” Ron sussurrou para si mesmo, contendo uma risada.

E então, enquanto Madame Pomfrey abria a boca de Hermione e a forçava a tomar uma poção branca de aparência horrível, a porta da ala hospitalar abriu e Dumbledore entrou, aparentemente submerso em seus próprios pensamentos. Ele estava com uma expressão chateada, coisa que Ron nunca vira antes. Ele foi até Madame Pomfrey e sorriu para ela, de um jeito forçado, na opinião de Ron.

“Madame Pomfrey,” ele disse. “Como eles estão?”

Madame Pomfrey o encarou cuidadosamente, examinando cada centímetro dele com seus olhos severos. “Estão melhor,” respondeu ela, virando-se de volta para Hermione e a forçando a beber mais uma poção. “O sr.Longbottom só precisa de mais alguns toques e seu nariz ficará perfeito. A srta.Granger ainda está inconsciente.” Ela suspirou profundamente antes de continuar. “Duvido que ela vai acordar em breve. A srta.Weasley está pronta, só precisa descansar. E o sr.Weasley já está acordado.” Ela acrescentou, com um tanto de orgulho na voz, indicando Ron e sorrindo para ele. Dumbledore se virou para olhá-lo, e sua expressão ficou um pouco mais animada.

“Ah, Ron, sim,” ele disse, olhando para ele por cima de seus óculos em forma de meia-lua. “Eu queria dar uma palavrinha com você. Accio cadeira!” ele falou, acenando sua varinha, e uma cadeira passou voando pela cama de Ron. Dumbledore a pegou e sentou. Ele encarou Madame Pomfrey significativamente; ela assentiu e voltou à sua sala. Houve um silêncio por alguns instantes e então Ron o quebrou. “Harry está bem?” ele perguntou educadamente não querendo soar como se quisesse apressar a conversa. Ele só queria saber como seu melhor amigo estava.

Dumbledore o olhou penetrantemente, e Ron não pôde definir sua expressão. Então ele olhou para baixo. Ron tinha quase certeza de que algumas lágrimas estavam umedecendo seus olhos. Seu coração pulou dolosamente. ‘Responda!’ pensou Ron, com selvageria, dando a Dumbledore um olhar severo. ‘Me responda!’

Depois do que pareceu um horrível e longo tempo, Dumbledore finalmente falou, sua voz trêmula.

“Harry está bem fisicamente, Ron. Ele não está machucado e está descansando agora na Torre da Grifinória.” Ele fez uma pausa, e respirou profundamente. “Mas temo que ele não está bem.”

As mãos de Ron começaram a suar. Ele olhou para Hermione, não querendo encontrar os olhos do diretor. “O que quer dizer com ‘ele não está bem’?” ele perguntou, o tom educado indo embora. Ele não se importava com nada agora; tudo o que ele queria saber era o que tinha acontecido com seu amigo. “Quero falar com ele,” disse Ron, teimosamente.

“Houve um infeliz acidente, do qual você deveria saber, antes que fale com Harry,” continuou Dumbledore rapidamente, como se estivesse com medo de ser interrompido. Não, não! Ron não queria mais saber. ‘Não me diga, não me diga’ ele pensou freneticamente enquanto tentava fixar seus pensamentos em Hermione, tentando o máximo que podia para não escutar as palavras de Dumbledore. “Hoje, há apenas algumas horas, o sr.Sirius Black foi morto por Bellatrix Lestrange, no Departamento de Mistérios.”

Levou alguns momentos para as palavras atingirem Ron, mas quando elas o fizeram, seu corpo inteiro congelou, e um sentimento de desolação tomou conta dele. Ele ainda estava olhando para Hermione, mas apenas metade dele estava consciente disso. Apenas metade dele estava consciente do que estava acontecendo ao seu redor.

Ele esqueceu completamente de que Dumbledore estava sentado numa cadeira do lado de sua cama. Esqueceu completamente da dor em sua cabeça, e da sensação inconfortável em seus braços, do cheiro nojento do ungüento, do som dos roncos exagerados de Neville... ‘Sirius está morto,’ ele pensou, selvagemente.

Ele ficou lá, sentado em sua cama, tentando absorver o significado completo daquelas palavras. Como Sirius podia estar morto? Isso não podia estar acontecendo.

Dumbledore ainda estava falando, provavelmente explicando como aconteceu, mas a mente de Ron tinha ficado branca. Ele não escutava Dumbledore agora. Tudo em que ele podia pensar era no rosto de Sirius, e o pensamento de que nunca o veria novamente. E a dor aumentou quando ele pensou em Harry. Harry, quem agora estava sozinho. Harry, quem provavelmente iria se culpar. Harry, quem não merecia isso. Ele sentiu uma fúria terrível contra tudo e contra todos. Por que a vida era tão injusta para Harry?

“Voldemort escapou depois disso, mas graças a todos vocês capturamos vários Comensais da Morte. Claro, Azkaban já não é mais segura como era, então não podemos esperar que tenha sido a última vez que os vimos.”

Ele se descobriu desejando que Dumbledore fosse embora e o desse uma chance de pensar, de gritar, de dormir. Ele o encarou, mas Dumbledore não percebeu. Ele estava olhando para a janela, em frente à cama de Ron.

”É algo horrível, o que aconteceu ontem à noite,” Ron o ouviu dizer, e ele foi afastado de seus pensamentos, ficando consciente do mundo ao seu redor. “Eu peço a você para tratar Harry cuidadosamente, e dar a ele todo o seu apoio. Por que agora você é tudo o que ele tem. Você e a srta.Granger.” Dizendo isso, ele se levantou e saiu da ala hospitalar, sem dizer mais nada. Ron o assistiu sair, se sentindo vazio.

****

“Teoricamente você não devia estar comendo doces agora, sabia,” disse Madame Pomfrey, enquanto ela passava uma quantidade considerável de ungüento nas cicatrizes mais uma vez.

Ron abriu o Sapo de Chocolate do jeito mais rápido que conseguiu, com sua mão livre. “Teoricamente eu nem deveria estar acordado,” respondeu Ron, colocando o Sapo de Chocolate em sua boca.

Madame Pomfrey lançou a ele um olhar severo. “Agora, não se precipite, sr.Weasley. Seria muito incomum se você não estivesse acordado agora.” Ela disse. E então acrescentou “Além disso, nesta situação, chocolate não traz nada de bom para você.”

“O gosto é bom,” disse Ron, sua boca tão cheia de chocolate que ele lançou fragmentos do doce nas vestes limpas e brancas de Madame Pomfrey. “Desculpe,” ele disse, quando ela o encarou perigosamente.

Neville e Gina tinham deixado a ala hospitalar, completamente curados. Os únicos que ainda estavam lá eram Ron, Hermione e uma Umbridge muito doida. Hermione estava dormindo no momento, mas Madame Pomfrey disse a Ron que ela já acordara algumas vezes, enquanto ele estava dormindo. ‘Má sorte,’ pensou ele miseravelmente, já que ele estivera louco para falar com ela. Sobre o que, ele não sabia. Não tinha certeza se queria falar com ela sobre Sirius, e mesmo que ele quisesse, não sabia se conseguiria. Mais cedo naquela manhã, quando Harry foi visitá-lo após o café da manhã, Ron não conseguiu trazer o assunto para a conversa; Ele sabia que devia doer em Harry pensar sobre isso.E na verdade, o machucava também.

Ele olhou para Hermione com olho comprido, então olhou esperançosamente para Madame Pomfrey. “Posso sacudi-la um pouco, pra ela acordar?” pediu Ron, do jeito mais inocente que conseguiu achar.

“Não, sr.Weasley, não deve fazer isso.” Disse Madame Pomfrey. “Mas é hora dela tomar as poções, então acho que vou acordá-la.” Ela deu a ele um fraco sorriso, e o coração de Ron começou a bater forte, para sua surpresa. ‘Pelo menos você vai falar com ela,’ ele se descobriu pensando. ‘Você vai ouvir a voz dela novamente.’

“Srta.Granger,” disse Madame Pomfrey, melosamente, enquanto ela sacudia Hermione cuidadosamente. “É hora de acordar.”

Ron rolou os olhos. “Posso fazer isso?” ele pediu educadamente, já que Hermione não dava sinais de querer acordar.

Madame Pomfrey pensou um pouco antes de responder “Bem, está certo, mas não a assuste.” Ela falou, se afastando. Ron saiu de sua cama pela primeira vez desde que voltaram do Departamento de Mistérios, e se sentiu estranhamente fraco. Suas pernas tremeram por um momento, e ele teve que se segurar na cama de Hermione para não cair.

“Hermione,” ele disse, próximo a sua orelha. Ele checou Madame Pomfrey, mas ela aparentemente voltara à sua sala. “Pelo amor de Merlin, acorde!” ele gritou, fazendo Hermione pular e se sentar de uma vez só na cama. Ron sorriu para ela.

“Qual é o seu problema, Ronald Weasley?!” ela gritou para ele, enquanto ele voltava para sua cama, rindo quietamente.

“Ah, se anime, Hermione!” ele disse, lutando contra um acesso de riso. Ela o encarou por alguns momentos, claramente tentando manter a compostura, mas então riu nervosamente.

Ron sorriu alegremente para ela. “Finalmente,” ele disse.

“Finalmente o quê?” respondeu Hermione, ainda rindo um pouco. “Já acordeu várias vezes, enquanto você dormia!”

“É, eu também.” Ele respondeu, encolhendo os ombros. Madame Pomfrey, que claramente ouvira a comoção, parou entre as duas camas, carregando um monte de poções nos braços, seus olhos faiscando perigosamente na direção de Ron.

“Eu lhe falei para não assustá-la!” ela o censurou, enquanto Hermione abria a boca e a enfermeira virava poções dentro.

Ron se serviu de mais um Sapo de Chocolate enquanto esperava Madame Pomfrey terminar. Uma vez que ela estava de volta à sua sala, Hermione falou, em um tom mais cuidadoso.

“Você viu Harry?” ela perguntou, e Ron se virou para encará-la gravemente. Ela falava como se soubesse de Sirius. Talvez Dumbledore falara com ela enquanto Ron estava dormindo.

“Sim,” disse Ron. “Sim, vi. Esta manhã.” Ele sentiu um nó se formar em sua garganta, e imediatamente fixou seus olhos em suas mãos. “Mas nós não, você sabe...” Lágrimas estavam ameaçando sair. “Não falamos muito.”

Ele podia sentir Hermione o encarando. “Dumbledore veio ontem à noite, quando você estava dormindo,” ela começou, e Ron evitou o seu olhar. “Ele veio me dizer que...”

“Eu sei, Hermione, ele me contou também.” Disse Ron, não querendo falar de Sirius no momento.

“Então, você sabe,” ela disse, quietamente. “E você e Harry...”

“Não, Hermione, não acho que ele precise disso agora.” A cortou Ron.

Ela o encarou da sua cama, sacudindo sua cabeça desaprovadoramente.

“O quê?” perguntou Ron severamente, raiva se formando dentro dele. “O que eu fiz de errado desta vez?”

“Ah, Ron,” disse Hermione, em um tom quase histérico. “Claro que Harry precisa falar sobre isso!”

“Então de repente você virou uma leitora de mentes, hã? Você sabe exatamente o que Harry quer?” gritou Ron, nem se importando em segurar as lágrimas mais. Ele sabia que Harry precisava falar sobre isso, ele sabia. E ele também sabia que ele próprio precisava falar sobre isso. Mas como? Como ele podia ter coragem de falar de algo tão doloroso?

Hermione estava o encarando com uma expressão comovida, enquanto as lágrimas dele molhavam sua face. “Ron, não chore,” ela disse, começando a chorar também. “Eu não quis... eu só...”

“Não é isso… é só que... eu queria falar sobre isso, mas eu não fui forte o suficiente... você sabe, vendo Harry todo chateado... não é legal!” ele terminou, secando suas lágrimas com as costas das mãos.

“Eu sei, eu sei! Desculpe!” respondeu Hermione. Isso foi seguido por um longo silêncio. Um longo e inconfortável silêncio, na opinião de Ron. Ron fixou seus olhos em suas mãos novamente, corando. Ele não acreditava que havia chorado, tão obviamente, na frente dela. Na frente dela, mais do que qualquer um. Ela. Talvez agora ela achasse que ele era um fraco, que não podia suportar nada, que chorava por qualquer coisa. Mas não, isso não era qualquer coisa. 'Isso era algo horrível, ‘Sim, é,’ pensou Ron, tentando se sentir melhor. E afinal, ela chorou na frente dele também. Ele olhou para ela timidamente, e percebeu que ela estava pensando rápido também.

“Ron?” ela soluçou, quebrando o longo silêncio, e fazendo Ron pular um pouco.

“Sim?” ele respondeu com voz fraca, fixando seus olhos em suas mãos mais uma vez.

“Eu estava pensando,” ela disse, parecendo prestes a falar algo terrivelmente difícil. “Você lembra no ano passado? Quando estávamos fora desta mesma ala hospitalar, nos perguntando o que tinha acontecido com Harry? Logo depois de Cedrico ter morrido?”

Ron assentiu apreensivamente. “Sim, eu lembro,” ele falou rapidamente, ainda sem olhar para ela, pensando no porque dela ter trazido a assunto à tona.

“Eu achei que eu nunca me sentiria pior.” Ela continuou, respirando fundo. “Eu achei que era o pior que as coisas poderiam chegar.” não achei que podia ser pior

Ron finalmente a encarou com olhos surpresos. “Por que..” ele começou, mas ela o cortou.

“Mas você sabe o que me fez sentir melhor?” ela disse. Ron fez que não. “Saber que você estava lá. Você e Harry. Saber que, você sabe, que eu... eu podia chorar na sua frente, e você não se importaria. Saber que você sempre tem um abraço pra mim quando eu precisar,” ela disse, muito rápido. “E naquela noite você provou isso para mim.” Ela terminou, sorrindo fracamente para ele.

Ron a encarou, maravilhado. Aquilo era a coisa mais bonita que já tinham lhe dito. Eles ficaram lá, sentados se encarando por um longo tempo. Ron queria dizer muitas coisas. Ele queria dizer que amava ela e Harry tanto, ele queria dizer que eles eram como família para ele, ele queria dizer o quão bom foi chorar na frente dela, e o quão bom era abraçá-la. Mas ele não conseguia. Ele estava em choque, e a única coisa que ele conseguia fazer era encará-la, deslumbrado. Ela era tão perfeita. Ela podia ser meio maníaca às vezes... mas ela ainda era uma ótima amiga. Ele sentiu a urgência de abraçá-la tanto que a deixaria sem ar... um terrível impulso de beijar cada centímetro do rosto dela e fazê-la rir... beijá-la? ‘Sim, beijá-la,’ pensou Ron. Talvez já fosse hora de beijá-la. Tudo o que ele sentia por ela explodiu dentro dele com tanta violência que doeu. Tudo o que ele sentia por ela fazia um longo tempo.

Hermione pulou de sua cama com pressa, para a de Ron. Ron a encarou nervoso, mas ele sabia o que ela queria fazer. Ele se moveu um pouco, para dar espaço à ela, e ela lentamente se sentou ao lado dele, sem tirar seus olhos dos de Ron. Então, de repente, ela assumiu uma expressão de dor e cobriu suas costelas com as mãos.

Ron se sentou rápido e a olhou preocupado. “O que há de errado?” ele perguntou, colocando suas mãos nos ombros dela. “Você está ok?”

Hermione assentiu, seu rosto contraído de dor. Ron pensou rápido, mas, decidindo que não iria resistir mais muito, puxou-a para ele e a envolveu gentilmente. Hermione o abraçou de volta, e Ron percebeu que aquilo era tudo de que ele precisava. Um abraço. E ele estava contente por perceber que esse era o abraço menos embaraçoso que ele já tinha dado nela. “Ainda dói, às vezes,” ela disse, e Ron assentiu gentilmente.

“Posso imaginar,” ele respondeu. “Vamos, deite-se,” ele falou, dando a ela todo o espaço que ele podia sem cair da cama. Ela o fez, e Ron deitou ao lado dela. Não foi nada embaraçoso, Ron pensou alegremente, enquanto sentia o calor de Hermione ao seu lado. Sim, eles estavam apertados, mas estavam juntos, e era isso era tudo o que importava.

Claro, não demorou muito antes da Madame Pomfrey os xingar e mandar Hermione dormir em sua própria cama.



Fim

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